quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

CUIDAR DA TERRA, NOSSA CASA COMUM

 
 
 
CÍRCULO CRISTÃOS PELO AMBIENTE S. JOÃO GUALBERTO
Arbutus unedo
 
 
 
 
 
 
A flor do Imbondeiro ( S. Tomé e Príncipe) que nos "fala" da harmonia da Natureza

O FUTURO DO CRISTIANISMO


 
Perante o descalabro a que assistimos atónitos desta Cultura que é a nossa e foi gerada, essencialmente, pelo cristianismo, salta-nos ( a mim salta-me  muito assiduamente!) uma angústia tremenda quanto ao nosso futuro colectivo.

Esta Cultura, que já substituiu a anterior em que muitos de nós foram criados, combate  permanentemente e sem cerimónias, renega e nem quer ouvir, ver ou sentir qualquer referência a esta herança, é uma Cultura de falência e não vai ter futuro. Mas, também, creio, que este episódio doloroso faz-me lembrar aqueles foguetes que nas nossas romarias minhotas terminavam a sessão de “fogo”, depois da girândola final. Pum! Ruído, fumaça e … uma cana que caía algures. Depois, bem, depois, nada ficava e o povo debanda(va). Assim esta Cultura de destruição que se instalou e a que muitos de nós já se resignaram.

… Mas não será bem assim. Ninguém consegue matar a Esperança. Malgrado os imensos esforços de “ intelectuais” e milhões de euros despejados para esta “ festança” mortífera, há , sempre quem mantenha acesa a chama da Esperança.

Vem este introito, a propósito de um livro que a Fundação Junção do Bem teve a gentileza de me oferecer antes de estar à venda nas livrarias. O livro em questão chama-se “ O FUTURO DO CRISTIANISMO” , da “ Lucerna” e é seu autor a segunda figura da hierarquia ortodoxa russa, o Metropolita Hilarion Alfeyev que esteve em Lisboa em meados de Setembro passado e onde assisti a uma brilhante conferência que então proferiu ( 18 de Setembro, no Círculo Eça de Queirós sobre o tema : “ O Futuro do Cristianismo na Europa”).

Tive o enorme prazer e a grande honra de assistir a esta conferência e que integra este livro. Aliás, este hierarca russo fez outra extraordinária conferência na Universidade Católica e deu uma notável entrevista a Filipe d`Avillez, da Rádio Renascença. Todas estas intervenções constam deste  livro que termina com a Declaração conjunta de Havana do Papa Francisco e do Patriarca Cirilo da Igreja Ortodoxa Russa.

Este livro, que subscreveria do princípio ao fim, é não só uma análise correcta e muito bem estruturada da hecatombe que caiu sobre o cristianismo no Ocidente, como um luzeiro que aponta o caminho. É uma verdadeira “ sementeira de esperança” de que tanto temos necessidade. E o seu autor é uma voz autorizada e que vem de uma Igreja mártir e perseguida no século XX .

“ Acreditamos que o Senhor Jesus Cristo, que criou a sua Igreja de modo a levar a cabo a sua a missão no mundo humano, não nos abandonará com a sua ajuda todo-poderosa e o seu apoio: « No mundo, tereis tribulações; mas tende confiança: Eu já venci o mundo! (Jo 16,33 )” ( o.c., pág. 19).

Nesta frase ,do Metropolita Hilarion há esperança que nem sempre vemos no nosso quotidiano amoral, descrente, relativista e efémero.

A presença do Metropolita Hilarion foi uma lufada de esperança que em boa hora ficou registada em livro - «O FUTURO DO CRISTIANISMO».

Do Oriente veio luz. É, de facto, do Oriente que veio e virá a LUZ da luz. Não lhe viremos as costas! Semeemos Esperança voltados para Oriente, pois quem se volta para Oriente não vira as costas ao povo, está com o povo voltado para o Sol Nascente.

  O Metropolita «orientou-nos» nas suas intervenções magistrais.

Na realidade entre Católicos e Ortodoxos há muito que nos une, independentemente dos conflitos internos desta última tradição cristã, que lamento. Há uma linha mariana que nos liga: de Portugal (Fátima) a Moscovo ou Kiev nomeadamente. Por isso, não foi por acaso ou turismo que o Metropolita Hilarion esteve em Fátima. A THEOTOKOS está connosco.

Bem haja à patrocinadora desta edição da Lucerna pela riqueza que coloca sob os nossos olhos para que a mensagem do Metropolita Hilarion penetre em nossos corações.

 

Carlos Aguiar Gomes

 

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

CUIDAR DA TERRA, NOSSA CASA COMUM

S. Bento e o património agrícola
 
   “ O mosteiro, se possível ,deve ser construído de tal maneira que todas as  coisas necessárias, isto é, água, moinho, horta, as diversas oficinas e ateliês, existam no interior do mosteiro, de tal modo que os monges não tenham necessidade de sair dela”. ( Regra de S. Bento, cap. 66 )
   O Santo Patriarca ao impor uma localização  bem definida para a fundação de cada mosteiro , estava, provavelmente, a fazer uma verdadeira revolução no campo da Agricultura. De facto, com esta obrigação e, simultaneamente com a disseminação por toda a Europa, da Atlântico aos Urais, do Mediterrâneo à Escandinávia, da vida inspirada pela sua Regra, quer na tradição de Cluny ( monges negros ) quer na de Cister ( monges brancos ) e até nas Ordens de Cavalaria, S. Bento é o Pai não só da Europa como dos fundamentos de uma maior quantidade e diversidade de produtos agrícolas, de técnicas de irrigação dos campos, de  secagem de pântanos, entre outros contributos que os filhos espirituais de S. Bento deram e continuam a dar neste campo da cultura humana.
  Um monge beneditino brasileiro, Dom Lourenço de Almeida Prado, no seu livro bem interessante  -  “ São Bento e a Sua Obra “ ( ed.Lumen Christi”  , Rio de Janeiro, 1978 )- escreveu:”… tornou-se norma comum , a partir do século VI, que os  mosteiros, apenas construídos, fossem rodeados de actividades produtivas. O trabalho era distribuído entre os monges: uns tomavam a foice, a enxada e o podão e se embrenhavam pelas florestas, que sulcavam  de caminhos, abrindo , de espaço a espaço,grandes clareiras. Os pântanos eram drenados e secos, açudes eram construídos , a terra preparada e, assim, aos poucos iam surgindo os prados e as culturas. Outros dedicavam-se a aclimatar as essências, a introduzir os cereais e a organizar as hortas e os pomares (… ) Não se ignora também o trabalho dos monges no aprimoramento das culturas e , particularmente, na arte da enxertia e da irrigação (… ) A piscicultura e a apicultura mereceram espacial atenção (… ) “. De facto, até à actualidade, onde há monges / monjas de S. Bento ( beneditinos ou cisterciences ) cada mosteiro vive do seu trabalho e quase todos possuem terrenos agrícolas.
Na paisagem agrícola portuguesa, o contributo para o desenvolvimento da riqueza agrícola está bem patente, mesmo para  os mais distraídos , todos reconhecemos Alcobaça e as suas frutas, Lafões e os seus vinhos, Amares  ou, até, o pequeno mosteiro de Ermelo ( Arcos de Valdevez ) deixou a sua marca nas afamadas laranjas. E que dizer do vale do Douro onde Cister esteve tão presente ( Tarouca, Salzedas, etc) e que deixou vinhos de altíssima qualidade?
 Durante séculos os monges , filhos de S. Bento, trabalharam as terras e ensinaram a fazê-lo aos vizinhos. Quem, por exemplo, consultar as actas dos Capítulos trienais da Congregação Portuguesa de S. Bento, pode sem dificuldade, constatar a enorme preocupação dos monges em cultivar as suas propriedades e no investimento nas melhorias das mesmas. Triénio a triénio, até 1834, podemos ver como os monges negros se ocupavam das produções agrícolas. O mesmo para os Cisterciences, monges e monjas.
 Na realidade, a Agricultura actual deve muito a S. Bento, àquele pedacinho da Regra com que se inicia este curtíssimo texto. Refiro novamente Alcobaça importante centro frutícola, que de pântano passou à cidade que é hoje conhecida, sobretudo, pela sua fruta. E como não referir Amares, aqui bem perto desta Basílica, a influência de dois grandes mosteiros, Rendufe e Santa Maria de Bouro, ambos de filiação em S. Bento ( Rendufe, monges negros e Santa Maria de Bouro de cistercienses ), na qualidade das excelentes laranjas desta zona?
Carlos Aguiar Gomes

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Fraternidade Sta Josefina Bahkita

 
Eis o logotipo, elaborado pelo artista brasileiro, Rodrigo Athanilio Santos, membro da MSM, da nossa Fraternidade Internacional Santa Josefina Bahkita, escrava sudanesa que acabou sendo livre na Itália. É nossa referência na luta contra todas as formas de escravidão.

CUIDAR DA TERRA , NOSSA CASA COMUM

 
CRISTÃOS PELO AMBIENTE
 
 
 



     Uma flor caída no solo é reciclada. Vai fazer parte do solo
e do húmus que vai alimentar outras plantas.
Porque reciclamos tão pouco?

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

CUIDAR DA TERRA, NOSSA CASA COMUM

CÍRCULO CRISTÃOS PELA AMBIENTE S. JOÃO GUALBERTO
Arbutus unedo
 

                                                                                     HINO

Louvado seja Deus na Natureza,
Mãe gloriosa e bela da beleza,
E com todas as suas criaturas:
Pelo irmão senhor Sol, o mais bondoso
E glorioso irmão pelas alturas,
O verdadeiro, o belo, que alumia
Criando a pura glória – a luz do dia!

Louvado seja p’las irmãs Estrelas,
Pela irmã Lua que derrama o luar,
Belas, claras irmãs silenciosas
E luminosas, e suspensas no ar.

Louvado seja p’la irmã Nuvem que há-de
Dar-nos a fina chuva que consola;
P’lo Céu azul e pela Tempestade;
P’lo irmão Vento, que rebrame e rola.

Louvado seja pela preciosa,
Bondosa água, irmã útil e bela,
Que brota humilde, é casta e se oferece
A todo o que apetece o gosto dela.

Louvado seja pela maravilha
Que rebrilha no Lume, o irmão ardente,
Tão forte, que amanhece a noite escura,
E tão amável, que alumia a gente.

