domingo, 28 de fevereiro de 2021

Se Deus está por nós, quem poderá se nos opor?

Ouvimos esta manhã, na Epístola da Missa, esta interpelação de S. Paulo:

«Se Deus está por nós, quem estará contra nós? Deus, que não poupou o seu próprio Filho, mas O entregou à morte por todos nós, como não havia de nos dar, com Ele, todas as coisas? Quem acusará os eleitos de Deus, se Deus os justifica? E quem os condenará, se Cristo morreu e, mais ainda, ressuscitou, está à direita de Deus e intercede por nós?» (Rom 8, 31b-3) 

No terceiro acto da sua obra maior, a oratória "O Messias", Händel coloca este mesmo texto em música:

Como as muitas óperas ao estilo italiano que Händel compôs em Londres, "O Messias" divide-se em três actos:

  1. A profecia e consumação do plano de Deus para redimir a humanidade pela sua Encarnação.
  2. O cumprimento dessa redenção pelo Sacrifício de Cristo na Cruz, rejeitado pelos homens, e o derradeiro triunfo de Cristo sobre o mundo.
  3. Uma acção de graças pela aniquilação definitiva da morte.

Neste terceiro acto, nós encontramos uma predominância de textos paulinos, com o texto quase integral do capítulo 15 da Primeira Carta aos Coríntios e, finalmente, a garantia da Salvação no texto de hoje. Imediatamente depois, a oratória conclui com o Hino dos Redimidos em honra de Cristo-Rei.

«Sois digno, Senhor nosso Deus,
de receber a honra, a glória e o poder,
porque fizestes todas as coisas,
e pela vossa vontade existiram e foram criadas.

Sois digno de receber o livro e abrir suas páginas seladas,
porque fostes imolado e resgatastes para Deus, com o vosso Sangue,
homens de toda a tribo, língua, povo e nação,
e fizestes de nós, para Deus, um reino de sacerdotes,que reinarão sobre a terra.

É digno o Cordeiro que foi imolado
de receber o poder e a riqueza, a sabedoria e a força, a honra, a glória e o louvor.
Amen! Amen! Amen!»

12. Se Deus Pai entregou Cristo à Paixão (segundo S. Tomás de Aquino)

II Domingo da Quaresma

«O que não poupou nem o seu próprio Filho, mas por nós todos o entregou» (Rm 8, 32)

Cristo sofreu voluntariamente, em obediência ao Pai. E de três modos Deus Pai entregou Cristo à paixão:

  1. Conforme sua eterna vontade, determinou a paixão de Cristo para a libertação do gênero humano, de acordo com o que diz Isaías: «O Senhor carregou sobre ele a iniqüidade de todos nós» (Is 53, 6)e «O Senhor quis consumi-lo com sofrimentos» (Is LIII, 10).

  2. Porque lhe inspirou a vontade de sofrer por nós, ao lhe infundir o amor. E na mesma passagem se lê: «Foi oferecido porque ele mesmo quis» (Is LIII, 7).

  3.  Por não livrá-lo da paixão, expondo-o a seus perseguidores. Assim, lemos no Evangelho de Mateus que o Senhor, pendente na cruz, dizia: «Deus meu, Deus meu, por que me abandonastes?» (Mt 27, 46), ou seja, porque o expôs ao poder dos que o perseguem.

É ímpio e cruel entregar à paixão e morte um homem inocente, contra a vontade dele. Não foi assim, porém, que Deus Pai entregou Cristo, mas sim por lhe ter inspirado a vontade de sofrer por nós. Nisso se demonstra  tanto a severidade de Deus, que não quis perdoar os pecados sem a pena, o que observa o Apóstolo, quando diz: «O que não poupou nem o seu próprio Filho» (Rm 8, 32), como a sua bondade, pois, dado que o homem não podia dar uma satisfação suficiente por meio de alguma pena que sofresse, deu-lhe alguém para cumprir essa satisfação.É o que assinala o Apóstolo ao dizer: «Ele o entregou por nós todos» e a Carta aos Romanos diz: «A quem, ou seja, Cristo, que Deus propôs como vítima de propiciação, em virtude de seu sangue» (Rm 3, 25).

A mesma ação é julgada boa ou má, dependendo das diferentes fontes de que proceda. Assim, foi por amor que o Pai entregou Cristo, e o próprio Cristo se entregou; por isso, ambos são louvados.Judas, porém, o entregou por cobiça. Os judeus, por inveja. E Pilatos, por temor mundano porque temia a César. Por isso, são todos censurados. (III, q. XLVII, a. III)

Cristo, porém, não foi devedor da morte por necessidade, mas por caridade para com os homens, por querer a salvação dos homens, e por caridade para com Deus, por querer cumprir a sua vontade, como diz no Evangelho de São Mateus: «Não como eu quero, mas sim como tu queres» (Mt 26, 39). (II, Dist. 20, q. I, a. V)

LA TRANSFIGURATION

 

La Transfiguration


 


Le carême est un temps de conversion et de pénitence. Alors on peut se demander pourquoi l’Église nous fait lire en ce dimanche le récit lumineux et glorieux de la Transfiguration. Mais c'est parce que le carême nous prépare à la fête de Pâques, qui sera le triomphe de la lumière divine sur toutes nos ténèbres, la victoire de la vie sur la mort.

Jésus prend avec lui trois de ses apôtres et monte sur une montagne pour se livrer avec eux à la prière. Ainsi Jésus nous invite à prier avec lui, à nous retirer de nos occupations pour nous livrer à la méditation, à la contemplation et à la prière. Pensons-nous, lorsque nous prions, que nous sommes en compagnie du Christ qui prie avec nous et pour nous ? Notre prière rejoint celle du Christ. Le Saint-Esprit prie en nous, car nous ne savons prier comme il faut, et Jésus au ciel est notre médiateur et notre avocat auprès du Père. Il offre sans cesse ses saintes plaies pour qu'il nous soit fait miséricorde. N'oublions pas aussi la Sainte Vierge, qui nous soutient auprès de son divin Fils par son intercession maternelle et toute-puissante.

