
Blog da Militia Sanctæ Mariæ - Cavaleiros de Nossa Senhora um instrumento na evangelização do mundo contemporâneo // Blog created by Militia Sanctæ Mariæ, whose purpose is to be an instrument in the evangelization of the contemporary world // Blog de la Militia Sanctæ Mariæ et dont le but est d'être un instrument dans l'évangélisation du monde contemporain // Blog der Militia Sanctæ Mariæ, die sich zum Ziel gesetzt haben, ein Werkzeug bei der Evangelisierung der heutigen Welt zu sein
sábado, 5 de julho de 2025
Theotokos - Academia Mariana | Militia Sanctae Mariae Portugal
Theotokos - Academia Mariana | Militia Sanctae Mariae Portugal
Curta reflexão XII | Autoria de Carlos Aguiar Gomes
O dia-a-dia era marcado por ritmos simples, mas profundos. Um dos sinais da religiosidade popular (e não só) era a oração das Ave-Marias, que, três vezes ao dia, chamava a comunidade a rezar, recordando o grande mistério da Encarnação — oração marcadamente trinitária e mariana.
Vários Papas, nomeadamente Paulo VI e São João Paulo II Magno, chamaram a atenção para esta prática e convidaram os crentes a não perderem esta devoção simples — e dos simples.
O Fundador da Militia Sanctae Mariae – Cavaleiros de Nossa Senhora, deixou também registado na Regra que compôs para esta nossa Comunidade, a propósito do Angelus ou Ave-Marias, como é conhecido em Portugal, este apelo:
“Quanto ao Angelus, pertence incontestavelmente à Tradição cavaleiresca. Esta graciosa saudação é particularmente recomendada aos cavaleiros de Nossa Senhora.”
(Regra, cap. XIII, 3)
Aqui deixo registada esta oração na sua versão portuguesa e, igualmente, em latim:
ANGELUS / Trindades / “Ave-Marias”
Em Português:
V. O Anjo do Senhor anunciou a Maria.
R. E Ela concebeu do Espírito Santo.
Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco.
Bendita sois vós entre as mulheres,
e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus.
Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores,
agora e na hora da nossa morte. Ámen.
V. Eis aqui a escrava do Senhor.
R. Faça-se em mim segundo a vossa palavra.
Ave Maria…
V. E o Verbo Divino encarnou.
R. E habitou entre nós.
Ave Maria…
V. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
V. Oremos:
Derramai, ó Deus, a vossa graça em nossos corações,
para que, conhecendo pela mensagem do Anjo
a Encarnação do vosso Filho,
cheguemos, pela Sua Paixão e Cruz,
à glória da Ressurreição.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
R. Ámen.
V. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
R. Assim como era no princípio, agora e sempre,
por todos os séculos dos séculos. Ámen.
(Diz-se três vezes, em honra da Santíssima Trindade)
Em Latim:
V. Angelus Domini nuntiavit Mariæ.
R. Et concepit de Spiritu Sancto.
Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum.
Benedicta tu in mulieribus,
et benedictus fructus ventris tui, Iesus.
Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus,
nunc et in hora mortis nostræ. Amen.
V. Ecce Ancilla Domini.
R. Fiat mihi secundum Verbum tuum.
Ave Maria…
V. Et Verbum caro factum est.
R. Et habitavit in nobis.
Ave Maria…
V. Ora pro nobis, Sancta Dei Genetrix.
R. Ut digni efficiamur promissionibus Christi.
Oremus:
Gratiam tuam, quæsumus, Domine,
mentibus nostris infunde;
ut qui, Angelo nuntiante,
Christi Filii tui Incarnationem cognovimus,
per passionem eius et crucem,
ad resurrectionis gloriam perducamur.
Per eumdem Christum Dominum nostrum. Amen.
V. Gloria Patri, et Filio, et Spiritui Sancto.
R. Sicut erat in principio, et nunc et semper,
et in sæcula sæculorum. Amen.
(Diz-se três vezes, em honra da Santíssima Trindade)
Nota: No Tempo Pascal, substitui-se o Angelus pela oração da Regina Cæli.