Louvado seja pelos seus amores,
Pela irmã madre Terra e seus primores,
Que nos ampara e oferta seus produtos,
Arvores, frutos, ervas, pão e flores.

Louvado seja pelos que passaram
Os tormentos do mundo dolorosos,
E, contentes, sorrindo, perdoaram;
Pela alegria dos que trabalharam,
Pela morte serena dos bondosos.

Louvado seja Deus na mãe querida,
A natureza, que fez bela e forte:
Louvado seja pela irmã Vida,
Louvado seja pela irmã Morte. ( Da Liturgia das Horas )


CUIDAR DA TERRA, NOSSA CASA COMUM

 
CRISTÃOS PELO AMBIENTE
 
 
Pela beleza do visível, que temos de amar e proteger, chega-se à Beleza incriada, o Criador.

domingo, 24 de fevereiro de 2019

É POR AQUI...

 
 
É por aqui...
 
 
 
É por aqui que quero seguir
E ir
A tempo e a contratempo,
Apesar das pedras
soltas do caminho,
de tanto atalho
Em que me baralho
Ou da sinaléctica
Errada
Que vou encontrando.
Sei, porém, onde quero chegar,
A meta a atingir,
Que veredas preciso seguir,
Que escolhos devo evitar:
A voz insana
Da aragem, da ventania ou... da moda
Ou a pressão incómoda
De quem me empurra
E desvia
Do caminho por onde quero ir.
 
Carlos Aguiar Gomes ( 30 Out2014)
 

S. Bento, Padroeiro da Europa

 
 
Na Fajãzinha, Ilha das Flores, Açores, no ponto mais a Ocidente da Europa, um lápide lembra S. Bento, Pai e Padroeiro da Europa

sábado, 23 de fevereiro de 2019

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

RECUPERAR A ESPERANÇA _ 3


 

 

Como referi em artigo anterior, destruíram as searas. Não pode, assim, haver colheita de sementes para semear. Que semear se destruíram as searas?

Aqui e ali, resistiram algumas plantas que frutificaram e deram e dão algumas sementes. Poucas e cada vez menos. Não podemos, assim, deixar destruir o muito pouco que resta.

Dou um exemplo, eloquente, do que acabo de referir: na Holanda, o país onde se publicou o infelizmente célebre “ Catecismo “ que tanto brado deu e entusiasmou os adeptos das mudanças na Igreja que a tornassem “ jovial” e atrevida. Moderna. E cortando com o passado bafiento, “constantiniano” ou “ triunfalista”, como se dizia, que dava vocações, enchia as igrejas e tinha missionários “ ad gentes” um pouco por todo o lado. Os Bispos eram do mais avançado e moderno que havia. A Holanda começou com a distribuição da “ comunhão na mão” e até se chegou ao ponto de haver máquinas para distribuir a sagrada comunhão automaticamente. A Igreja da Holanda aprovou e promoveu tudo o que a moral católica de sempre, agora um “ horror de retrógrada”, condenava. A contracepção, o aborto e a eutanásia goram generalizados com o silêncio / cumplicidade da maioria da hierarquia.         Enfim, era o modelo que toda a Europa católica começou a tomar como exemplo. Lembro-me, já aqui o referi, como há mais de 20 anos fui apelidado de “ extrema-direita” por uma professora da Universidade Católica de Nimega(?) por lhe ter dito que o caminho da Igreja , quanto ao sacramento do matrimónio, não podia alterar-se, até porque contrariava a lei natural, senhora que não me conhecia nem nunca me tinha visto. E isto durante um Congresso promovido pelos Bispos holandeses que se mantiveram “mudos e quedos”, como diz o nosso povo.

 Passando à frente muitos e muitos episódios de decomposição e apagamento da Igreja que está ( estava) na Holanda, agora, vende as igrejas por não terem frequência. E não escapam as catedrais: As de Beda e de Groningen-Leeuwarden já foram “ despachadas”, dessacralizadas e depois demolidas. Agora, chegou a vez da de Utreque. Esta vai ser vendida por um euro, se nada se alterar. O Bispo diocesano, Cardeal Eijk ( pouco “ avançado”, aliás) disse recentemente que o “ pequeno número de fiéis que vão à igreja é muito baixo(… ) há igrejas com capacidade para 400/500 pessoas que são frequentadas por escassas dezenas”. E disse mais: “ muitas igrejas já se retiraram do culto e nos próximos 10 anos teremos de fechar a maioria das igrejas. Antigamente havia 350. Restam 200. Prevejo que em 2028, ano em que cumprirei 75 anos e terei de apresentar a minha renúncia ao Santo Padre, a Arquidiocese de Utreque contará com aproximadamente 20 paróquias, com um templo ou dois por cada uma”. E o “ modelo” de modernidade foi copiado fielmente. Em nome do Concílio! A que desobedeceram feroz e tenazmente. A destruição da presença da Igreja na Holanda foi sistemática. Da Bélgica. Da França. Da Alemanha. Também da Espanha, onde de 2000 a 31 de Dezembro de 2018 fecharam 181 conventos e mosteiros. Só. E não digo nada do que se passa entre nós! Por mera cobardia minha! Mas vejo, oiço e sinto o que se passa por cá. E tenho opinião.

As searas foram destruídas. Até o solo onde deveriam crescer as raízes foi atingido. As raízes das plantas que outrora frutificavam, foram arrancadas sem contemplações. Tudo em nome da modernidade. Entendeu-se muito mal o que S. João XXIII queria dizer com o “ aggiornamento”. O que S. Paulo VI queria dizer, impotente, que “ o fumo de satanás tinha invadido a Igreja”.  O que quereria dizer S. João Paulo II Magno quando ( cf. Ecclesia in Europa) se referiu à ausência de memória dos europeus e à delapidação do nosso património?… De Bento XVI não se pode falar: retrógrado ou segundo os espíritos iluminados , um “ erro de casting” do Espírito Santo que deveria estar mais atento às correntes dominantes de demolição da Igreja!

Mas há sinais de esperança. Terrenos frutíferos onde as poucas sementes germinam, apesar da verdadeira perseguição, mais directa do que subtil, que lhe movem os espíritos cheios de modernidade.

Em próximo artigo direi mais da esperança que recuperei em mim com o livro que recolhe várias intervenções, magníficas, do Metropolita Hilarion Alfeyev , da Igreja Ortodoxa Russa e que tive o privilégio de conhecer.

 

Carlos Aguiar Gomes

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

CRISTÃOS PELO AMBIENTE

.HINO
Louvado seja Deus na Natureza,
Mãe gloriosa e bela da beleza,
E com todas as suas criaturas:
Pelo irmão senhor Sol, o mais bondoso
E glorioso irmão pelas alturas,
O verdadeiro, o belo, que alumia
Criando a pura glória – a luz do dia!
Louvado seja p’las irmãs Estrelas,
Pela irmã Lua que derrama o luar,
Belas, claras irmãs silenciosas
E luminosas, e suspensas no ar.
Louvado seja p’la irmã Nuvem que há-de
Dar-nos a fina chuva que consola;
P’lo Céu azul e pela Tempestade;
P’lo irmão Vento, que rebrame e rola.
Louvado seja pela preciosa,
Bondosa água, irmã útil e bela,
Que brota humilde, é casta e se oferece
A todo o que apetece o gosto dela.
Louvado seja pela maravilha
Que rebrilha no Lume, o irmão ardente,
Tão forte, que amanhece a noite escura,
E tão amável, que alumia a gente.
Louvado seja pelos seus amores,
Pela irmã madre Terra e seus primores,
Que nos ampara e oferta seus produtos,
Arvores, frutos, ervas, pão e flores.
Louvado seja pelos que passaram
Os tormentos do mundo dolorosos,
E, contentes, sorrindo, perdoaram;
Pela alegria dos que trabalharam,
Pela morte serena dos bondosos.
Louvado seja Deus na mãe querida,
A natureza, que fez bela e forte:
Louvado seja pela irmã Vida,
Louvado seja pela irmã Morte. ( Da Liturgia das Horas )

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

IDIOTAS ÚTEIS?

Idiotas úteis?!


A propósito das Jornadas Mundiais da Juventude em 2022, divulga-se em espaços religiosos (a Basílica dos Congregados em Braga é um exemplo) um vídeo promocional onde são promovidas pessoas Teofóbicas, dirigentes de organizações que, ao serviço das forças do mal, têm destruído o cristianismo (basta comparar o número de baptizados e casamentos de há trinta anos com os números actuais - não há consequências sem causas), a família, os valores morais herdados, a vida (aborto e eutanásia são dois exemplos)! Não consigo imaginar Jesus Cristo a tomar uma atitude semelhante - como tratou Ele os vendilhões no Templo? Não condenou Ele abertamente a hipocrisia de alguns sectores da sociedade?
Todas as maldades contra o cristianismo e os seus valores têm tido a participação activa do PS (actualmente no poder e, por isso, a aproveitar-se das JMJ). Começou na facilidade do divórcio e no aborto (José Sócrates afirmou orgulhoso que as leis do aborto - sua promoção, traindo o então Presidente Cavaco Silva - e dos “casamentos gay” foram as suas maiores vitórias) e já vai na eutanásia e na ideologia do género (pelo meio, inúmeras maldades, a última das quais a mudança de sexo). A ideologia do género foi condenada pela Conferência Episcopal Portuguesa (Nov2013) mas não foi publicitada a sua condenação nem condenados os seus apoiantes, que por isso receberam os votos de muitos católicos! Sem esses votos não existiria a “geringonça” e não teria havido “barrigas de aluguer”, mudança de sexo, reversão das leis para promover o aborto e não beneficiar as famílias com filhos... nem haveria condições para aprovar a eutanásia e implementar a obrigatoriedade da ideologia do género!... Talvez devido à cobardia de muitos bispos e padres, há muitos católicos que votam nos partidos Cristofóbicos: dizem que distinguem a religião da política! Suponho que, depois de manifestar amor a Jesus Cristo dentro das igrejas, os não perturbe apoiar, fora dos templos, os inimigos desse mesmo Jesus Cristo!... Quem são os responsáveis por esta ignorância conducente ao paganismo e à degradação moral da sociedade?
Como dizia o poeta: fraco rei faz fraca a forte gente!

