sexta-feira, 25 de março de 2022

“Acto de Consagração ao Imaculado Coração de Maria”

 

                                                  

                                  INSTITUTO INTERNACIONAL FAMILIARIS CONSORTIO

                                                                ( PORTUGAL)

 

 

 

     “Acto de Consagração ao Imaculado Coração de Maria”

 

 

Ó Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, recorremos a Vós nesta hora de tribulação. Vós sois Mãe, amais-nos e conheceis-nos: de quanto temos no coração, nada Vos é oculto. Mãe de misericórdia, muitas vezes experimentamos a vossa ternura providente, a vossa presença que faz voltar a paz, porque sempre nos guiais para Jesus, Príncipe da paz.

Mas perdemos o caminho da paz. Esquecemos a lição das tragédias do século passado, o sacrifício de milhões de mortos nas guerras mundiais. Descuidamos os compromissos assumidos como Comunidade das Nações e estamos a atraiçoar os sonhos de paz dos povos e as esperanças dos jovens.

Adoecemos de ganância, fechamo-nos em interesses nacionalistas, deixamo-nos ressequir pela indiferença e paralisar pelo egoísmo. Preferimos ignorar Deus, conviver com as nossas falsidades, alimentar a agressividade, suprimir vidas e acumular armas, esquecendo-nos que somos guardiões do nosso próximo e da própria casa comum.

Dilaceramos com a guerra o jardim da Terra, ferimos com o pecado o coração do nosso Pai, que nos quer irmãos e irmãs. Tornamo-nos indiferentes a todos e a tudo, excepto a nós mesmos. E, com vergonha, dizemos:

 perdoai-nos, Senhor!

Na miséria do pecado, das nossas fadigas e fragilidades, no mistério de iniquidade do mal e da guerra, Vós, Mãe Santa, lembramos que Deus não nos abandona, mas continua a olhar-nos com amor, desejoso de nos perdoar e levantar novamente. Foi Ele que Vos deu a nós e colocou no vosso Imaculado Coração um refúgio para a Igreja e para a humanidade. Por bondade divina, estais connosco e conduzis-nos com ternura mesmo nos transes mais apertados da história.

Por isso recorremos a Vós, batemos à porta do vosso Coração, nós os vossos queridos filhos que não Vos cansais de visitar em todo o tempo e convidar à conversão.

Nesta hora escura, vinde socorrer-nos e consolar-nos. Repeti a cada um de nós: «Não estou porventura aqui Eu, que sou tua mãe?» Vós sabeis como desfazer os emaranhados do nosso coração e desatar os nós do nosso tempo. Repomos a nossa confiança em Vós. Temos a certeza de que Vós, especialmente no momento da prova, não desprezais as nossas súplicas e vindes em nosso auxílio.

Assim fizestes em Caná da Galileia, quando apressastes a hora da intervenção de Jesus e introduzistes no mundo o seu primeiro sinal. Quando a festa se mudara em tristeza, dissestes-Lhe: «Não têm vinho!» (Jo 2, 3). Ó Mãe, repeti-o mais uma vez a Deus, porque hoje esgotamos o vinho da esperança, desvaneceu-se a alegria, diluiu-se a fraternidade. Perdemos a humanidade, malbaratamos a paz. Tornamo-nos capazes de toda a violência e destruição. Temos necessidade urgente da vossa intervenção materna.

Por isso acolhei, ó Mãe, esta nossa súplica:

Vós, estrela do mar, não nos deixeis naufragar na tempestade da guerra;

Vós, arca da nova aliança, inspirai projectos e caminhos de reconciliação;

Vós, «terra do Céu», trazei de volta ao mundo a concórdia de Deus;

Apagai o ódio, acalmai a vingança, ensinai-nos o perdão;

Libertai-nos da guerra, preservai o mundo da ameaça nuclear;

Rainha do Rosário, despertai em nós a necessidade de rezar e amar;

Rainha da família humana, mostrai aos povos o caminho da fraternidade;

Rainha da paz, alcançai a paz para o mundo.

O vosso pranto, ó Mãe, comova os nossos corações endurecidos. As lágrimas, que por nós derramastes, façam reflorescer este vale que o nosso ódio secou. E, enquanto o rumor das armas não se cala, que a vossa oração nos predisponha para a paz.

As vossas mãos maternas acariciem quantos sofrem e fogem sob o peso das bombas. O vosso abraço materno console quantos são obrigados a deixar as suas casas e o seu país. Que o vosso doloroso Coração nos mova à compaixão e estimule a abrir as portas e cuidar da humanidade ferida e descartada. 

Santa Mãe de Deus, enquanto estáveis ao pé da cruz, Jesus, ao ver o discípulo junto de Vós, disse-Vos: «Eis o teu filho!» (Jo 19, 26). Assim Vos confiou cada um de nós. Depois disse ao discípulo, a cada um de nós: «Eis a tua mãe!» (19, 27).

Mãe, agora queremos acolher-Vos na nossa vida e na nossa história. Nesta hora, a humanidade, exausta e transtornada, está ao pé da cruz convosco. E tem necessidade de se confiar a Vós, de se consagrar a Cristo por vosso intermédio.

O povo ucraniano e o povo russo, que Vos veneram com amor, recorrem a Vós, enquanto o vosso Coração palpita por eles e por todos os povos ceifados pela guerra, a fome, a injustiça e a miséria.

Por isso nós, ó Mãe de Deus e nossa, solenemente confiamos e consagramos ao vosso Imaculado Coração nós mesmos, a Igreja e a humanidade inteira, de modo especial a Rússia e a Ucrânia.

Acolhei este nosso ato que realizamos com confiança e amor, fazei que cesse a guerra, providenciai ao mundo a paz. O sim que brotou do vosso Coração abriu as portas da história ao Príncipe da Paz; confiamos que mais uma vez, por meio do vosso Coração, virá a paz.

Assim a Vós consagramos o futuro da família humana inteira, as necessidades e os anseios dos povos, as angústias e as esperanças do mundo.

Por vosso intermédio, derrame-se sobre a Terra a Misericórdia divina e o doce palpitar da paz volte a marcar as nossas jornadas. Mulher do sim, sobre Quem desceu o Espírito Santo, trazei de volta ao nosso meio a harmonia de Deus.

Dessedentai a aridez do nosso coração, Vós que «sois fonte viva de esperança». Tecestes a humanidade para Jesus, fazei de nós artesãos de comunhão. Caminhastes pelas nossas estradas, guiai-nos pelas sendas da paz.

