sábado, 5 de julho de 2025

 Theotokos - Academia Mariana | Militia Sanctae Mariae Portugal

Curta reflexão XIII | Autoria de Carlos Aguiar Gomes

As estampas de cariz religioso que fizeram parte do quotidiano devocional dos católicos — também chamadas “santinhos” — até há poucas décadas, assinalavam acontecimentos diversos e de vária índole: baptizados, primeiras comunhões, crismas, comunhões pascais, divulgação de determinadas (in)vocações, etc.
A sua presença, normalmente sob a forma de ofertas, era muito apreciada, e muitos católicos guardavam-nas no seu Missal ou nalgum devocionário.
Recordo, com saudade, a visita pascal à casa dos meus pais, marcada por vários episódios que se repetiam todos os anos e em que, entre outros, havia a oferta de estampas pelo senhor Abade. Pessoalmente, ainda guardo no meu Missal dominical (vetus ordo) algumas destas estampas e revejo-as de vez em quando.
Estes sacramentais (?), eram sinais de um cristianismo imersivo, como se diz hoje, e que está completamente apagado — como outros sinais da fé de um povo outrora cristão, tal como o toque dos sinos que ritmavam o quotidiano do povo.
Havia estampas para todos os gostos e devoções. As dedicadas a Maria eram imensas, e não havia peregrino de um santuário qualquer que não trouxesse várias estampas para oferecer e rezar por elas. A devoção amorosa a Nossa Senhora era imensa — como imensa era a variedade de estampas que Lhe eram dedicadas.
(As nossas mulheres tinham todas como primeiro ou segundo nome próprio o nome de Maria! E havia Marias com todas as conjugações para o segundo ou primeiro nome próprio.)
Uma análise e estudo comparativo destas estampas poderá permitir aos estudiosos conhecer melhor o quanto este povo mariano — o povo português — é (ou era) devoto amantíssimo da Santíssima Virgem Maria, e como esta devoção foi evoluindo ao longo dos tempos.
Uma rápida observação destes “santinhos” permite-nos concluir que as invocações marianas são incontáveis, desde as mais eruditas às mais populares. É impressionante ver os qualificativos que se apõem ao nome sacratíssimo da Theotokos:
Nossa Senhora do Ó, da Cabeça, das Dores, da Aparecida, de Lurdes, da Boa Morte, do Carmo, da Rosa, da Alegria, do Minho, do Leite, dos Cavaleiros, da Burrinha, da Vida, da Esperança, da Boa Viagem, do Bom Sucesso, do Bom Conselho, de Fátima, do Viso, do Sameiro, de Vila Viçosa, da Oliveira, do Castelo, da Abadia, do Pisco, da Graça, das Graças, etc, etc!
Há estampas marianas lindíssimas e muito artísticas, como é o caso da que abre esta Curta Reflexão Mariana — trazida, pode deduzir-se, por quem peregrinou à Rue du Bac, em Paris, e a guardou ou deu a alguém e que, sinais dos tempos, acabou numa feira de velharias!
As estampas foram um meio de evangelização num determinado tempo e cultura. Seriam úteis, hoje, como um dos pluriformes meios de apostolado (palavra proscrita há décadas!)?
Sub tuum praesidium…
Carlos Aguiar Gomes

 Theotokos - Academia Mariana | Militia Sanctae Mariae Portugal

Curta reflexão XII | Autoria de Carlos Aguiar Gomes





Ainda não há muitos anos, a vida das nossas aldeias e vilas era pautada por sinais, sons e outras manifestações públicas da sua Fé. Era assim que se anunciavam batismos, funerais de adultos ou crianças — os chamados "anjinhos" (com toques diferentes), casamentos, missas, incêndios, e outras sonoridades de júbilo, tristeza ou preocupação comunitária que alertavam a população para que se unisse, pela presença ou pela oração.

O dia-a-dia era marcado por ritmos simples, mas profundos. Um dos sinais da religiosidade popular (e não só) era a oração das Ave-Marias, que, três vezes ao dia, chamava a comunidade a rezar, recordando o grande mistério da Encarnação — oração marcadamente trinitária e mariana.