Cândido Gonçalves

domingo, 17 de fevereiro de 2019

NAMORADOS QUE SE PREZAM DE O SER


Celebramos o Dia dos Namorados em dia de São Valentim. Saudações amigas para todos e votos de muitas felicidades. Os vários interesses da sociedade sempre falam mais alto do que a criatividade de quem sente a responsabilidade de motivar os jovens para o dever que lhes cabe de se irem preparando para, quando o tempo chegar e se for essa a opção, puderem constituir famílias saudáveis e felizes. Entendo que esta preocupação e tarefa deveria ser sentida por todos como causa própria: por famílias, comunidades cristãs e outras comunidades, instituições, pessoas de boa vontade e pelo próprio Estado. Aprofundar e educar para os valores e a riqueza da família vai sendo coisa rara. Não só por isso, mas também por isso, as falências familiares multiplicam-se. É verdade que, por razões várias e nem sempre prevenidas, pode ter-se chegado a situações em que a separação seja totalmente inevitável, como remédio extremo e até moralmente necessário. Sim, exceções sempre houve, é verdade, mas vai-se constatando que a exceção teima em se impor como regra. A sociedade, já tristemente eivada pelo fenómeno, surge apenas com grandes preocupações em remediar os seus efeitos, com tribunais, leis sem conta e minuciosas e, por vezes, em situações duvidosas, até deixa transparecer excesso de zelo que só faz sofrer. Gostaríamos que, mesmo remediando os efeitos, cuidasse mais do tratamento dessa doença social. Isso, porém, não acontece, antes pelo contrário. A sociedade mofa da estabilidade conjugal e das famílias numerosas, promove e divulga contravalores familiares, ensina coisas, coisas que, sem educação e valores, podem ser muito importantes e necessárias, mas vão gerar superioridades autorreferenciais e empresários do descarte, do usa e deita fora.
Apesar de tudo, apesar dos ventos contrários e das águas movediças, apesar de aparentarmos ser vozes solitárias a clamar no deserto, não podemos desistir de remar contra a maré. Vamos fazendo a nossa parte com pena de nem sempre ser da melhor forma ou da forma mais eficaz. É como sabemos e podemos, sempre com humildade e respeito pelas pessoas. Conhecedora da história e com uma história de dois mil anos, a Igreja não esquece que a destruição da família nunca conduziu as sociedades a bom porto. A Exortação Apostólica do Papa Francisco sobre a Alegria do Amor, sobretudo no seu capítulo VI, aponta-nos caminhos pastorais para um sério empenhamento na preparação para o matrimónio dos jovens cristãos e dos de boa vontade. O namoro é um direito e um dever para quem deseja constituir família. É um tempo necessário para individualizar convergências, incompatibilidades e riscos. Não deve esconder ou relativizar o que é importante avaliar, nem evitar as discordâncias ou adiar as dificuldades. No entanto, se tudo acontece de braço dado com o controlo, ameaças, agressões, chantagens, difamações, medos, manhosices: se isso acontece, melhor será ter a coragem de acabar, não há educação humana nem as mínimas condições exigidas para prosseguir. Cada um deve sentir-se no dever de expressar ao outro o que entende e espera dum eventual matrimónio, comunidade de vida e de amor aberta à vida. Deve expor o seu entendimento sobre o que é para si o amor e o mútuo compromisso. Deve partilhar o que deseja do outro e o tipo de vida em comum que sonha e gostaria de concretizar. Deve detetar, antes do matrimónio, os sinais de perigo que a relação pode vir a apresentar e se há meios que permitam enfrentá-los com êxito. Só a verdade liberta e constrói. O namoro ajuda a entender quais são os pontos de proximidade: se os há, se os não há, se são escassos, se são incompatíveis e sem solução, se são passíveis de uma caminhada conjunta. Ninguém ama o que não conhece e muitos decidem casar sem se conhecerem tanto quanto baste. Divertem-se, fazem experiências juntos, mas não enfrentam o desafio de se manifestar a si mesmos e apreender quem é realmente o outro. Aprender a amar alguém não é algo que se improvise ou se decida já e agora, sem demora, idealizando paraísos. A mera atração mútua, se é importante, não será suficiente para sustentar uma união estável e feliz. Há que aprofundar outras motivações que confiram ao possível matrimónio reais possibilidades de estabilidade e êxito, sem atitudes interesseiras ou jogos de tipo comercial. O matrimónio é uma questão de amor entre um homem e uma mulher que se escolhem livremente e se amam, passando de uma atração inicial, à necessidade do outro, do outro sentido como parte da própria vida. Se o amor se reduzir a uma mera atração ou a uma vaga afetividade, é de prever que o casal venha a sofrer grande fragilidade quando a afetividade entrar em crise ou a atração física diminuir. E muitas vezes o tempo de namoro e noivado é curto e leve, não é suficiente para uma verdadeira maturação. Por isso, depois se casarem, muitos continuam, e bem, a completar aquele percurso nos primeiros anos de vida matrimonial, enriquecendo e aprofundando a decisão consciente e livre de se pertencerem e amarem até ao fim. Os movimentos da pastoral familiar e as equipas de espiritualidade conjugal são um excelente meio para este crescimento. Como afirma Francisco, o amor é artesanal, o matrimónio é um caminho dinâmico de crescimento e realização, é um projeto sempre inacabado.
Os jovens, aqueles que têm a sorte de ser contagiados na dinâmica do amor e na abertura à comunidade pelo testemunho familiar, são os primeiros a saber aproveitar as instâncias e iniciativas de formação que a comunidade cristã oferece: os grupos de jovens com as suas atividades e convívio, os grupos de noivos, a ação social, a integração na vida eclesial, a oferta de palestras sobre uma variedade de temas que realmente interessam aos jovens, incluindo a castidade, os cursos antes da celebração do matrimónio, a possibilidade de alguns momentos personalizados, dado que o principal objetivo é ajudar cada um a aprender a amar a pessoa concreta com quem pretende partilhar a vida inteira, etc. Como se lê no documento, não se trata de saber o Catecismo inteiro nem de ficar empanturrado com o excesso de temas. Não é o muito saber que enche e satisfaz, mas o sentir e saborear interiormente as coisas, amadurecendo o amor e ganhando resistências saudáveis para o que de menos bom poderá surgir. Por isso, a prioridade é dada àqueles conteúdos que ajudam a celebrar o matrimónio com as melhores disposições e a começar a vida familiar com alguma solidez, alegria e esperança. Estas ajudas não são apenas doutrinais ou recursos espirituais que a Igreja sempre oferece, como a Reconciliação sacramental, os momentos de oração a sós e juntos, a oração de um pelo outro e de ambos a Deus para que sejam fiéis e generosos ao que Deus espera deles, a consagração do seu amor diante duma imagem de Maria... Devem ser também percursos práticos, conselhos bem encarnados, estratégias tomadas da experiência, orientações psicológicas, indicação de lugares e pessoas, consultórios ou famílias prontas a ajudar, aonde poderão dirigir-se em busca de ajuda se surgirem dificuldades. Tudo isto cria uma pedagogia do amor que, tendo em vista a sensibilidade atual dos jovens, os leva a querer assumir o matrimónio como uma vocação que os lança para diante, com a decisão firme e realista de atravessarem juntos as provações e os momentos difíceis até que a morte os separe (cf. AL206-214).

Antonino Dias , Bispo de Portalegre-Castelo Branco

RECUPERAR A ESPARANÇA - 2


                                                

 

“ … Prossegui, não para criar uma Igreja paralela, um pouco mais “ jovial” e atrevida numa modalidade para jovens, com alguns elementos decorativos, como se isso pudesse deixar-vos contentes.” ( Papa Francisco, Panamá, 24.I.2019)

 

Andam por aí sereias a anunciar uma Igreja “ jovial” e atrevida… Andam e cada vez mais se esvaziam as igrejas. Não se dão conta deste fenómeno tão evidente?

Os batuques, as guitarras, os cânticos ocos e sem sentido, as meias verdades sobre os pecados, as mentiras sobre os dogmas, o desleixo inqualificável das celebrações, as “ inovações” constantes e chocantes e as aberrações “ litúrgicas” que tenho visto e não raras vezes, diga-se de passagem, tornam a Igreja “ jovial” e atrevida… mas esvaziando-se todos os dias.

Acresce a todas estas situações e outras de igual jaez um estado crítico em que vive a Igreja na Europa :“ ( as ) Igrejas na Europa, frequentemente provadas por um ofuscamento da esperança”, com escreveu S. João Paulo II Magno, em 2003, na Exortação Apostólica Pós-Sinodal “ Ecclesia in Europa “ ( nº7.). E este extraordinário Papa, que não podemos deixar esquecer ( dava jeito a alguns!), no documento acima citado, elenca alguns sinais demasiado evidentes deste ofuscamento da esperança:

1.       “… a crise da memória e herança cristãs”;

2.       “ … acompanhada por uma espécie de agnosticismo prático e indiferentismo religioso… “;

3.       “ … muitos europeus ( dão a impressão )  de viver sem substracto espiritual”;

4.       “ … como herdeiros que delapidaram o  património que lhes foi entregue pela história.” ( nº7 ). Note-se, a propósito, o desprezo militante com que é tratado o “ Cântico gregoriano”, por exemplo, ou as mutilações a que foram submetidos tantos templos antigos, mas orantes, chegando ao cúmulo de se mudarem, até, designações como Capela da Imaculada Conceição para Capela imaculada(!).

 

 

E diz S. João Paulo II Magno que “ esta crise da memória cristã é acompanhada por uma espécie de medo de enfrentar o futuro” ( id).

 A felicidade é um bem com esperança. Mas a felicidade, buscada no efémero do aqui e agora prazeroso, não nos projecta no amanhã. Colapsa quando o aqui e agora se extinguem. Por isso, sem memória e, obviamente sem esperança ( quem não tem memória não tem esperança!), vive-se hoje momento a momento. Por isso, tudo o que contraria ou dificulta este “ agorismo” é combatido ferozmente e, assim, se apagam as memórias das famílias e dos povos, tornando estas realidades obsoletas para se implantarem novas mundividências relativistas. Assim, há medo de se enfrentar o futuro. E o futuro mais profundo é a vida eterna, a esperança da Esperança. Ora, “ semear esperança” é recuperar a esperança perdida porque a baniram na nossa realidade familiar, eclesial e social. Atulharam-nos da banalidade. Privaram-nos do perene. Dos alicerces.