 Amém.

quinta-feira, 24 de março de 2022

DIA DA CRIANÇA POR NASCER – 25 de Março - celebrações

 

                           

                                  INSTITUTO INTERNACIONAL FAMILIARIS CONSORTIO

                                                                ( PORTUGAL)

 

 

                                                 Nota para a Comunicação Social

 

                                       DIA DA CRIANÇA POR NASCER – 25 de Março

 

    O Instituto Internacional Familiaris Consortio ( IIFC/IFCI)  é um sector de actividade da Militia Sanctae Mariae – cavaleiros de Santa Maria , vocacionado para  proteger e defender as grandes e decisivas causas da Vida Humana e da Família. De carácter internacional, está presente  no Brasil, França, Portugal e Reino Unido. Em comunhão com a Doutrina Social da Igreja, vincadamente centrado nas questões estruturantes e vitais referidas. O seu guia de acção é Exortação Apostólica “ Familiaris Consortio” de S. João Paulo II, Magno, bem como a Encíclica , do mesmo Papa, “ Evangelium vitae “.

  Como em anos anteriores celebraremos na Solenidade da Anunciação do Senhor, 25 de Março, o DIA DA CRIANÇA POR NASCER, chamando a atenção para o respeito da dignidade de toda a vida nascente. Assim, como já é uma tradição, a capelania da igreja de Nossa Senhora-a-Branca ( Braga) associa-se a esta comemoração e  a Missa das 9 horas, celebrada  nesta igreja, terá esta intenção.

  Aproveitar-se-á a ocasião para nos associarmos à consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria, que nessa tarde será feita pelo Papa Francisco, em Roma.

O IIFC repetirá este acto de consagração na igreja da Lapa às 18 h.

quarta-feira, 23 de março de 2022

P de PAZ / comme Paix

 

                                P DE PAZ

PAX IN LUMINE : é esta a divisa da Abadia de Barroux ( *) . A paz  brota, pois, de uma luz. Mas que luz é essa capaz de produzir tal fruto? É a humildade , o coração da Regra de S. Bento. A humildade é uma luz que pacifica , pois que pondo-nos no nosso devido lugar sob o olhar de Deus põe  tudo em ordem na nossa vida e coloca-nos , assim, na verdade . Encontrar a paz dependerá , assim, da humildade com a qual vivemos em relação com Deus:

1.      Com Deus: nós estamos no nosso devido lugar quando Deus ocupa o primeiro lugar! « Não a nós, Senhor, não a nós , mas ao Vosso nome dai glória.» ( Salmo 113,1). Vejamos se nas grandes como as pequenas coisas do nosso quotidiano Deus é o primeiro a ser servido.

2.      A nós mesmos: « Se em nós algum bem, reportá - lo a Deus e não a si mesmo. Reconhecer- se , pelo contrário, sempre como o autor do mal que está em  si em assumi-lo » ( Regra, cap. 4). Este contemplar verdadeiro sobre si é pacificador pois nos convida a colocar a nossa esperança em Deus somente. Saibamos também que a abertura  humilde e sincera a um  pai espiritual  é o meio  muito poderoso  para encontrar a paz da alma ( Cap. 7, 5º grau).

3.       Aos outros : a verdadeira humildade para com o próximo é de sempre procurar servi-lo . « Ninguém procurará o que julga útil para si próprio mas para o próximo ( cap. 72).

4.      Às coisas: tenhamos a certeza que a ordem , a limpeza e o respeito para com as coisas materiais  contribuem grandemente para um clima de paz no quotidiano. E tudo depende de todos! S. Bento dá-lhe muita importância , pede de olhar « todos móveis e todos os bens do mosteiro como se fossem vasos sagrados do altar ( cap. 31), e que declara que « se alguém trata os bens do mosteiro com descuido ou neglicência, será repreendido» ( cap. 32). Quereremos nós encontrar a verdadeira paz a paz ? Aprendamos a viver na humildade. Sabendo bem que cá em baixo a paz é uma ausência de perturbação mas não de combate!

Dom Ambroise OSB, Mosteiro de Santa Maria “ de la Garde”.

 

(*) – mosteiro francês.

Tradução de C.A.G. ; Nota: a indicação “ cap.” Refere-se a capítulos da Regra de S. Bento.




                                 P comme paix

Pax in lumine : telle est la devise de l’abbaye du Barroux. La paix découle donc d’une lumière. Mais quelle est cette lumière capable de produire un tel fruit ? C’est l’humilité, cœur de la Règle de saint Benoît. L’humilité est une lumière qui pacifie, car en nous mettant à notre juste place sous le regard de Dieu elle remet tout en ordre dans notre vie et nous établit ainsi dans la vérité. Trouver la paix dépendra donc de l’humilité avec laquelle nous vivrons notre relation :

 1. À Dieu : nous sommes à notre juste place quand Dieu est à la première ! «Non pas à nous, Seigneur, non pas à nous, mais à votre nom donnez la gloire.» (Ps. 113,1) Voyons si dans les grandes comme dans les petites choses de notre quotidien Dieu est vraiment premier servi.

 2. À nous-mêmes : « Si l’on voit en soi quelque bien, le rapporter à Dieu et non à soi-même. Se reconnaître, au contraire, toujours comme auteur du mal qui est en soi et se l’imputer.» (Règle, chap. 4). Ce regard vrai sur soi est pacificateur car il nous incite à mettre notre espérance en Dieu seul. Sachons aussi que l’ouverture humble et sincère à un père spirituel est un moyen très puissant pour trouver la paix de l’âme (chap. 7, 5e degré).

 3. Aux autres : la véritable humilité envers le prochain c’est de toujours chercher à le servir. «Nul ne recherchera ce qu’il juge utile pour soi, mais bien plutôt ce qui l’est pour autrui.» (Chap. 72).

 4. Aux choses : soyons sûrs que l’ordre, la propreté et le respect envers les choses matérielles contribuent grandement à un climat de paix au quotidien. Et cela dépend de tous ! Saint Benoît y tient beaucoup, lui qui demande de regarder «tous les meubles et tous les biens du monastère comme les vases sacrés de l’autel» (chap. 31), et qui déclare que «si quelqu’un traite les biens du monastère avec malpropreté ou négligence, il sera réprimandé» (chap. 32). Voulons-nous trouver la vraie paix ? Apprenons à vivre dans l’humilité. En sachant bien qu’ici bas la paix est une absence de trouble mais non pas de combat ! La prochaine fois, P comme pardon.

