quinta-feira, 24 de outubro de 2019

O SILÊNCO , inspirado em S. Bento


                                              DEZ
            REGRAS DE VIDA SEGUNDO E SEGUINDO
                                    S. BENTO
                            IV – O SILÊNCIO

    «Le bruit est l`ennemi parfait de la réflexion, de la tranquillité  et de l`amour. Or le bruit est devenu banal. Il fait partie de notre environnement et de notre manière de vivre. Et nous évite de nous confronter à notre vie intérieur » ( Card. Robert Sarah, in « Le soir approche et déjà le jour baisse », Ed. Fayard, Paris, Março de 2019, pág.367)

   Na realidade, como tão bem escreve o Cardeal Robert Sarah, no livro acima  indicado, “ O ruído é o inimigo perfeito da reflexão, da tranquilidade e do amor. Ora, o ruído tornou-se banal. Faz parte do nosso meio ambiente e da nossa maneira de viver. E evita-nos de nos confrontar com a nossa vida interior”.
   Vivemos num ambiente altamente poluído pelo barulho, por muito ruído sonoro ou visual. E este ambiente perturba-nos o equilíbrio emocional , afectivo e, até, biológico. Confunde-nos e , sobretudo aliena-nos ferozmente.
   Nesta série de artigos que tenho estado a publicar sobre algumas regras de vida que a Regra do glorioso Patriarca S. Bento aconselha, na Regra, aos seus monges e que, hoje e cada vez mais, se tem descoberto que também serve aos leigos. Refiro, por exemplo, o belíssimo livro de Maria Cristina Bombelli, “ Administrar com Sabedoria – a Regra de S. Bento e a Gestão” ( Ed. Paulinas, 2019), quero dedicar algumas linhas à importância do silêncio.
  S. Bento dedica o capítulo VI da Regra ao SILÊNCIO, palavra que assim tem sido traduzida nas línguas modernas mas em que no original, em latim, é usada a expressão DE TACITURNITATE, que se poderia traduzir, também, por taciturnidade, que não é rigorosamente a mesma coisa. José Mattoso ( in Disdaskalia XXXIX ) dedica um excelente e bem fundamentado artigo precisamente a esta diferença no léxico monástico ao longo da história e das religiões. S. Bento nunca quis que os mosteiros fossem verdadeiros sepulcros silenciosos, sem palavras e sobretudo, sem a Palavra. S. Bento, no dizer de Giorgio Picasso ( in “ San Benedetto – La Regola” , ed. San Paolo, Milão, 1996)  quis , no capítulo VI, dizer que a taciturnidade é o amor ao silêncio e que S. Bento não queria impor um silêncio total e rigoroso aos monges. S. Bento propõe um silêncio “ racional”.
   Esta questão da necessidade do silêncio, nesta nossa vida tão freneticamente agitada e alienada, é fundamental e absolutamente necessária. Numa família, onde deve haver diálogo, conversa sobre a vida, deve, também, haver momentos de silêncio, de amor ao silêncio. Por exemplo, quando as crianças e os jovens estão a estudar ou se preparam para dormir, é fundamental que haja silêncio. Quando os filhos ouvem os Pais ou estes ouvem os filhos, impõe-se o silêncio de quem ouve para que o diálogo não seja deformado por interferência não recomendáveis do ruído ou que  cada um dê a impressão de não estar a escutar ( não a ouvir) o outro. O ruído é uma espécie de curto-circuito entre comunicadores. O silêncio favorece a comunicação horizontal e vertical. Tal pressupõe um conhecimento da importância desta atitude interior, não para que nos esvaziemos das preocupações mas que sejamos capazes de nos (re)encontrarmos connosco próprios sem que os ruídos interiores e exteriores se alojem em nós e nos impeçam esse encontro vital. E, também, o encontro com Deus que não está nem O encontramos no ruído. “ … E, contudo, Deus esconde-se no silêncio” ( Cardeal SaraH, in “ A Força do Silêncio”, nº150, Ed.Principia,Cascais, 2017, pág. 91)
   O SILÊNCIO tem força, a força da humildade. Pelo contrário, e voltando ao Cardeal Sarah ( o.c., nº149, pág. 91) “ O barulho é uma violação da alma, é a ruína « silenciosa» da interioridade. O homem tende sempre a ficar no exterior de si próprio. Mas é preciso voltar necessariamente à cidadela interior”.
   Razão tem S. Bento ao classificar o silêncio como uma virtude. Uma virtude que, na esteira do Pai e Padroeiro da Europa, teremos de recuperar, libertando-nos desse tóxico ambiental que é o ruído.
Carlos Aguiar Gomes

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