sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

«O mundo precisa de beleza, mais que nunca»

 



Papa Francisco: «O mundo precisa de beleza, mais que nunca»

As Sagradas Escrituras falam-nos muito da beleza do universo e de tudo aquilo que encerra, e que remete, por analogia, à do Criador. Elas recordam-nos também que cada um de nós é chamado por natureza a ser artesão e guardião de tal beleza. O trabalho artístico completa, em certo sentido, a beleza da criação, e, quando é inspirado pela fé, revela mais claramente aos seres humanos o amor divino que está na sua origem. (…)

A beleza tem a capacidade de criar comunhão, «porque une Deus, o ser humano e a criação numa única sinfonia; porque conjuga o passado, o presente e o futuro; porque atrai para o mesmo lugar e envolve no mesmo olhar gentes diversas e povos distantes.

Uma particularidade do artista é a de não ser limitado pelo tempo, porque a sua arte fala a todas as épocas. O artista também não é limitado pelo espaço, porque a beleza pode tocar em cada pessoa aquilo que tem de universal – especialmente a sede de Deus –, superando as fronteiras das línguas e das culturas. Se é autêntico, o artista é capaz de falar de Deus melhor do que quem quer que seja, de fazer percecionar a sua beleza e bondade, de chegar ao coração humano e fazer resplandecer nele a verdade e a bondade do Ressuscitado.

Como dizia S. João Paulo II na sua “Carta aos Artistas”, que vos convido a reler com atenção, «para transmitir a mensagem que Cristo lhe confiou, a Igreja tem necessidade da arte. De facto, deve tornar percetível e até o mais fascinante possível o mundo do espírito, do invisível, de Deus. Por isso, tem de transpor para fórmulas significativas aquilo que, em si mesmo, é inefável. Ora, a arte possui uma capacidade muito própria de captar os diversos aspectos da mensagem, traduzindo-os em cores, formas, sons que estimulam a intuição de quem os vê e ouve».

Exorto-vos, por isso, a cultivar a vossa arte, a falar aos homens e às mulheres do nosso tempo, preocupando-vos sempre que haja uma certa compreensão da parte deles, porque uma arte incompreensível e hermética falha o seu propósito. Procurai tocar aquilo que neles há de melhor. A Igreja conta convosco hoje para ajudar os irmãos e as irmãs a ter um coração sensível e compassivo, um olhar de amor renovado sobre o mundo e sobre os outros.

No difícil contexto atual que o mundo conhece, em que a desorientação e a tristeza parecem por vezes prevalecer, a vossa missão revela-se mais do que nunca necessária, porque a beleza é sempre uma fonte de alegria, colocando-nos em contacto com a bondade divina. Se há beleza é porque Deus é bom e dá-a. E isto dá-nos alegria, alenta-nos, faz-nos bem. O contacto com a beleza puxa-nos para cima, sempre, a beleza faz-nos ir mais além. Suscitando e sustentando a fé, ela é uma via para ir ao encontro do Senhor.

Encorajo-vos pelo trabalho que fazeis, pela alegria que dais ao mundo com as vossas obras, e encorajo-vos, mais uma vez, a continuar o vosso serviço com amor e competência, porque o mundo precisa de beleza, mais que nunca.


 

Papa Francisco
Discurso aos animadores da “Diaconia da Beleza”, 17.2.2022, Vaticano
Fonte: Sala de Imprensa da Santa Sé
Trad./Edição: Rui Jorge Martins
Imagem: Vatican News (Arquivo)
Publicado em 18.02.2022

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

ARQUIDIOCESE DE BRAGA : passagem de testemunho

             ARQUIDIOCESE DE BRAGA: Passagem de testemunho

                                       Um livro com um novo capítulo

 

   A Arquidiocese de Braga tem outro Arcebispo que acaba de assumir o serviço episcopal  numa diocese com mais de mil e quinhentos anos e inúmeros arcebispos. Uns foram santos – S. Martinho de Dume, S. Frutuoso, S. Geraldo ou S. Frei Bartolomeu dos Mártires para não citar o controverso S. Pedro de Rates. Outros foram guerreiros combatendo por Portugal como Dom Gualdim Pais ou Dom Lourenço Vicente. Outros destacaram-se com grandes urbanistas como Dom Diogo de Sousa ou Dom Rodrigo de Moura Teles. Outros destacaram-se pelo exercício da Caridade como Dom Frei Caetano Brandão e santo “ bracarense”, Dom Frei Bartolomeu dos Mártires. Braga teve Príncipes e homens do povo como seus Arcebispos.

  Conheci Dom António Martins Júnior, que me crismou , Dom Francisco Maria da Silva, lutador e como tal com grandes amigos e grandes inimigos, um Homem íntegro. Guardo boa memória deste Arcebispo que, por vezes, tinha reacções um pouco primárias. Depois trabalhei intensamente ao lado e seguindo um grande Senhor que foi Dom Eurico Dias Nogueira e de quem guardo a melhor recordação. A seguir trabalhei, concordei e discordei, de um Homem sabiamente  humilde e de quem aprendi muito pela sua simplicidade. Refiro-me ao Senhor Dom Jorge Ortiga, que agora é Emérito ainda que  mantenha muita vitalidade. Não tenho saudades deste Arcebispo pois ainda o temos connosco e sei que podemos contar com ele. Eu conto para me escutar e aconselhar.