 Fr. Ambroise OSB-  MONASTÈRE SAINTE-MARIE DE LA GARDE

terça-feira, 22 de março de 2022

La Conversion de la Russie

 

La Conversion de la Russie



L'actualité nous incite à reparler de Fatima. Rappelons d'abord ces paroles de notre Mère du Ciel le 13 juillet 1917 : Le Saint-Père me consacrera la Russie, qui se convertira et un temps de paix sera donné au monde. Saint Jean-Paul II a fait en 1984 une consécration du monde à la Sainte Vierge et celle-ci a été faite aussi dans l'univers entier par les évêques. Une question demeure discutée : a-t-il fait une mention implicite de la Russie dans sa manière de s'exprimer ? En tout cas, en 1989, le mur de Berlin cesse d'exister, et deux ans plus tard l'URSS s'effondre. Est-ce là une première réponse du ciel ? Il me semble que oui.

Mais avec seulement ses 2% de pratique religieuse mensuelle, avec son taux d'avortements plus élevé qu'en occident, avec maintenant son attitude belliqueuse et sa guerre fratricide, on peut affirmer que la Russie ne s'est pas encore convertie. Il faut donc continuer à prier pour la conversion de la Russie et la paix universelle, promises par Notre-Dame.

Une prophétie privée doit avoir les mêmes caractéristiques qu'une prophétie biblique. Elle peut avoir plusieurs sens et elle peut de même se réactualiser à plusieurs reprises dans l'histoire. Nous avons tant prié, dans ma jeunesse, pour la conversion de la Russie communiste athée. Mais, notons-le, ce que la Sainte Vierge a demandé, ce n'est pas la conversion d'un système idéologique abstrait, mais la conversion d'un pays. Et de ce fait sa demande redevient actuelle.

Les évêques catholiques latins ukrainiens ont récemment demandé au pape de consacrer la Russie et l’Ukraine au Cœur Immaculé de Marie. C'est un signe providentiel. Ce n'est pas l'OTAN qui sauvera l'Ukraine, mais une intervention céleste. Qui sait ? Certes cette guerre fratricide entre chrétiens est horrible et on ne peut que la désapprouver et soutenir tous les efforts diplomatiques pour y mettre fin. Mais la Providence permet le mal pour qu'en sorte du bien. La situation peut devenir tellement apocalyptique et insoutenable, car le danger d'un recours aux armes nucléaires et une extension du conflit sont possibles. Dans ce cas il n'y aura plus que la solution surnaturelle : une consécration de la Russie faite dans toute l’Église au Cœur Immaculé de Notre-Dame. La Russie redeviendra alors un pays vraiment chrétien et le miracle de la paix mondiale et un nouveau départ pour l'évangélisation seront possibles. Telle est notre espérance, ouverte par le message de Fatima.

Mais pourquoi une consécration de la Russie et de l'Ukraine ? Tout simplement parce que Kiev est le berceau de la Russie chrétienne, avec le baptême de Saint Vladimir. L’État dont il était le monarque s'appelait la Rus, et son baptême concernera aussi bien l'histoire de l'Ukraine que celle de la Grande Russie. Russes et Ukrainiens sont frères et sont appelés à l'amour des ennemis et au pardon et la réalisation de cette « utopie » sera un miracle applaudi par toutes les nations du monde. Relisons ce que Soljénitsine a écrit sur les relations entre Russes et Ukrainiens.

Et l'avenir de l’œcuménisme dans tout cela ? C'est le secret de Dieu. Pourquoi ne pas espérer aussi comme fruit de notre prière, l'unité rétablie entre tous les chrétiens, unité comme Dieu la voudra et quand Dieu la voudra, selon les propos pleins d'espérance et de foi de l'abbé Couturier ? Dans la ligne du dernier concile, pourquoi ne pas envisager un rétablissement formel de l'unité et de la communion sacramentelle entre Rome et Moscou, l’Église russe gardant sa liturgie et ses traditions spirituelles propres, qui sont un trésor indéniable que nous pouvons nous aussi découvrir.

Un dernier point. Fatima est une révélation privée, devant laquelle tous sont libres d'adhérer ou non. On ne peut avoir de certitude absolue en ce qui concerne les apparitions. Mais quand on sait la prudence consommée de l’Église face à ces phénomènes, le fait que ceux de Fatima aient été, après des années d'examen minutieux, reconnus comme d'origine surnaturelle, le fait que quatre papes successifs se soient rendus en pèlerinage à la Cova da Iria, nous donne une certitude morale très haute en ce qui concerne la véracité de la prophétie reçue alors par les trois petits bergers.

Quoi qu'il en soit la parole de Notre-Seigneur quant à elle demeure infaillible : Demandez et vous recevrez.

SIMON NOEL  OSB

Note : Nous avions écrit cet article le 14 mars. La nouvelle est tombée ce 15 mars. Le Saint-Père consacrera l'Ukraine et la Russie le 25 mars prochain. Deo gratias et Mariae.

domingo, 20 de março de 2022

Veio uma mulher da Samaria para tirar água

 Dos Tratados de Santo Agostinho, bispo, sobre o Evangelho de São João

 (Séc. V)