 Ceifaram as searas de onde brotariam as sementes a semear. Dizimaram e deixaram ( e deixámos) dizimar a seara dos valores que formaram esta Cultura que morreu em nossos dias.

… Mas os campos estão aí. Podem ser cuidados de novo. Se as sementeiras forem protegidas dos predadores que andam à solta e dominam as paisagens espirituais, culturais e sociais. Dá trabalho? Pois dá! Mas é o preço que temos de pagar por termos sido coniventes na destruição das sementes, searas a haver, parafraseando o Poeta.

Há, pois, que recuperar a esperança para a semear.

 

Carlos Aguiar Gomes

 

 

 

 

 

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Festa de S. CIRILO E DE SEU IRMÃO S.METÓDIO

Da Vida de Constantino em língua eslava
(Cap. 18: Denkschriften der kaiserl.
Akademie der Wissenschaften 19 [Wien 1870], 246)
 
Fazei crescer a vossa Igreja e reuni a todos na unidade
 
 
   Constantino Cirilo, fatigado pelos muitos trabalhos, caiu doente; e quando havia já muitos dias que suportava a doença, teve em certa ocasião uma visão de Deus e começou a cantar assim: «O meu espírito alegrou-se e o meu coração exultou, quando me disseram: Vamos para a casa do nosso Deus».
   Depois envergou trajes de cerimónia e permaneceu assim todo aquele dia, cheio de alegria e dizendo: «A partir de agora não sou servo nem do imperador, nem de homem algum na terra, mas unicamente de Deus Omnipotente. Eu não existia, mas agora existo e existirei para sempre. Amen».
   No dia  seguinte, vestiu o santo hábito monástico e, juntando luz à luz, impôs-se o nome de Cirilo. E permaneceu assim cinquenta dias. Ao chegar a hora de receber o repouso e de emigrar para as habitações eternas, ergueu as mãos para Deus e rezou, chorando e dizendo:
   «Senhor meu Deus, que criastes todas as ordens de anjos e os espíritos incorpóreos, estendestes o céu e firmastes a terra e formastes do nada todas as coisas que existem, Vós que sempre atendeis aqueles que fazem a vossa vontade, Vos temem e observam os vossos preceitos, atendei a minha oração e conservai na fidelidade o vosso povo de quem me fizestes servo incompetente e indigno.
   Livrai-o da malícia ímpia e pagã dos que blasfemam contra Vós; fazei crescer a vossa Igreja e reuni a todos na unidade. Ao povo escolhido tornai-o concorde na fé verdadeira e na recta confissão e inspirai aos seus corações a palavra da vossa doutrina: porque é dom vosso que nos tenhais escolhido para  pregar o Evangelho do vosso ungido, incitando-nos a praticar boas obras e a fazer o que é do vosso agrado. Aqueles que me destes, eu Vo-los devolvo, porque são vossos; governai-os com a vossa mão direita e protegei-os à sombra das vossas asas, para que todos louvem e glorifiquem o vosso nome, Pai e Filho e Espírito Santo. Amen».
   Depois de ter beijado a todos com o ósculo santo, disse: Bendito seja Deus, que não nos entregou aos dentes dos nossos adversários, mas rompeu as suas redes e nos libertou do mal que tramavam contra nós». E assim adormeceu no Senhor, com a idade de quarenta e dois anos.
   O Papa ordenou que todos os gregos que estavam em Roma, juntamente com os romanos, se reunissem, acendessem velas e cantassem as suas exéquias, e que lhe fossem dadas honras funerárias não inferiores às que seriam tributadas ao próprio Papa; e assim se fez. Da Liturgia das Horas do dia 14 de Fevereiro)



BREVÍSSIMA BIOGRAFIA

SANTOS CIRILO E METÓDIO

Co-padroeiros da Europa

14 de FEVEREIRO

 

S. João Paulo II, proclamou os santos irmãos, Cirilo e Metódio ( nascidos no século IX), com S. Bento, padroeiros da Europa. Aquele  Pontífice  referiu na ocasião que « a Europa respira com dois pulmões: a Ocidente com S. Bento e a Oriente com os santos Cirilo e Metódio » Estes dois irmãos são os grandes evangelizadores dos eslavos. S. Cirilo deu a estes um alfabeto , de origem grega, e que ainda hoje toma o seu nome : alfabeto cirílico.

A Militia Sanctae Mariae – cavaleiros de Nossa Senhora, tem uma Fraternidade – Fraternidade S. Bento , por uma Europa cristã - que luta pela promoção de uma Europa fiel às suas raízes cristãs e que tem com co-padroeiros  os Santos Bento, Cirilo e Metódio. Assim , no dia 14 , dia dos santos Cirilo e Metódio, vão ser recordados estes santos, de quem o Papa João Paulo II disse em 1981:

«Como Paulo e Barnabé, os santos Cirilo e Metódio, irmãos no sangue e mais ainda na fé, foram intrépidos seguidores de Cristo e incansáveis pregadores da Palavra de Deus.

Nascidos em Tessalónica, cidade onde São Paulo desenvolveu parte da sua atividade apostólica e a cujos primeiros fiéis enviou duas Cartas, os dois irmãos entraram em contacto espiritual e cultural com a Igreja patriarcal de Constantinopla, então florescente pela cultura teológica e pela atividade missionária, e souberam unir as exigências e os compromissos da vocação religiosa com o serviço missionário. Os Czares da Crimeia foram as primeiras testemunhas do ardor apostólico deles; mas a sua mais importante obra evangelizadora foi a missão da Grande Morávia, empreendida depois que o príncipe Rastislau da Morávia lhes tinha conseguido a permissão do imperador e da Igreja de Constantinopla.

A obra apostólica e missionária, tão complexa e diversificada, dos santos Cirilo e Metódio, considerada hoje à distância de onze séculos sob multíplices aspetos, apresenta-se rica de uma extraordinária fecundidade e também de uma excecional importância teológica, cultural e ecuménica: aspetos estes que interessam não só à história da Igreja, mas também à civil e política de uma parte do Continente Europeu.» … «Cirilo e Metódio foram dois autênticos "operários" da messe de Deus.» …«E neste dia da sua festividade, a Igreja, exaltando a meritória ação apostólica deles, está consciente de ter hoje ainda mais necessidade de cristãos capazes de dar o seu contributo de compromisso, de energia e de entusiasmo para o anúncio da mensagem de salvação em Cristo Jesus».

 

 

O Mestre e primeiro servidor da MSM

Carlos Aguiar Gomes

( Miles – pauper et peccator )

 

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

QUE TENS TU QUE NÃO TENHAS RECEBIDO?


Em dia litúrgico de Nossa Senhora de Lurdes, 11 de fevereiro, celebramos o XXVII Dia Mundial do Doente, sob o lema «Recebestes de graça, dai de graça» (Mt 10,8). Na sua Mensagem para este dia, o Papa vem-nos lembrar que o caminho mais credível da evangelização está nos “gestos de dom gratuito como os do Bom Samaritano” e que “o cuidado dos doentes precisa de profissionalismo e de ternura, de gestos gratuitos, imediatos e simples”. A saúde “é relacional, depende da interação com os outros e precisa de confiança, amizade e solidariedade”. Para que conheçamos e sintonizemos com a Mensagem de Francisco para este dia, vou rebuscar daí algumas passagens.
Instituído em 1992 por São João Paulo II, o Dia Mundial do Doente celebra-se sempre neste dia e em toda a parte. Este ano, a celebração mais solene tem lugar em Calcutá, na Índia. Francisco refere que foi aqui que Santa Teresa de Calcutá tornou visível o amor de Deus pelos pobres e pelos doentes. Foi aqui que ela se fez “disponível a todos, através do acolhimento e da defesa da vida humana, dos nascituros e dos abandonados e descartados” Foi aqui que ela desceu “até às pessoas indefesas, deixadas moribundas à beira da estrada, reconhecendo a dignidade que Deus lhes dera”. Foi aqui que ela fez ouvir a sua voz aos poderosos da terra, para que reconhecessem a sua culpa diante dos crimes” da pobreza que eles próprios tinham criado. Foi aqui, “nas periferias das cidades e nas periferias existenciais” que ela deu ao mundo “um testemunho eloquente da proximidade de Deus junto dos mais pobres entre os pobres». Foi aqui que ela testemunhou ter como único critério de ação “o amor gratuito para com todos, sem distinção de língua, cultura, etnia ou religião. Foi aqui que ela rasgou “horizontes de alegria e esperança para a humanidade necessitada de compreensão e ternura, especialmente para as pessoas que sofrem”.
A vida é um dom de Deus, de reconhecimento recíproco, todos tudo recebemos, gratuitamente. Sim, “em que és tu mais do que os outros? O que tens tu que não tenhas recebido?» (1 Cor 4,7). No entanto, porque o homem é sempre humano, continua pretensioso, a esticar-se e a chegar-se à frente para se fazer valer diante dos outros e se autorreferenciar. Nada de novo sobre a face da terra, já lá dizia Coélet no século III antes de Cristo: Vaidade das vaidades, tudo é vaidade! (cf. Ecles 1, 2).
Contra a cultura desumana do descarte e da indiferença, o Papa afirma “que há de colocar-se o dom como paradigma capaz de desafiar o individualismo e a fragmentação social dos nossos dias”. Há que promover novos vínculos e várias formas de cooperação humana, tendo, como pressuposto do dom, o diálogo, que abre espaços relacionais de crescimento e progresso humano e rompe com esquemas de poder consolidados. E acrescenta: “Dar não se identifica com o ato de oferecer um presente, porque só pode dizer-se “dom” se nos dermos a nós mesmos: não pode reduzir-se à mera transferência de uma propriedade ou de algum objeto. Distingue-se de “oferecer um presente” precisamente porque inclui o dom de si mesmo e supõe o desejo de estabelecer um vínculo. O dom “é um reconhecimento recíproco, que constitui o caráter indispensável do vínculo social. No dom há o reflexo do amor de Deus que culmina na encarnação do Filho Jesus e na efusão do Espírito Santo”.
Cada um de nós, sem exceção, “é pobre, necessitado e indigente. Quando nascemos, para viver tivemos necessidade dos cuidados dos nossos pais; de forma semelhante, em cada fase e etapa da vida, cada um de nós nunca conseguirá, de todo, ver-se livre da necessidade e da ajuda dos outros, nunca conseguirá arrancar de si mesmo o limite da impotência face a alguém ou a alguma coisa” Por isso, o reconhecimento leal desta verdade “convida-nos a permanecer humildes e a praticar com coragem a solidariedade, como virtude indispensável à existência”. Estando, por natureza, ligados uns aos outros e sentindo-nos como irmãos, somos impelidos “a uma práxis responsável e responsabilizadora”, socialmente solidária e orientada para o bem comum. “Não devemos ter medo de nos reconhecermos necessitados e incapazes de nos darmos tudo aquilo de que teríamos necessidade, porque não conseguimos, sozinhos e apenas com as nossas forças, vencer todos os limites. Não temamos este reconhecimento, porque o próprio Deus, em Jesus, desceu (cf. Flp 2,8), e desce até nós e até às nossas pobrezas para nos ajudar e nos dar aqueles bens que, sozinhos, nunca poderíamos ter”.
A Papa refere ainda a gratuidade humana como sendo “o fermento da ação dos voluntários, que têm tanta importância, quer no sector social, quer no da saúde, e que vivem de modo eloquente a espiritualidade do Bom Samaritano”. Insiste na necessidade de promover a cultura da gratuidade e do dom, indispensável para superar a cultura do lucro e do descarte. Encoraja todas as associações de voluntariado, aquelas que se ocupam do transporte e assistência dos doentes, aquelas que possibilitam as doações de sangue, de tecidos e de órgãos, aqueles que, com a sua presença, expressam a solicitude da Igreja junto dos doentes, sobretudo de quantos se veem afetados por patologias que exigem cuidados especiais, aqueles que prestam os seus serviços de voluntariado nas estruturas de saúde e no domicílio, desde a assistência ao apoio espiritual. O voluntário, afirma Francisco, “é um amigo desinteressado, a quem se pode confidenciar pensamentos e emoções; através da escuta, ele cria as condições para que o doente deixe de ser objeto passivo de cuidados e se torne sujeito ativo e protagonista duma relação de reciprocidade, capaz de recuperar a esperança e mais capaz de aceitar os tratamentos. O voluntariado comunica valores, comportamentos e estilos de vida que, no centro, têm o fermento da doação. Deste modo realiza-se também a humanização dos cuidados”.