Vários Papas, nomeadamente Paulo VI e São João Paulo II Magno, chamaram a atenção para esta prática e convidaram os crentes a não perderem esta devoção simples — e dos simples.

O Fundador da Militia Sanctae Mariae – Cavaleiros de Nossa Senhora, deixou também registado na Regra que compôs para esta nossa Comunidade, a propósito do Angelus ou Ave-Marias, como é conhecido em Portugal, este apelo:

“Quanto ao Angelus, pertence incontestavelmente à Tradição cavaleiresca. Esta graciosa saudação é particularmente recomendada aos cavaleiros de Nossa Senhora.”
(Regra, cap. XIII, 3)

Aqui deixo registada esta oração na sua versão portuguesa e, igualmente, em latim:

ANGELUS / Trindades / “Ave-Marias”
Em Português:

V. O Anjo do Senhor anunciou a Maria.
R. E Ela concebeu do Espírito Santo.
Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco.
Bendita sois vós entre as mulheres,
e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus.
Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores,
agora e na hora da nossa morte. Ámen.

V. Eis aqui a escrava do Senhor.
R. Faça-se em mim segundo a vossa palavra.
Ave Maria…

V. E o Verbo Divino encarnou.
R. E habitou entre nós.
Ave Maria…

V. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

V. Oremos:

Derramai, ó Deus, a vossa graça em nossos corações,
para que, conhecendo pela mensagem do Anjo
a Encarnação do vosso Filho,
cheguemos, pela Sua Paixão e Cruz,
à glória da Ressurreição.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

R. Ámen.

V. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
R. Assim como era no princípio, agora e sempre,
por todos os séculos dos séculos. Ámen.
(Diz-se três vezes, em honra da Santíssima Trindade)

Em Latim:

V. Angelus Domini nuntiavit Mariæ.
R. Et concepit de Spiritu Sancto.
Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum.
Benedicta tu in mulieribus,
et benedictus fructus ventris tui, Iesus.
Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus,
nunc et in hora mortis nostræ. Amen.

V. Ecce Ancilla Domini.
R. Fiat mihi secundum Verbum tuum.
Ave Maria…

V. Et Verbum caro factum est.
R. Et habitavit in nobis.
Ave Maria…

V. Ora pro nobis, Sancta Dei Genetrix.
R. Ut digni efficiamur promissionibus Christi.

Oremus:

Gratiam tuam, quæsumus, Domine,
mentibus nostris infunde;
ut qui, Angelo nuntiante,
Christi Filii tui Incarnationem cognovimus,
per passionem eius et crucem,
ad resurrectionis gloriam perducamur.
Per eumdem Christum Dominum nostrum. Amen.

V. Gloria Patri, et Filio, et Spiritui Sancto.
R. Sicut erat in principio, et nunc et semper,
et in sæcula sæculorum. Amen.
(Diz-se três vezes, em honra da Santíssima Trindade)

Nota: No Tempo Pascal, substitui-se o Angelus pela oração da Regina Cæli.

E era esta extraordinária oração — simples e profunda — que se rezava três vezes ao dia: de manhã, ao meio-dia e ao entardecer. Parava-se o trabalho, os homens tiravam o chapéu, curvávamo-nos ligeiramente quando o sino tocava às "Trindades", às Ave-Marias (veja-se esse extraordinário óleo de Millet que o Museu do Louvre guarda e que apresento no cimo desta curta reflexão).

Era mais um sinal de uma sociedade que, ainda que muito imperfeita, vivia a sua Fé — também com este gesto que ajudava a interiorizar a própria Fé, ao recordar-nos o grande mistério da nossa salvação: o mistério da Encarnação.

Os sinos deixaram de tocar para marcar o ritmo da nossa vida. E a Fé acompanhou esse triste silêncio.

