sábado, 27 de fevereiro de 2021

Segundo domingo da Quaresma: a Transfiguração do Senhor

Invariavelmente neste dia do ano ouvimos proclamar o Evangelho da Transfiguração do Senhor, como prenúncio da sua ressurreição. De facto, São Tomás de Aquino ensina que «Jesus sabia que era necessário revelar a Sua glória aos Apóstolos antes de morrer para que estes pudessem crer na Sua ressureição.» Esta é mais uma forma de dizer que a Fé em Jesus não se obtem por uma compreensão intelectual ou gnóstica, nem é um mero acto de confiança mas sim que nos é dada por Ele mesmo, em resposta à nossa Vontade consciente.

Este mistério da Transfiguração é assim descrito por S. João Paulo Magno:
«A cena evangélica da transfiguração de Cristo, na qual os três apóstolos Pedro, Tiago e João aparecem como que extasiados pela beleza do Redentor, pode ser tomada como ícone da contemplação cristã. Fixar os olhos no rosto de Cristo, reconhecer o seu mistério no caminho ordinário e doloroso da sua humanidade, até perceber o brilho divino definitivamente manifestado no Ressuscitado glorificado à direita do Pai, é a tarefa de cada discípulo de Cristo; é por conseguinte também a nossa tarefa. Contemplando este rosto, dispomo-nos a acolher o mistério da vida trinitária, para experimentar sempre de novo o amor do Pai e gozar da alegria do Espírito Santo. Realiza-se assim também para nós a palavra de S. Paulo: «Reflectindo a glória do Senhor, como um espelho, somos transformados de glória em glória, nessa mesma imagem, sempre mais resplandecente, pela acção do Espírito do Senhor» (2Cor 3, 18). (...) Mistério de luz por excelência é a Transfiguração que, segundo a tradição, se deu no Monte Tabor. A glória da Divindade reluz no rosto de Cristo, enquanto o Pai O acredita aos Apóstolos extasiados para que O «escutem» (cf. Lc 9, 35 par) e se disponham a viver com Ele o momento doloroso da Paixão, a fim de chegarem com Ele à glória da Ressurreição e a uma vida transfigurada pelo Espírito Santo.»

Na impossíbilidade de celebrar este novo passo da caminhada quaresmal em comunidade, comecemos o dia com o Hino de Laudes mais frequentemente associado a este mistério, igualmente uma excelente oração para a Comunhão espiritual:

O nata lux de lumine,
Jesu redemptor saeculi,
Dignare clemens supplicum
Laudes precesque sumere. 
Qui carne quondam contegi
Dignatus es pro perditis,
Nos membra confer effici
Tui beati corporis. Amen.

Numa tradução aproximada:

Ó Luz da Luz nascida,
Jesus, clemente redentor,
Dignai-vos aceitar as súplicas
De todos quantos de louvam.

Vós que vos dignastes revestir
da carne dos que estavam perdidos,
Concedei-nos a graça de ser membros
Do vosso Corpo santo. Amen.

Esta primeira versão musical foi composta em 1997 pelo compositor norte-americano Morten Lauridsen, em memória da sua mãe. Mas já mais de quatro séculos antes, Thomas Tallis (o compositor-mor da corte de Inglaterra sob os reinados de Mary I e Elisabeth I) compôs a sua versão do mesmo texto. Meditemos:

Este motete reveste-se de um especial significado se recordarmos que Tallis e Byrd - os maiores compositores ingleses do séc. XVI - eram ambos católicos e apenas pela sua competência artística sem paralelo foram poupados pela Raínha ao extermínio durante as Guerras da Religião. Ambos os músicos colocaram em risco a sua carreira e a própria vida para não renunciar à comunhão universal da Igreja e à Fé dos mesmos Apóstolos que viram Jesus transfigurado e ressuscitado.

Terminemos esta meditação com a Homilia de Santo Atanásio sobre a Transfiguração do Senhor.

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