Pendant qu'il priait ainsi sur la montagne, Jésus fut transfiguré devant ses apôtres. La lumière de gloire qui émanait du Christ à ce moment-là était celle de sa divinité éternelle. Bien que tant que nous sommes sur terre, il nous soit impossible de savoir comment cela pourra se faire, quand nous serons au ciel, la vision de la gloire du Dieu Trinité nous remplira d'un bonheur qui ne cessera jamais et dont nous ne nous lasserons jamais. Jamais cela ne nous ennuiera, comme le prétendent certains, car nous ne cesserons de découvrir dans les perfections divines de nouvelles beautés. En outre nous jouirons au ciel d'un nombre incalculable d'autres bienfaits secondaires et notre éternité se passera dans un bonheur qui ne cessera jamais de grandir. Que cette magnifique espérance nous soutienne dans toutes les épreuves de cette vie.

Avant sa douloureuse passion, qui allait tellement les déconcerter, Notre-Seigneur a voulu aussi par cette transfiguration annoncer sa résurrection à ses apôtres. Ce sont les trois mêmes disciples qui assisteront à l'agonie sanglante du Christ au Jardin des oliviers. Cela nous rappelle que si cette vie sur terre est souvent remplie de peines, de souffrances, de tentations et d'épreuves, après la mort, ce sera la gloire du ciel, si nous avons été fidèles à Dieu.

Saint Pierre, devant cette vision du Christ transfiguré, va dire à Jésus : Maître, il est bon pour nous d'être ici. Nous ne devons jamais dans la prière et la contemplation rechercher à sentir quoi que ce soit, à rechercher quelque forme de dévotion sensible que ce soit. Souvent notre prière est un combat, nous ne sentons rien, nous sommes dans la sècheresse et l'aridité. Mais si nous persévérons et ne nous décourageons pas, à certains moments et de manière inattendue, le Seigneur nous rend visite et nous remplit de lumière, d'amour et de consolation sensible. Alors nous devons rendre grâce, car ces moments nous sont accordés comme un avant-goût du paradis. Mais tout cela n'arrive que de temps en temps.

Ensuite, c'est la nuée qui vint les couvrir tous. La nuée c'est la gloire divine et la voix qui va se faire entendre dans cette nuée est celle du Père éternel. Dans cette grâce qui leur était faite, les trois apôtres ne pouvaient qu'adorer Dieu. Dieu est l'être absolu, créateur et souverain maître de tout ce qui existe. Notre premier devoir envers lui est donc celui de l'adoration et de la louange. Car nous lui devons tout et il est infiniment parfait et souverainement aimable en lui-même. On raconte qu'une abbaye connaissait des problèmes communautaires. Lors d'une visite canonique, le visiteur conseilla au père abbé de demander à ses moines de faire sept fois par jour un acte bref mais profond d'adoration de la majesté divine. En peu de temps les problèmes disparurent. L'adoration et la louange gratuite en effet nous libèrent intérieurement et notre vie s'améliore.

Celui-ci est mon fils bien-aimé ; écoutez-le, dit la voix au sein de la nuée. Peu de temps auparavant, saint Pierre avait confessé que le Jésus était le Christ, le Fils de Dieu. La voix vient confirmer cette profession de foi du premier des apôtres. Le Père glorifie son Fils, et il le fera de manière définitive par la résurrection et l'ascension de Jésus, quand Jésus dira : Tout pouvoir m'a été donné au ciel et sur la terre. Nous devons donc écouter Jésus, le suivre et lui obéir. Nous écoutons Jésus en lisant l’Évangile, la vie des saints et en écoutant l’Église qui nous parle en son nom.

Voilà quelques points mis en lumière par l'évangile de ce jour. Tournons-nous vers le Christ et servons-le de notre mieux, lui qui est maintenant au ciel dans toute sa gloire, et qui est présent caché dans le saint-sacrement de l'eucharistie.

Simon Noel OSB

sábado, 27 de fevereiro de 2021

Segundo domingo da Quaresma: a Transfiguração do Senhor

Invariavelmente neste dia do ano ouvimos proclamar o Evangelho da Transfiguração do Senhor, como prenúncio da sua ressurreição. De facto, São Tomás de Aquino ensina que «Jesus sabia que era necessário revelar a Sua glória aos Apóstolos antes de morrer para que estes pudessem crer na Sua ressureição.» Esta é mais uma forma de dizer que a Fé em Jesus não se obtem por uma compreensão intelectual ou gnóstica, nem é um mero acto de confiança mas sim que nos é dada por Ele mesmo, em resposta à nossa Vontade consciente.

Este mistério da Transfiguração é assim descrito por S. João Paulo Magno:
«A cena evangélica da transfiguração de Cristo, na qual os três apóstolos Pedro, Tiago e João aparecem como que extasiados pela beleza do Redentor, pode ser tomada como ícone da contemplação cristã. Fixar os olhos no rosto de Cristo, reconhecer o seu mistério no caminho ordinário e doloroso da sua humanidade, até perceber o brilho divino definitivamente manifestado no Ressuscitado glorificado à direita do Pai, é a tarefa de cada discípulo de Cristo; é por conseguinte também a nossa tarefa. Contemplando este rosto, dispomo-nos a acolher o mistério da vida trinitária, para experimentar sempre de novo o amor do Pai e gozar da alegria do Espírito Santo. Realiza-se assim também para nós a palavra de S. Paulo: «Reflectindo a glória do Senhor, como um espelho, somos transformados de glória em glória, nessa mesma imagem, sempre mais resplandecente, pela acção do Espírito do Senhor» (2Cor 3, 18). (...) Mistério de luz por excelência é a Transfiguração que, segundo a tradição, se deu no Monte Tabor. A glória da Divindade reluz no rosto de Cristo, enquanto o Pai O acredita aos Apóstolos extasiados para que O «escutem» (cf. Lc 9, 35 par) e se disponham a viver com Ele o momento doloroso da Paixão, a fim de chegarem com Ele à glória da Ressurreição e a uma vida transfigurada pelo Espírito Santo.»

Na impossíbilidade de celebrar este novo passo da caminhada quaresmal em comunidade, comecemos o dia com o Hino de Laudes mais frequentemente associado a este mistério, igualmente uma excelente oração para a Comunhão espiritual:

O nata lux de lumine,
Jesu redemptor saeculi,
Dignare clemens supplicum
Laudes precesque sumere. 
Qui carne quondam contegi
Dignatus es pro perditis,
Nos membra confer effici
Tui beati corporis. Amen.

Numa tradução aproximada:

Ó Luz da Luz nascida,
Jesus, clemente redentor,
Dignai-vos aceitar as súplicas
De todos quantos de louvam.

Vós que vos dignastes revestir
da carne dos que estavam perdidos,
Concedei-nos a graça de ser membros
Do vosso Corpo santo. Amen.

