«TRADIÇÃO NÃO É O CULTO DAS CINZAS, MAS A PRESERVAÇÃO DO FOGO » ( Gustavo Mahler)
A Gustavo Mahler, um dos grandes
compositores da passagem do século XIX para o XX, nascido austro-húngaro ( hoje
seria checo) é atribuída a autoria da frase que é o título do meu artigo , que,
mais do que nunca tem uma actualidade gritante.
Não se nos tem obrigado a entender que a
Tradição é o cuidado exclusivo com as cinzas? Não é hoje “ tradicionalista” um
adjectivo altamente injurioso dirigido aos cidadãos que estão preocupados com a
preservação do fogo, quando ventanias tenebrosas parecem varre as cinzas e as
achas que ardem e dão calor, fonte do fogo?
Acho esta imagem usada por
Gustavo Mahler magnífica e completa, apesar de simples. De facto, todo o fogo
que arde, aquece e ilumina deixa cinzas mas estas aí ficam sem “ vida”. O que
dá vida ao fogo é, sem dúvida, é o próprio fogo. As cinzas são o testemunho da origem das
chamas mas elas só por si não dão calor. Quem pode, pois aquecer-se ou ter luz
se só se centrar nas cinzas? Contudo, é às cinzas que nos remetem as labaredas.
Sem cinzas não há fogo, parece-me óbvio, pois este é o testemunho das cinzas
ainda que apagadas.
…. Mas o fogo extingue-se se
não de se lançam achas na fogueira. É preciso alimentar o fogo fazendo, consequentemente,
mais cinzas. As cinzas testemunham a “ imolação” do combustível para dar o
fogo. A Tradição é igual. Se nós não “ alimentamos” a fogueira, muitas vezes
afastando as cinzas, o fogo extingue-se.
Recordo a minha infância, de
ver em casas simples, de manhã, quando já não havia fogo, de se reactivar este,
a partir das brasas que a cinza tinha protegido. Afinal, concluo eu, penso que
legitimamente, as cinzas também não são assim tão inúteis mas são o resto ( um dos restos do fogo) e que podem ser
recicladas pela sua riqueza, por exemplo, em potássio, elemento essencial para
a vida vegetal e não só. Contudo, o mais importante é, sem dúvida, o fogo que
arde. Posso afirmar, estabelecendo um paralelo, que o fogo é a actualidade, o
hoje que se esvai em segundos, de vida efémera, mas indispensável, como tudo o
que é presente e no qual vivemos para termos futuro que olha as cinzas que
deixou para existir. Portanto, há um fio condutor, contínuo, entre as cinzas
e o fogo . Será loucura, seria loucura
imensa, que o fogo desprezasse as cinzas e só se visse a si mesmo na
efemeridade da sua existência.
A sociedade humana actual olha
de revés a Tradição. Odeia-a mesmo, esquecendo que nunca poderia existir o
presente sem o fio condutor que nos conduz do passado, as cinzas do presente,
para este hoje e nos permite o futuro. Obviamente que ninguém de bom senso não
pode nem quererá viver nas e das cinzas, Seria uma patologia grave societal.
Como é uma patologia societal só querer viver do fogo ignorando e combatendo a
sua origem, o seu fundamento e testemunho da sua origem.
Cultuar as cinzas é cristalizar e paralisar a vida.
Cultuar o foge é, igualmente, paralisar a
vida e torná-la num “ relâmpago” fugaz, sem produzir uma sociedade assente em
fundações estáveis e, portanto, pronta a derruir. Não é o que estamos a ver
como resultado do combate feroz à Tradição da nossa Cultura?
É de tal modo grave o combate à Tradição que
se transformou em insulto corrente o adjetivo “ tradicionalista” corrente e
infamante. Aliás , é corrente, ouvir insultos como “ fascista”, “ extremista”
ou “ fundamentalista” como sinónimos de tradicionalista, aquele que defende o
hoje baseado na Tradição que não vive no ontem mas não esquece e nele vai
buscar forças para caminhar rumo ao futuro.
Hoje, para destruir o futuro, o chamado mundo
do “ Homem novo” marxista, do pensamento “ cancelado”, “ woke”, urge destruir a
Tradição, que não é conservadorismo. Este é imobilista e aquela é dinâmica e
contínua. Não há chama sem cinzas. Não há vida humana sem raízes e se estas não são visíveis, são, contudo,
imprescindíveis. As cinzas não são cultuadas nem devem ser cultuáveis mas
respeitadas por que nelas teve origem o fogo. E o fogo que arde, ilumina e
aquece. O fogo sobe, eleva-se. As cinzas , imobilizadas e amontoadas ,mortas,
não são a vida. Foram-no e aparecem por que simbolizam a fonte do fogo, da
vida. É isto a Tradição.
Dou toda a razão a Mahler: «TRADIÇÃO NÃO É O
CULTO DAS CINZAS, MAS A PRESERVAÇÃO DO FOGO ».
Carlos Aguiar Gomes
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