Carlos Aguiar Gomes

 Theotokos - Academia Mariana | Militia Sanctae Mariae Portugal

Curta reflexão XI | Autoria de Carlos Aguiar Gomes






« Indiscutablement, Henri Charlier mérite de prendre place dans la
lignée des Rodin, des Maillot et des Despiau… ». Paul Claudel
Tive o grande privilégio de em 1969 ter visto, com grande prazer visual e espiritual, uma exposição de esculturas de Henri Charlier, em Lausane, na Suiça.
Fiquei deslumbrado. Maravilhado. E pensei e penso como a Arte contemporânea, que não seja assim chamado aquilo que é simples descontrução daquela, a disformidade e desarmonia ou vulgaridade, nos faz mergulhar no mundo artístico
de sempre.
Henri Charlier é um escultor francês do século XX (1883-1975) que se notabilizou pelas suas magníficas obras de Arte que, além do escultor, incluiu igualmente soberbas pinturas (não foi por acaso que foi o escolhido por Rodin para executar uma encomenda do Governo Francês) e que o poeta Claudel o comparou a este
grande escultor gaulês que foi Rodin Charlier (Henri), um convertido ao catolicismo soube, como poucos, interpretar o
sentido espiritual da escultura.A sua obra era uma verdadeira diaconia do Belo como só homens de uma grande fé o sabem fazer.
Na imagem que encima esta Curta Reflexão, uma escultura de Charlier,pode inferir-se o quão elevado era o seu sentimento religioso. Paul Claudel, outro convertido, escreveu que “ Henri Charlier é um grande escultor de imagens,umn desses artistas que seguem o coração de Deus (…)”. Nesta escultura, Nossa Senhora, está representada com Jesus Menino ao colo e o nosso olhar converge para Este, apesar de ser de pequenas dimensões, e não para a representação de Maria, a “ Theotokos”, a Santa Dei Genitrix, a Santa Mãe de Deus. O olhar da Virgem Maria, aliás bem significativo da Sua vida, convida-nos a olhar para Aquele que é a figura central da escultura, o nosso Salvador e como que passa
despercebida a Sua figura de traços depurados para não nos afastar da essência:
Jesus.
Charlier nesta obra, esculpe no mármore um verdadeiro tratado
mariológico.Parafraseando Claudel, Charlier deixou-se guiar por Deus na busca e no serviço do Belo!
O convite de Maria foi, é e será sempre o de nos indicar, apontar, o caminho para Aquele que disse: “ Eu sou o caminho, a verdade e a vida”.
“ A Maria por Jesus” como nos ensinou e ensina S. Luís Maria de Montfort, poderia ser a legenda desta escultura magnífica.
Sub tuum praesidium…
Carlos Aguiar Gomes, na memória de Maria, Mãe da Igreja de 2025

segunda-feira, 30 de junho de 2025

 

O Declínio do Ocidente: Entre o Colapso e a Resistência

A Travessia da Meia-Noite



À medida que avançamos para o segundo semestre de mais um ano marcado por instabilidade, muitos de nós — conscientes, atentos, fiéis — sentem o peso de um tempo estranho. O que parecia sólido começa a ruir. As verdades inegociáveis são agora chamadas “discursos de ódio”. A beleza, a moral, a ordem e o sentido espiritual cederam lugar ao ruído, à inversão e à apatia.
Vivemos a travessia da meia-noite da civilização ocidental.

E a pergunta impõe-se com força:
Se o Ocidente continuar neste caminho, quanto tempo falta até o colapso total?
A resposta não se limita a um número de anos. O colapso pode ser lento, abrupto ou invisível — mas os sinais são inegáveis. E o mais importante: não é inevitável. Onde há fé, há resistência.


1. Os Pilares do Ocidente: O que Está a Cair?

A civilização ocidental, tal como a conhecemos, ergueu-se sobre três grandes heranças:

  • A razão grega, que nos deu o amor pela verdade e a busca pela sabedoria;

  • O direito romano, que nos legou a noção de justiça, cidadania e ordem;

  • A fé cristã, que enraizou no coração do homem o valor da vida, da dignidade humana e da caridade.