Veio uma mulher da Samaria para tirar água

   Veio uma mulher: esta mulher é figura da Igreja, ainda não justificada, mas já a caminho da justificação. É disto que iremos tratar.
   A mulher veio sem saber o que ali a esperava; encontrou Jesus, e Jesus dirigiu-lhe a palavra. Vejamos a razão por que veio uma mulher da Samaria para tirar água. Os samaritanos não pertenciam ao povo judeu, não eram do povo escolhido. Faz parte do simbolismo da narração que esta mulher, figura da Igreja, tenha vindo dum povo estrangeiro; porque a Igreja havia de vir dos gentios, dos que não eram da raça judaica.
   Escutemo-nos a nós mesmos nas palavras desta mulher, reconheçamo-nos nela, e nela dêmos graças a Deus por nós. Era uma figura, não a realidade; começou por ser figura e veio a tornar-se realidade. De facto, ela acreditou n’Aquele que desejava fazer dela figura de nós mesmos. Veio para tirar água. Vinha simplesmente tirar água, como costumam fazer os homens e as mulheres.
   Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber. Os seus discípulos tinham ido à cidade comprar mantimentos. Respondeu-lhe então a samaritana: «Como é que tu, sendo judeu, me pedes de beber, a mim que sou samaritana?». Os judeus, na verdade, não se dão com os samaritanos.
   Bem vedes que se trata de estrangeiros. Os judeus de mo do nenhum usavam os cântaros dos samaritanos. Como esta mulher trazia consigo um cântaro para tirar água, ficou admirada por um judeu lhe pedir de beber, coisa que não costumavam fazer os judeus. Mas Aquele que pedia de beber à
mulher tinha sede da sua fé.
   Repara agora n’Aquele que pede de beber. Jesus respondeu-lhe: «Se conhecesses o dom de Deus e quem é Aquele que te diz: ‘Dá-me de beber’, tu é que Lhe pedirias e Ele te daria água viva».
   Pede de beber e promete dar de beber. Apresenta-Se como necessitado que espera receber, mas é rico para dar em abundância. Se conhecesses o dom de Deus... O dom de Deus é o Espírito Santo. Jesus fala ainda veladamente à mulher, mas pouco a pouco entra em seu coração e a vai ensinando. Que pode haver de mais suave e bondoso do que esta exortação? Se conhecesses o dom de Deus e quem é Aquele que te diz: ‘Dá-me de beber’, tu é que Lhe pedirias e Ele te daria água viva.
   Qual é a água que Ele há-de dar, senão aquela de que está escrito: Em Vós está a fonte da vida? E não podem passar sede os que se inebriam com a abundância da vossa casa.
   O Senhor prometia o alimento e a abundância do Espírito Santo. Mas ela ainda não compreendia. E, na sua incompreensão, que respondia? Senhor, diz-Lhe a mulher, dá-me dessa água, para que eu não sinta mais sede nem tenha de voltar aqui a tirar água. A sua necessidade obrigava-a a trabalhar, mas
a sua fraqueza recusava o trabalho. Se ao menos ela tivesse ouvido aquelas palavras: Vinde a Mim, Vós todos os que vos afadigais e andais sobrecarregados, e Eu vos aliviarei. Isto lhe dizia Jesus para que não se afadigasse mais; mas ela ainda não compreendia. ( Do Ofício de Leituras de 20.3.2022)

sábado, 19 de março de 2022

São José, padroeiro da boa morte - Celebrar S. José

 PAPA FRANCISCO

AUDIÊNCIA GERAL

Sala Paulo VI
Quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022


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  São José, padroeiro da boa morte

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Na última catequese, estimulados ainda pela figura de São José, refletimos sobre o significado da comunhão dos santos. E precisamente a partir disto, hoje gostaria de aprofundar a devoção especial que o povo cristão sempre teve por São José como padroeiro da boa morte. Uma devoção nascida do pensamento de que José morreu com a ajuda da Virgem Maria e de Jesus, antes que ele deixasse a casa de Nazaré. Não há dados históricos, mas visto que já não se vê José na vida pública, pensa-se que tenha morrido ali em Nazaré, com a família. E a acompanharam-no à morte Jesus e Maria.

O Papa Bento XV, há um século, escreveu que «através de José vamos diretamente a Maria, e através de Maria à origem de toda a santidade, que é Jesus». Quer José quer Maria ajudam-nos a ir a Jesus. E encorajando práticas piedosas em honra de São José, recomendou uma em particular, que dizia assim: «Dado que Ele é merecidamente considerado como o mais eficaz protetor dos moribundos, tendo expirado com a ajuda de Jesus e Maria, será preocupação dos Pastores sagrados inculcar e encorajar [...] aquelas piedosas confrarias que foram instituídas para implorar José em nome dos moribundos, como as “da Boa Morte”, do “Trânsito de São José” e “pelos Agonizantes”» (Motu proprio Bonum sane, 25 de julho de 1920): eram as associações da época.

Amados irmãos e irmãs, talvez algumas pessoas pensem que esta linguagem e este tema sejam apenas uma herança do passado, mas na realidade a nossa relação com a morte nunca diz respeito ao passado, é sempre presente. O Papa Bento dizia, há alguns dias, falando sobre si mesmo que “está diante da porta obscura da morte”. É bom agradecer ao Papa Bento que com 95 anos tem a lucidez de nos dizer isto: “Estou diante da obscuridade da morte, à porta obscura da morte”. Um bom conselho que nos deu! A chamada cultura do “bem-estar” procura remover a realidade da morte, mas de uma forma dramática a pandemia do coronavírus voltou a colocá-la em evidência. Foi terrível: a morte estava em toda a parte, e muitos irmãos e irmãs perderam entes queridos sem poderem estar ao lado deles, e isto tornou a morte ainda mais difícil de aceitar e de elaborar.  Uma enfermeira contou-me que uma avó com Covid estava a morrer e disse-lhe: “gostaria de me despedir dos meus entes queridos antes de ir embora”. E a enfermeira, corajosa, pegou no telemóvel e fez a ligação. A ternura daquela despedida...

Não obstante isto, procuramos de todas as maneiras banir o pensamento da nossa finitude, iludindo-nos assim a pensar que podemos retirar o poder da morte e afastar o temor. Mas a fé cristã não é uma forma de exorcizar o medo da morte, pelo contrário, ajuda-nos a enfrentá-la. Mais cedo ou mais tarde, todos nós iremos àquela porta.

A verdadeira luz que ilumina o mistério da morte provém da ressurreição de Cristo. Eis a luz. E São Paulo escreve: «Ora, se se prega que Jesus ressuscitou dentre os mortos, como dizem alguns de vós que não há ressurreição de mortos? Se não há ressurreição de mortos, nem Cristo ressuscitou. Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé (1 Cor 15, 12-14). Há uma certeza: Cristo ressuscitou, Cristo ressurgiu, Cristo está vivo no meio de nós. E esta é a luz que nos espera por detrás da porta obscura da morte.