   Desculpem-me os leitores que vos diga o meu pensamento sobre a minha arquidiocese velha e sempre nova, onde os Arcebispos, desde o possível Dom Pedro de Rates, foram escrevendo um livro que nunca acabaram e em que todos acrescentaram um capítulo novo com a sua “ caligrafia da alma, do seu ser e agir”. Este livro chegou até nós incompleto pois está sempre a ser continuado. Chegamos dia 12 deste mês a um novo “ escritor” deste velho livro que é a minha diocese: Dom José Cordeiro.

   Obviamente que, pessoalmente, não espero que o livro de que falei acima, continue a ser escrito no mesmo tom e do mesmo modo. O Senhor Dom José terá uma tarefa imensa mas sei  que o Espírito Santo e Nossa Senhora do Sameiro nunca o abandonarão. Os “ sinais dos tempos”, neste hoje, está cheio de desafios onde é necessário “ ouvir” o mundo” para o evangelizar, o transformar para melhor. O meu Arcebispo tem experiência episcopal e tem sabedoria para levar a cabo uma tarefa nada fácil face à indiferença dos homens deste tempo para os quais o que conta é o efémero, o prazer imediato, a falta de respeito pela dignidade da pessoa humana, desde a concepção atè à morte natural, um tempo que quer promover a morte a um direito humano; tem pela frente a tarefa de continuar a promover e defender com tenacidade, coragem e limpidez de linguagem a Família tal como Deus a concebeu; tem a ingente tarefa de ajudar os cristãos e todos os homens de boa vontade a verem e lutarem contra a ditadura do pensamento “ woke”, cada vez mais presente do nosso quotidiano e que exerce uma feroz censura sobre quem pensa diferente do “ politicamente correcto”; tem pela frente ajudar os cristãos e todos os homens de boa vontade a saber colocar a Ecologia no seu lugar como obra de Deus e de nos ajudar a saber que quando tiramos Deus da centralidade das nossas vidas, haverá sempre ídolos a ocupar o lugar que quisemos vazio de Deus; e será , creio bem, uma grande preocupação do Senhor Dom José, reeducar os cristãos para o sentido da adoração ao Senhor escondido nos sacrários em tantas igrejas fechadas.

  No início do seu serviço episcopal em Braga não ouso aconselhar o meu Arcebispo! Não tenho “ lata” para tanto. Mas tenho o direito de lhe dizer onde estão algumas das minhas preocupações maiores e para as quais anseio respostas do meu Arcebispo. Com ele quero caminhar como cristão em comunhão com o seu Pastor.

  Pode crer o meu novo Arcebispo que rezarei por ele mas que não esquecerei , nomeadamente, o seu antecessor.

 

Carlos Aguiar Gomes

P.S. “ The last but not the least” : Senhor Dom José, se ler este meu artigo, peço-lhe que alavanque o Rito Bracarense, património imaterial desta Arquidiocese!

  

  

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Homélie 6e dimanche année C

 Homélie 6e dimanche année C



 Ce dimanche, l'épître de saint Paul nous rappelle ce qui est au centre de notre foi mais aussi au centre de notre espérance. Au centre de notre foi, il y a le fait que Jésus-Christ est ressuscité des morts. Au centre de notre espérance, il y a cette conviction que les morts ressusciteront et cette certitude que nous sommes destinés à une vie éternelle. C'est ce que nous proclamons dans le credo: Il ressuscita le troisième jour conformément aux Ecritures. J'attends la résurrection des morts et la vie du monde à venir.

Cette foi qui est la nôtre doit déterminer une nouvelle manière de vivre. Et une note essentielle de la vie chrétienne est celle d'une profonde confiance en Dieu. C'est ce que nous disait le prophète Jérémie: Béni soit l'homme qui met sa foi dans le Seigneur, dont le Seigneur est la confiance.

Mettre sa confiance dans le Seigneur, c'est de croire que tout ce qui nous arrive, d'heureux ou de malheureux, a été prévu par Dieu et sert à notre vie éternelle, à condition que nous le vivions dans la prière. Voici à ce sujet une belle prière du matin: Mon Dieu, je te consacre mon âme et mon corps. Je t'offre, en union avec le Sacré-Cœur de Jésus, toutes les actions de cette journée, toutes les joies et toutes les peines, pour ta plus grande Gloire, pour le salut des âmes, et avec l'intention de gagner toutes les indulgences que je pourrai gagner. Je me propose de mieux vivre que je ne l'ai fait jusqu'ici.

Les Béatitudes, la Loi nouvelle que Jésus proclame dans l'Evangile, nous enseignent la vie nouvelle de ceux qui ont l'espérance de la vie éternelle apportée par le Christ.

Heureux vous les pauvres. Un de mes amis, qui avait passé plusieurs années en Amérique latine, me dit un jour: Il y a une chose qu'en Occident on ignore totalement, c'est que les pauvres sont heureux.