Hoje, esses fundamentos estão a ser sistematicamente corroídos.

a) A Razão Silenciada

O pensamento racional deu lugar à “sensação”. Já não importa o que é verdadeiro, mas o que é “sentido como verdade”. O debate é substituído pela censura; a ciência, pela ideologia.
Pensadores clássicos são cancelados. A linguagem é policiada. E os jovens são ensinados a não pensar criticamente, mas a repetir slogans.

b) O Direito Corrompido

A lei, outrora fundada em princípios naturais e universais, tornou-se instrumento de engenharia social.
Hoje, legisla-se para desfazer a moral tradicional, para perseguir consciências, para proteger perversões e punir virtudes. O Estado não se limita mais à ordem e à justiça, mas assume o papel de reeducador moral — à imagem de um Leviatã ideológico.

c) A Fé Esquecida

A Europa — outrora berço da Cristandade — tornou-se terra missionária. As igrejas estão vazias, os seminários desertos, os jovens afastados.
O cristianismo foi substituído por pseudo-religiões: ambientalismo fanático, culto do corpo, políticas de identidade, progressismo messiânico.
Deus foi “expulso” da vida pública — e com Ele foi-se o sentido da Vida, da Morte, do Amor, do Sacrifício.


2. Sinais do Colapso: O Relógio Avança

a) A Crise Demográfica

Nenhuma civilização sobrevive quando deixa de se reproduzir.
A taxa de natalidade em Portugal, Itália, Espanha, Alemanha e França está muito abaixo da reposição. Em muitos casos, já é demograficamente irreversível.
Sem filhos, não há futuro. E para manter o sistema, recorre-se à imigração em massa — frequentemente desordenada, sem assimilação cultural e com tensões explosivas.

b) A Fragmentação Social

A sociedade está em guerra consigo própria. A polarização política cresce. Famílias dividem-se por opiniões.
Os conceitos de bem e mal são invertidos. A educação ensina a odiar o próprio passado.
A nova linguagem política e mediática usa termos como “fascismo”, “ódio” e “opressão” de forma abusiva e estratégica, para silenciar qualquer pensamento dissidente.

c) A Crise Económica e Moral

O Ocidente vive acima das suas possibilidades. Dívidas astronómicas, impressão descontrolada de moeda, inflação, desaparecimento da classe média.
Ao mesmo tempo, perdeu-se o sentido da Honra, do Dever, do Trabalho e da Poupança.
Consumimos sem limites. Endividamo-nos por futilidades. Queremos tudo imediato — e sem esforço.

d) O Totalitarismo Digital

O novo poder já não precisa de polícias secretas.
Hoje, somos vigiados pelos nossos próprios telemóveis, algoritmos e plataformas sociais. A censura é subtil, mas eficaz. O “pensamento permitido” é imposto pelo consenso mediático.
Quem pensa diferente é silenciado, rotulado ou banido.


3. Que Tipo de Colapso? Três Possibilidades

I. Colapso Lento (20-50 anos)

Sem grandes explosões, como Roma. A cultura morre por dentro. O Ocidente torna-se irreconhecível, submisso, fragmentado.
Religiões estrangeiras ocupam o vazio espiritual. Valores contrários à tradição cristã tornam-se norma.
Neste cenário, o Ocidente não morre com uma guerra, mas com um suspiro.

II. Colapso Abrupto (5-15 anos)

Um gatilho acelera tudo:

  • Guerra mundial (EUA–China, por exemplo);

  • Nova pandemia e autoritarismo sanitário;

  • Colapso económico ou energético;

  • Revoltas sociais em massa.

Aqui, a ordem desaparece. Estados entram em estado de exceção. As democracias morrem de medo. A violência explode. A religião verdadeira é perseguida abertamente.

III. Colapso Silencioso (já em curso)

É o mais assustador: ninguém repara.
As pessoas adaptam-se. Cedem. Desistem.
As crianças já não aprendem o que é belo, verdadeiro e sagrado. Crescem num mundo onde tudo é permitido… excepto o Bem.
Aqui, o colapso é cultural, espiritual e invisível. E já começou.