E era esta extraordinária oração — simples e profunda — que se rezava três vezes ao dia: de manhã, ao meio-dia e ao entardecer. Parava-se o trabalho, os homens tiravam o chapéu, curvávamo-nos ligeiramente quando o sino tocava às "Trindades", às Ave-Marias (veja-se esse extraordinário óleo de Millet que o Museu do Louvre guarda e que apresento no cimo desta curta reflexão).
Era mais um sinal de uma sociedade que, ainda que muito imperfeita, vivia a sua Fé — também com este gesto que ajudava a interiorizar a própria Fé, ao recordar-nos o grande mistério da nossa salvação: o mistério da Encarnação.
Os sinos deixaram de tocar para marcar o ritmo da nossa vida. E a Fé acompanhou esse triste silêncio.
Carlos Aguiar Gomes
Theotokos - Academia Mariana | Militia Sanctae Mariae Portugal
Curta reflexão XI | Autoria de Carlos Aguiar Gomes
segunda-feira, 30 de junho de 2025
O Declínio do Ocidente: Entre o Colapso e a Resistência
A Travessia da Meia-Noite
À medida que avançamos para o segundo semestre de mais um ano marcado por instabilidade, muitos de nós — conscientes, atentos, fiéis — sentem o peso de um tempo estranho. O que parecia sólido começa a ruir. As verdades inegociáveis são agora chamadas “discursos de ódio”. A beleza, a moral, a ordem e o sentido espiritual cederam lugar ao ruído, à inversão e à apatia.
Vivemos a travessia da meia-noite da civilização ocidental.
E a pergunta impõe-se com força:
Se o Ocidente continuar neste caminho, quanto tempo falta até o colapso total?
A resposta não se limita a um número de anos. O colapso pode ser lento, abrupto ou invisível — mas os sinais são inegáveis. E o mais importante: não é inevitável. Onde há fé, há resistência.
1. Os Pilares do Ocidente: O que Está a Cair?
A civilização ocidental, tal como a conhecemos, ergueu-se sobre três grandes heranças:
-
A razão grega, que nos deu o amor pela verdade e a busca pela sabedoria;
-
O direito romano, que nos legou a noção de justiça, cidadania e ordem;
-
A fé cristã, que enraizou no coração do homem o valor da vida, da dignidade humana e da caridade.
Hoje, esses fundamentos estão a ser sistematicamente corroídos.
a) A Razão Silenciada
O pensamento racional deu lugar à “sensação”. Já não importa o que é verdadeiro, mas o que é “sentido como verdade”. O debate é substituído pela censura; a ciência, pela ideologia.
Pensadores clássicos são cancelados. A linguagem é policiada. E os jovens são ensinados a não pensar criticamente, mas a repetir slogans.
b) O Direito Corrompido
A lei, outrora fundada em princípios naturais e universais, tornou-se instrumento de engenharia social.
Hoje, legisla-se para desfazer a moral tradicional, para perseguir consciências, para proteger perversões e punir virtudes. O Estado não se limita mais à ordem e à justiça, mas assume o papel de reeducador moral — à imagem de um Leviatã ideológico.
c) A Fé Esquecida
A Europa — outrora berço da Cristandade — tornou-se terra missionária. As igrejas estão vazias, os seminários desertos, os jovens afastados.
O cristianismo foi substituído por pseudo-religiões: ambientalismo fanático, culto do corpo, políticas de identidade, progressismo messiânico.
Deus foi “expulso” da vida pública — e com Ele foi-se o sentido da Vida, da Morte, do Amor, do Sacrifício.
2. Sinais do Colapso: O Relógio Avança
a) A Crise Demográfica
Nenhuma civilização sobrevive quando deixa de se reproduzir.
A taxa de natalidade em Portugal, Itália, Espanha, Alemanha e França está muito abaixo da reposição. Em muitos casos, já é demograficamente irreversível.
Sem filhos, não há futuro. E para manter o sistema, recorre-se à imigração em massa — frequentemente desordenada, sem assimilação cultural e com tensões explosivas.
b) A Fragmentação Social
A sociedade está em guerra consigo própria. A polarização política cresce. Famílias dividem-se por opiniões.
Os conceitos de bem e mal são invertidos. A educação ensina a odiar o próprio passado.
A nova linguagem política e mediática usa termos como “fascismo”, “ódio” e “opressão” de forma abusiva e estratégica, para silenciar qualquer pensamento dissidente.
c) A Crise Económica e Moral
O Ocidente vive acima das suas possibilidades. Dívidas astronómicas, impressão descontrolada de moeda, inflação, desaparecimento da classe média.