Prezados irmãos e irmãs, é apenas através da fé na ressurreição que podemos olhar para o abismo da morte sem nos deixarmos dominar pelo medo. Não só: mas também podemos atribuir à morte um papel positivo. De facto, pensar na morte, iluminada pelo mistério de Cristo, ajuda-nos a olhar para toda a vida com olhos novos. Nunca vi atrás de um carro fúnebre uma carrinha de mudanças! Atrás de um carro fúnebre: nunca vi. Iremos sozinhos, sem nada nos bolsos da mortalha: nada. Pois a mortalha não tem bolsos. Esta solidão da morte: é verdade, nunca vi atrás de um carro fúnebre uma carrinha de mudanças.  Não tem sentido acumular se um dia morreremos. O que precisamos de acumular é caridade, a capacidade de partilhar, a capacidade de não ficar indiferentes às necessidades dos demais. Ou, de que serve discutir com um irmão, uma irmã, um amigo, um membro da família, ou um irmão ou irmã na fé, se um dia morreremos?  De que serve enraivecer-se, zangar-se com os outros? Perante a morte, tantas questões são redimensionadas. É bom morrer reconciliado, sem deixar ressentimentos e sem arrependimentos! Gostaria de dizer uma verdade: todos nós estamos a caminho rumo àquela porta, todos.

O Evangelho diz-nos que a morte vem como um ladrão, assim diz Jesus: chega como um ladrão, e por muito que procuremos manter a sua chegada sob controlo, talvez mesmo planeando a própria morte, ela continua a ser um acontecimento com o qual temos de nos confrontar e perante o qual também temos de fazer escolhas.

Para nós cristãos permanecem firmes duas considerações. A primeira é que não podemos evitar a morte, e é precisamente por esta razão que, depois de ter feito tudo o que era humanamente possível para curar a pessoa doente, é imoral envolver-se numa obstinação terapêutica (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 2278). Aquela frase do povo fiel de Deus, das pessoas simples: “Deixai-o morrer em paz”, “ajudai-o a morrer em paz”: quanta sabedoria! A segunda consideração diz respeito à qualidade da própria morte, a qualidade da dor, do sofrimento. De facto, devemos estar gratos por toda a ajuda que a medicina procura dar, para que através das chamadas “curas paliativas”, cada pessoa que se está a preparar para viver a última parte da sua vida o possa fazer da forma mais humana possível. Contudo, devemos ter o cuidado de não confundir esta ajuda com desvios inaceitáveis que levam a matar. Devemos acompanhar as pessoas até à morte, mas não provocar a morte nem ajudar qualquer forma de suicídio. Saliento que o direito a cuidados e tratamentos para todos deve ser sempre uma prioridade, de modo a que os mais débeis, particularmente os idosos e os doentes, nunca sejam descartados. A vida é um direito, não a morte, que deve ser acolhida, não administrada. E este princípio ético diz respeito a todos, e não apenas aos cristãos ou crentes. Mas eu gostaria de sublinhar aqui um problema social, mas real. Aquele “planificar” –  não sei se esta é a palavra certa –  mas acelerar a morte dos idosos. Muitas vezes vemos numa certa classe social que os idosos, por não terem os meios, recebem menos medicamentos do que necessitariam, e isto é desumano: isto não os está a ajudar, está a empurrá-los mais depressa para a morte. Isto não é humano nem cristão. Os idosos devem ser tratados como um tesouro da humanidade: eles são a nossa sabedoria. Mesmo que não falem, e se não tem um sentido, todavia são o símbolo da sabedoria humana. São aqueles que nos precederam e nos deixaram tantas coisas boas, tantas recordações, tanta sabedoria. Por favor, não isoleis os idosos, não apresseis a morte dos idosos. Acariciar um idoso tem a mesma esperança que acariciar uma criança, pois o início e o fim da vida é sempre um mistério, um mistério que deve ser respeitado, acompanhado, cuidado, amado.

Que São José nos ajude a viver o mistério da morte da melhor maneira possível. Para um cristão, a boa morte é uma experiência da misericórdia de Deus, que se aproxima de nós, até naquele último momento da nossa vida. Também na oração da Ave-Maria, pedimos a Nossa Senhora para estar perto de nós “na hora da nossa morte”. Precisamente por esta razão, gostaria de concluir esta catequese rezando juntos a Nossa Senhora pelos moribundos, por quantos estão a viver este momento de passagem por aquela porta obscura, e pelos familiares que estão a viver o luto. Rezemos juntos:

Ave Maria...


terça-feira, 15 de março de 2022

Homélie 2ème dimanche du carême année C

 

Homélie 2ème dimanche du carême année C


 


Jésus emmène trois de ses apôtres sur une montagne pour prier. Cette montagne fut le Thabor ou l'Hermon. Jésus aimait passer de longs moments dans la prière, et en particulier il aimait prier durant la nuit. La prière durant la nuit permet en effet plus de silence, de calme et de recueillement. Dom Helder Camara se levait chaque nuit à deux heures et passait le reste de la nuit dans la prière et la méditation. Il se reposait ensuite un petit peu avant de célébrer la messe. La transfiguration eut lieu sans doute pendant la prière nocturne du Christ, puisque, nous dit saint Luc, les trois disciples dormaient, comme ils dormiront durant l'agonie de Jésus au jardin des oliviers. Les trois sans doute s'éveillèrent à cause d'une lumière surnaturelle qui les entourait.

Pendant qu'il priait: répétition pleine d'emphase pour relever le rapport qui exista entre le prodige et la prière de Jésus. Pendant que le Sauveur était plongé dans sa profonde et mystérieuse oraison, sa personne devint tout à coup l'objet d'un merveilleux phénomène. La lumière qui émanait du Christ, de son visage et de ses vêtements était la lumière même de la divinité. Jésus est vraiment Dieu, il est par nature le Fils du Père éternel, il est la seconde personne de la Trinité.

Dans sa prière toute divine, Jésus s'entretenait avec Moïse et Élie, le premier représentait la Loi et le second les prophètes. Quant à Jésus, il était l’Évangile. Ce fait nous rappelle deux choses. D'abord dans la prière, nous conversons avec le Bon Dieu, mais nous pouvons aussi nous entretenir avec des saints, la Sainte Vierge, saint Joseph, notre ange gardien, par exemple. Dom Helder Camara avait une grande dévotion à son bon ange, que curieusement il appelait José. Ensuite, la présence des deux personnages de l'Ancien Testament nous rappelle aussi la nécessité de lire aussi la première partie de la Bible, qui nous parle du Christ d'une manière prophétique et allégorique. Car Le Christ, la Parole de Dieu, qui nous a parlé clairement dans l’Évangile, nous parle aussi mystérieusement dans le Premier Testament.