Heureux vous qui avez faim. De quelle faim s'agit-il? D'une faim de l'intimité avec Dieu dans la prière. C'est ce que dit le psaume 62: O Dieu, tu es mon Dieu. C'est toi seul que je cherche avec ardeur. Mon âme a soif de toi.

Heureux vous qui pleurez. Il s'agit ici non de la tristesse selon le monde mais de la tristesse selon Dieu. Il s'agit des larmes que nous versons pour les péchés que nous avons commis. Il s'agit de la componction, une joyeuse tristesse du mal que nous avons commis, mais avec cette certitude qu'auprès du Seigneur se trouve le pardon.

Heureux ceux qui sont haïs ou exclus. Jérémie disait: Maudit soit l'homme qui met sa foi dans un mortel. Ne cherchons pas la consolation dans les créatures mais en Dieu. Si nous sommes avec Dieu, même rejetés de tous, notre paix intérieure et notre bonheur seront ineffables.

Oui, nous sommes déjà ressuscités avec le Christ et nul ne pourra ravir notre joie.

SIMON NOEL OSB

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

A IDEOLOGIA DO GÉNERO - BASTA!

 Estupidez e ideología de género

 Imagen referencial. Foto de archivo


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Decía Chesterton: «Quitad lo sobrenatural, y no encontraréis lo natural, sino lo antinatural». A lo largo de bastantes artículos, he denunciado la maldad de la Ideología de Género, que para la Iglesia no es sólo anticristiana, sino también diabólica, porque lo que defiende, salvo el caso de violación, es lo contrario de lo que defiende la Iglesia Católica, es decir la Moral del Diablo. Pero hoy, de que quiero hablar es de la estupidez que va inseparablemente unida a la concepción del lenguaje que tiene la Ideología de Género.

En artículos anteriores denuncié eso que el ser humano pueda escoger libremente su sexo, pues el rol social es más importante que la Biología, o que la familia y el matrimonio sean instituciones a combatir, o lo que antes era corrupción de menores en centros educativos, ahora sea práctica recomendable con sus consecuencias nefastas para los niños. Por supuesto los casos de pederastia de miembros de la Iglesia hay que perseguirlos, pero no si afectan a los partidos de izquierda, como sucede actualmente en Baleares y Valencia. Eso se llama desfachatez y desvergüenza

Pero hoy me voy a centrar más en el aspecto del lenguaje, aprovechando una conferencia que he oído al exdirector de la Real Academia de la Lengua, don Darío Villanueva.

La Ideología de Género intenta modificar también el lenguaje. En el caso del español, lengua hablada por quinientos cincuenta millones de personas, unos cuantos políticos, más bien políticas, que no se distinguen precisamente por sus conocimientos, ni por su sentido del ridículo, intentan modificar el lenguaje. Ya en el 2012 nuestros Obispos escribían en su documento: «la Verdad del amor humano» lo siguiente: «De esos intentos de deformación lingüística forman parte, por señalar solo algunos, el empleo, de forma casi exclusiva, del término «pareja» cuando se habla del matrimonio; la inclusión en el concepto de «familia» de distintos «modos de convivencia» más o menos estables, como si existiese una especie de «familia a la carta»; el uso del vocablo «progenitores» en lugar de los de «padre» y «madre»; la utilización de la expresión «violencia de género» y no la de «violencia doméstica» o «violencia en el entorno familiar», expresiones más exactas, ya que de esa violencia también son víctimas los hijos» (nº 58).

Con el paso del tiempo, las idioteces se agravan. En el 2018 la entonces Vicepresidenta del Gobierno criticó la Constitución por estar escrita, según ella, en masculino. Lo que intentan es modificar la estructura del lenguaje, siendo el español, como casi todos, un lenguaje inclusivo masculino. Las bofetadas al lenguaje, en nombre de lo políticamente correcto, son diarias, aunque empieza a haber cada vez más gente, como los lingüistas, que ven como sus estudios son menospreciados por una panda de ignorantes, por lo que empiezan a decir: ¡Basta!, enfrentándose a los genios que nos dicen que hay que hablar de ellos, ellas y elles. Es el Ministerio de Igualdad el que dicta las normas, inmiscuyéndose en Educación. Aristóteles ya decía que Verdad es decir que lo que es, es y lo que no es, es no es, mientras Mentira es decir que lo que no es, es y lo que es, es no es

Aunque en honor de la verdad hay que decir que todo esto empieza en las Universidades norteamericanas, aunque desde luego el colmo de lo que conozco está en Inglaterra, donde en el lenguaje de lo políticamente correcto la palabra mujer ha sido sustituida por persona menstruante y la palabra madre por persona gestante. Son ganas de terminar con las palabras más bonitas de cada idioma.

Pero lo peor no es que cada uno hable como le dé la gana, sino que si no empleas el lenguaje de lo políticamente correcto te cae encima una censura que no tiene nada que envidiar a la de los estados totalitarios. La corrección política es la mordaza para los que no piensan como ellos y lo políticamente correcto consiste en no atacar sino defender la Ideología de Género, que actualmente no es otra cosa sino una imposición autoritaria y absurda que nos hace ver la gran verdad de Chesterton cuando nos decía: «Quitad lo sobrenatural, y no encontraréis lo natural, sino lo antinatural».