Ao mesmo tempo, perdeu-se o sentido da Honra, do Dever, do Trabalho e da Poupança.
Consumimos sem limites. Endividamo-nos por futilidades. Queremos tudo imediato — e sem esforço.
d) O Totalitarismo Digital
O novo poder já não precisa de polícias secretas.
Hoje, somos vigiados pelos nossos próprios telemóveis, algoritmos e plataformas sociais. A censura é subtil, mas eficaz. O “pensamento permitido” é imposto pelo consenso mediático.
Quem pensa diferente é silenciado, rotulado ou banido.
3. Que Tipo de Colapso? Três Possibilidades
I. Colapso Lento (20-50 anos)
Sem grandes explosões, como Roma. A cultura morre por dentro. O Ocidente torna-se irreconhecível, submisso, fragmentado.
Religiões estrangeiras ocupam o vazio espiritual. Valores contrários à tradição cristã tornam-se norma.
Neste cenário, o Ocidente não morre com uma guerra, mas com um suspiro.
II. Colapso Abrupto (5-15 anos)
Um gatilho acelera tudo:
-
Guerra mundial (EUA–China, por exemplo);
-
Nova pandemia e autoritarismo sanitário;
-
Colapso económico ou energético;
-
Revoltas sociais em massa.
Aqui, a ordem desaparece. Estados entram em estado de exceção. As democracias morrem de medo. A violência explode. A religião verdadeira é perseguida abertamente.
III. Colapso Silencioso (já em curso)
É o mais assustador: ninguém repara.
As pessoas adaptam-se. Cedem. Desistem.
As crianças já não aprendem o que é belo, verdadeiro e sagrado. Crescem num mundo onde tudo é permitido… excepto o Bem.
Aqui, o colapso é cultural, espiritual e invisível. E já começou.
4. Resistência: O Que Podemos Fazer?
Apesar do cenário sombrio, a História mostra que toda decadência pode ser interrompida por um pequeno grupo fiel.
Foi assim com os monges que salvaram a cultura clássica após a queda de Roma. Foi assim com os cavaleiros que defenderam a Cristandade contra o Islão. Foi assim com padres e famílias que resistiram ao Comunismo.
Hoje, mais do que nunca, precisamos de:
a) Formar núcleos fortes de verdade e fé
Famílias sólidas, católicas, férteis e BEM PREPARADAS — espiritual, cultural e moralmente — serão os últimos redutos da civilização.
b) Viver com coerência
Ser católico a sério. Ir à Missa. Rezar o terço. Ensinar os filhos. Dizer a verdade mesmo quando custa. Recusar pactuar com a mentira, a inversão e a decadência.
c) Desconectar-se da máquina
Reduzir a dependência dos meios digitais. Voltar ao livro, à música verdadeira, à terra, à oração.
A resistência começa pela alma.
d) Criar novas redes
Comunidades, escolas, círculos de estudo, iniciativas locais — onde se preserve a cultura, a fé e o bem.
Muitas vezes clandestinas, pequenas, mas mais fortes que o Império decadente.
Conclusão: O Colapso Não é o Fim
O Ocidente talvez não possa ser salvo enquanto sistema. Mas a Civilização pode ser reconstruída.
Cada geração tem a missão de manter acesa a Chama — mesmo quando tudo em volta é escuridão.
E essa chama é a Verdade, é Cristo, é a Fé que venceu o Mundo.
O colapso pode vir em 5, 15 ou 50 anos. Mas o que fizeres hoje pode durar séculos.
Resistir não é recuar: é avançar contra a corrente, com coragem, oração e fidelidade.
Tu és chamado a resistir.
Tu és chamado a ser luz.
Tu és chamado a manter viva a chama da Civilização.
Tu és chamado a ser "Uma candeia acesa no meio da escuridão.”
sábado, 28 de junho de 2025
A Normalização do Macabro em Brinquedos Infantis: O Caso Labubu e Pazuzu
Nos últimos anos, temos assistido a uma tendência preocupante no mundo dos brinquedos infantis: a crescente normalização de elementos macabros, grotescos e até ocultistas, muitas vezes disfarçados sob o rótulo da "arte pop" ou da "estética alternativa". Entre os casos mais emblemáticos está o boneco Labubu, uma figura popular entre colecionadores, que levanta sérias questões quanto ao simbolismo que transmite — sobretudo ao ser comparado à conhecida estátua de Pazuzu, o demónio associado ao filme O Exorcista.