Antonino Dias, Bispo de Portalegre-Castelo Branco

domingo, 10 de fevereiro de 2019

DECLARAÇÃO DE FÉ - Cardeal Muller


                      DECLARAÇÃO DE FÉ do Cardeal Muller


Declaração de Fé


“Não se perturbe o vosso coração!” (Jo 14, 1)


Diante de uma confusão cada vez mais generalizada no ensino da fé, muitos bispos, sacerdotes, religiosos e leigos da Igreja Católica pediram-me para dar testemunho público da verdade da Revelação. A tarefa dos pastores é guiar os homens que lhes são confiados pelo caminho da salvação, e isso só pode acontecer se tal caminho for conhecido e se eles forem os primeiros a percorrê-lo. A esse respeito, o Apóstolo advertiu: “Transmiti-vos, em primeiro lugar, o que eu próprio recebi” (1Cor 15, 3). Hoje, muitos cristãos nem sequer conhecem os fundamentos da fé, com um crescente perigo de não encontrarem o caminho que leva à vida eterna. No entanto, a tarefa própria da Igreja continua a ser levar as pessoas a Jesus Cristo, a luz dos gentios (cf. LG 1). Nesta situação, alguém se pergunta como encontrar a orientação correta. Segundo João Paulo II, o Catecismo da Igreja Católica representa uma “norma segura para o ensino da fé” (Fidei Depositum IV). Foi escrito para fortalecer os irmãos e irmãs na fé, uma fé posta à prova pela “ditadura do relativismo”[1].

1. Deus uno e trino, revelado em Jesus Cristo


O epítome da fé de todos os cristãos reside na confissão da Santíssima Trindade. Nós tornamo-nos discípulos de Jesus, filhos e amigos de Deus, através do Batismo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. A diferença das três pessoas na unidade divina (254) marca uma diferença fundamental na fé em Deus e na imagem do homem em relação às outras religiões. Reconhecido Jesus Cristo, os fantasmas desaparecem. Ele é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, encarnado no ventre da Virgem Maria pela obra do Espírito Santo. O Verbo feito carne, o Filho de Deus é o único Salvador do mundo (679) e o único mediador entre Deus e os homens (846). Por esta razão, a primeira carta de João refere-se àquele que nega a sua divindade como o anticristo (1Jo 2, 22), visto que Jesus Cristo, Filho de Deus, desde a eternidade é um único ser com Deus, seu Pai (663). É com clara determinação que é necessário enfrentar o reaparecimento de antigas heresias que em Jesus Cristo viam apenas uma boa pessoa, um irmão e um amigo, um profeta e um exemplo de vida moral. Ele é, antes de tudo, a Palavra que estava com Deus e é Deus, o Filho do Pai, que tomou a nossa natureza humana para nos redimir e que virá para julgar os vivos e os mortos. Só a Ele adoramos em união com o Pai e o Espírito Santo como o único e verdadeiro Deus (691).

2. A Igreja


Jesus Cristo fundou a Igreja como sinal visível e instrumento de salvação, que subsiste na Igreja Católica (816). Ele deu à sua Igreja, que “nasceu do coração trespassado de Cristo morto na cruz” (766), uma estrutura sacramental que permanecerá até ao pleno cumprimento do Reino (765). Cristo, cabeça, e os crentes como membros do corpo são uma pessoa mística (795), por essa razão a Igreja é santa, visto que Cristo, o único mediador, a estabeleceu na terra como um organismo visível e continuamente a apoia (771). Por meio dela, a obra redentora de Cristo torna-se presente no tempo e no espaço com a celebração dos Santos Sacramentos, especialmente no Sacrifício Eucarístico, a Santa Missa (1330). Com a autoridade de Cristo, a Igreja transmite a revelação divina, “que se estende a todos os elementos da doutrina, incluindo a moral, sem a qual as verdades salvíficas da fé não podem ser guardadas, expostas ou observadas” (2035).

3. A Ordem sacramental


A Igreja é em Jesus Cristo o sacramento universal da salvação (776). Ela não se reflecte a si mesma, mas a luz de Cristo, que resplandece no rosto, e isso só acontece quando o ponto de referência não é a opinião da maioria, nem o espírito dos tempos, mas a verdade revelada em Jesus Cristo, que confiou à Igreja Católica a plenitude da graça e da verdade (819): Ele mesmo está presente nos Sacramentos da Igreja.

A Igreja não é uma associação criada pelo homem, cuja estrutura pode ser modificada pelos seus membros à vontade: é de origem divina. “O próprio Cristo é a origem do ministério na Igreja. Ele instituiu-a, deu-lhe autoridade e missão, orientação e fim” (874). A admoestação do Apóstolo ainda é válida hoje, segundo a qual é amaldiçoado alguém que proclama outro Evangelho, “nós mesmos, ou um anjo do céu” (Gl 1, 8). A mediação da fé está intrinsecamente ligada à credibilidade humana dos seus pregadores: em alguns casos, abandonaram aqueles que lhes haviam sido confiados, perturbando-os e prejudicando seriamente a sua fé. Para eles cumpre-se a palavra da Escritura: “virão tempos em que o ensinamento salutar não será aceite, mas as pessoas acumularão mestres que lhes encham os ouvidos, de acordo com os próprios desejos” (2 Tm 4,3-4).

A tarefa do Magistério da Igreja para com o povo de Deus é “protegê-lo de desvios e falhas” para que possa “professar sem erro a fé autêntica” (890). Isto é especialmente verdadeiro em relação aos sete sacramentos. A Sagrada Eucaristia é “a fonte e o cume de toda a vida cristã” (1324). O Sacrifício Eucarístico, em que Cristo nos envolve no sacrifício da cruz, visa a união mais íntima com Ele (1382). Por isso, a Sagrada Escritura alerta para as condições para receber a Sagrada Comunhão: “Assim, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor” (1Cor 11, 27) e, em seguida, “Quem está ciente de que cometeu um pecado grave, deve receber o sacramento da Reconciliação antes de receber a Comunhão” (1385). Da lógica subjacente ao sacramento percebe-se que os divorciados e recasados ​​civilmente, cujo casamento sacramental diante de Deus ainda é válido, bem como todos aqueles cristãos que não estão em plena comunhão com a fé católica e também todos aqueles que não estão devidamente preparados, não recebem a Sagrada Eucaristia frutiferamente (1457), porque deste modo não os leva à salvação. Realçá-lo, corresponde a uma obra de misericórdia espiritual.

O reconhecimento dos pecados na Santa Confissão, pelo menos uma vez por ano, é um dos preceitos da Igreja (2042). Quando os crentes já não confessam os seus pecados recebendo a absolvição, a salvação trazida por Cristo torna-se vã, pois Ele fez-se homem para nos redimir dos nossos pecados. O poder do perdão, que o Ressuscitado conferiu aos Apóstolos e aos seus sucessores no Episcopado e no Sacerdócio, restaura os pecados graves e veniais cometidos depois do Baptismo. A prática actual da confissão mostra que a consciência dos crentes não está suficientemente formada. A misericórdia de Deus é-nos dada para que possamos cumprir os seus Mandamentos para nos conformarmos à sua santa vontade e não para evitar o chamamento à conversão (1458).

“É o sacerdote que continua a obra da redenção na terra” (1589). A ordenação, que confere ao sacerdote “um poder sagrado” (1592), é insubstituível porque, através dele, Jesus torna-se sacramentalmente presente na sua ação salvadora. Os sacerdotes escolhem voluntariamente o celibato como “um sinal dessa nova vida” (1579). Trata-se da entrega de si para o serviço de Cristo e do Seu Reino vindouro. A fim de conferir a ordenação validamente nos três graus do Sacramento, a Igreja reconhece-se como limite para a escolha feita pelo próprio Senhor, “por esta razão a ordenação de mulheres não é possível” (1577). A este respeito, falar de discriminação contra as mulheres demonstra claramente uma incompreensão deste Sacramento, que não diz respeito a um poder terrestre, mas à representação de Cristo, o Esposo da Igreja.