Esta primeira versão musical foi composta em 1997 pelo compositor norte-americano Morten Lauridsen, em memória da sua mãe. Mas já mais de quatro séculos antes, Thomas Tallis (o compositor-mor da corte de Inglaterra sob os reinados de Mary I e Elisabeth I) compôs a sua versão do mesmo texto. Meditemos:

Este motete reveste-se de um especial significado se recordarmos que Tallis e Byrd - os maiores compositores ingleses do séc. XVI - eram ambos católicos e apenas pela sua competência artística sem paralelo foram poupados pela Raínha ao extermínio durante as Guerras da Religião. Ambos os músicos colocaram em risco a sua carreira e a própria vida para não renunciar à comunhão universal da Igreja e à Fé dos mesmos Apóstolos que viram Jesus transfigurado e ressuscitado.

Terminemos esta meditação com a Homilia de Santo Atanásio sobre a Transfiguração do Senhor.

11. A Caridade de Deus na Paixão de Cristo (segundo S. Tomás de Aquino)

Sábado depois do I domingo da Quaresma

«Mas Deus manifesta a sua caridade para conosco, porque, quando ainda éramos pecadores, no tempo oportuno, morreu Cristo por nós.» (Rm 5, 8)

I. — Cristo morreu pelos ímpios. E isto é grande, se considerarmos quem é aquele que morreu; também é grande, se considerarmos por quem foi que Cristo morreu. Ora, «é difícil haver quem morra por um justo» (Rm 5, 7), ou seja, é difícil encontrar quem morra para salvar um homem justo; e até, como diz Isaías: «o justo perece, e não há quem considere sobre isto no seu coração» (57, 1). E por isso, «é difícil haver quem morra por um justo». Pois se alguém, isto é, alguma rara exceção, ousar, pelo zelo da virtude, morrer por um bom homem, será coisa realmente rara; e isso, por ser um feito muito elevado, como diz S. João (15, 13): «Ninguém tem maior amor que o daquele que dá a vida por seus amigos». Porém, morrer por homens ímpios e maus, é algo que jamais ocorre. E por isto devemos, com razão, nos admirar, pois foi isto que Cristo fez. 

II. — Se procurarmos saber porque Cristo morreu pelos ímpios, a resposta é que, por sua morte, Deus manifestou sua caridade para conosco, ou seja, sua morte mostra que Ele nos ama infinitamente, porque, « quando ainda éramos pecadores», Cristo morreu por nós. E a mesma morte de Cristo mostra a caridade de Deus para conosco, pois entregou seu próprio Filho para que, morrendo, satisfizesse por nós. «Porque Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu seu Filho Unigênito» (Jo 3, 16). E, desse modo, assim como a caridade de Deus Pai para conosco se demonstra por ter nos dado o seu Espírito, assim também se demonstra por ter nos dado o seu Filho.

Quando S. Paulo diz que Deus « manifesta a sua caridade para conosco», assinala a imensidade do amor divino, pelo fato de ter entregue seu Filho para morrer por nós; e, em seguida, por nossa condição; pois Deus não o fez por causa de nossos méritos, mas « quando ainda éramos pecadores», comodiz S. Paulo na Epístola aos Efésios (2, 4): «Mas Deus, que é rico em misericórdia, pela sua extrema caridade, com que nos amou, estando nós mortos pelos pecados, convivificou-nos em Cristo».  (In Rom., V.)

III. — Nessas coisas, mal se pode crer. Diz a Escritura: «acontecerá uma coisa em vossos dias, que ninguém acreditará, quando for contada.» (Hab 1, 5). Pois que Cristo tenha morrido por nós, é algo de surpreendente, algo que mal se pode conceber. E é isto o que diz o Apóstolo, «faço uma obra em vossos dias, uma obra que vós não crereis, se alguém vo-la contar.» (At 13, 41) Tamanha é a graça de Deus e seu amor para conosco, que Ele fez por nós mais do que podemos compreender ou conceber. (In Symb.)

La soif de Dieu et la valeur de la chasteté (d'après St. Augustin, extraite de ses Confessions: Livre X)

 

« Bien tard je t'ai aimée, ô beauté si ancienne et si nouvelle, bien tard je t'ai aimée ! Et voici que tu étais au-dedans, et moi au-dehors et c'est là que je te cherchais, et sur la grâce de ces choses que tu as faites, pauvre disgracié, je me ruais ! Tu étais avec moi et je n'étais pas avec toi elles me retenaient loin de toi, ces choses qui pourtant, si elles n'existaient pas en toi, n'existeraient pas. Tu as appelé, tu as crié et tu as brisé ma surdité tu as brillé, tu as resplendi et tu as dissipé ma cécité, tu as embaumé, j'ai respiré et haletant j'aspire à toi ; j'ai goûté, et j'ai faim et j'ai soif ; tu m'as touché et je me suis enflammé pour ta paix. 

Quand j'aurai adhéré à toi de tout moi, nulle part il n'y aura pour moi douleur et labeur, et vivante sera ma vie toute pleine de toi. Mais maintenant, puisque tu allèges celui que tu remplis, n'étant pas rempli de toi je suis un poids pour moi. Il y a lutte entre mes joies dignes de larmes et les tristesses dignes de joie et de quel côté se tient la victoire, je ne sais. Il y a lutte entre mes tristesses mauvaises et les bonnes joies et de quel côté se tient la victoire, je ne sais. Ah ! malheureux ! Seigneur, aie pitié de moi. Ah ! malheureux ! voici mes blessures, je ne les cache pas : tu es médecin, je suis malade ; tu es miséricorde, je suis misère. N'est-elle pas une épreuve, la vie humaine sur la terre ? Qui peut vouloir les tracas et les difficultés ? Tu ordonnes de les supporter, non pas de les aimer. Aucun n'aime ce qu'il supporte même s'il aime supporter. Quelle que soit en effet la joie qu'on ait de supporter, on préfère pourtant n'avoir rien à supporter. Dans l'adversité je désire la prospérité, dans la prospérité je redoute l'adversité. Quel juste milieu y a-t-il entre les deux, où la vie humaine ne soit pas une épreuve ? Malheur aux prospérités du siècle, une fois et deux fois malheur, parce qu'on y redoute l'adversité et que la joie est corrompue ! Malheur aux adversités du siècle, une fois et deux fois et trois fois malheur, parce qu'on y désire la prospérité, que l'adversité par elle-même est dure et qu'elle risque de briser la patience N'est-elle pas une épreuve, la vie humaine sur la terre, sans le moindre répit ? 