Pedro Trevijano, sacerdote

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

«Se eles se calarem, gritarão as pedras»

 

          «Se eles se calarem, gritarão as pedras» Lucas, 19 – 40 )

 

    Este versículo do Evangelho escrito por S. Lucas sempre me impressionou muito. Muito mesmo. E como geólogo, ainda mais, pois sei que as rochas (tinha um Professor na Faculdade que afirmava que um geólogo nunca deveria dizer pedras, que essa linguagem era para pedreiros, mas sim rochas). Mas, como não quero nem posso alterar a palavra de Jesus, mantenho “pedras” seres inanimados que não têm, por isso, o dom da palavra. Assim, quando Jesus diz que se o silêncio se fizer “ ouvir” da nossa parte, o escândalo é tão grande que as “ pedras” clamarão. Tremendo aviso.

   O nosso povo, na sua imensa sabedoria tem um dito que vai no mesmo sentido, apoiando, o que Jesus disse: «Quem cala consente», isto é, anui, colabora com a falsidade, a mentira. Velha e profunda sabedoria!

   A que propósito estou a escrever sobre as “ pedras” gritarem, clamarem ? Porque num contexto em que se exige e impõe a palavra clara, verdadeira e límpida, se quem tem a responsabilidade de falar a verdade, não grita essa mesma verdade e não a proclama? Ou, pior, desdiz essa mesma palavra, e confunde os que têm o direito à palavra completa, justa e verdadeira.

  Este tempo que nos é dado viver, é um tempo de caos da palavra. É um tempo de palavra “ liquida” ou “ soft” se se preferir. Quando, o que é até muito frequente, a palavra é abastardada, não é o que significa mas o que alguns querem que signifique. Gerou-se a balbúrdia. É a “ novilíngua” orwelliana Não estou a falar do “ Acordo Ortográfico” em que se abandalhou a nossa língua.

   A nossa identidade portuguesa está em perigo de morte. Já não chegam os anglicismos como o que eu apliquei acima (soft), mas pior, muito pior. Mãe, palavra tão rica, já querem apagá-la  , substituindo-a por “ pessoa lactante”,  por “ respeito” á “ Teoria do Género” e à igualdade do que é desigual por natureza? Pai? Mas o que é isso? Uma “ máquina” incógnita de produção de espermatozoides! Pai e Mãe têm os dias contados se deixarmos com a nossa indiferença e encolher de ombros com uma indiferença que me assusta. O grande “ apagamento” está em marcha. A nossa identidade de católicos também corre seriíssimos riscos. Muitos de nós já não ousa dizer o que pensa com medo de ser tomado por fundamentalista e de extrema - direita ou ….

    Os leitores que eventualmente me leiam, se não andarem distraídos, já constataram que está instalado o caos na proclamação, incómoda sem dúvida, da palavra e dos princípios fundamentais da Fá católica. Todos já sabem, mas deixem-me repeti-lo, que vários responsáveis católicos propõem o “ casamento” católico entre homossexuais. E com ele está um significativo número de Bispos. Contrariando todo património doutrinário e fundamento da nossa Fé, desde o Antigo Testamento, logo no Génese ( “ Deus criou-os homem e mulher…) até aos últimos ensinamentos dos Papas, inclusive Francisco. O caos instalou-se e resta o silêncio excepto de algumas “ pedras”, as verdadeiras “ pedras vivas” que gritam e clamam perante os insultos dos “ cães mudos” que não se levantam e EXIGEM que, de uma vez por todas, se proclame e reproclame com clareza, firmeza e sem ambiguidade nenhuma que o casamento só entre Homem e Mulher, porque só assim se cumpre a determinação de Deus: “ Crescei e multiplicai-vos e enchei a Terra….”, respeitando, sem dúvida, as “ orientações” e preferência sexuais de cada um.

Precisamos urgentemente que “ as pedras gritem” perante o silêncio e a complacência dos “ pastores” que não “ sentem o odor das suas ovelhas” que andam perdidas, confusas se sentem abandonadas ou que a doutrina, os fundamentos se alteraram… Não meus amigos leitores, há imensos pastores que não sentem o odor das ovelhas que lhes foram confiadas e não querem reparar no perigo que elas correm com os lobos que andam à sua volta procurando devorá-las, como nos avisou S. Pedro, a primeira “pedra viva”, o único a quem Jesus disse: “ tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja….”. E o pior é que há lobos no meio do redil. Basta ver como está a Igreja, sobretudo no chamado Ocidente. Olhem para a Alemanha, por exemplo.

                 «Se eles se calarem, gritarão as pedras»!

 

Carlos Aguiar Gomes

   

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

SEM CRIANÇAS, SEM O SEU SORRISO, HÁ FUTURO?

 

                   SEM CRIANÇAS, SEM O SEU SORRISO, HÁ FUTURO?