4. A lei moral


Fé e vida são inseparáveis, porque a fé sem as obras feitas no Senhor é morta (1815). A lei moral é o trabalho da sabedoria divina e leva o homem à beatitude prometida (1950). Consequentemente, a “lei divina e natural mostra ao homem o caminho a seguir para fazer o bem e alcançar o seu objetivo” (1955). A sua observância é necessária para que todas as pessoas de boa vontade alcancem a salvação eterna. De facto, aquele que morre em pecado mortal sem arrependimento permanecerá para sempre separado de Deus (1033). Isto implica consequências práticas na vida dos cristãos, entre as quais é oportuno recordar aquelas que hoje são mais frequentemente negligenciadas (cf. 2270-2283; 2350-2381). A lei moral não é um fardo, mas faz parte dessa verdade libertadora (cf. Jo 8, 32), através da qual o cristão caminha no caminho da salvação e não deve ser relativizada.

5. Vida Eterna


Muitos hoje perguntam porquê a Igreja ainda existe se os próprios bispos preferem agir como políticos, em vez de mestres da fé e proclamar o Evangelho. O olho não se deve deter em questões secundárias, mas é mais necessário do que nunca para a Igreja assumir a sua própria tarefa. Todo o ser humano tem uma alma imortal, que na sua morte é separada do corpo, mas com a esperança da ressurreição dos mortos (366). A morte toma a decisão do homem a favor ou contra Deus. Todos terão que enfrentar o juízo pessoal imediatamente após a morte (1021): ou será necessária uma purificação ou o homem irá diretamente para a felicidade celestial e será permitido contemplar Deus face-a-face. Mas há também a terrível possibilidade de que uma pessoa, até ao fim, permaneça em contradição com Deus: rejeitando definitivamente o seu amor, “chorará imediatamente para sempre” (1022). “Deus, que nos criou sem nós, não nos quis salvar sem nós” (1847). A eternidade da punição do Inferno é uma realidade terrível, que, de acordo com o testemunho das Sagradas Escrituras, diz respeito a todos aqueles que “morrem em estado de pecado mortal” (1035). O cristão atravessa a porta estreita, “porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que seguem por ele” (Mt 7, 13).
Manter em silêncio estas e outras verdades da fé ou ensinar o oposto é o pior engano contra o qual o Catecismo adverte vigorosamente. Esta representa a última prova da Igreja, ou “uma impostura religiosa que oferece aos homens uma solução aparente para os seus problemas, ao preço da apostasia da verdade” (675). É o engano do Anticristo, que vem “com todo o tipo de seduções de injustiça para os que se perdem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos” (2Ts 2, 10).

Apelo


Como trabalhadores na vinha do Senhor, todos nós temos a responsabilidade de recordar estas verdades básicas que se agarram ao que nós mesmos recebemos. Queremos dar coragem para percorrer o caminho de Jesus Cristo com determinação, a fim de obter a vida eterna seguindo os Seus mandamentos (2075).

Pedimos ao Senhor que nos deixe saber quão grande é o dom da fé católica, através do qual a porta para a vida eterna é aberta. “Pois quem se envergonhar de mim e das minhas palavras entre esta geração adúltera e pecadora, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai, com os santos anjos” (Mc 8, 38). Portanto, estamos comprometidos em fortalecer a fé confessando a verdade que é o próprio Jesus Cristo.

O aviso que Paulo, o apóstolo de Jesus Cristo, dá ao seu colaborador e sucessor Timóteo é dirigido particularmente a nós, bispos e padres. Ele escreveu: “Diante de Deus e de Cristo Jesus, que há-de julgar os vivos e os mortos, peço-te encarecidamente, pela sua vinda e pelo seu Reino: proclama a palavra, insiste em tempo propício e fora dele, convence, repreende, exorta com toda a compreensão e competência. Virão tempos em que o ensinamento salutar não será aceite, mas as pessoas acumularão mestres que lhes encham os ouvidos, de acordo com os próprios desejos. Desviarão os ouvidos da verdade e divagarão ao sabor de fábulas. Tu, porém, controla-te em tudo, suporta as adversidades, dedica-te ao trabalho do Evangelho e desempenha com esmero o teu ministério” (2Tm 4, 1-5).

Que Maria, Mãe de Deus, implore a graça de nos apegarmos à confissão da verdade de Jesus Cristo sem vacilar.

Unidos na fé e na oração,

Gerhard Cardeal Müller
Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé entre 2012 e 2017

 

[1] Os números que aparecem no texto correspondem ao Catecismo da Igreja Católica.

 

 

 

 

 

 

Declaración de fe «¡No se turbe vuestro corazón!» (Juan 14,1) - Cardenal Müller – Versão espanhola

«¡No se turbe vuestro corazón!» (Juan 14,1)

Ante la creciente confusión en la enseñanza de la doctrina de la fe, muchos obispos, sacerdotes, religiosos y laicos de la Iglesia Católica, me han pedido dar testimonio público de la verdad de la Revelación. Es tarea de los pastores guiar a los que se les ha confiado por el camino de la salvación. Esto sólo puede tener éxito si se conoce este camino y ellos mismos siguen adelante. Acerca de esto la palabra del apóstol nos indica: «Porque sobretodo os he entregado lo que yo también recibí» (1 Co 15,3). Hoy en día muchos cristianos ya no son conscientes ni siquiera de las enseñanzas básicas de la fe, por lo que existe un peligro creciente de apartarse del camino que lleva a la vida eterna. Pero sigue siendo tarea propia de la Iglesia conducir a las personas a Jesucristo, luz de las naciones (cf. LG 1). En esta situación se plantea la cuestión de la orientación. Según Juan Pablo II, el Catecismo de la Iglesia Católica es una «norma segura para la doctrina de la fe» (Fidei Depositum IV). Fue escrito con el objetivo de fortalecer a los hermanos y hermanas en la fe, cuya fe es ampliamente cuestionada por la «dictadura del relativismo»1.

1. El Dios uno y trino, revelado en Jesucristo

La personificación de la fe de todos los cristianos se encuentra en la confesión de la Santísima Trinidad. Nos hemos convertido en discípulos de Jesús, hijos y amigos de Dios por el bautismo en el nombre del Padre y del Hijo y del Espíritu Santo. La diferencia de las tres personas en la unidad divina (254) marca una diferencia fundamental con respecto a otras religiones en la creencia en Dios y en la imagen del hombre. En la confesión a Jesucristo los espíritus se dividen. Él es verdadero Dios y verdadero hombre, engendrado según su naturaleza humana por el Espíritu Santo y nacido de la Virgen María. El Verbo hecho carne, el Hijo de Dios, es el único redentor del mundo (679) y el único mediador entre Dios y los hombres (846). En consecuencia, la Primera Carta de san Juan describe como Anticristo al que niega su divinidad (1 Juan 2,22), ya que Jesucristo, el Hijo de Dios, es desde la eternidad un ser con Dios, su Padre (663). La recaída en antiguas herejías, que veían en Jesucristo sólo a un buen hombre, a un hermano y amigo, a un profeta y a un moralista, debe ser combatida con clara determinación. Él es ante todo el Verbo que estaba con Dios y es Dios, el Hijo del Padre, que asumió nuestra naturaleza humana para redimirnos y que vendrá a juzgar a los vivos y a los muertos. Lo adoramos sólo a Él como el único y verdadero Dios en unidad con el Padre y el Espíritu Santo (691).

2. La Iglesia

Jesucristo fundó la Iglesia como signo visible e instrumento de salvación, que subsiste en la Iglesia Católica (816). Dio una constitución sacramental a su Iglesia, que surgió «del costado de Cristo dormido en la Cruz» (766), y que permanece hasta su consumación (765). Cristo Cabeza y los fieles como miembros del Cuerpo son una persona mística (795), por eso la Iglesia es santa, porque el único mediador la ha establecido y mantiene su estructura visible (771). A través de ellos, la obra de la redención de Cristo se hace presente en el tiempo y en el espacio en la celebración de los santos sacramentos, especialmente en el sacrificio eucarístico, la Santa Misa (1330).

La Iglesia transmite en Cristo la revelación divina que se extiende a todos los elementos de la doctrina, «incluida la doctrina moral, sin la cual las verdades de la salvación de la fe no pueden ser salvaguardas, expuestas u observadas» (2035).

3. El orden sacramental

La Iglesia en Jesucristo es el sacramento universal de salvación (776). Ella no se refleja a sí misma, sino a la luz de Cristo que brilla en su rostro. Esto sucede sólo cuando no la mayoría ni el espíritu de los tiempos sino la verdad revelada en Jesucristo se convierte en el punto de referencia, porque Cristo ha confiado a la Iglesia católica la plenitud de la gracia y de la verdad (819): Él mismo está presente en los sacramentos de la Iglesia.

La Iglesia no es una asociación fundada por el hombre cuya estructura es votada por sus miembros a voluntad. Es de origen divino. «El mismo Cristo es la fuente del ministerio en la Iglesia. Él lo ha instituido, le ha dado autoridad y misión, orientación y finalidad» (874). La amonestación del apóstol sigue siendo válida hoy en día para que cualquiera que predique otro evangelio sea maldecido, «aunque seamos nosotros mismos o un ángel del cielo» (Gal 1,8). La mediación de la fe está indisolublemente ligada a la credibilidad humana de sus mensajeros, que en algunos casos han abandonado a los que les fueron confiados, los han perturbado y han dañado gravemente su fe. Aquí la palabra de la Escritura va dirigida a aquellos que no escuchan la verdad y siguen sus propios deseos, que adulan a los oídos porque no pueden soportar la sana enseñanza (cf. 2 Tim 4,3-4).

La tarea del Magisterio de la Iglesia es «proteger al pueblo de las desviaciones y de las fallas y garantizarle la posibilidad objetiva de profesar sin error la fe auténtica» (890). Esto es especialmente cierto con respecto a los siete sacramentos. La Eucaristía es «fuente y cumbre de toda la vida cristiana» (1324). El sacrificio eucarístico, en el que Cristo nos implica en su sacrificio de la cruz, apunta a la unión más íntima con Cristo (1382). Por eso, las Sagradas Escrituras, con respecto a la recepción de la Sagrada Comunión, advierten: «’El que come del pan y bebe de la copa del Señor indignamente, es reo del Cuerpo y de la Sangre del Señor’ (1 Co 11,27). Quien tiene conciencia de estar en pecado grave debe recibir el sacramento de la Reconciliación antes de acercarse a comulgar» (1385). De la lógica interna del sacramento se desprende que los fieles divorciados por lo civil, cuyo matrimonio sacramental existe ante Dios, los otros Cristianos, que no están en plena comunión con la fe católica como todos aquellos que no están propiamente dispuestos, no reciben la Sagrada Eucaristía de manera fructífera (1457) porque no les trae la salvación. Señalar esto corresponde a las obras espirituales de misericordia.