Et mon espérance est tout entière uniquement dans la grandeur immense de ta miséricorde. Donne ce que tu commandes et commande ce que tu veux. Tu nous ordonnes la continence. « Et comme je savais, a dit quelqu'un, que nul ne peut être continent si Dieu ne le donne, cela même déjà faisait partie de la sagesse, de savoir de qui était ce don ». Oui, la continence nous rassemble et nous ramène à l'unité que nous avions perdue en glissant dans le multiple. Car il t'aime moins celui qui aime avec toi quelque chose qu'il n'aime pas à cause de toi. O amour qui toujours brûles et jamais ne t'éteins, ô charité, mon Dieu, embrase-moi! C'est la continence que tu commandes : donne ce que tu commandes et commande ce que tu veux. »

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

10. Na festa da lança e dos cravos de Nosso Senhor (segundo S. Tomás de Aquino)

Sexta-feira da I semana da Quaresma

«um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança,
e imediatamente saiu sangue e água.»
(Jo 19, 34)

I. — É significativo que a Escritura diga «abriu-lhe», e não «feriu-lhe», pois, por este lado, nos foi aberta a porta da vida eterna. «Depois disto olhei, e eis que vi uma porta aberta no céu» (Ap 4, 1). É esta a porta que figurava aquela, no lado da arca, por onde entraram os animais que haviam de se salvar no dilúvio. 

II. — Mas esta porta é causa da salvação. Por isso, diz a Escritura «imediatamente saiu sangue e água», e é muito miraculoso que, do corpo de um morto, onde o sangue está coagulado, saia sangue.

Isto ocorreu para mostrar-nos que, pela Paixão de Cristo, conseguimos plena ablução de nossos pecados e de nossas máculas.

  • De nossos pecados, pelo sangue, que é o preço da nossa redenção, conforme a Escritura, «fostes resgatados da vossa vã maneira de viver recebida dos vossos pais, não a preço de ouro ou de prata, mas pelo precioso sangue de Cristo, como dum cordeiro imaculado e sem contaminação» (1 Pe 1, 18-19)
  •  Das nossas máculas, pela água, que é o banho da nossa regeneração, conforme a Escritura, «derramarei sobre vós uma água pura, e vós sereis purificados de todas as vossas imundícies» (Ez 36, 25); «Naquele dia haverá uma fonte aberta para a casa de Davi e para os habitantes de Jerusalém, para se lavarem as manchas do pecado.» (Zc 13, 1).

E, por isto, estas duas coisas referem-se especialmente aos dois sacramentos: a água ao sacramento do batismo; o sangue, à eucaristia. Ou também, pode-se referir, um e outro, ao sacramento da eucaristia, pois na eucaristia mistura-se a água ao vinho; ainda que não seja a água da substância do sacramento.

Convém ainda esta figura: assim como do lado de Cristo, que dormia na cruz, saiu sangue e água, pelos quais a Igreja é consagrada, assim, do lado de Adão, que dormia, foi formada a mulher, que prefigurava a própria Igreja. (In Joan., XIX)

“Try this for 30 days, and if you don’t like it, we'll return your misery with interest!”

We reproduce here an article by g New Liturgical Movement. (No copyright infringment intended.)

 

Betting on Heaven! Using Pascal’s Wager to Evangelize Others 

 
David Clayton is Provost at Pontifex University, which partners with the Theology of the Body Institute on the wonderful Master’s program in the Theology of the Body and the New Evangelization. You can contact David at dclayton@pontifex.university on any of the topics mentioned below. Go to www.Pontifex.University for information on the Master’s, and Theology Doctorate programs; to www.thewayofbeauty.org/books/ to find his publications; and to www.thewayofbeauty.org/visionforyou for information on the Vision for You process for discernment of personal vocation and spiritual exercises for the conversion of the heart.

More than thirty years ago, I met by chance a man called David Birtwistle, who asked me this question: Are you as happy as you can be? It was an easy one for me to answer: “No.” “Would you like that to change?” “Yes.” “Let me show you how.” David said. (I am using the image of the Prodigal Son as featured in yesterday’s post to represent myself in this scenario.)


David was older than me - I was 26 and he was in his sixties - and I was introduced to him by a mutual friend whom he had helped and in whom I had seen great change. What David offered me was the chance to discover a fulfilling role in life through a series of spiritual exercises. I didn’t have to believe in God, he said, I just had to be willing to act as though He existed. I was a bitter and unhappy atheist at this point, and would have run a mile if I had been asked to believe in Christ. But being willing to take actions consistent with the idea of God, this seemed possible. I had seen the effect that this process had had on my friend, so was willing to give it a try.

David gave me a daily routine of prayer, meditation and good works that took up about 10-15 minutes of my day. “Try it for 30 days,’ he said, ‘and if you don’t like it, we’ll return your misery with interest!”

What I didn’t know was that David was a devout Catholic, and he was presenting to me his own version of Pascal’s Wager. Blaise Pascal, the 17th century French philosopher and mathematician, was a Catholic, and used his ‘wager’ as a rational argument to draw people into the Faith. He proposed that people bet with their lives that God either exists or does not. A rational person, he suggested, should live as though God exists and seek to believe in God. If God does not actually exist, such a person will have only a finite loss (some pleasures, luxury, etc.), whereas if God does exist, he stands to receive infinite gains (as represented by eternity in Heaven) and avoid infinite losses (eternity in Hell).


I remember hearing this argument when I was a high school, and had always though that it didn’t work because, it seemed to me, it wasn’t enough for me to live a life consistent with faith in God. If I wanted to go to heaven, I had to believe in God as well, and that was, I thought not possible. ‘I can’t flick a switch and believe’ I thought.The difference with David’s approach as it was presented to me was that he knew, I think, that he could persuade me to take the actions, knowing that I would feel different as a result, and would become a believer, provided I was open to the possibility at the outset. This is exactly what happened to me. Within just one day of trying a routine that included praying to be cared for by a God that I thought might exist, saying thank you at night (‘it’s good manners to say thank you’) and writing a gratitude list of good things that occurred in the day, I was feeling noticeably different. This encouraged me initially to keep doing it and look for psychological explanations for why it worked, based upon the assumption that God doesn’t exist. Very quickly - well before the 30 days were up - I had concluded that these simple actions work for the reason that David said they did: God does exist and He is helping me. I was now a believer. Simple as that.

