DEZ
REGRAS DE VIDA SEGUNDO E SEGUINDO
S. BENTO
IV – O SILÊNCIO
«Le bruit est l`ennemi parfait de la
réflexion, de la tranquillité et de
l`amour. Or le bruit est devenu banal. Il fait partie de notre environnement et
de notre manière de vivre. Et nous évite de nous confronter à notre vie
intérieur » ( Card. Robert Sarah, in « Le soir approche et déjà le
jour baisse », Ed. Fayard, Paris, Março de 2019,
pág.367)
Na realidade, como tão bem escreve o Cardeal
Robert Sarah, no livro acima indicado, “
O ruído é o inimigo perfeito da reflexão, da tranquilidade e do amor. Ora, o
ruído tornou-se banal. Faz parte do nosso meio ambiente e da nossa maneira de
viver. E evita-nos de nos confrontar com a nossa vida interior”.
Vivemos num ambiente altamente
poluído pelo barulho, por muito ruído sonoro ou visual. E este ambiente perturba-nos
o equilíbrio emocional , afectivo e, até, biológico. Confunde-nos e , sobretudo
aliena-nos ferozmente.
Nesta série de artigos que
tenho estado a publicar sobre algumas regras de vida que a Regra do glorioso
Patriarca S. Bento aconselha, na Regra, aos seus monges e que, hoje e cada vez
mais, se tem descoberto que também serve aos leigos. Refiro, por exemplo, o
belíssimo livro de Maria Cristina Bombelli, “ Administrar com Sabedoria – a
Regra de S. Bento e a Gestão” ( Ed. Paulinas, 2019), quero dedicar algumas
linhas à importância do silêncio.
S. Bento dedica o capítulo VI
da Regra ao SILÊNCIO, palavra que assim tem sido traduzida nas línguas modernas
mas em que no original, em latim, é usada a expressão DE TACITURNITATE, que se
poderia traduzir, também, por taciturnidade, que não é rigorosamente a mesma coisa.
José Mattoso ( in Disdaskalia XXXIX ) dedica um excelente e bem fundamentado
artigo precisamente a esta diferença no léxico monástico ao longo da história e
das religiões. S. Bento nunca quis que os mosteiros fossem verdadeiros
sepulcros silenciosos, sem palavras e sobretudo, sem a Palavra. S. Bento, no
dizer de Giorgio Picasso ( in “ San Benedetto – La Regola” , ed. San Paolo, Milão,
1996) quis , no capítulo VI, dizer que a
taciturnidade é o amor ao silêncio e que S. Bento não queria impor um silêncio
total e rigoroso aos monges. S. Bento propõe um silêncio “ racional”.
Esta questão da necessidade do
silêncio, nesta nossa vida tão freneticamente agitada e alienada, é fundamental
e absolutamente necessária. Numa família, onde deve haver diálogo, conversa
sobre a vida, deve, também, haver momentos de silêncio, de amor ao silêncio.
Por exemplo, quando as crianças e os jovens estão a estudar ou se preparam para
dormir, é fundamental que haja silêncio. Quando os filhos ouvem os Pais ou
estes ouvem os filhos, impõe-se o silêncio de quem ouve para que o diálogo não
seja deformado por interferência não recomendáveis do ruído ou que cada um dê a impressão de não estar a escutar
( não a ouvir) o outro. O ruído é uma espécie de curto-circuito entre comunicadores.
O silêncio favorece a comunicação horizontal e vertical. Tal pressupõe um
conhecimento da importância desta atitude interior, não para que nos esvaziemos
das preocupações mas que sejamos capazes de nos (re)encontrarmos connosco
próprios sem que os ruídos interiores e exteriores se alojem em nós e nos
impeçam esse encontro vital. E, também, o encontro com Deus que não está nem O
encontramos no ruído. “ … E, contudo, Deus esconde-se no silêncio” ( Cardeal
SaraH, in “ A Força do Silêncio”, nº150, Ed.Principia,Cascais, 2017, pág. 91)
O SILÊNCIO tem força, a força
da humildade. Pelo contrário, e voltando ao Cardeal Sarah ( o.c., nº149, pág.
91) “ O barulho é uma violação da alma, é
a ruína « silenciosa» da interioridade. O homem tende sempre a ficar no exterior
de si próprio. Mas é preciso voltar necessariamente à cidadela interior”.
Razão tem S. Bento ao
classificar o silêncio como uma virtude. Uma virtude que, na esteira do Pai e
Padroeiro da Europa, teremos de recuperar, libertando-nos desse tóxico ambiental
que é o ruído.
Carlos Aguiar Gomes
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