Pão das Almas
Numa casa portuguesa fica bem pão e vinho sobre a mesa
Cresci a ouvir, a cantar e a saborear esta cantiga que saía da voz da
Amália Rodrigues e que tão bem traduzia um pouco da portugalidade!
Nas mesas da nossa aldeia nunca faltava pão e vinho: o pão da
honestidade, do alimento, da educação, do respeito, da oração; mas
também não faltava o vinho da alegria, da festa, do convívio, da
música… Na mesa, aquele local de encontro e de vida, estava lá tudo
isso!
E se à porta humildemente bate alguém senta-se à mesa co'a gente
E nunca faltava para partilhar! Pouco ou muito: o que havia era de
todos e para todos. E onde se sentava a família, sentava-se também
quem entrava no lar e coração da família: cresci a ver no Natal a casa
dos avós a acolher à mesa os pobres que não tinham o que comer ou com
quem comer! Assim quem batia à porta da Tia Lurdes Pimenta ceava com a
família, porque era da família!
A mesa é de todos, não tem donos, mas servos. E o alimento é para
todos: seja ele qual for e como for, não há eleitos ou predestinados.
Quem não o tem recebe das mãos “do servo fiel e prudente, que o Senhor
pôs à frente da sua família para os alimentar a seu tempo” (Mt 24,
45).
Fica bem esta franqueza, fica bem que o povo nunca desmente:
A alegria da pobreza está nesta grande riqueza de dar, e ficar contente
Os pobres são os bem aventurados, são os felizes, como nos comunica o
Santo Padre na sua exortação “Alegrai-vos e exultai”. E só os pobres
percebem que a maior alegria está em dar, não em receber.
É neste contexto que vivemos a partilha do “pão das almas”: o pão não
é nosso, é “das almas”. Antigamente era dado pelos pobres aos pobres:
“pelos pobres”, porque a família via partir alguém para a eternidade,
o lar ficava mais vazio, mais pobre; “aos pobres” que acorriam ao
funeral e que retribuíam com as suas orações pelo defunto. Tanto uns
como outros sentiam que o maior valor estava na partilha, na entrega,
na dádiva! Podemos fazer a diferença. Há alguém que precisa… eu também
preciso e sei que serei atendido, portanto vou em auxílio do outro,
seja ele quem for!
Hoje em dia o pedido que se faz é de sufrágio pelos esquecidos, pelos
que não têm nome na terra, mas que têm o seu apelido escrito nos céus.
E como pobres que somos, sabemos que um dia alguém nos estenderá os
braços e nos acariciará pelo bem que já hoje fazemos, pela fome de pão
que já hoje matamos!
Uma promessa de beijos, dois braços à minha espera
É uma casa portuguesa, com certeza!
É, com certeza, uma casa portuguesa!
Pão… o nosso?! Não, o “PÃO DAS ALMAS”. P. Paulo Emanuel Dias
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domingo, 28 de outubro de 2018
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