4. Resistência: O Que Podemos Fazer?

Apesar do cenário sombrio, a História mostra que toda decadência pode ser interrompida por um pequeno grupo fiel.
Foi assim com os monges que salvaram a cultura clássica após a queda de Roma. Foi assim com os cavaleiros que defenderam a Cristandade contra o Islão. Foi assim com padres e famílias que resistiram ao Comunismo.

Hoje, mais do que nunca, precisamos de:

a) Formar núcleos fortes de verdade e fé

Famílias sólidas, católicas, férteis e BEM PREPARADAS — espiritual, cultural e moralmente — serão os últimos redutos da civilização.

b) Viver com coerência

Ser católico a sério. Ir à Missa. Rezar o terço. Ensinar os filhos. Dizer a verdade mesmo quando custa. Recusar pactuar com a mentira, a inversão e a decadência.

c) Desconectar-se da máquina

Reduzir a dependência dos meios digitais. Voltar ao livro, à música verdadeira, à terra, à oração.
A resistência começa pela alma.

d) Criar novas redes

Comunidades, escolas, círculos de estudo, iniciativas locais — onde se preserve a cultura, a fé e o bem.
Muitas vezes clandestinas, pequenas, mas mais fortes que o Império decadente.


Conclusão: O Colapso Não é o Fim

O Ocidente talvez não possa ser salvo enquanto sistema. Mas a Civilização pode ser reconstruída.

Cada geração tem a missão de manter acesa a Chama — mesmo quando tudo em volta é escuridão.
E essa chama é a Verdade, é Cristo, é a Fé que venceu o Mundo.

O colapso pode vir em 5, 15 ou 50 anos. Mas o que fizeres hoje pode durar séculos.
Resistir não é recuar: é avançar contra a corrente, com coragem, oração e fidelidade.

Tu és chamado a resistir.
Tu és chamado a ser luz.
Tu és chamado a manter viva a chama da Civilização.
Tu és chamado a ser 
"Uma candeia acesa no meio da escuridão.” 

sábado, 28 de junho de 2025

 

A Normalização do Macabro em Brinquedos Infantis: O Caso Labubu e Pazuzu




Nos últimos anos, temos assistido a uma tendência preocupante no mundo dos brinquedos infantis: a crescente normalização de elementos macabros, grotescos e até ocultistas, muitas vezes disfarçados sob o rótulo da "arte pop" ou da "estética alternativa". Entre os casos mais emblemáticos está o boneco Labubu, uma figura popular entre colecionadores, que levanta sérias questões quanto ao simbolismo que transmite — sobretudo ao ser comparado à conhecida estátua de Pazuzu, o demónio associado ao filme O Exorcista.

Labubu e a Estética Grotesca

Criado pela artista Kasing Lung, Labubu é um boneco de vinil com olhos grandes e negros, dentes salientes, sorriso sinistro e um corpo estranho, entre o bicho-papão e o diabrete. Apesar da aparência excêntrica, a personagem é muitas vezes vendida como "fofa", "peculiar" ou "diferente", numa tentativa de suavizar as suas características evidentemente inquietantes.

O problema não está apenas na sua forma, mas na forma como as crianças e pais são levados a aceitá-la como inofensiva. Esta aceitação despreocupada abre caminho à banalização do grotesco, tornando o que antes era assustador, ou claramente malicioso, em algo supostamente divertido ou até adorável.

Pazuzu: De Demónio Antigo a Ícone do Terror

A comparação entre Labubu e Pazuzu não é descabida. Pazuzu é uma antiga figura demoníaca da mitologia mesopotâmica, representado com corpo de homem, cabeça de leão ou cão, garras, cauda de escorpião e asas. Embora na antiguidade fosse usado para afastar outros demónios, tornou-se mundialmente conhecido como o espírito que possui a jovem Regan no filme O Exorcista (1973). A sua estátua — conhecida como The Exorcist Pazuzu Statue — é icónica pelo seu aspeto ameaçador e pela aura de profanação que carrega.