 

« … que a vida dos adultos seja iluminada, regenerada pelas gargalhadas das crianças. Porque a esperança está sempre nas suas mãos » ( Pierre Chaunu, in “ La Peste Blanche”, pág.209)

    

   Com a quebra acentuadíssima da natalidade, em Portugal desde 1982 que não há substituição de gerações, o número de crianças tornou-se um “ bem “ escasso. E porque não há crianças, tornamo-nos num país sem esperança, acomodado, com medo às mudanças. Preferimos o medíocre ou, até mesmo, o mau. Tornamo-nos cinzentos, cabisbaixos e “nombrilistas”. Cultivamos a efemeridade, o fugaz. Temos medo terrível do futuro. E só nos rimos com as boçalidades. Já deixamos de ser individualistas e passamos a egolatristas. Somos incapazes de contemplar a beleza de um sorriso de uma criança, puro e transparente. Luminoso. Gargalhamos com o bruto e com o boçal ( vejam-se os programas de maior audiência das TV`s ).

   Estamos numa sociedade muito doente e em vias de extinção que ela própria provoca .

    Vejamos as leis referentes ao dom da vida ( que ninguém já aceita que o seja, mas que prefere chamar o “ produto” de uma manipulação laboratorial ou de um cálculo em “ folha Excel”). O caminho foi seguindo uma linha bem definida a que nos alheámos:

1.       Começámos por separar a sexualidade humana do amor;

2.       Depois a sexualidade da reprodução;

3.       Alçapremamos a sexualidade ao cume do hedonismo sem consequências naturais;

4.       Abolimos a paternidade separando-a da maternidade;

5.       Separamos a maternidade , da concepção ao nascimento, da Mãe e “ alugamos” uma geradora de bebés que ainda não é uma máqina(!) que depois são entregues aos encomendadores que perderam 9 meses de vinculação irreparáveis;

6.       Legislamos no sentido anti-natural, de uma criança não ter Mãe, mas dois pais, contrariando as leis da Natureza ou ao contrário: ter duas mães e não ter pai!

7.       Andam por aí projectos  que procuram definir como  cada uma das crianças nasce, neutro(?) até decidir o que quer ser ( a Teoria do Género está já no terreno da educação ( chamam-lhe mentirosamente “ Educação para a Cidadania”) a comandar os programas do ensino perante o silêncio e indiferença dos pais);

8.       Perante perturbações de identidade, por exemplo uma criança rapaz olhar-se ao espelho e achar que tem o pénis e o escroto a mais e que lá deveria estar uma vagina, proíbem-se as terapias que acompanhariam este distúrbio, tal como sucede com a anorexia nervosa, objecto de grandes preocupações e com tratamentos aprovados.

9.       Proíbem-se os pais de aconselhar e guiar os seus filhos menores no encaminhamento para o tratamento desta disforia que não aceita a sua natureza biológica….

10.   Promove-se o aborto sem pejo e chega-se a proibir que se reze pelas mães, tantas vezes desesperadas e que não têm quem as aconselhe com serenidade e não as induza, como única solução para o aborto;

11.   A fundação de Centros de Apoio à Vida foram postos de lado e dificultada a sua existência;

 

O sorriso das crianças, esperança do futuro, escasseia e está muito raro. Não nascem crianças e no caso das que nascem, os pais ( muitos pais) preferem  actividades de “ esbeltizaçao” do corpo a gastar alguns segundos a contemplar o sorriso de um filho.

E como é belo o sorriso de uma criança! Puro. Desinteressado. Imaculado. Como uma flor que se abre para nos alegrar com a sua cor, aroma e forma.

Como escreveu em 1976, Pierre Chaunu, em “ La Peste Blanche”:

 

 « … que a vida dos adultos seja iluminada, regenerada pelas gargalhadas das crianças. Porque a esperança está sempre nas suas mãos ».

As crianças são o futuro  e  se não  as houver há futuro!

 

Carlos Aguiar Gomes

 

 

 

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

«A grande desgraça deste mundo não é haver pessoas sem-Deus, mas que sejamos cristãos tão medíocres»

 

«A grande desgraça deste mundo não é haver pessoas sem-Deus, mas que sejamos cristãos tão medíocres»

Se neste período histórico há uma categoria de pessoas que tem por que estar satisfeita é a dos medíocres. Parece respirar-se hoje uma atmosfera geral de mediocridade difusa.

O que é a mediocridade? Inaptidão, ausência de aspirações, não conseguir ter para si próprio, para a sua comunidade, para o seu país uma visão, uma perspetiva a longo prazo. Na origem da mediocridade está a incapacidade de aceitar a contínua discussão de si próprio, a que vida obriga continuamente, e que o medíocre tenta ignorar.

 

O anonimato como estilo de vida

Antigamente elogiava-se a “aurea mediocritas”, considerando-se que era uma aplicação coerente do moto “in medio stat virtus”. Era a virtude do meio, o equilíbrio, o sentido dos próprios limites, a recusa de toda a arrogância e de todo o excesso.

Entendamo-nos bem: foi um grande poeta, Horácio, que exaltou nas suas “Odes” a famosa “aurea mediocritas”, que, todavia, era muito mais, ou seja, a busca de um ideal justo meio entre os extremos e os excessos. Não, aquela que nos deve fazer desconfiar, antes, é a mediocridade que significa inaptidão, chateza, preguiça, anonimato, cinzentismo. Nos nossos dias esta atitude foi assumida como estilo de vida.