La confesión de los pecados en la confesión por lo menos una vez al año pertenece a los mandamientos de la iglesia (2042). Cuando los creyentes ya no confiesan sus pecados ni reciben la absolución, entonces la redención cae en el vacío, ya que ante todo Jesucristo se hizo hombre para redimirnos de nuestros pecados. El poder del perdón que el Señor Resucitado ha conferido a los apóstoles y a sus sucesores en el ministerio de los obispos y sacerdotes se aplica también a los pecados graves y veniales que cometemos después del bautismo. La práctica actual de la confesión deja claro que la conciencia de los fieles no está suficientemente formada. La misericordia de Dios nos es dada para cumplir sus mandamientos a fin de convertirnos en uno con su santa voluntad y no para evitar la llamada al arrepentimiento (1458).

«El sacerdote continúa la obra de redención en la tierra» (1589). La ordenación sacerdotal «le da un poder sagrado» (1592), que es insustituible, porque a través de él Jesucristo se hace sacramentalmente presente en su acción salvífica. Por lo tanto, los sacerdotes eligen voluntariamente el celibato como «signo de vida nueva» (1579). Se trata de la entrega en el servicio de Cristo y de su reino venidero. En cuanto a la recepción de la consagración en las tres etapas de este ministerio, la Iglesia se reconoce a sí misma «vinculada por esta decisión del Señor. Esta es la razón por la que las mujeres no reciben la ordenación» (1577). Asumir esto como una discriminación contra la mujer sólo muestra la falta de comprensión de este sacramento, que no se trata de un poder terrenal, sino de la representación de Cristo, el Esposo de la Iglesia.

4. La ley moral

La fe y la vida están inseparablemente unidas, porque la fe sin obras está muerta (1815). La ley moral es obra de la sabiduría divina y conduce al hombre a la bienaventuranza prometida (1950). En consecuencia, «el conocimiento de la ley moral divina y natural es necesario para hacer el bien y alcanzar su fin» (1955). Su observancia es necesaria para la salvación de todos los hombres de buena voluntad. Porque los que mueren en pecado mortal sin haberse arrepentido serán separados de Dios para siempre (1033). Esto lleva a consecuencias prácticas en la vida de los cristianos, entre las cuales deben mencionarse las que hoy se oscurecen con frecuencia: (cf. 2270-2283; 2350-2381). La ley moral no es una carga, sino parte de esa verdad liberadora (cf. Jn 8,32) por la que el cristiano recorre el camino de la salvación, que no debe ser relativizada.

5. La vida eterna

Muchos se preguntan hoy por qué la Iglesia está todavía allí, aunque los obispos prefieren desempeñar el papel de políticos en lugar de proclamar el Evangelio como maestros de la fe. La visión no debe ser diluida por trivialidades, pero el proprium de la Iglesia debe ser tematizado. Cada persona tiene un alma inmortal, que es separada del cuerpo en la muerte, esperando la resurrección de los muertos (366). La muerte hace definitiva la decisión del hombre a favor o en contra de Dios. Todo el mundo debe comparecer ante el tribunal inmediatamente después de su muerte (1021). O es necesaria una purificación o el hombre llega directamente a la bienaventuranza celestial y puede ver a Dios cara a cara. Existe también la terrible posibilidad de que un ser humano permanezca en contradicción con Dios hasta el final y, al rechazar definitivamente su amor, «condenarse inmediatamente para siempre» (1022). «Dios que te ha creado sin ti, no te salvará sin ti» (1847). El castigo de la eternidad del infierno es una realidad terrible, que -según el testimonio de la Sagrada Escritura- atrae hacia sí a todos aquellos que «mueren en estado de pecado mortal» (1035). El cristiano pasa por la puerta estrecha, porque «ancha es la puerta y espacioso el camino que lleva a la perdición, y son muchos los que entran por ella» (Mt 7,13).

Ocultar estas y otras verdades de fe y enseñar a la gente en consecuencia, es el peor engaño del que el Catecismo advierte enfáticamente. Representa la prueba final de la Iglesia y lleva a la gente a un engaño religioso de mentiras, al «precio de su apostasía de la verdad» (675); es el engaño del Anticristo. «Él engañará a los que se pierden por toda clase de injusticia, porque se han cerrado al amor de la verdad por la cual debían ser salvados» (2 Tesalonicenses 2,10).

Invocación

Como obreros de la viña del Señor, tenemos todos la responsabilidad de recordar estas verdades fundamentales adhiriéndonos a lo que nosotros mismos hemos recibido. Queremos animar a la gente a caminar por el camino de Jesucristo con decisión para alcanzar la vida eterna obedeciendo sus mandamientos (2075).

Pidamos al Señor que nos haga saber cuán grande es el don de la fe católica, que abre la puerta a la vida eterna. «Porque quien se avergüence de mí y de mis palabras en esta generación adúltera y pecadora, también el Hijo del hombre se avergonzará de él cuando venga en la gloria de su Padre con los santos ángeles» (Mc 8, 38). Por lo tanto, estamos comprometidos a fortalecer la fe, en la que confesamos la verdad, que es el mismo Jesucristo.

Estas palabras también se dirigen en particular a nosotros, obispos y sacerdotes, cuando Pablo, el apóstol de Jesucristo, da esta amonestación a su compañero de armas y sucesor Timoteo: «Te conjuro en presencia de Dios y de Cristo Jesús que ha de venir a juzgar a vivos y muertos, por su Manifestación y por su Reino: »Proclama la Palabra, insiste a tiempo y a destiempo, reprende, amenaza, exhorta con toda paciencia y doctrina. Porque vendrá un tiempo en que los hombres no soportarán la doctrina sana, sino que, arrastrados por sus propias pasiones, se harán con un montón de maestros por el prurito de oír novedades; apartarán sus oídos de la verdad y se volverán a las fábulas. Tú, en cambio, pórtate en todo con prudencia, soporta los sufrimientos, realiza la función de evangelizador, desempeña a la perfección tu ministerio. (2 Tim 4,1-5).

Que María, la Madre de Dios, nos implore la gracia de aferrarnos a la verdad de Jesucristo sin vacilar.

Unido en la fe y en la oración

Gerhard Cardenal Müller


Prefecto de la Congregación para la Doctrina de la Fe, desde 2012-2017

 

Versão francesa

 

Manifeste pour la foi « Que votre cœur ne soit pas bouleversé » (Jn 14, 1)

Face à la confusion qui se répand dans l’enseignement de la foi, de nombreux évêques, prêtres, religieux et fidèles laïcs de l’Eglise catholique m’ont demandé de rendre témoignage publiquement à la vérité de la Révélation. Les Pasteurs ont l’obligation de guider ceux qui leur sont confiés sur le chemin du Salut. Cela n’est possible que si cette voie est connue et qu’ils la suivent. A ce sujet, voici ce que l’Apôtre affirme : « Avant tout, je vous ai transmis ceci, que j’ai moi-même reçu » (1 Co 15, 3). Aujourd’hui, beaucoup de chrétiens ne sont même plus conscients des enseignements fondamentaux de la foi, de sorte qu’ils risquent toujours plus de s’écarter du chemin qui mène à la vie éternelle. Pourtant, la mission première de l’Eglise est de conduire les hommes à Jésus-Christ, la Lumière des nations (cf. Lumen Gentium, 1). Une telle situation pose la question de la direction qu’il faut suivre. Selon Jean-Paul II, le « Catéchisme de l’Église catholique » est une « norme sûre pour l’enseignement de la foi » (Fidei Depositum, IV). Il a été publié pour renforcer la fidélité de nos frères et sœurs chrétiens dont la foi est gravement remise en question par la « dictature du relativisme ».

1. Le Dieu unique et trinitaire, révélé en Jésus-Christ

La confession de la Très Sainte Trinité se situe au cœur de la foi de tous les chrétiens. Nous sommes devenus disciples de Jésus, enfants et amis de Dieu, par le baptême au nom du Père et du Fils et du Saint-Esprit. La distinction entre les trois Personnes dans l’unité du même Dieu (254) établit une différence fondamentale entre le christianisme et les autres religions tant au niveau de la croyance en Dieu que de la compréhension de ce qu’est l’homme. Les esprits se divisent lorsqu’il s’agit de confesser Jésus le Christ. Il est vrai Dieu et vrai homme, conçu du Saint-Esprit et né de la Vierge Marie. Le Verbe fait chair, le Fils de Dieu, est le seul Rédempteur du monde (679) et le seul Médiateur entre Dieu et les hommes (846). Par conséquent, la première épître de saint Jean présente celui qui nie sa divinité comme l’Antichrist (1 Jn 2, 22), puisque Jésus-Christ, le Fils de Dieu, est de toute éternité un seul et même Etre avec Dieu, son Père (663). La rechute dans les anciennes hérésies, qui ne voyaient en Jésus-Christ qu’un homme bon, un frère et un ami, un prophète et un moraliste, doit être combattue avec une franche et claire détermination. Jésus-Christ est essentiellement le Verbe qui était avec Dieu et qui est Dieu, le Fils du Père, qui a pris notre nature humaine pour nous racheter, et qui viendra juger les vivants et les morts. C’est Lui seul que nous adorons comme l’unique et vrai Dieu dans l’unité du Père et de l’Esprit Saint (691).

2. L’Eglise

Jésus-Christ a fondé l’Église en tant que signe visible et instrument du Salut. Cette Eglise est réalisée dans l’Église catholique (816). Il a donné une constitution sacramentelle à son Église, qui est née « du côté du Christ endormi sur la croix » (766), et qui demeure jusqu’au plein achèvement du Royaume (765). Le Christ-Tête et les fidèles de l’Eglise en tant que membres du Corps, constituent le « Christ total » (795) ; c’est pourquoi l’Église est sainte, parce que le seul et unique Médiateur a constitué et soutient continuellement sa structure visible (771). Par l’Eglise, l’œuvre de la Rédemption du Christ est rendue présente dans le temps et dans l’espace dans la célébration des sacrements, en particulier dans le Sacrifice eucharistique, la Sainte Messe (1330). Par l’autorité du Christ, l’Église transmet la Révélation divine qui s’étend à tous les éléments qui composent sa doctrine, « y compris morale, sans lesquels les vérités salutaires de la foi ne peuvent être gardées, exposées ou observées » (2035).