Quando se coloca uma imagem do Labubu ao lado da estátua de Pazuzu, as semelhanças são impressionantes. Não se trata apenas de estética: trata-se da transmissão de uma mesma energia inquietante, que o olhar mais atento reconhece imediatamente como perturbadora.

Uma Cultura que Desarma o Instinto

A banalização do macabro em brinquedos e cultura visual infantil desarma o instinto natural da criança (e dos pais) de rejeitar o que é disforme ou malévolo. A linha entre o inofensivo e o perigoso torna-se turva. Com isso, cria-se um espaço cultural onde o estranho, o feio, o ameaçador — mesmo que subtil — deixa de causar repulsa e passa a ser acolhido como "expressão artística" ou "criatividade alternativa".

Não se trata de histeria moral, mas de bom senso e discernimento espiritual. A infância é o tempo da beleza, da luz, do verdadeiro encanto. Não há lugar, neste tempo precioso, para símbolos que remetem à morte, ao medo ou ao oculto. A introdução desses elementos, ainda que revestidos de plástico colorido e marketing moderno, não é inocente.


Chamar a atenção para estes fenómenos não é exagero nem teoria da conspiração. É simplesmente recusar o adormecimento das consciências. Quando se vende o grotesco como brinquedo, o que está verdadeiramente a ser comercializado é a normalização do obscuro — e com isso, abre-se a porta a realidades que não pertencem ao universo da infância.

Como pais, educadores e adultos responsáveis, é legítimo — e necessário — perguntar: Que tipo de imaginação estamos a alimentar nas crianças? E que tipo de mundo estamos a construir ao aceitar, sem crítica, que demónios antigos e figuras disformes sejam apresentados como adoráveis?

 Reflexão sobre a Ruína dos Mosteiros



Há um silêncio que fere mais do que o grito da guerra: é o silêncio das pedras caladas, que em tempos cantaram louvores e hoje jazem em ruínas. É o eco morto do incenso que já não se eleva, o vazio deixado por monges expulsos, livros queimados, sinos calados. Quem caminha pelas ruínas de Glastonbury, Whitby ou Tintern Abbey, na Inglaterra, ou entre as pedras dispersas de Cluny, na França, não passeia apenas por monumentos antigos, mas por testemunhos de um mundo que foi profundamente ferido — um mundo cujos alicerces espirituais foram derrubados pelo poder secular.

A Cristandade medieval — apesar das suas imperfeições humanas — erguera, pedra sobre pedra, uma civilização onde Cristo era o centro e os mosteiros, os corações pulsantes. A oração dos monges sustentava o mundo. O canto do Ofício Divino unia o Céu à Terra. Nas suas bibliotecas, preservou-se o saber da Antiguidade. Nos seus campos, ensinou-se a trabalhar com dignidade. Nos seus hospitais, serviu-se os pobres. Nos seus claustros, forjaram-se almas santas.

Mas veio a tempestade.

:: Dissolução dos Mosteiros- Golpe no Corpo Místico ::

Na Inglaterra do século XVI, sob Henrique VIII, esse corpo foi ferido de forma profunda e calculada. A chamada "Dissolução dos Mosteiros" (1536–1541), orquestrada por Thomas Cromwell, foi mais do que uma reforma religiosa: foi uma expropriação, uma pilhagem, uma desconsagração. Em duas resoluções parlamentares — uma em 1536, outra em 1539 —, a Coroa apropriou-se de todos os bens da Igreja: edifícios, terras, bibliotecas, altares e obras de arte. Muitos locais foram simplesmente destruídos; outros, vendidos a nobres em troca de apoio político.

Porque o rei desejava controlar a Igreja? Por dinheiro, por poder, por orgulho. O Ato de Supremacia de 1534 declarou Henrique VIII como "Chefe Supremo da Igreja de Inglaterra", rompendo com Roma e suprimindo a autoridade espiritual do Papa. Para legitimar o novo regime, era necessário apagar a memória do antigo: os mosteiros, sendo centros de fidelidade a Roma, eram os primeiros alvos. E eram também ricos: as suas terras, rendas e bibliotecas tornaram-se cobiçadas.