Labubu e a Estética Grotesca
Criado pela artista Kasing Lung, Labubu é um boneco de vinil com olhos grandes e negros, dentes salientes, sorriso sinistro e um corpo estranho, entre o bicho-papão e o diabrete. Apesar da aparência excêntrica, a personagem é muitas vezes vendida como "fofa", "peculiar" ou "diferente", numa tentativa de suavizar as suas características evidentemente inquietantes.
O problema não está apenas na sua forma, mas na forma como as crianças e pais são levados a aceitá-la como inofensiva. Esta aceitação despreocupada abre caminho à banalização do grotesco, tornando o que antes era assustador, ou claramente malicioso, em algo supostamente divertido ou até adorável.
Pazuzu: De Demónio Antigo a Ícone do Terror
A comparação entre Labubu e Pazuzu não é descabida. Pazuzu é uma antiga figura demoníaca da mitologia mesopotâmica, representado com corpo de homem, cabeça de leão ou cão, garras, cauda de escorpião e asas. Embora na antiguidade fosse usado para afastar outros demónios, tornou-se mundialmente conhecido como o espírito que possui a jovem Regan no filme O Exorcista (1973). A sua estátua — conhecida como The Exorcist Pazuzu Statue — é icónica pelo seu aspeto ameaçador e pela aura de profanação que carrega.
Quando se coloca uma imagem do Labubu ao lado da estátua de Pazuzu, as semelhanças são impressionantes. Não se trata apenas de estética: trata-se da transmissão de uma mesma energia inquietante, que o olhar mais atento reconhece imediatamente como perturbadora.
Uma Cultura que Desarma o Instinto
A banalização do macabro em brinquedos e cultura visual infantil desarma o instinto natural da criança (e dos pais) de rejeitar o que é disforme ou malévolo. A linha entre o inofensivo e o perigoso torna-se turva. Com isso, cria-se um espaço cultural onde o estranho, o feio, o ameaçador — mesmo que subtil — deixa de causar repulsa e passa a ser acolhido como "expressão artística" ou "criatividade alternativa".
Não se trata de histeria moral, mas de bom senso e discernimento espiritual. A infância é o tempo da beleza, da luz, do verdadeiro encanto. Não há lugar, neste tempo precioso, para símbolos que remetem à morte, ao medo ou ao oculto. A introdução desses elementos, ainda que revestidos de plástico colorido e marketing moderno, não é inocente.
Chamar a atenção para estes fenómenos não é exagero nem teoria da conspiração. É simplesmente recusar o adormecimento das consciências. Quando se vende o grotesco como brinquedo, o que está verdadeiramente a ser comercializado é a normalização do obscuro — e com isso, abre-se a porta a realidades que não pertencem ao universo da infância.
Como pais, educadores e adultos responsáveis, é legítimo — e necessário — perguntar: Que tipo de imaginação estamos a alimentar nas crianças? E que tipo de mundo estamos a construir ao aceitar, sem crítica, que demónios antigos e figuras disformes sejam apresentados como adoráveis?
Reflexão sobre a Ruína dos Mosteiros
Há um silêncio que fere mais do que o grito da guerra: é o
silêncio das pedras caladas, que em tempos cantaram louvores e hoje jazem em
ruínas. É o eco morto do incenso que já não se eleva, o vazio deixado por
monges expulsos, livros queimados, sinos calados. Quem caminha pelas ruínas de
Glastonbury, Whitby ou Tintern Abbey, na Inglaterra, ou entre as pedras
dispersas de Cluny, na França, não passeia apenas por monumentos antigos, mas
por testemunhos de um mundo que foi profundamente ferido — um mundo cujos
alicerces espirituais foram derrubados pelo poder secular.
A Cristandade medieval — apesar das suas imperfeições
humanas — erguera, pedra sobre pedra, uma civilização onde Cristo era o centro
e os mosteiros, os corações pulsantes. A oração dos monges sustentava o mundo.
O canto do Ofício Divino unia o Céu à Terra. Nas suas bibliotecas, preservou-se
o saber da Antiguidade. Nos seus campos, ensinou-se a trabalhar com dignidade.