Mas a mediocridade assumiu ao longo dos tempos um significado muito diferente: indica pobreza de espírito e de mente, de horizontes e de estilo. Já nos juízos escolásticos e profissionais indica uma carência, que depois se agravou quando a mediocridade se tornou u espelho dos meios de comunicação social.

A sensação espalhada é que sobressair é um perigo, e talvez também uma culpa, porque a excelência nunca é conforme ao espírito medíocre do seu tempo e ao poder dominante; é sempre inatual, profética, nostálgica, olha para além, para o passado, para o futuro, para o céu. Quem traz novidade e energia é sempre, por destino e definição, desestabilizador.

Horroriza o ambiente tão minimalista em que caímos enfrentar toda a situação sem competência suficiente e sobretudo sem disponibilidade para o aprofundamento.

 

O pensamento desapareceu

Olhando à volta, quase só se vê mediocridade. Uma mediocridade desoladora e difusa. É uma mediocridade tumular, fruto da ausência de qualquer pensamento. A mediocridade é perigosa, porque desativa os dispositivos de alarme e desabilita o cérebro. Menospreza a inteligência, a capacidade de escolher e desejar. E é muito cómoda. É uma espécie de anestesia, de psicofármaco.

A mediocridade reina. Soberana. Contrabandeia-se como verdadeira tranquilidade da alma, quando na realidade é inconsciência; circula como critério justo ao passo que é apenas comodidade; apresenta-se como recusa dos excessos quando na verdade é vazio interior. O cristianismo não é uma religião para medíocres, como a verdadeira arte e a humanidade autêntica não podem alimentar-se e viver de uma chateza sem frémito, de uma saciedade de coisas, de um bom senso banal.

A mediocridade infetou as nossas mentes, como afirma o filósofo canadiano Alain Deneault, no seu recente ensaio “A mediocracia”. Deixámos de aspirar às coisas grandes, às coisas do “alto”. Arriscamo-nos a morrer sem nunca ter vivido. Uma «revolução anestesiante» instalou-se silenciosamente sob os nossos olhos, mas praticamente não nos demos conta.

O medíocre, em resumo, explica o filósofo canadiano, tem de «jogar o jogo». Jogar o jogo. Que significa isto? Quer dizer aceitar os comportamentos informais, pequenos compromissos que servem para alcançar objetivos de curto prazo, significa submeter-se a regras implícitas, muitas vezes fechando os olhos.

 

O sonho subversivo versus o efémero

É desta maneira que se solidificam as relações informais, que se fornece a prova de que se é “confiável”, colocar-se sempre naquela linha média que não gera riscos desestabilizadores.

A atração gravitacional da mediocridade age em todos os campos da vida. Para usar as palavras de John Stuart Mill: «A tendência geral do mundo é a de fazer da mediocridade a potência dominante da humanidade».

Na origem da mediocridade está a concentração sobre a “governance”, em que tudo é reduzido à gestão. Também a vida da Igreja pode correr o risco de concentrar-se na gestão (administrativa, pastoral, caritativa, etc.) e perder a “visão” e a “missão”.

«Com preocupação vejo que nos últimos meses se nota uma tendência para excluir as causas e os riscos sistémicos, ou, digamo-lo também, as questões teológicas fundamentais, e a reduzir a reelaboração a um simples melhoramento da administração. (…) Esquece-se que “não é o cargo que está em primeiro plano, mas a missão do Evangelho”» (Card. Reinhard Marx).

«A primeira coisa que o papa Francisco nos entregou foi um sonho: “Evangelii gaudium”. “Eu sonho uma Igreja…”. Descreve-nos o que sonha, diz-nos a sua visão, e é aquela que arrasta as pessoas, que as coloca em movimento dentro de um processo generativo. Qual é o sonho que queremos realizar? Qual é a transformação real que queremos gerar no mundo como Igreja? A pertença não é gerada por alguma coisa que se faz, mas do partilhar uma visão, um sonho» (Diocese de Albano).

«Hoje torna-se cada vez mais evidente que «é necessária uma verdadeira hermenêutica evangélica para compreender melhor a vida, o mundo, os homens; não de uma síntese, mas de uma atmosfera espiritual de investigação e certeza fundamentada nas verdades da razão e da fé. (…) O teólogo que se compraz com o seu pensamento completo e concluído é um medíocre» (papa Francisco, “Veritatis gaudium”).

Seria preciso perguntar-se, como o protagonista Nikolaj Stavrogin do romance “Os demónios”, de Dostoiévski: «Pois bem, qual é o meu verdadeiro rosto? A áurea mediocridade: nem tolo nem inteligente». Na era de mediocracia já não se discute. Prefere-se receber notícias que confortem.

 

Novos sistemas totalitários

É preciso temer a mediocracia porque faz sofrer e é antecâmara do autoritarismo, mesmo que adocicado. O autoritarismo é psicótico, a mediocracia é perversa. Psicótico, o primeiro, porque não tem qualquer dúvida sobre o que deve decidir. Perversa, a segunda, porque procura dissolver a autoridade nas pessoas fazendo de maneira que a interiorizem e se comportem como se fosse vontade sua.