I suspect that David’s presentation was what Pascal intended as well. Pascal is also credited with saying, “If you are looking for God, then rejoice you have found Him.” It was a long way from a generic faith in God to being received in the Church, but because I had started on a foundation of truth, continued practice of the principles that David had passed on led inexorably to my conversion. I was received into the Church about four years later at Farm Street Catholic Church in London, and David was my sponsor!

The only condition that David attached to passing this on to me was that I should be ready to hand on to others what he had given to me. This is what drove me to write the two books about the process, The Vision for You - How to Discover the Life You Were Made For, and a condensed presentation of the same process, The Vision for You - A Short Summary of the Spiritual Exercises & a Manual to Accompany Workshops. A group of us who have been through this process have now started to run video-conference workshops that explain the process to inquirers, and allow you to meet mentors who can guide you through the Vision for You Process one-to-one. Anyone who is interested and would like guidance is free to contact me. We endeavor to pass on to others freely what was freely given to us.

The process leads me first to establish a deep relationship with God and then to the discernment process. Under David’s guidance, from this first foundation of a daily routine, he took me through a series of thorough spiritual exercises, in the manner of Ignatian Spiritual Exercises or perhaps the 12-Steps. It culminated in a discernment process by which I discovered God’s plan for me and how to follow it. At no point was I required to be a believing Christian, but everything David asked me to do was consistent with and informed by David’s Catholicism. David seemed content to allow God to call me to Him on that one!

After completing the first part of the process by which I found a deep connection with God, David asked me a question: “If you inherited so much money that you never again had to work for the money, what activity would you choose to do, nine to five, five days a week?” One thing that he said he was certain about, he said, was that God wanted me to be happy. Provided that what I wanted to do wasn’t inherently bad (such as drug dealing!) then there was every reason to suppose that my answer to this question was what God wanted me to do. This process did not involve ever being reckless or foolish, or abandoning my everyday responsibilities, but I would always need faith to stave off fear. He couldn’t guarantee that my dreams would happen exactly as imagined, although it was certainly possible. What he did guarantee though was that by following this call and taking small and sensible steps towards it, I would be fulfilled and discover what God wanted me to do because it would materialize in my life. As He put it to me, “Thy will be done” is a fact, not an aspiration.

I answered this question immediately. I wanted to be an artist.

In response David told me that there were two reasons why I wouldn’t achieve my dream: the first was if I didn’t try to follow the call; the second was that, assuming that I did try, en route I would find myself doing something even better, perhaps something previously unimagined. When this happens, he said, you will be enjoying it so much you stop looking further.

David also stressed how important it was always to be grateful for what I have today. He said that unless I could cultivate gratitude for the gifts that God is giving me today, right here, right now, then I would be in a permanent state of dissatisfaction. In which case, even if I got what I wanted I wouldn't be happy. This gratitude should start right now, he said, with the life you have today. Aside from living the sacramental life, he told me to write a daily list of things to be grateful for and to thank God daily for them. Even if things weren’t going my way there were always things to be grateful for, and I should develop the habit of looking for them and giving praise to God for his gifts. He also stressed strongly that I should constantly look to help others along their way.

My experience is this. Most important first, I became Catholic. Next, I was offered a job at a Catholic liberal arts college in New Hampshire as Artist in Residence which brought me to the United States from the UK. Then my goal developed into more - I wanted to create of offer a formation for Catholic artists. This was created in my next job, when I designed a Master of Sacred Arts program for Pontifex University, where I am now Provost. This also the home of the wonderful Masters program offered in conjunction with Dr Christopher West and the Theology of the Body Institute on the Theology of the Body and the New Evangelization.

Some years after meeting David, and before I came to the US, I was offered the chance to study portrait painting in Florence (I couldn’t believe it!). While I was there, I went to see a priest who was an expert in Renaissance art, an American living at the Duomo. I wanted to know if my developing ideas regarding the principles for an art school were sound. He listened and encouraged me in what I was doing. Then he remarked in passing, even though I hadn’t asked him this, that he thought that it was my personal vocation to try to establish this school.

I don’t know what I had said that had made him think this, but I was pleased to hear it and he seemed pretty certain. Then he said something else that I found interesting. He warned me that I couldn’t be sure that I would ever get this school off the ground but he was certain that I should try. As I did so, he said, my activities along the way would attract people to the Faith (most likely in ways unknown to me). This, he said, is what a vocation is really about, drawing people to Christ.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Direito ao aborto? / Droit à l`avortement? ( Les Evêques de l`Europe prendent position)

 Bruxelles, 22 février 2021

Cher Président Sassoli,

Nous vous écrivons au sujet de la résolution du Parlement européen du 26 novembre 2020 sur le droit à l’avortement en Pologne. La Commission des Episcopats de l’Union européenne (COMECE) a pris note avec préoccupation de certains arguments et points de cette résolution.

Nous voudrions saisir cette occasion pour souligner une fois de plus que l’Église catholique, qui cherche à soutenir les femmes dans les situations de vie résultant de grossesses difficiles ou non désirées, demande que toute vie à venir bénéficie de
protection et de soins. Toute personne humaine est appelée à l’existence par Dieu et a besoin de protection, en particulier lorsqu’elle est la plus vulnérable. La protection et les soins particuliers apportés à l’enfant, avant et après sa naissance, sont également exprimés dans les normes juridiques internationales, par exemple dans la Convention des Nations Unies relative aux Droits de l’Enfant. Tout le soutien nécessaire doit être apporté aux femmes qui se trouvent dans des situations de vie difficiles liées à une grossesse non désirée ou difficile.

D’un point de vue juridique, nous souhaitons souligner que ni la législation de l’Union européenne ni la Convention Européenne des Droits de l’Homme ne prévoient un droit à l’avortement. Cette question est laissée aux systèmes juridiques des États Membres.

L’un des principes fondamentaux de l’Union Européenne est le principe d’attribution, en vertu duquel l’Union n’agit que dans les limites des compétences que les États membres lui ont attribuées dans les Traités pour atteindre les objectifs que ces Traités établissent (article 5.2 du Traité sur l’Union Européenne). Le strict respect de ce principe est, à son tour, une exigence de l’État de Droit, une des valeurs fondamentales de l’Union, inscrite à l’article 2 du Traité sur l’Union Européenne. Comme le souligne à juste titre la Résolution du Parlement, le respect de l’État de Droit est essentiel pour le fonctionnement de l’Union. Cela étant dit, l’État de Droit exige également le respect des compétences des États Membres et des choix qu’ils font dans l’exercice de leurs compétences exclusives.