Nos seus hospitais, serviu-se os pobres. Nos seus claustros, forjaram-se almas
santas.
Mas veio a tempestade.
:: Dissolução dos Mosteiros- Golpe no Corpo Místico ::
Na Inglaterra do século XVI, sob Henrique VIII, esse corpo
foi ferido de forma profunda e calculada. A chamada "Dissolução dos
Mosteiros" (1536–1541), orquestrada por Thomas Cromwell, foi mais do que
uma reforma religiosa: foi uma expropriação, uma pilhagem, uma desconsagração.
Em duas resoluções parlamentares — uma em 1536, outra em 1539 —, a Coroa
apropriou-se de todos os bens da Igreja: edifícios, terras, bibliotecas,
altares e obras de arte. Muitos locais foram simplesmente destruídos; outros,
vendidos a nobres em troca de apoio político.
Porque o rei desejava controlar a Igreja? Por dinheiro, por
poder, por orgulho. O Ato de Supremacia de 1534 declarou Henrique VIII como
"Chefe Supremo da Igreja de Inglaterra", rompendo com Roma e
suprimindo a autoridade espiritual do Papa. Para legitimar o novo regime, era
necessário apagar a memória do antigo: os mosteiros, sendo centros de
fidelidade a Roma, eram os primeiros alvos. E eram também ricos: as suas
terras, rendas e bibliotecas tornaram-se cobiçadas.
:: A Peregrinação da Graça: Resistência e Martírio ::
O povo do norte, mais fiel à velha fé, resistiu. Em 1536,
dezenas de milhares participaram na "Peregrinação da Graça" — um
protesto pacífico pela restauração da Igreja Católica e dos mosteiros. A
resposta da Coroa foi brutal. Os líderes foram enforcados, as esperanças
esmagadas. O abade de Glastonbury, Dom Richard Whiting, foi executado por se
recusar a entregar o seu mosteiro. Muitos outros seguiram o mesmo destino.
A violência não foi apenas contra homens e edifícios, mas
contra o próprio Espírito que animava aquela sociedade. A alma católica da
Inglaterra foi desfigurada. Os mosteiros eram mais do que propriedades: eram
fontes de caridade, de educação, de cultura, de fé. Com a sua extinção, os
pobres ficaram desamparados, os peregrinos sem abrigo, os enfermos sem
cuidados. E a paisagem inglesa, antes adornada de torres, claustros e hortos
monásticos, passou a ostentar esqueletos de pedra e cinzas sagradas.
:: França e a Revolução: Um Eco Infernal ::
Séculos depois, em solo francês, assistiu-se a uma tragédia
paralela. Durante a Revolução Francesa (1789–1799), a fúria anticlerical levou
à destruição de milhares de igrejas, conventos e mosteiros. A catedral de
Notre-Dame foi transformada em “Templo da Razão”; o que restava de Cluny foi
vendido como material de construção. Milhares de religiosos foram expulsos ou
mortos. Tal como em Inglaterra, a fé foi substituída por ideologias políticas,
e o altar de Deus por tronos efémeros de homens.
:: Portugal: A Herança Esquecida ::
Também em Portugal, a ferida foi profunda. Em 1834, com a
extinção das ordens religiosas pelo governo liberal, todos os mosteiros e
conventos foram confiscados pelo Estado. Foi uma desolação nacional, que
empobreceu espiritualmente o país. Muitos edifícios sagrados foram entregues ao
abandono, vendidos, destruídos ou adaptados a funções profanas. O Mosteiro de
São Bento, em Lisboa, tornou-se o Parlamento. A estação de São Bento, no Porto,
ergue-se sobre as fundações de um antigo mosteiro de beneditinas. Os serviços
camarários de Braga instalaram-se num convento de Agostinhos. O Mosteiro de
Pitões das Júnias, outrora abrigo de monges cistercienses, jaz hoje como ruína
silenciosa entre as montanhas. E, mais tarde, com a implantação da República em
1910, a perseguição intensificou-se, numa política laicista que atingiu
altares, escolas e corações.
Os claustros outrora cheios de oração tornaram-se corredores
administrativos. As bibliotecas sagradas foram dispersas. As relíquias de
santos desapareceram. E com os monges expulsos, perderam-se também os ritmos de
oração que sustentavam a pátria invisivelmente.