É próprio dos sistemas de poder decadentes originar formas despóticas de governo, de Igreja, de política, e reforçar a mediocridade na escolha do capital humano, porque o poder consolidado teme o confronto com a inteligência, com a visão, teme ser batido no terreno das ideias. Em qualquer campo, no trabalho, no amor, na amizade, na saúde, as soluções medíocres levam sempre a melhor, contanto que não sejam danosas ao ponto de destruir o sistema.

A pessoa medíocre é incapaz de elevar-se do banal que o distingue, incapaz de ideais, sem valores. É tépida – mediocridade e tepidez são duas formas de corrupção espiritual, segundo o papa Francisco –, não gosta daquilo que é forte, que sacode, está por baixo. Mas a mediocridade é um perigo à espreita à nossa volta, condiciona-nos com todo o convencional em que estamos mergulhados, um mundo imenso de mediocridade banal que não serve para crescer, mas que pode aparecer cómodo, visto que tantos agem assim. E esta é a escravidão da massa, a cadeia do social.

Uma incapacidade de pensamento autónomo, uma obediência cega, uma normalidade que age incondicionalmente, perigo extremo da ausência de reflexão. Albert Einstein escreve: «Os grandes espíritos encontraram sempre a violenta oposição dos medíocres, os quais não sabem compreender o homem que não aceita os preconceitos herdados, mas usa a sua inteligência com honestidade e coragem». E Pierre de Beaumarchais: «O homem medíocre e rasteiro chega a tudo».

Medíocre pode ser até uma cidade inteira que não quer sair do torpor das memórias para se contentar com um passado que na verdade nunca foi tão glorioso como é narrado; medíocre pode ser uma Igreja que não busca os caminhos mais adequados para narrar ao ser humano a alegria possível, o resgate, a justiça que a deriva de uma verdade a partilhar, mas se esconde por trás de rendas suntuosas e coletas cada vez mais volumosas, em vez de se repensar a si própria, ou melhor, reinventar-se, para fazer bem; medíocre pode ser uma cultura que vende produtos que agradam às massas em vez de se elevar sobre a obscenidade dos pensamentos insipidamente populares, ruidosos, dos “talk-shows”, sem a voragem de saber arriscar a impopularidade, conservando a sua autonomia e a vocação de ser espírito crítico de todo o poder.

A mediocridade é eficaz também pelo seu sistema de comunicação, feito de slogans diretos e de forte impacto («sê tu mesmo», «não lutes contra o teu eu mais profundo», «não se pode sofrer e lutar a vida inteira», «descobre a coragem e a alegria de agir segundo aquilo que sentes», «chega de rigidez», «se o sentes, fá-lo», «não renegues as tuas emoções», «contenta-te com o que és, também o Senhor te aceita como és»…), tudo expressões que tem algo de verdade, mas que abandonadas ao sentimento subjetivo acabam por arrastar para baixo.

Ao “homo oeconomicus”, agarrado pela omnipotência do mercado, sucedeu o “homo psichologicus” pós-moderno, unicamente preocupado com a sua autorrealização e voltado para a busca de uma autenticidade que o impele a psicologizar a realidade, reduzindo-a a puro espelho dos seus desejos, armadilhado pela recursividade das próprias sensações.

O risco da mediocridade já tinha sido temido por um antigo padre da Igreja, S. Gregório Magno: «Agrada mais a Deus uma vida ardente e férvida de amor após o pecado, que uma inocência que se turva na segurança».

 

Também na Igreja

A mediocridade cultural e espiritual do clero foi uma das cinco chagas da Igreja denunciada por Rosmini. O facto de esta ser a chaga da mão direita afeta quem não é canhoto e conhece a importância operativa desta mão, sem a qual a pessoa se sente quase totalmente inábil. Não escapa a Rosmini que para um verdadeiro e autêntico testemunho cristão no mundo é precisa uma «instrução excelente dos pastores» (como a denomina João Paulo II na “Pastores dabo vobis”). Trata-se de uma sábia capacidade de intercetar as mudanças culturais, sabê-las discernir criticamente para lhes dar uma resposta estimável no plano racional.

Disto faz eco um escritor moderno, George Bernanos, que escreveu: «Um dos principais responsáveis, o único responsável, talvez, pelo aviltamento das almas é o sacerdote medíocre». E ainda: «A grande desgraça deste mundo não é haver pessoas sem-Deus, mas que sejamos cristãos tão medíocres».

A verdadeira questão da Igreja é não saber gerar mais que cristãos e padres medíocres, aburguesados, combatidos pela posição a ter no confronto dramático com a história: a posição do sofá ou a de adequar-se aos “novos movimentos” na moda e à sua pretensão de fundar um mundo novo. Um padre não pode permanecer medíocre a longo prazo. É verdade, no entanto, que de padres medíocres – marinheiros de água doce, para usar uma expressão de S. Camillo de Lellis – temos que chegue. A mediocridade, com efeito, navega sempre em águas doces. A autenticidade, pelo contrário, experimenta-se em mar aberto.