3. L’ordre sacramentel

L’Église est le sacrement universel du Salut en Jésus-Christ (776). Elle ne brille pas par elle-même, mais elle reflète la lumière du Christ qui resplendit sur son visage. Cette réalité ne dépend ni de la majorité des opinions, ni de l’esprit du temps, mais uniquement de la vérité qui est révélée en Jésus-Christ et qui devient ainsi le point de référence, car le Christ a confié à l’Église catholique la plénitude de la grâce et de la vérité (819) : Lui-même est présent dans les sacrements de l’Église.

L’Église n’est pas une association créée par l’homme, dont la structure serait soumise à la volonté et au vote de ses membres. Elle est d’origine divine. « Le Christ est Lui-même la source du ministère dans l’Église. Il l’a instituée, lui a donné autorité et mission, orientation et finalité » (874). L’avertissement de l’Apôtre, selon lequel « soit anathème quiconque annonce un Evangile différent, y compris nous-mêmes ou un ange du ciel » (Ga 1,8), est toujours d’actualité. La médiation de la foi est indissociablement liée à la fiabilité de ses messagers qui, dans certains cas, ont abandonné ceux qui leur avaient été confiés, les ont déstabilisés et ont gravement abîmé leur foi. A ce propos, la Parole de la Sainte Ecriture s’adresse à ceux qui ne se conforment pas à la vérité et, ne suivant que leurs propres caprices, flattent les oreilles de ceux qui ne supportent plus l’enseignement de la saine doctrine (cf. 2 Tm 4, 3-4).

La tâche du Magistère de l’Église est de « protéger le peuple des déviations et des défaillances, et lui garantir la possibilité objective de professer sans erreur la foi authentique » (890). Cela est particulièrement vrai en ce qui concerne les sept sacrements. La Sainte Eucharistie est « la source et le sommet de toute la vie chrétienne » (1324). Le Sacrifice eucharistique, dans lequel le Christ nous unit à son Sacrifice accompli sur la Croix, vise à notre union la plus intime avec le Christ (1382). C’est pourquoi, au sujet de la réception de la sainte Communion, la Sainte Ecriture contient cette mise en garde : « Celui qui mange le pain ou boit à la coupe du Seigneur d’une manière indigne devra répondre du Corps et du Sang du Seigneur » (1 Co 11, 27). « Celui qui est conscient d’un péché grave doit recevoir le sacrement de la Réconciliation avant d’accéder à la communion » (1385). Il résulte clairement de la logique interne du Sacrement que les chrétiens divorcés civilement, dont le mariage sacramentel existe devant Dieu, de même que les chrétiens qui ne sont pas pleinement unis à la foi catholique et à l’Église, comme tous ceux qui ne sont pas aptes à communier, ne reçoivent pas avec fruit la Sainte Eucharistie (1457) ; en effet, celle-ci ne leur procure pas le Salut. Affirmer cela fait partie des œuvres spirituelles de miséricorde.
L’aveu des péchés dans la sainte confession, au moins une fois par an, fait partie des commandements de l’Eglise (2042). Lorsque les croyants ne confessent plus leurs péchés et ne font plus l’expérience de l’absolution des péchés, alors la Rédemption tombe dans le vide, car Jésus-Christ s’est fait homme pour nous racheter de nos péchés. Le pouvoir de pardonner, que le Seigneur ressuscité a conféré aux apôtres et à leurs successeurs dans le ministère des évêques et des prêtres, s’applique autant aux péchés graves que véniels que nous commettons après le baptême. La pratique actuelle de la confession montre clairement que la conscience des fidèles n’est pas suffisamment formée. La miséricorde de Dieu nous est offerte afin qu’en obéissant à ses commandements, nous ne fassions qu’un avec sa sainte Volonté, et non pas pour nous dispenser de l’appel à nous repentir (1458).

« Le prêtre continue l’œuvre de la Rédemption sur la terre » (1589). L’ordination sacerdotale « lui confère un pouvoir sacré » (1592), qui est irremplaçable, parce que par elle Jésus-Christ devient sacramentellement présent dans son action salvifique. C’est pourquoi les prêtres choisissent volontairement le célibat comme « signe d’une vie nouvelle » (1579). En effet, il s’agit du don de soi-même au service du Christ et de son Royaume à venir. Pour conférer les trois degrés de ce sacrement, l’Eglise se sait « liée par le choix du Seigneur lui-même. C’est pourquoi l’ordination des femmes n’est pas possible » (1577). Ceux qui estiment qu’il s’agit d’une discrimination à l’égard des femmes ne font que montrer leur méconnaissance de ce sacrement, qui n’a pas pour objet un pouvoir terrestre, mais la représentation du Christ, l’Epoux de l’Eglise.

4. La loi morale

La foi et la vie sont inséparables, car la foi privée des œuvres accomplies dans le Seigneur est morte (1815). La loi morale est l’œuvre de la Sagesse divine et elle mène l’homme à la Béatitude promise (1950). Ainsi, « la connaissance de la loi morale divine et naturelle montre à l’homme la voie à suivre pour pratiquer le bien et atteindre sa fin » (1955). Pour obtenir le Salut, tous les hommes de bonne volonté sont tenus de l’observer. En effet, ceux qui meurent dans le péché mortel sans s’être repentis sont séparés de Dieu pour toujours (1033). Il en résulte, dans la vie des chrétiens, des conséquences pratiques, en particulier celles-ci qui, de nos jours, sont souvent occultées (cf. 2270-2283; 2350-2381). La loi morale n’est pas un fardeau, mais un élément essentiel de cette vérité qui nous rend libres (cf. Jn 8, 32), grâce à laquelle le chrétien marche sur le chemin qui le conduit au Salut ; c’est pourquoi, elle ne doit en aucun cas être relativisée.

5. La vie éternelle

Face à des évêques qui préfèrent la politique à la proclamation de l’Évangile en tant que maîtres de la foi, beaucoup se demandent aujourd’hui à quoi sert l’Eglise. Pour ne pas brouiller notre regard par des éléments que l’on peut qualifier de négligeables, il convient de rappeler ce qui constitue le caractère propre de l’Eglise. Chaque personne a une âme immortelle, qui, dans la mort, est séparée de son corps ; elle espère que son âme s’unira de nouveau à son corps lors de la résurrection des morts (366). Au moment de la mort, la décision de l’homme pour ou contre Dieu, est définitive. Immédiatement après sa mort, toute personne doit se présenter devant Dieu pour y être jugée (1021). Alors, soit une purification est nécessaire, soit l’homme entre directement dans le Béatitude du Ciel où il peut contempler Dieu face à face. Il y a aussi la terrible possibilité qu’un être humain s’obstine dans son refus de Dieu jusqu’au bout et, en refusant définitivement son Amour, « se damne immédiatement pour toujours » (1022). « Dieu nous a créés sans nous, Il n’a pas voulu nous sauver sans nous » (1847). L’existence du châtiment de l’enfer et de son éternité est une réalité terrible qui, selon le témoignage de la Sainte Ecriture, concerne tous ceux qui « meurent en état de péché mortel » (1035). Le chrétien préfère passer par la porte étroite, car « elle est grande, la porte, il est large, le chemin qui conduit à la perdition ; et ils sont nombreux, ceux qui s’y engagent » (Mt 7,13).

Garder le silence sur ces vérités et d’autres vérités de la foi, et enseigner avec cette disposition d’esprit, est la pire des impostures au sujet de laquelle le « Catéchisme » nous met en garde avec vigueur. Elle fait partie de l’épreuve finale de l’Église et conduit à une forme d’imposture religieuse de mensonge, « au prix de l’apostasie de la vérité » (675) ; c’est la duperie de l’Antichrist.

« Il séduira avec toute la séduction du mal, ceux qui se perdent du fait qu’ils n’ont pas accueilli l’amour de la vérité, ce qui les aurait sauvés» (2 Th 2, 10).

Appel

En tant qu’ouvriers envoyés dans la vigne du Seigneur, nous tous avons la responsabilité de rappeler ces vérités fondamentales en adhérant fermement à ce que nous-mêmes avons reçu. Nous voulons encourager les hommes de notre temps à suivre le chemin de Jésus-Christ avec détermination afin qu’ils puissent obtenir la vie éternelle en obéissant à ses commandements (2075).
Demandons au Seigneur de nous faire connaître la grandeur du don de la foi catholique, qui nous ouvre la porte de la vie éternelle.

« Car celui qui a honte de moi et de mes paroles dans cette génération adultère et pécheresse, le Fils de l’homme aussi aura honte de lui, quand il viendra dans la gloire de son Père avec les saints anges » (Mc 8,38).

Par conséquent, nous nous engageons à renforcer la foi en confessant la vérité qui est Jésus-Christ Lui-même.

Nous, évêques et prêtres, nous sommes plus particulièrement interpellés par cet avertissement que saint Paul, l’Apôtre de Jésus-Christ, adresse à son collaborateur et successeur Timothée :

« Devant Dieu, et devant le Christ Jésus qui va juger les vivants et les morts, je t’en conjure, au nom de sa Manifestation et de son Règne : proclame la Parole, interviens à temps et à contretemps, dénonce le mal, fais des reproches, encourage, toujours avec patience et souci d’instruire. Un temps viendra où les gens ne supporteront plus l’enseignement de la saine doctrine ; mais, au gré de leurs caprices, ils iront se chercher une foule de maîtres pour calmer leur démangeaison d’entendre du nouveau. Ils refuseront d’entendre la vérité pour se tourner vers des récits mythologiques. Mais toi, en toute chose garde la mesure, supporte la souffrance, fais ton travail d’évangélisateur, accomplis jusqu’au bout ton ministère » (2 Tm 4, 1-5).

Que Marie, la Mère de Dieu, implore pour nous la grâce de demeurer fidèles à la vérité de Jésus-Christ sans vaciller.

Unis dans la foi et la prière.

Rome, le 10 février 2019

Gerhard Cardinal Müller

Préfet de la Congrégation pour la Doctrine de la Foi de 2012 à 2017

 

 

 

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