:: A Peregrinação da Graça: Resistência e Martírio ::

O povo do norte, mais fiel à velha fé, resistiu. Em 1536, dezenas de milhares participaram na "Peregrinação da Graça" — um protesto pacífico pela restauração da Igreja Católica e dos mosteiros. A resposta da Coroa foi brutal. Os líderes foram enforcados, as esperanças esmagadas. O abade de Glastonbury, Dom Richard Whiting, foi executado por se recusar a entregar o seu mosteiro. Muitos outros seguiram o mesmo destino.

A violência não foi apenas contra homens e edifícios, mas contra o próprio Espírito que animava aquela sociedade. A alma católica da Inglaterra foi desfigurada. Os mosteiros eram mais do que propriedades: eram fontes de caridade, de educação, de cultura, de fé. Com a sua extinção, os pobres ficaram desamparados, os peregrinos sem abrigo, os enfermos sem cuidados. E a paisagem inglesa, antes adornada de torres, claustros e hortos monásticos, passou a ostentar esqueletos de pedra e cinzas sagradas.

:: França e a Revolução: Um Eco Infernal ::

Séculos depois, em solo francês, assistiu-se a uma tragédia paralela. Durante a Revolução Francesa (1789–1799), a fúria anticlerical levou à destruição de milhares de igrejas, conventos e mosteiros. A catedral de Notre-Dame foi transformada em “Templo da Razão”; o que restava de Cluny foi vendido como material de construção. Milhares de religiosos foram expulsos ou mortos. Tal como em Inglaterra, a fé foi substituída por ideologias políticas, e o altar de Deus por tronos efémeros de homens.

:: Portugal: A Herança Esquecida ::

Também em Portugal, a ferida foi profunda. Em 1834, com a extinção das ordens religiosas pelo governo liberal, todos os mosteiros e conventos foram confiscados pelo Estado. Foi uma desolação nacional, que empobreceu espiritualmente o país. Muitos edifícios sagrados foram entregues ao abandono, vendidos, destruídos ou adaptados a funções profanas. O Mosteiro de São Bento, em Lisboa, tornou-se o Parlamento. A estação de São Bento, no Porto, ergue-se sobre as fundações de um antigo mosteiro de beneditinas. Os serviços camarários de Braga instalaram-se num convento de Agostinhos. O Mosteiro de Pitões das Júnias, outrora abrigo de monges cistercienses, jaz hoje como ruína silenciosa entre as montanhas. E, mais tarde, com a implantação da República em 1910, a perseguição intensificou-se, numa política laicista que atingiu altares, escolas e corações.

Os claustros outrora cheios de oração tornaram-se corredores administrativos. As bibliotecas sagradas foram dispersas. As relíquias de santos desapareceram. E com os monges expulsos, perderam-se também os ritmos de oração que sustentavam a pátria invisivelmente.

:: Consequências - O Vazio Espiritual da Europa::

Hoje, caminhamos entre ruínas. E não falo apenas das pedras, mas das almas. A Europa, outrora farol da Cristandade, tornou-se o continente do laicismo, do relativismo, do esquecimento do sagrado. As igrejas esvaziam-se, as vocações rareiam, a fé é relegada ao privado ou ridicularizada. Ao mesmo tempo, cresce o Islão, não por conversão espiritual autêntica, mas pelo vácuo deixado pela nossa apostasia.

É o castigo anunciado por tantos santos: quando os altares são destruídos, os demónios regressam. Quando a fé é traída, o mundo oscila.

:: Oração pelas Ruínas e Reconstrução da Fé:: 

É fácil chorar sobre as ruínas. Difícil é reconstruir com oração, penitência, sacrifício e fidelidade. Que a contemplação destas pedras feridas nos leve ao propósito de sermos nós próprios "pedras vivas" (1Pe 2,5) — fiéis, constantes, preparados para servir a Deus com toda a alma, como templos vivos do Espírito Santo.