«O chamamento de Cristo é para os fortes; é para os rebeldes à mediocridade e à cobardia da vida cómoda e insignificante; é para aqueles que ainda conservam o sentido do Evangelho e sentem o dever de regenerar a vida eclesial pagando-o em pessoa e carregando a cruz» (Paulo VI).

O chamamento de Cristo é para os rebeldes à mediocridade na qual também a nossa própria ação pastoral muitas vezes cai. É por isso que é preciso regenerar sempre a vida eclesial: para não parecer uma empresa, mais atenta ao capital e ao organograma que ao Evangelho, ao ensinamento novo de Jesus, que tem uma Palavra cortante, direta à vida e capaz de desafiar os álibis, os medos, as falsas certezas, o viver sossegado e a mediocridade, ao ponto de ser Palavra que incomoda, perturba.

Regenerar não significa mudar, mas dar novamente vida. A vida eclesial seja regenerada cultivando visões, acrescentando perspetivas, gerando fome de futuro, ainda antes de se demorar nas suas estruturas.

Estes tempos não são normais, e também os padres medíocres não devem permitir-se repetir banalidades e superficialidades que mais tarde criam desconforto. É preciso não pessoas geladas, ainda que se cultura lúcida. O que é preciso é “humanitas” cristã, um Agostinho inquieto e pecador, e não a fria razão tomista que não colhe o mal de viver de Montale e as inquietações que tornam difícil o sono e encrespam o triste quotidiano, roubando-nos a esperança e eliminando inclusive aquela pouca alegria de viver que dá um sentido à vida. Precisa-se de pessoas inteiras em que a cultura se conjuga com a fé, e ambas se fundam com o ser-se humano.

A mediocridade, no fim de contas, rende. Quando alguém aceita este moderno mandamento é, de alguma forma, remunerado pela sociedade ou pelo grupo a que pertence, que o acolhe precisamente porque não lhe perturba o sistema. Quem, pelo contrário, de alguma forma se opõe à mediocridade, mesmo sem proclamações particulares, simplesmente porque não renuncia à sua identidade de valores, esse é um espinho no grupo, perturba-lhe o equilíbrio e coloca o sistema em crise, ou recorda implicitamente a todos aquilo que cada um é chamado a ser. Ou, em termos ainda mais positivos, relembra a todos que a pessoa só é feliz quando dá o máximo de si.

 

A vida que não perturba

O vírus da mediocridade é insidioso porque ativa um estilo que é o contrário do entusiasmo e da paixão. Mediocridade é uma maneira de ser e agir típica de quem perceciona cada vez menos o apelo do seu eu ideal, e de facto redu-lo, adaptando a sua conduta a critérios cada vez menos exigentes, e vivendo uma vida cada vez menos apaixonada. Mas sem mudar pertenças ou estado vocacional.

O medíocre nunca se deixa desafiar pelos próprios valores, nunca se entrega a eles, nunca comete loucuras por eles. O medíocre é um cultor do bom senso e do realismo; por vezes consegue até parecer sábio e prudente, com o sentido dos seus limites, que a certo ponto, porém, se tornam fronteiras inultrapassáveis, como uma gaiola que o sufoca.

Por vezes é também uma pessoa sem emoções e sentimentos particulares, com um eletrocardiograma maioritariamente plano (talvez o sacerdote e o levita da parábola do bom samaritano fossem desta honrada companhia).

Não há grandes aspirações na sua vida, e também não há grandes tentações. Normalmente a mediocridade é (auto)justificada, ou seja, o medíocre não se reconhece como tal, até porque a mediocridade não é transgressiva (habitualmente), ou não o é de maneira grave. Poderemos dizer que a arte do medíocre é a de ter encontrado a maneira de nunca fazer espoletar o alarme na sua vida, ou o aviso vermelho que assinala uma situação de emergência, por isso é relativamente tranquilo. Pode ser apóstolo eficiente, mas não tem eficácia. Anuncia o Evangelho de Cristo, mas sem o sentir para si como boa notícia.

Resistir para sair da mediocridade não é certamente simples. Mas vale a pena tentar. Somos chamados a ser testemunhas da inquietação, não estamos destinados a naufragar nus escolhos da mediocridade.  «Se não queremos afundar numa obscura mediocridade, não pretendamos uma vida cómoda, porque, “quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la” (Mateus 16, 25)» (papa Francisco, “Gaudete et exsultate”).

«A Igreja não precisa de muitos burocratas e funcionários, mas de missionários apaixonados, devorados pelo entusiasmo de comunicar a verdadeira vida. Os santos surpreendem, desinstalam, porque a sua vida nos chama a sair da mediocridade tranquila e anestesiadora» (ibidem).

 

 

Domenico Marrone
In Settimana News
Trad.: Rui Jorge Martins

Publicado em 21.06.2021(https://www.snpcultura.org )

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Um pensamento de S. Bernardo

 

Busquemos a graça, mas busquemos por intermédio de Maria! Por ela acha-se o que se busca e não se pode ser desatendido”.


São Bernardo de Claraval, Abade.

PEQUENOS LUZEIROS!

                                                                                                                   NÃO DUVIDES! PEQUENOS LUZ...