Jésus, Moïse et Élie parlaient de toutes les scènes du grand drame par lequel Jésus devait sortir de ce monde et remonter au ciel : la Passion, la croix, la mort, la Résurrection, l'Ascension. C'est là vraiment le centre de toute la Bible, tant de l'Ancien que du Nouveau Testament. La conversation cependant prend fin, et voici que les représentants de la Loi et des Prophètes commencent à s'éloigner. Saint Pierre s'en aperçoit et, désireux de prolonger le plus possible ces moments fortunés, il propose à son Maître de se mettre immédiatement à l’œuvre avec Jacques et Jean, pour construire trois abris qui permettront aux trois augustes interlocuteurs de rester longtemps sur la montagne.

Comme Pierre parlait ainsi, une nuée apparut et les couvrit ; et ils furent effrayés lorsqu’ils entrèrent dans la nuée. Ils entrèrent dans la nuée, qui était précisément destinée, dit Saint Ambroise, à leur permettre de supporter la présence de la divinité. Ce nuage brillant fut sans doute de même nature qui celui qui voila plus tard le Sauveur montant au ciel.

Et une voix sortit de la nuée, disant : Celui-ci est mon Fils bien-aimé ; écoutez-le. C'est ici le fait principal. Dieu lui-même prend la parole pour redire clairement les relations qui l'unissent à Jésus.

Concluons. La transfiguration de Jésus sur la montagne est un des épisodes majeurs de la vie sur terre du Seigneur, au cours duquel ses trois apôtres les plus intimes, les mêmes qui seront aussi témoins de son agonie à Gethsémani, ont reçu une révélation extraordinaire et bouleversante du mystère de Jésus. C'est aussi le quatrième des mystères lumineux du rosaire. Que la contemplation de ce mystère nous conduise nous aussi à la transfiguration de notre existence de tous les jours. Notre existence, en apparence si souvent banale, a une dimension surnaturelle, celle de notre vie d'enfant de Dieu, promise elle aussi dans l'éternité à une destinée glorieuse. SIMON NOEL  OSB

domingo, 13 de março de 2022

«Espelho da Caridade»,

 Do «Espelho da Caridade», do Beato Aelredo, abade

 (Séc. XII)

O amor fraterno, à imitação de Cristo

   Nada nos anima tanto ao amor dos inimigos – e é nisso que consiste a perfeição da caridade fraterna – como a consideração da admirável paciência de Cristo: o mais belo dos filhos dos homens apresentou o seu formoso rosto aos ultrajes dos ímpios; deixou que os malfeitores velassem aqueles olhos, a cujo sinal se regem todas as coisas; expôs o seu corpo aos açoites; sujeitou à cruel agudeza dos espinhos a sua cabeça, que faz tremer principados e potestades; entregou-Se aos opróbrios e injúrias; finalmente, suportou a cruz, os cravos, a lança, o fel e o vinagre, conservando-Se inalteravelmente sereno, amável e benigno.
   Numa palavra, como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha emudecida ante aqueles que a tosquiam, Ele não abriu a boca.
   Ao ouvir esta palavra admirável, cheia de doçura, cheia de amor, cheia de imutável tranquilidade: Perdoa-lhes, ó Pai, quem não correrá a abraçar com todo o afecto os seus inimigos? Perdoa-lhes, ó Pai, disse Jesus. Poderá haver oração que exprima maior mansidão e caridade?
   Mas Jesus não Se contentou com pedir; quis também desculpar, e acrescentou: Perdoa-lhes, ó Pai, porque não sabem o que fazem. São, na verdade, grandes pecadores, mas não sabem avaliar a gravidade do seu pecado; por isso, Perdoa-lhes, ó Pai. Crucificam-Me, mas não sabem a quem crucificam, pois se o soubessem, não teriam crucificado o Senhor da glória; por isso, Perdoa-lhes, ó Pai. Julgam-Me transgressor da lei, usurpador da divindade, sedutor do povo. Ocultei-lhes a minha face, e não reconheceram a minha majestade; por isso, Perdoa-lhes, ó Pai, porque não sabem o que fazem.
   Portanto, se o homem quer amar-se a si mesmo com amor autêntico, não se deixe corromper por nenhum prazer da carne. E para não sucumbir à concupiscência da carne, dirija todo o seu afecto à admirável humanidade do Senhor. Enfim, para mais perfeita e suavemente repousar na alegria da caridade fraterna, abrace também com verdadeiro amor os seus inimigos.
   Mas, para que este fogo divino não arrefeça diante das injúrias, contemple sem cessar, com os olhos do espírito, a serena paciência do seu amado Senhor e Salvador.

sábado, 12 de março de 2022

12 de Março - dia de S. Gregório Magno, Beneditino, Papa e Doutor da Igreja

 


 

                                                                S. GREGÓRIO MAGNO

 

Quem entra na cripta da Basílica de S. Bento da Porta Aberta, encontra à sua esquerda, uma formosa e estilizada estátua em bronze de S. Gregório Magno. Obra do escultor António Barroso Pacheco, de Cabeceiras de Basto, falecido vai fazer 10 anos em 30 de Dezembro p.f.. Esta estátua procura assinalar a importância para o conhecimento de S. Bento de Núrsia, o nosso S. Bento da Porta Aberta mas também da sua obra extraordinária que o foi de tal modo que mereceu ser conhecido pelo cognome de Magno, Grande.

Mas, quem foi este santo, S. Gregório Magno?

Nascido cerca de 540, ainda em vida de S. Bento, seria da família Anicia, a que pertenceria, igualmente, S. Bento. Foram seus pais, Sta Sílvia e Gordiano.

 S. Gregório Magno foi eleito Papa em 3 de setembro de 590 e morreu como Sumo Pontífice em 12 de Março de 604, provavelmente de gota. Está sepultado em S. Pedro.

A sua obra foi notável, como monge, como Papa, como escritor (Doutor da Igreja) e como mediador político.

Da sua preciosa herança, deve destacar-se a primeira biografia de S. Bento, incluída no “ Livro dos Diálogos  II“ e que chegou até nós em sucessivas edições em múltiplas línguas e a compilação do canto litúrgico, o canto oficial da Igreja ainda hoje, o chamado «Canto Gregoriano», cuja designação nos remete para a agente compilador, o Papa S. Gregório Magno, ainda que se acredite que não teria composto música. Só esta colectânea, fundamental para o estudo da música ocidental e para uma verdadeira espiritualidade pela e com a música, chegaria para tornar famoso S. Gregório Magno. Diz-se que, ao ditar esta colecção de cânticos litúrgicos, o escriva, Paulo, Diácono, teria visto uma pomba, o Espírito Santo, pousada sobre um dos ombros de S. Gregório Magno a ditar-lhe ao ouvido o que aquele deveria escrever, querendo com esta simbólica chamar a atenção para a natureza espiritual deste canto litúrgico, tão mal tratado nos nossos dias.