:: Consequências - O Vazio Espiritual da Europa::
Hoje, caminhamos entre ruínas. E não falo apenas das pedras,
mas das almas. A Europa, outrora farol da Cristandade, tornou-se o continente
do laicismo, do relativismo, do esquecimento do sagrado. As igrejas
esvaziam-se, as vocações rareiam, a fé é relegada ao privado ou ridicularizada.
Ao mesmo tempo, cresce o Islão, não por conversão espiritual autêntica, mas
pelo vácuo deixado pela nossa apostasia.
É o castigo anunciado por tantos santos: quando os altares
são destruídos, os demónios regressam. Quando a fé é traída, o mundo oscila.
:: Oração pelas Ruínas e Reconstrução da Fé::
É fácil chorar sobre as ruínas. Difícil é reconstruir com
oração, penitência, sacrifício e fidelidade. Que a contemplação destas pedras
feridas nos leve ao propósito de sermos nós próprios "pedras vivas"
(1Pe 2,5) — fiéis, constantes, preparados para servir a Deus com toda a alma,
como templos vivos do Espírito Santo.
Que a Militia Sanctae Mariae, e todos os que amam a
Santa Igreja, vejam nestas ruínas não apenas uma tragédia passada, mas um apelo
urgente à vigilância e à coragem espiritual. Porque cada mosteiro destruído
grita por monges. Cada altar profanado clama por adoradores em espírito e verdade.
E cada pedra caída espera por mãos que saibam rezar e reconstruir.
Há um silêncio que fere mais do que o grito da guerra: é o
silêncio das pedras caladas, que em tempos cantaram louvores e hoje jazem em
ruínas. É o eco morto do incenso que já não se eleva, o vazio deixado por
monges expulsos, livros queimados, sinos calados. Quem caminha pelas ruínas de
Glastonbury, Whitby ou Tintern Abbey, na Inglaterra, ou entre as pedras
dispersas de Cluny, na França, não passeia apenas por monumentos antigos, mas
por testemunhos de um mundo que foi profundamente ferido — um mundo cujos
alicerces espirituais foram derrubados pelo poder secular.
A Cristandade medieval — apesar das suas imperfeições
humanas — erguera, pedra sobre pedra, uma civilização onde Cristo era o centro
e os mosteiros, os corações pulsantes. A oração dos monges sustentava o mundo.
O canto do Ofício Divino unia o Céu à Terra. Nas suas bibliotecas, preservou-se
o saber da Antiguidade. Nos seus campos, ensinou-se a trabalhar com dignidade.
Nos seus hospitais, serviu-se os pobres. Nos seus claustros, forjaram-se almas
santas.
Mas veio a tempestade.
:: Dissolução dos Mosteiros- Golpe no Corpo Místico ::
Na Inglaterra do século XVI, sob Henrique VIII, esse corpo
foi ferido de forma profunda e calculada. A chamada "Dissolução dos
Mosteiros" (1536–1541), orquestrada por Thomas Cromwell, foi mais do que
uma reforma religiosa: foi uma expropriação, uma pilhagem, uma desconsagração.
Em duas resoluções parlamentares — uma em 1536, outra em 1539 —, a Coroa
apropriou-se de todos os bens da Igreja: edifícios, terras, bibliotecas,
altares e obras de arte. Muitos locais foram simplesmente destruídos; outros,
vendidos a nobres em troca de apoio político.
Porque o rei desejava controlar a Igreja? Por dinheiro, por
poder, por orgulho. O Ato de Supremacia de 1534 declarou Henrique VIII como
"Chefe Supremo da Igreja de Inglaterra", rompendo com Roma e
suprimindo a autoridade espiritual do Papa. Para legitimar o novo regime, era
necessário apagar a memória do antigo: os mosteiros, sendo centros de
fidelidade a Roma, eram os primeiros alvos. E eram também ricos: as suas
terras, rendas e bibliotecas tornaram-se cobiçadas.
:: A Peregrinação da Graça: Resistência e Martírio ::
O povo do norte, mais fiel à velha fé, resistiu. Em 1536,
dezenas de milhares participaram na "Peregrinação da Graça" — um
protesto pacífico pela restauração da Igreja Católica e dos mosteiros. A
resposta da Coroa foi brutal. Os líderes foram enforcados, as esperanças
esmagadas. O abade de Glastonbury, Dom Richard Whiting, foi executado por se
recusar a entregar o seu mosteiro. Muitos outros seguiram o mesmo destino.
