“ … Prossegui, não para criar uma
Igreja paralela, um pouco mais “ jovial” e atrevida numa modalidade para
jovens, com alguns elementos decorativos, como se isso pudesse deixar-vos
contentes.” ( Papa Francisco, Panamá, 24.I.2019)
Andam por aí sereias a anunciar uma Igreja “ jovial” e atrevida… Andam
e cada vez mais se esvaziam as igrejas. Não se dão conta deste fenómeno tão
evidente?
Os batuques, as guitarras, os cânticos ocos e sem sentido, as meias
verdades sobre os pecados, as mentiras sobre os dogmas, o desleixo
inqualificável das celebrações, as “ inovações” constantes e chocantes e as
aberrações “ litúrgicas” que tenho visto e não raras vezes, diga-se de
passagem, tornam a Igreja “ jovial” e atrevida… mas esvaziando-se todos os
dias.
Acresce a todas estas situações e outras de igual jaez um estado
crítico em que vive a Igreja na Europa :“ ( as ) Igrejas na Europa,
frequentemente provadas por um ofuscamento da esperança”, com escreveu S. João
Paulo II Magno, em 2003, na Exortação Apostólica Pós-Sinodal “ Ecclesia in
Europa “ ( nº7.). E este extraordinário Papa, que não podemos deixar esquecer (
dava jeito a alguns!), no documento acima citado, elenca alguns sinais demasiado
evidentes deste ofuscamento da esperança:
1.
“… a
crise da memória e herança cristãs”;
2.
“ …
acompanhada por uma espécie de agnosticismo prático e indiferentismo religioso…
“;
3.
“ …
muitos europeus ( dão a impressão ) de
viver sem substracto espiritual”;
4.
“ …
como herdeiros que delapidaram o
património que lhes foi entregue pela história.” ( nº7 ). Note-se, a
propósito, o desprezo militante com que é tratado o “ Cântico gregoriano”, por
exemplo, ou as mutilações a que foram submetidos tantos templos antigos, mas
orantes, chegando ao cúmulo de se mudarem, até, designações como Capela da
Imaculada Conceição para Capela imaculada(!).
E diz S. João Paulo II Magno que “ esta crise da memória cristã é acompanhada
por uma espécie de medo de enfrentar o futuro” ( id).
A felicidade é um bem com esperança. Mas a felicidade, buscada no efémero do aqui
e agora prazeroso, não nos projecta no amanhã. Colapsa quando o aqui e agora se
extinguem. Por isso, sem memória e, obviamente sem esperança ( quem não tem
memória não tem esperança!), vive-se hoje momento a momento. Por isso, tudo o
que contraria ou dificulta este “ agorismo” é combatido ferozmente e, assim, se
apagam as memórias das famílias e dos povos, tornando estas realidades
obsoletas para se implantarem novas mundividências relativistas. Assim, há medo
de se enfrentar o futuro. E o futuro mais profundo é a vida eterna, a esperança
da Esperança. Ora, “ semear esperança” é recuperar a esperança perdida porque a
baniram na nossa realidade familiar, eclesial e social. Atulharam-nos da
banalidade. Privaram-nos do perene. Dos alicerces.
Ceifaram as searas de onde brotariam as
sementes a semear. Dizimaram e deixaram ( e deixámos) dizimar a seara dos
valores que formaram esta Cultura que morreu em nossos dias.
… Mas os campos estão aí. Podem ser
cuidados de novo. Se as sementeiras forem protegidas dos predadores que andam à
solta e dominam as paisagens espirituais, culturais e sociais. Dá trabalho?
Pois dá! Mas é o preço que temos de pagar por termos sido coniventes na destruição
das sementes, searas a haver, parafraseando o Poeta.
Há, pois, que recuperar a esperança para a
semear.
Carlos Aguiar Gomes
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