S. Gregório Magno foi monge beneditino. Fascinado pela vida do Santo de Núrsia, S. Bento, escreveu, cerca de 593, quase 50 anos após a morte ( 547) do nosso Santo Pai e Padroeiro da Europa, de uma forma muito didáctica, sobre a forma de diálogo, a vida daquele santo. Esta encontra-se no segundo livro de “ Vida e Milagres dos Padres de Itália”, com o nome de “ Vida e Milagres do Venerável Bento.Segundo  Dom Gabriel de Sousa (*) e todos os historiadores de S. Bento, “ pôde colher informações directas de monges qualificados que viveram na companhia de S. Bento, e tem o cuidado de nos dizer quem foram: Constantino, sucessor imediato do Santo no governo abacial de Montecassino ( fundado por S. Bento talvez em 529 (**): Simplício, terceiro abade do mesmo arquicenóbio; Valentiniano, abade do mosteiro lateranense de S. Pancrácio, em Roma, onde se tinham refugiado os monges cassinenses fugidos à invasão dos Longobardos ( 577 ); e Honorato, abade de Subiaco, único destes quatro discípulos de S. Bento ainda vivo à data de redacção dos Diálogos.” É por isso que ele, S. Gregório Magno, nos acolhe na entrada da cripta da Basílica de S. Bento da Porta Aberta, como a recordar-nos que o que hoje sabemos de S. Bento se deve à sua admiração pelo Santo de Núrsia. António Pacheco, o escultor a quem devemos esta representação escultórica, soube-nos transmitir, no despojamento de linhas, o carácter de S. Gregório Magno, vincadamente beneditino.

Carlos Aguiar Gomes

(*) – Sousa, Dom Gabriel –“ São Bento – Patriarca dos Monges e Pai da Europa”,Ed. Ora et Labora, Mosteiro de Singeverga, 1980, pág 13)

(**) _ O mosteiro de Montecassino foi destruído e reconstruído várias vezes: a 1ª vez pelos Longobardos em 577, reconstruído no dealbar do século VIII ( 717, por Petronax e Willibaldo), a 2ª vez pelos muçulmanos em 844, foi incendiado e saqueado; a 3ª vez pelos normandos em 1030 , a 4ª vez, em 1349, por um terramoto e a 5ª,  em 1944, com o bombardeamento dos Aliados que arrasou o Mosteiro ( em 24.X.1964, Paulo VI sagrou o templo restaurado, altura em que proclamou S. Bento Padroeiro da Europa). Foi sempre reconstruído e, hoje, continua vivo e grande centro de peregrinação beneditina. Neste mosteiro vive o Abade Primaz.

quinta-feira, 10 de março de 2022

« Le langage de la Croix, il est pour nous puissance de Dieu »

 

« Seigneur, comment se fait-il que nous qui prions tant, qui communions su fréquemment, nous restions si irascibles, si distraits dans la prière, si pleins d’imperfections, presque autant qu’au début de notre vie spirituelle ?

Comme se fait-il que la conversion si longtemps souhaitée ne s’est pas accomplie et que le bien réalisé pèse si peu ?

N’est-ce pas parce que nous sommes trop immortifiés, trop peu portés à l’humiliation et à la souffrance ? La prière, la communion fréquente ne nous donnent pas la sainteté, mais seulement la grâce, qui est force et lumière pour tendre à la sainteté par l’effort héroïque de chaque jour. La grâce est pour l’âme ce que sont le bois et le charbon pour le foyer.

Nous devons, par la mortification et l’effort courageux, utiliser la grâce pour pratiquer la vertu, sous peine de souffrir du froid dans une maison abondamment pourvue de combustible. La prière, la grâce ne diminuent en rien l’effort à fournir ; elles nous donnent vigueur et entrain pour triompher de la difficulté. Une croix perd par ailleurs la moitié de son poids dès qu’elle est pleinement acceptée.

Ô Seigneur, souvent nous Vous demandons de souffrir et de mourir d’amour pour Vous… Et nous trouvons trop lourdes les plus petites croix que Vous nous envoyez.

Aidez-moi, Seigneur ! Je Vous promets de traverser bravement les épreuves, sans laisser paraître sur mon visage le moindre signe d’abattement. »

(Sous le Regard de Dieu, Ed. Téqui 1967, pp. 14 et 15)

Bhx Edouard Poppe, prêtre du diocèse de Gand au premier quart du XXè siècle, mort après seulement 8 ans de Sacerdoc et béatifié par St. Jean-Paul, le grand, le 3 octobre 1999.

 

sexta-feira, 4 de março de 2022

A oração é luz da alma

 


Das homilias de São João Crisóstomo, bispo
(Séc. IV)

A oração é luz da alma

   A oração, ou diálogo com Deus, é um bem incomparável, porque nos põe em comunhão íntima com Deus. Assim como os nossos olhos corporais são iluminados ao receber a luz, assim também a alma que se eleva para Deus é iluminada pela sua luz inefável. Falo da oração que não se limita a uma atitude exterior, mas brota do íntimo do coração; falo da oração que não se limita a determinados momentos ou ocasiões, mas se prolonga dia e noite, sem interrupção.
   Com efeito, não é só no momento determinado para rezar que devemos elevar a Deus o nosso espírito; também no meio das mais variadas tarefas – como o cuidado dos pobres, as obras úteis de misericórdia ou quaisquer outros serviços do próximo – é preciso conservar sempre viva a aspiração e lembrança de Deus, a fi m de que todas as nossas obras, condimentadas com o sal do amor de Deus, se convertam em alimento agradável para o Senhor do Universo. E podemos realmente gozar, durante toda a vida, as vantagens preciosas que daí resultam, se dedicarmos ao Senhor todo o tempo que nos for possível.
   A oração é luz da alma, verdadeiro conhecimento de Deus, mediação entre Deus e os homens. Por meio da oração, a alma é elevada até aos Céus e une-se ao Senhor num abraço inefável; como criança que, chorando, chama por sua mãe, a alma deseja o leite divino, pede que sejam ouvidos os seus apelos e recebe dons superiores a tudo o que é natural e visível.
   A oração é venerável mensageira que nos leva à presença de Deus, alegra a alma e tranquiliza o coração. Refiro-me evidentemente à oração que não consiste apenas em palavras. A oração é desejo de Deus, piedade inefável, que não provém dos homens mas da graça divina, como diz o Apóstolo: Não sabemos o que devemos pedir em nossas orações, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis. 
   Se o Senhor, na sua generosidade, concede a alguém o dom da oração, é uma riqueza inestimável e um alimento celeste que sacia a alma: quem chega a saboreá-lo, sente-se abrasado no desejo eterno do Senhor, como num fogo ardentíssimo que inflama a sua alma.
   Se queres ver restaurada em ti aquela morada que Deus edificou no primeiro homem, adorna a tua casa com a modéstia e a humildade, torna-a resplandecente com a luz da justiça, enfeita- a com o ouro das boas obras, e, em lugar das paredes e dos mosaicos, ornamenta-a com a fé e com a grandeza de ânimo; e, por cima de tudo, como cúpula e coroamento de todo o edifício, coloca a oração. Assim prepararás para o Senhor uma digna morada, assim terás um esplêndido palácio real para O receber, e poderás tê-l’O contigo na tua alma, transformada, pela graça, em imagem e templo da sua presença.