Que a Militia Sanctae Mariae, e todos os que amam a Santa Igreja, vejam nestas ruínas não apenas uma tragédia passada, mas um apelo urgente à vigilância e à coragem espiritual. Porque cada mosteiro destruído grita por monges. Cada altar profanado clama por adoradores em espírito e verdade. E cada pedra caída espera por mãos que saibam rezar e reconstruir.

 

quinta-feira, 26 de junho de 2025

 26 JUN 2000 | Papa João Paulo II revela o terceiro segredo de Fátima



No dia 26 de junho do ano 2000, o então Papa João Paulo II, por meio da Congregação para a Doutrina da Fé, tornou público o conteúdo do chamado Terceiro Segredo de Fátima, encerrando décadas de especulação, temor e interpretações desencontradas sobre a mensagem entregue por Nossa Senhora aos pastorinhos, na Cova da Iria, em 1917.
Para a Igreja, para o mundo e especialmente para nós, portugueses e consagrados a Maria, este momento representou mais do que uma revelação: foi a confirmação do papel central de Fátima na história do século XX, e a prova de que, mesmo em tempos sombrios, o Céu não nos abandona.

:: Fátima: Mensagem para o Século do Sangue ::

Desde as aparições de 1917, a Mensagem de Fátima tem sido fonte de luz e conversão. Enquanto o mundo mergulhava na guerra e depois no comunismo ateu, Nossa Senhora anunciava a necessidade urgente de oração, penitência e consagração ao seu Imaculado Coração.
Os três segredos confiados a Lúcia, Francisco e Jacinta falavam de visões do inferno, da devoção ao Coração Imaculado de Maria e de acontecimentos futuros — incluindo a perseguição à Igreja, o sofrimento do Santo Padre e o martírio dos fiéis.
Os dois primeiros segredos foram divulgados em 1941. O terceiro permaneceu selado por ordem da Santa Sé, até que, por vontade de João Paulo II, fosse revelado ao mundo no limiar do novo milénio.

:: O Terceiro Segredo: Visão e Interpretação ::

O conteúdo revelado a 26 de junho de 2000 descreve uma visão simbólica: um anjo com uma espada flamejante, a destruição de uma cidade, e um “Bispo vestido de branco” caminhando entre os escombros e corpos de mártires, até ser ele próprio morto. A interpretação oficial, dada pelo então cardeal Joseph Ratzinger (futuro Bento XVI), esclarece que a visão não é uma previsão literal, mas uma representação dos sofrimentos da Igreja no século XX, especialmente sob os totalitarismos.
A figura do Bispo de branco é identificada com o próprio João Paulo II, vítima do atentado de 13 de maio de 1981 — data da primeira aparição de Fátima. O Papa acreditava que foi Nossa Senhora que desviou a bala, salvando-lhe a vida, e ofereceu a bala à imagem de Maria no Santuário de Fátima, onde hoje se encontra incrustada na coroa da Virgem.

:: Um Chamado Contínuo à Conversão ::

A revelação do terceiro segredo não encerra a mensagem de Fátima. Pelo contrário, recorda-nos que a verdadeira chave para compreender estas palavras celestes está no apelo à conversão, na recitação diária do terço, na vivência dos sacramentos e na reparação ao Imaculado Coração de Maria.
A perseguição à Igreja, o sofrimento dos justos e o ódio ao Santo Padre são realidades vividas ainda hoje. Fátima não é uma relíquia do passado, mas um guia espiritual para os tempos presentes e futuros, especialmente para os soldados da Militia Sanctae Mariae, chamados a lutar espiritualmente pela restauração da Cristandade.
No dia 26 de junho de 2000, São João Paulo II abriu o selo de silêncio sobre o Terceiro Segredo de Fátima, não para criar sensacionalismo, mas para nos recordar que o coração da profecia é sempre o chamado à fidelidade a Deus e à confiança em Maria.
A última palavra, dizia o Papa, não é o sofrimento nem a perseguição — é a promessa: Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará.
Confiantes nesta certeza, como cavaleiros consagrados à Mãe de Deus, sigamos firmes na batalha da fé, com o Rosário na mão, o Escapulário ao peito, e o olhar fixo no Céu. Porque Fátima é também nossa missão.

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