La COMECE est également alarmée par le fait que la Résolution semble remettre en cause le droit fondamental à l’objection de conscience qui émane de la liberté de conscience (article 10.1 de la Charte des Droits Fondamentaux de l’Union Européenne). Si l’on considère que, dans le secteur des soins de santé, les objecteurs de conscience font souvent l’objet de discrimination, ceci est particulièrement inquiétant. À notre avis, une telle stigmatisation injuste ne devrait pas être encouragée.

Il est nécessaire de considérer les droits fondamentaux – comme la liberté de pensée, de conscience et de religion – à la lumière de leur universalité, de leur inviolabilité, de leur inaliénabilité, de leur indivisibilité et de leur interdépendance. En ce qui concerne le droit à l’objection de conscience, la Charte de l’Union Européenne établit la nécessité de respecter les traditions constitutionnelles nationales et l’élaboration d’une législation nationale sur la question.

La Résolution du Parlement Européen fait référence dans plusieurs passages au droit à l’égalité de traitement et à la non-discrimination. Dans le plein respect de ces dispositions juridiques, nous craignons que le principe de non-discrimination ne soit
utilisé pour étendre ou brouiller les limites des compétences de l’Union Européenne. Cela irait également à l’encontre de l’article 51. 2 de la Charte de l’Union Européenne, qui stipule clairement que la Charte n’étend pas le champ d’application du droit de l’Union
au-delà des compétences de l’Union, ni ne crée aucune compétence ni aucune tâche nouvelles pour l’Union.

Nous avons également noté avec tristesse qu’aucune condamnation ou solidarité n’était exprimée dans le texte en ce qui concerne les attaques inacceptables contre les églises et les lieux de culte dans le cadre des protestations liées à cette loi en Pologne.

Cher Président Sassoli, nous restons à votre disposition pour toute clarification que vous jugeriez nécessaire sur cette question, que nous considérons comme cruciale, conscients que nous sommes que la Résolution aura un impact très négatif sur la façon
dont l’Union est perçue par les États Membres.

Respectueusement,

Le Comité Permanent de la COMECE,
S.Em. le Card. Jean-Claude Hollerich sj
Archevêque de Luxembourg

9. Foi conveniente Cristo ser crucificado entre ladrões (segundo S. Tomás de Aquino)

Quinta-feira na Semana I da Quaresma

Cristo foi crucificado entre os ladrões, por uma razão se considerarmos a intenção dos judeus, e por outra, considerada a ordem de Deus. 

1. Quanto à intenção dos judeus, crucificaram aos lados de Cristo dois ladrões, como adverte Crisóstomo, «para que ele participasse da ignomínia deles. Contudo, àqueles ninguém se refere, ao passo que a cruz de Cristo é honrada em toda parte. Os reis, depondo os seus diademas, assumem a cruz: no meio dos diademas, das armas, da mesa sagrada, em toda a parte do mundo a cruz resplandece.»

Quanto à ordenação de Deus, Cristo foi crucificado entre ladrões, porque, segundo diz Jerónimo, «assim como Cristo foi feito na cruz maldição por nós, assim, foi crucificado como criminoso entre criminosos, para a salvação de todos».

2. Segundo, como diz Leão Papa, «dois ladrões foram crucificados, um ao lado direito e outro ao lado esquerdo de Cristo, a fim de que nesse espetáculo mesmo do patíbulo se espelhasse aquela separação que ele próprio há de fazer quando vier a julgar os homens». E Agostinho diz: «Se bem refletires verás, que essa cruz foi um tribunal. O juiz está posto no meio; o que acreditou foi salvo; o outro, que insultou, foi condenado. Por onde se vê o que Cristo fará um dia, dos vivos e dos mortos, colocando aqueles à sua direita e os outros, à esquerda.» 

3. Terceiro, segundo Hilário, porque «os dois ladrões crucificados - um, à direita, o outro à esquerda, mostram que toda a diversidade do gênero humano é chamada a participar do mistério da Paixão de Cristo. Mas como a divisão entre fiéis e infiéis é correspondente aos lados direito e esquerdo, um dos dois, o colocado à direita, foi salvo pela justificação da fé.»

4. Quarto, porque, como diz Beda, «os ladrões crucificados com o Senhor, simbolizam aqueles que, sob a fé e a confissão de Cristo, sofrem a agonia do martírio, ou vivem sob as regras de uma disciplina mais austera. E os que trabalham para a glória eterna são figurados pelo ladrão da direita; ao passo que os de olhos postos na glória humana imitam os atos do ladrão da esquerda.» (III, q. XLVI, a. 11)

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Acte d’Amour du Saint Curé d’Ars

Je vous aime, O mon Dieu, et mon seul désir est de vous aimer jusqu'au dernier soupir de ma vie. 

Je vous aime, O mon Dieu infiniment aimable, et j'aime mieux mourir en vous aimant que de vivre un seul instant sans vous aimer. 

Je vous aime, O mon Dieu, et je ne désire le ciel que pour avoir le bonheur de vous aimer parfaitement. 

Je vous aime, O mon Dieu, et n'appréhende l'enfer que parce qu'on n'y aura pas la douce consolation de vous aimer. 

O mon Dieu, si ma langue ne peut dire à tout moment que je vous aime, du moins je veux que mon cœur vous le répète autant de fois que je respire.
Ah ! faites-moi la grâce de souffrir en vous aimant, de vous aimer en souffrant et d'expirer un jour en vous aimant et en sentant que je vous aime.
Et plus j'approche de ma fin, plus je vous conjure d'accroître mon amour et de le perfectionner. 

Amen!

8. A imensidade da dor da Paixão de Cristo (segundo S. Tomás de Aquino)

Quarta-feira depois do I domingo da Quaresma

«Atendei e vede se há dor semelhante à minha dor» (Lm 1, 12)

Cristo, na sua paixão, sofreu verdadeiramente a dor. Tanto a sensível, causada pelos tormentos corpóreos, como a interior, causada pela apreensão do mal, que se chama tristeza. Ora, ambas essas dores foram máximas em Cristo, entre as dores da vida presente. O que se explica por quatro razões.

1. Primeiro, pelas causas da dor. Pois, a dor sensível teve como causa uma lesão corpórea cheia de acerbidade, tanto pela generalidade da paixão, como pelo gênero da mesma. Pois, a morte dos crucificados é acerbíssima, por serem trespassados em lugares nervosos e sobremaneira sensíveis, que são as mãos e os pés. E além disso, o peso mesmo do corpo pendente continuamente aumenta a dor; acrescentando-se ainda a diuturnidade dela, pois os crucificados não morrem logo como os mortos pela espada.

