sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

RECUPERAR A ESPERANÇA _ 3


 

 

Como referi em artigo anterior, destruíram as searas. Não pode, assim, haver colheita de sementes para semear. Que semear se destruíram as searas?

Aqui e ali, resistiram algumas plantas que frutificaram e deram e dão algumas sementes. Poucas e cada vez menos. Não podemos, assim, deixar destruir o muito pouco que resta.

Dou um exemplo, eloquente, do que acabo de referir: na Holanda, o país onde se publicou o infelizmente célebre “ Catecismo “ que tanto brado deu e entusiasmou os adeptos das mudanças na Igreja que a tornassem “ jovial” e atrevida. Moderna. E cortando com o passado bafiento, “constantiniano” ou “ triunfalista”, como se dizia, que dava vocações, enchia as igrejas e tinha missionários “ ad gentes” um pouco por todo o lado. Os Bispos eram do mais avançado e moderno que havia. A Holanda começou com a distribuição da “ comunhão na mão” e até se chegou ao ponto de haver máquinas para distribuir a sagrada comunhão automaticamente. A Igreja da Holanda aprovou e promoveu tudo o que a moral católica de sempre, agora um “ horror de retrógrada”, condenava. A contracepção, o aborto e a eutanásia goram generalizados com o silêncio / cumplicidade da maioria da hierarquia.         Enfim, era o modelo que toda a Europa católica começou a tomar como exemplo. Lembro-me, já aqui o referi, como há mais de 20 anos fui apelidado de “ extrema-direita” por uma professora da Universidade Católica de Nimega(?) por lhe ter dito que o caminho da Igreja , quanto ao sacramento do matrimónio, não podia alterar-se, até porque contrariava a lei natural, senhora que não me conhecia nem nunca me tinha visto. E isto durante um Congresso promovido pelos Bispos holandeses que se mantiveram “mudos e quedos”, como diz o nosso povo.

 Passando à frente muitos e muitos episódios de decomposição e apagamento da Igreja que está ( estava) na Holanda, agora, vende as igrejas por não terem frequência. E não escapam as catedrais: As de Beda e de Groningen-Leeuwarden já foram “ despachadas”, dessacralizadas e depois demolidas. Agora, chegou a vez da de Utreque. Esta vai ser vendida por um euro, se nada se alterar. O Bispo diocesano, Cardeal Eijk ( pouco “ avançado”, aliás) disse recentemente que o “ pequeno número de fiéis que vão à igreja é muito baixo(… ) há igrejas com capacidade para 400/500 pessoas que são frequentadas por escassas dezenas”. E disse mais: “ muitas igrejas já se retiraram do culto e nos próximos 10 anos teremos de fechar a maioria das igrejas. Antigamente havia 350. Restam 200. Prevejo que em 2028, ano em que cumprirei 75 anos e terei de apresentar a minha renúncia ao Santo Padre, a Arquidiocese de Utreque contará com aproximadamente 20 paróquias, com um templo ou dois por cada uma”. E o “ modelo” de modernidade foi copiado fielmente. Em nome do Concílio! A que desobedeceram feroz e tenazmente. A destruição da presença da Igreja na Holanda foi sistemática. Da Bélgica. Da França. Da Alemanha. Também da Espanha, onde de 2000 a 31 de Dezembro de 2018 fecharam 181 conventos e mosteiros. Só. E não digo nada do que se passa entre nós! Por mera cobardia minha! Mas vejo, oiço e sinto o que se passa por cá. E tenho opinião.

As searas foram destruídas. Até o solo onde deveriam crescer as raízes foi atingido. As raízes das plantas que outrora frutificavam, foram arrancadas sem contemplações. Tudo em nome da modernidade. Entendeu-se muito mal o que S. João XXIII queria dizer com o “ aggiornamento”. O que S. Paulo VI queria dizer, impotente, que “ o fumo de satanás tinha invadido a Igreja”.  O que quereria dizer S. João Paulo II Magno quando ( cf. Ecclesia in Europa) se referiu à ausência de memória dos europeus e à delapidação do nosso património?… De Bento XVI não se pode falar: retrógrado ou segundo os espíritos iluminados , um “ erro de casting” do Espírito Santo que deveria estar mais atento às correntes dominantes de demolição da Igreja!

Mas há sinais de esperança. Terrenos frutíferos onde as poucas sementes germinam, apesar da verdadeira perseguição, mais directa do que subtil, que lhe movem os espíritos cheios de modernidade.

Em próximo artigo direi mais da esperança que recuperei em mim com o livro que recolhe várias intervenções, magníficas, do Metropolita Hilarion Alfeyev , da Igreja Ortodoxa Russa e que tive o privilégio de conhecer.

 

Carlos Aguiar Gomes

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