Papa Francisco: «O mundo precisa de beleza, mais que nunca»
As Sagradas Escrituras falam-nos muito da beleza do universo e de tudo aquilo que encerra, e que remete, por analogia, à do Criador. Elas recordam-nos também que cada um de nós é chamado por natureza a ser artesão e guardião de tal beleza. O trabalho artístico completa, em certo sentido, a beleza da criação, e, quando é inspirado pela fé, revela mais claramente aos seres humanos o amor divino que está na sua origem. (…)
A beleza tem a capacidade de criar comunhão, «porque une Deus, o ser humano e a criação numa única sinfonia; porque conjuga o passado, o presente e o futuro; porque atrai para o mesmo lugar e envolve no mesmo olhar gentes diversas e povos distantes.
Uma particularidade do artista é a de não ser limitado pelo tempo, porque a sua arte fala a todas as épocas. O artista também não é limitado pelo espaço, porque a beleza pode tocar em cada pessoa aquilo que tem de universal – especialmente a sede de Deus –, superando as fronteiras das línguas e das culturas. Se é autêntico, o artista é capaz de falar de Deus melhor do que quem quer que seja, de fazer percecionar a sua beleza e bondade, de chegar ao coração humano e fazer resplandecer nele a verdade e a bondade do Ressuscitado.
Como dizia S. João Paulo II na sua “Carta aos Artistas”, que vos convido a reler com atenção, «para transmitir a mensagem que Cristo lhe confiou, a Igreja tem necessidade da arte. De facto, deve tornar percetível e até o mais fascinante possível o mundo do espírito, do invisível, de Deus. Por isso, tem de transpor para fórmulas significativas aquilo que, em si mesmo, é inefável. Ora, a arte possui uma capacidade muito própria de captar os diversos aspectos da mensagem, traduzindo-os em cores, formas, sons que estimulam a intuição de quem os vê e ouve».
Exorto-vos, por isso, a cultivar a vossa arte, a falar aos homens e às mulheres do nosso tempo, preocupando-vos sempre que haja uma certa compreensão da parte deles, porque uma arte incompreensível e hermética falha o seu propósito. Procurai tocar aquilo que neles há de melhor. A Igreja conta convosco hoje para ajudar os irmãos e as irmãs a ter um coração sensível e compassivo, um olhar de amor renovado sobre o mundo e sobre os outros.
No difícil contexto atual que o mundo conhece, em que a desorientação e a tristeza parecem por vezes prevalecer, a vossa missão revela-se mais do que nunca necessária, porque a beleza é sempre uma fonte de alegria, colocando-nos em contacto com a bondade divina. Se há beleza é porque Deus é bom e dá-a. E isto dá-nos alegria, alenta-nos, faz-nos bem. O contacto com a beleza puxa-nos para cima, sempre, a beleza faz-nos ir mais além. Suscitando e sustentando a fé, ela é uma via para ir ao encontro do Senhor.
Encorajo-vos pelo trabalho que fazeis, pela alegria que dais ao mundo com as vossas obras, e encorajo-vos, mais uma vez, a continuar o vosso serviço com amor e competência, porque o mundo precisa de beleza, mais que nunca.
Discurso aos animadores da “Diaconia da Beleza”, 17.2.2022, Vaticano
Fonte: Sala de Imprensa da Santa Sé
Trad./Edição: Rui Jorge Martins
Imagem: Vatican News (Arquivo)
Publicado em 18.02.2022
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