Quanto à dor interna, teve as causas seguintes. Primeiro, todos os pecados do gênero humano, pelos quais satisfazia com os seus sofrimentos; por isso como que os avocou a si dizendo: «Os clamores dos meus pecados» (Sl 21, 1). Segundo e especialmente, a culpa dos judeus e dos outros, que lhe infligiram a morte; e sobretudo a dos discípulos, que se escandalizaram com a paixão de Cristo. Terceiro, ainda, a perda da vida do corpo, naturalmente horrível à natureza humana.

2. Segundo, a grandeza da dor pode ser considerada relativamente à sensibilidade do paciente. Assim, o seu corpo tinha a melhor das compleições; pois, fora formado milagrosamente por obra do Espírito Santo. Porque nada é mais perfeito que o produzido por milagre, e por isso, o sentido do tato, que serve para perceber a dor, era em Cristo extremamente delicado. Também a alma, nas suas potências interiores, apreendia com grande eficácia toda as causas da tristeza.

3. Terceiro, a grandeza da dor de Cristo na sua paixão pode ser considerada quanto à pureza da mesma dor. Pois, nos outros pacientes, mitiga-se a tristeza interior e também a dor externa, pela reflexão racional, causando uma certa derivação ou redundância das potências superiores para as inferiores. O que não se deu na paixão de Cristo, pois, a cada uma das potências permitia agir dentro do que lhe era próprio, como diz Damasceno.

4. Quarto, a grandeza da dor de Cristo pode ser considerada quanto ao fato de ser a sua paixão e sua dor assumidas voluntariamente, com o fim de livrar o homem do pecado. Por isso, assumiu uma dor tão grande, que fosse proporcionada à grandeza do fruto dela resultante. Assim, pois, de todas essas causas simultaneamente consideradas, resulta claro que a dor de Cristo foi a máxima das dores. (III, q. XLVI, a. 6)

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

7. De que modo Cristo sofreu todos os sofrimentos (segundo S. Tomás de Aquino)

Terça-feira depois do I domingo da Quaresma

Os sofrimentos humanos podem ser considerados à dupla luz. Primeiro, quanto à espécie. E então, não devia Cristo sofrer todos os sofrimentos; pois, muitas espécies de sofrimentos são contrárias entre si, tal a combustão pelo fogo e a submersão na água. Mas, agora tratamos dos sofrimentos de proveniência extrínseca; pois, os sofrimentos procedentes de causas externas, como as doenças do corpo, não devia ele sofrê-los, como dissemos.

Mas, quanto ao gênero, sofreu todos os sofrimentos humanos. O que é susceptível de tríplice consideração:

  1. Primeiro, quanto aos homens que lhe causaram sofrimentos. Pois, certos sofrimentos lhe foram infligidos pelos gentios e pelos judeus; por homens e por mulheres, como o mostram as criadas acusadoras de Pedro. Também recebeu sofrimentos de príncipes e de seus ministros, e do populacho, conforme a Escritura (Sl 2, 1): « Por que razão se embraveceram as nações e os povos meditaram coisas vãs? Os reis da terra se sublevaram e os príncipes se coligaram contra o Senhor e seu Cristo». Sofreu também de seus discípulos e conhecidos: como de Judas, que o traiu e de Pedro, que o negou.
  2. Segundo, o mesmo se conclui relativamente àquilo em que o homem pode sofrer. Assim, sofreu nos seus amigos, que o abandonaram; na sua reputação, pelas blasfêmias contra ele proferidas; na sua honra e glória, pelas irrisões e contumélias contra ele assacadas; nos bens, quando das suas próprias vestes foi espoliado; na alma, pela tristeza, pelo tédio e pelo temor; no corpo, pelos ferimentos e flagelações.
  3. Terceiro, podemos considerá-lo relativamente aos membros do corpo. Assim, Cristo sofreu, na cabeça, a coroa de pungentes espinhos; nas mãos e nos pés, a pregação dos cravos; na face, bofetadas e cuspe; e em todo o corpo, flagelações. Sofreu também em todos os sentidos do corpo: no tato, quando flagelado e pregado com cravos; no gosto, quando lhe deram de beber fel e vinagre; no olfato, quando suspenso no patíbulo, num lugar fétido pelos cadáveres dos supliciados, chamado Calvário; no ouvido, ferido pelas vociferações dos que o blasfemavam e faziam dele irrisão; na vista, ao ver sua mãe e o discípulo a quem amava, chorando

Quanto à suficiência, um sofrimento mínimo de Cristo bastava para remir o gênero humano de todos os pecados. Mas, quanto à conveniência, foi suficiente que sofresse todos os gêneros de sofrimentos. (III, q. XLVI, a. 5.)

La récitation du Chapelet

Aujourd’hui, on lira attentivement Saint Augustin dans ce passage des Confessions (Livre X, chap. XXI et XXI) où ce Père de l’Eglise Latine parle de la soif du bonheur qui habite tout homme ; qui est soif de Dieu.  

« la vie heureuse, aucun sens corporel ne nous en fait faire l'expérience chez autrui. Est-ce à la manière dont nous nous souvenons- de la joie ? Peut-être, oui. Je me souviens, en effet, de ma joie même quand je suis triste, comme de la vie heureuse quand je suis malheureux.  

Et ma joie, jamais par un sens corporel, je ne l'ai vue, ni entendue, ni humée, ni goûtée, ni touchée, mais j'en ai fait l'expérience en mon esprit, quand je me suis réjoui ; et sa connaissance s'est fixée dans ma mémoire, pour que je puisse m'en souvenir, quelquefois avec dédain, quelquefois avec regret, selon la diversité des objets dont il me souvient que je me suis réjoui. De fait, même à la suite de choses honteuses, une certaine joie m'a inondé, et aujourd'hui en me la rappelant je la déteste et je l’exècre ; parfois elle venait de choses bonnes et honnêtes, et je la désire quand je l'évoque, même s'il arrive que son objet ne soit plus là voilà pourquoi je suis triste en évoquant ma joie ancienne. 

