domingo, 17 de fevereiro de 2019

RECUPERAR A ESPARANÇA - 2


                                                

 

“ … Prossegui, não para criar uma Igreja paralela, um pouco mais “ jovial” e atrevida numa modalidade para jovens, com alguns elementos decorativos, como se isso pudesse deixar-vos contentes.” ( Papa Francisco, Panamá, 24.I.2019)

 

Andam por aí sereias a anunciar uma Igreja “ jovial” e atrevida… Andam e cada vez mais se esvaziam as igrejas. Não se dão conta deste fenómeno tão evidente?

Os batuques, as guitarras, os cânticos ocos e sem sentido, as meias verdades sobre os pecados, as mentiras sobre os dogmas, o desleixo inqualificável das celebrações, as “ inovações” constantes e chocantes e as aberrações “ litúrgicas” que tenho visto e não raras vezes, diga-se de passagem, tornam a Igreja “ jovial” e atrevida… mas esvaziando-se todos os dias.

Acresce a todas estas situações e outras de igual jaez um estado crítico em que vive a Igreja na Europa :“ ( as ) Igrejas na Europa, frequentemente provadas por um ofuscamento da esperança”, com escreveu S. João Paulo II Magno, em 2003, na Exortação Apostólica Pós-Sinodal “ Ecclesia in Europa “ ( nº7.). E este extraordinário Papa, que não podemos deixar esquecer ( dava jeito a alguns!), no documento acima citado, elenca alguns sinais demasiado evidentes deste ofuscamento da esperança:

1.       “… a crise da memória e herança cristãs”;

2.       “ … acompanhada por uma espécie de agnosticismo prático e indiferentismo religioso… “;

3.       “ … muitos europeus ( dão a impressão )  de viver sem substracto espiritual”;

4.       “ … como herdeiros que delapidaram o  património que lhes foi entregue pela história.” ( nº7 ). Note-se, a propósito, o desprezo militante com que é tratado o “ Cântico gregoriano”, por exemplo, ou as mutilações a que foram submetidos tantos templos antigos, mas orantes, chegando ao cúmulo de se mudarem, até, designações como Capela da Imaculada Conceição para Capela imaculada(!).

 

 

E diz S. João Paulo II Magno que “ esta crise da memória cristã é acompanhada por uma espécie de medo de enfrentar o futuro” ( id).

 A felicidade é um bem com esperança. Mas a felicidade, buscada no efémero do aqui e agora prazeroso, não nos projecta no amanhã. Colapsa quando o aqui e agora se extinguem. Por isso, sem memória e, obviamente sem esperança ( quem não tem memória não tem esperança!), vive-se hoje momento a momento. Por isso, tudo o que contraria ou dificulta este “ agorismo” é combatido ferozmente e, assim, se apagam as memórias das famílias e dos povos, tornando estas realidades obsoletas para se implantarem novas mundividências relativistas. Assim, há medo de se enfrentar o futuro. E o futuro mais profundo é a vida eterna, a esperança da Esperança. Ora, “ semear esperança” é recuperar a esperança perdida porque a baniram na nossa realidade familiar, eclesial e social. Atulharam-nos da banalidade. Privaram-nos do perene. Dos alicerces.

 Ceifaram as searas de onde brotariam as sementes a semear. Dizimaram e deixaram ( e deixámos) dizimar a seara dos valores que formaram esta Cultura que morreu em nossos dias.

… Mas os campos estão aí. Podem ser cuidados de novo. Se as sementeiras forem protegidas dos predadores que andam à solta e dominam as paisagens espirituais, culturais e sociais. Dá trabalho? Pois dá! Mas é o preço que temos de pagar por termos sido coniventes na destruição das sementes, searas a haver, parafraseando o Poeta.

Há, pois, que recuperar a esperança para a semear.

 

Carlos Aguiar Gomes

 

 

 

 

 

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