Há rotinas que se tornam insuportáveis. Revoltam, mesmo.
A vaga de incêndios pavorosos que têm assolado o nosso país e as “tretas” dos políticos, sempre a mesma lenga-lenga, estão nesta situação: repetição de estudos, de projectos de gestão florestal e etc, etc. Pessoalmente já não suporto ouvir estes tipos nem, muito menos, este tipo de conversa fiada.
Todos os anos, Portugal é flagelado por incêndios sem paternidade! Será por procriação medicamente assistida em que se nega às crianças saber o nome do pai? Parece-me uma situação igual: há os incêndios mas… ignora-se a paternidade: incendiários, florestas selvagens e sem qualquer tipo de controlo nem ordenamento … Uma tristeza. Um crime. Morrem pessoas. Destrói-se a floresta. Aumenta-se a pegada de carbono. Arrasa-se a biodiversidade, acelera-se a erosão dos solos, inquinam-se as bacias hidrográficas e as albufeiras e contaminam-se os lençóis freáticos.
Entretanto, todos os anos, as matas não são limpas como a lei prevê com a desculpa tolerada de que custa muito dinheiro limpá-las, pois muitas destas propriedades florestais são de reduzida dimensão e não rendem para ser limpas, mas podem matar pessoas.
Sou adepto do direito à propriedade privada mas entendo e defendo que o BEM COMUM sobreleva o BEM PARTICULAR como defende a Doutrina Social da Igreja e está muito bem explicitado no pouco conhecido e estudado Compêndio da Doutrina Social da Igreja.
Assim, e sendo coerente com o meu pensamento, entendo e defendo que, por exemplo, se as matas não são limpas como devem, todos os anos, ou se aplicam coimas pesadas aos proprietários e a autarquia assume essa tarefa e despesa remetendo aos proprietários a factura do que despendeu por desinteresse dos donos, os primeiros responsáveis, para pagamento com carácter de urgência ou, na impossibilidade real de as não poderem limpar que sejam expropriadas para venda subsequente e se possa, assim, diminuir os minifúndios e tornar rentável e menos perigosa a floresta.
Esquecemos que a floresta pode ser uma fonte de rendimento (sem eucaliptos!), utilizando o plantio de espécies autóctones; pode ser uma mais valia no turismo (corremos o risco sério de espantarmos os turistas que procuram o campo por causa da nossa estupidez crónica relativamente às matas); será uma fonte de renovação da qualidade do ar; será um valor muito grande do ponto de vista cinegético; será uma forma barata de preservarmos a biodiversidade, será a forma mais fácil de impedirmos a erosão dos solos…
Volto ao meu ponto de vista: o BEM COMUM tem de prevalecer sobre o BEM PARTICULAR. O caso destes incêndios dá-me razão!
Também não podemos tolerar, de todo, que se abra a “época dos incêndios” como quem abre a época balnear ou das vindimas! Não pode haver “época de incêndios”, pois todo o ano deve ser ano de prevenção dos mesmos. E todo o ano TODOS temos de estar vigilantes e de sermos “guardiões da floresta”, da nossa floresta.
Estes incêndios tornam-me um revoltado contra a incúria e o desleixo a que estão votadas as florestas e da brandura com que são tratados os criminosos incendiários, onde se encontram sempre atenuantes sem respeito para quem morre. Para quem dá tudo para salvar a floresta.
Se estivesse num comício político (não corro esse risco!) terminaria assim: Vivam os Bombeiros!
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Carlos Aguiar Gomes
(O autor não acata o chamado AO)
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