Ou donc et quand ai-je, fait l'expérience de ma vie heureuse, pour me la rappeler, l'aimer et la désirer ? Ce n'est pas moi seulement, ou quelques-uns avec moi ; mais « tous sans exception, nous voulons être heureux » ! Et cela, si nous ne le connaissions pas d'une connaissance déterminée, nous ne le voudrions pas d'une volonté si déterminée. Mais qu'est ceci ?  Que l'on demande à deux hommes s'ils veulent être soldats, et il peut se faire que l'un réponde oui, l'autre non ; mais qu'on leur demande, s'ils veulent être heureux, et tous les deux aussitôt sans la moindre hésitation disent qu'ils le souhaitent, et même, le seul but que poursuive le premier en voulant être soldat, le seul but que poursuive le second en ne le voulant pas, c'est d'être heureux. Serait-ce donc que l'on prend sa joie, l'un ici, l'autre là ? Oui, tous les hommes s'accordent pour déclarer qu'ils veulent être heureux, comme ils s'accorderaient pour déclarer, si on le leur demandait, qu'ils veulent se réjouir, et c'est la joie elle-même qu'ils appellent vie heureuse. Et même si l'un passe ici, l'autre là pour l'atteindre, il n'y a pourtant qu'un seul but ou tous s'efforcent de parvenir : la joie. Et puisque c'est une chose dont personne ne peut se dire sans expérience, on retrouve donc la vie heureuse dans la mémoire, et on la reconnaît dès qu'on entend le mot. 

Loin de moi, Seigneur, loin du cœur de ton serviteur qui se confesse à toi, loin de moi la pensée que, quelle que soit la joie dont je me réjouisse, je m'estime heureux. En vérité, il est une joie qui n'est point donnée aux impies, mais à ceux qui Te servent gracieusement leur joie, c'est Toi-même. Et la vie heureuse, la voilà, éprouver de la joie pour Toi, de Toi, à cause de Toi. La voilà et il n'en est point d'autre.  

Et ceux qui pensent qu'il en est une autre, poursuivent une autre joie et non pas la vraie.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

6. Cristo devia ser tentado no deserto (segundo S. Tomás de Aquino)

Segunda-feira depois do I domingo da Quaresma

«Jesus estava no deserto quarenta dias e quarenta noites e ali foi tentado por Satanás» (Mc 1, 13)

I. —Cristo, por vontade própria deixou-se tentar pelo diabo, assim como voluntariamente entregou o corpo à morte; do contrário, o diabo não ousaria aproximar-se dele. Ora, o diabo atenta de preferência os solitários; pois, como diz a Escritura (Ecle 4, 12), «se alguém prevalecer contra um, dois lhe resistem». Por isso foi Cristo para o deserto, como para o campo da luta, para ser nele tentado pelo diabo. Donde o dizer Ambrósio, que Cristo foi ao deserto deliberadamente, para provocar o diabo. Pois, se este não viesse atacá-lo, i. é, o diabo, Cristo não o teria vencido.

Mas, acrescenta ainda outras razões, dizendo que Cristo assim procedeu misteriosamente para livrar Adão do exílio; pois, este fora precipitado, do paraíso, num deserto. Para nos mostrar, com o seu exemplo, que o diabo inveja os que progridem no bem.

II. — Cristo, indo ao deserto, se expôs à tentação. Crisóstomo diz: «contra os solitários é que o diabo emprega toda a força da sua tentação. Por isso, no princípio tentou a mulher, quando a viu desacompanhada de Adão». Contudo, isso não significa que o homem deva, indiscriminadamente, se deixar expor à tentação.

Há duas espécies de ocasião à tentação. Uma da parte do homem, como quando não evitamos as ocasiões próximas de pecar. Pois, tais ocasiões devemos evitá-las, como foi dito a Lot: «Não pares em parte alguma dos arredores de Sodoma» (Gn 19, 17)A outra espécie de ocasião vem do diabo, sempre invejoso de quem se esforça para ser melhor. E essa ocasião de tentação não devemos evitá-la. Por isso diz Crisóstomo: «Não só Cristo foi levado pelo Espírito ao deserto, mas também todos os filhos de Deus possuidores do Espírito Santo, que não consentem em ficar ociosos, mas são ungidos pelo Espírito Santo a empreender grandes obras; e isso, para o diabo, é estar no deserto, onde não há o pecado que ele se compraz. Também todas as boas obras constituem um deserto, para a carne e para o mundo, porque contrariam as tendências de uma e de outro.»

Ora, dar ocasião de tentação ao diabo não é perigoso, porque maior é o auxílio do Espírito Santo, autor das obras perfeitas, do que o ataque do diabo invejoso. (III, q. XLI, a. 2)

domingo, 21 de fevereiro de 2021

Coram Deo


Todos os poetas amam

Os versos divinos,

Auspciam os coros angélicos,

Mesmo os que dizem não crer,

Os que se recusam a crer,

Os que não sabem que creem

Acabam por,

mais cedo ou mais tarde,

Replicar versos e poemas

Brotados do coração de Deus.


João Batista Passos, MSM Brasil


5. As tentações de Cristo (segundo S. Tomás de Aquino)

Domingo I da Quaresma: A tentação de Cristo.

«Foi levado Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo.» (Mt 4, 1)

Cristo quis ser tentado:

1. Primeiro, para nos dar auxílio contra as tentações. Por isso diz Gregório: «Não era indigno do nosso Redentor querer ser tentado, ele que veio para ser imolado; para que assim vencesse as nossas tentações com as suas, assim como venceu com a sua a nossa morte.»

2. Segundo, para nossa cautela: a fim de que ninguém, por santo que seja, se julgue seguro e imune da tentação. Por isso quis ser tentado depois do batismo; porque, como diz Hilário, «as tentações do diabo são mais freqüentes sobretudo contra os santos, porque sobre estes é que ela mais deseja a vitória.» Donde o dizer a Escritura (Ecle 2, 1): «Filho, quando entrares no serviço de Deus, tenha-se firme na justiça e no temor e prepara a tua alma para a tentação.»

3. Terceiro, para nos dar o exemplo de como devemos vencer as tentações do diabo. Donde o dizer Agostinho: «Cristo deixou-se tentar pelo diabo, para nos mostrar como venceremos as suas tentações, não somente pelo seu auxílio, mas também pelo seu exemplo.»

4. Quarto, para nos excitar à confiança na sua misericórdia. Donde o dizer o Apóstolo (Heb 4, 15): «Não temos um pontífice que não possa compadecer-se das nossas enfermidades, mas que foi tentado em todas as coisas à nossa semelhança, exceto o pecado». (II, q. XLI, a. 1)

PEQUENOS LUZEIROS!

                                                                                                                   NÃO DUVIDES! PEQUENOS LUZ...