A violência não foi apenas contra homens e edifícios, mas
contra o próprio Espírito que animava aquela sociedade. A alma católica da
Inglaterra foi desfigurada. Os mosteiros eram mais do que propriedades: eram
fontes de caridade, de educação, de cultura, de fé. Com a sua extinção, os
pobres ficaram desamparados, os peregrinos sem abrigo, os enfermos sem
cuidados. E a paisagem inglesa, antes adornada de torres, claustros e hortos
monásticos, passou a ostentar esqueletos de pedra e cinzas sagradas.
:: França e a Revolução: Um Eco Infernal ::
Séculos depois, em solo francês, assistiu-se a uma tragédia
paralela. Durante a Revolução Francesa (1789–1799), a fúria anticlerical levou
à destruição de milhares de igrejas, conventos e mosteiros. A catedral de
Notre-Dame foi transformada em “Templo da Razão”; o que restava de Cluny foi
vendido como material de construção. Milhares de religiosos foram expulsos ou
mortos. Tal como em Inglaterra, a fé foi substituída por ideologias políticas,
e o altar de Deus por tronos efémeros de homens.
:: Portugal: A Herança Esquecida ::
Também em Portugal, a ferida foi profunda. Em 1834, com a
extinção das ordens religiosas pelo governo liberal, todos os mosteiros e
conventos foram confiscados pelo Estado. Foi uma desolação nacional, que
empobreceu espiritualmente o país. Muitos edifícios sagrados foram entregues ao
abandono, vendidos, destruídos ou adaptados a funções profanas. O Mosteiro de
São Bento, em Lisboa, tornou-se o Parlamento. A estação de São Bento, no Porto,
ergue-se sobre as fundações de um antigo mosteiro de beneditinas. Os serviços
camarários de Braga instalaram-se num convento de Agostinhos. O Mosteiro de
Pitões das Júnias, outrora abrigo de monges cistercienses, jaz hoje como ruína
silenciosa entre as montanhas. E, mais tarde, com a implantação da República em
1910, a perseguição intensificou-se, numa política laicista que atingiu
altares, escolas e corações.
Os claustros outrora cheios de oração tornaram-se corredores
administrativos. As bibliotecas sagradas foram dispersas. As relíquias de
santos desapareceram. E com os monges expulsos, perderam-se também os ritmos de
oração que sustentavam a pátria invisivelmente.
:: Consequências - O Vazio Espiritual da Europa::
Hoje, caminhamos entre ruínas. E não falo apenas das pedras,
mas das almas. A Europa, outrora farol da Cristandade, tornou-se o continente
do laicismo, do relativismo, do esquecimento do sagrado. As igrejas
esvaziam-se, as vocações rareiam, a fé é relegada ao privado ou ridicularizada.
Ao mesmo tempo, cresce o Islão, não por conversão espiritual autêntica, mas
pelo vácuo deixado pela nossa apostasia.
É o castigo anunciado por tantos santos: quando os altares
são destruídos, os demónios regressam. Quando a fé é traída, o mundo oscila.
:: Oração pelas Ruínas e Reconstrução da Fé::
É fácil chorar sobre as ruínas. Difícil é reconstruir com
oração, penitência, sacrifício e fidelidade. Que a contemplação destas pedras
feridas nos leve ao propósito de sermos nós próprios "pedras vivas"
(1Pe 2,5) — fiéis, constantes, preparados para servir a Deus com toda a alma,
como templos vivos do Espírito Santo.
Que a Militia Sanctae Mariae, e todos os que amam a
Santa Igreja, vejam nestas ruínas não apenas uma tragédia passada, mas um apelo
urgente à vigilância e à coragem espiritual. Porque cada mosteiro destruído
grita por monges. Cada altar profanado clama por adoradores em espírito e verdade.
E cada pedra caída espera por mãos que saibam rezar e reconstruir.
quinta-feira, 26 de junho de 2025
26 JUN 2000 | Papa João Paulo II revela o terceiro segredo de Fátima
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:: O Terceiro Segredo: Visão e Interpretação ::
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