quinta-feira, 3 de março de 2022

«TRADIÇÃO NÃO É O CULTO DAS CINZAS, MAS A PRESERVAÇÃO DO FOGO » ( Gustavo Mahler)

 

«TRADIÇÃO NÃO É O CULTO DAS CINZAS, MAS A PRESERVAÇÃO DO FOGO » ( Gustavo Mahler)

 

 

   A Gustavo Mahler, um dos grandes compositores da passagem do século XIX para o XX, nascido austro-húngaro ( hoje seria checo) é atribuída a autoria da frase que é o título do meu artigo , que, mais do que nunca tem uma actualidade gritante.

    Não se nos tem obrigado a entender que a Tradição é o cuidado exclusivo com as cinzas? Não é hoje “ tradicionalista” um adjectivo altamente injurioso dirigido aos cidadãos que estão preocupados com a preservação do fogo, quando ventanias tenebrosas parecem varre as cinzas e as achas que ardem e dão calor, fonte do fogo?

   Acho esta imagem usada por Gustavo Mahler magnífica e completa, apesar de simples. De facto, todo o fogo que arde, aquece e ilumina deixa cinzas mas estas aí ficam sem “ vida”. O que dá vida ao fogo é, sem dúvida, é o próprio  fogo. As cinzas são o testemunho da origem das chamas mas elas só por si não dão calor. Quem pode, pois aquecer-se ou ter luz se só se centrar nas cinzas? Contudo, é às cinzas que nos remetem as labaredas. Sem cinzas não há fogo, parece-me óbvio, pois este é o testemunho das cinzas ainda que apagadas.

   …. Mas o fogo extingue-se se não de se lançam achas na fogueira. É preciso alimentar o fogo fazendo, consequentemente, mais cinzas. As cinzas testemunham a “ imolação” do combustível para dar o fogo. A Tradição é igual. Se nós não “ alimentamos” a fogueira, muitas vezes afastando as cinzas, o fogo extingue-se.

   Recordo a minha infância, de ver em casas simples, de manhã, quando já não havia fogo, de se reactivar este, a partir das brasas que a cinza tinha protegido. Afinal, concluo eu, penso que legitimamente, as cinzas também não são assim tão inúteis mas são o resto  ( um dos restos do fogo) e que podem ser recicladas pela sua riqueza, por exemplo, em potássio, elemento essencial para a vida vegetal e não só. Contudo, o mais importante é, sem dúvida, o fogo que arde. Posso afirmar, estabelecendo um paralelo, que o fogo é a actualidade, o hoje que se esvai em segundos, de vida efémera, mas indispensável, como tudo o que é presente e no qual vivemos para termos futuro que olha as cinzas que deixou para existir. Portanto, há um fio condutor, contínuo, entre as cinzas e  o fogo . Será loucura, seria loucura imensa, que o fogo desprezasse as cinzas e só se visse a si mesmo na efemeridade da sua existência.

   A sociedade humana actual olha de revés a Tradição. Odeia-a mesmo, esquecendo que nunca poderia existir o presente sem o fio condutor que nos conduz do passado, as cinzas do presente, para este hoje e nos permite o futuro. Obviamente que ninguém de bom senso não pode nem quererá viver nas e das cinzas, Seria uma patologia grave societal. Como é uma patologia societal só querer viver do fogo ignorando e combatendo a sua origem, o seu fundamento e testemunho da sua origem.

  Cultuar as cinzas é cristalizar e paralisar a vida.

  Cultuar o foge é, igualmente, paralisar a vida e torná-la num “ relâmpago” fugaz, sem produzir uma sociedade assente em fundações estáveis e, portanto, pronta a derruir. Não é o que estamos a ver como resultado do combate feroz à Tradição da nossa Cultura?

  É de tal modo grave o combate à Tradição que se transformou em insulto corrente o adjetivo “ tradicionalista” corrente e infamante. Aliás , é corrente, ouvir insultos como “ fascista”, “ extremista” ou “ fundamentalista” como sinónimos de tradicionalista, aquele que defende o hoje baseado na Tradição que não vive no ontem mas não esquece e nele vai buscar forças para caminhar rumo ao futuro.

  Hoje, para destruir o futuro, o chamado mundo do “ Homem novo” marxista, do pensamento “ cancelado”, “ woke”, urge destruir a Tradição, que não é conservadorismo. Este é imobilista e aquela é dinâmica e contínua. Não há chama sem cinzas. Não há vida humana sem raízes e  se estas não são visíveis, são, contudo, imprescindíveis. As cinzas não são cultuadas nem devem ser cultuáveis mas respeitadas por que nelas teve origem o fogo. E o fogo que arde, ilumina e aquece. O fogo sobe, eleva-se. As cinzas , imobilizadas e amontoadas ,mortas, não são a vida. Foram-no e aparecem por que simbolizam a fonte do fogo, da vida. É isto a Tradição.

   Dou toda a razão a Mahler: «TRADIÇÃO NÃO É O CULTO DAS CINZAS, MAS A PRESERVAÇÃO DO FOGO ».

Carlos Aguiar Gomes

 

 

PEQUENOS LUZEIROS!

                                                                                                                   NÃO DUVIDES! PEQUENOS LUZ...