Os deputados votaram
maioritariamente pela legalização da Eutanásia no passado dia 20. A Democracia
foi derrotada. Um regime democrático, perante um tema tão importante como a
legalização de dar a morte a uma Pessoa, é demasiado sério para ser tomado de
ânimo leve, como foi, por ideólogos que não aceitam a dignidade da Pessoa
Humana em qualquer circunstância e se recusam a ouvir o povo ( o tal que,
dizem, é quem mais ordena!). Têm um medo terrível do referendo, que é um
mecanismo perfeito de escuta democrática. Veja-se o que se faz na democrática
Suiça!.... Uma Democracia que se esgota nos Partidos políticos ( corruptos,
ainda por cima), é uma Democracia doente e com tiques, camuflados, de
autoritarismo. E a nossa Democracia
está muito doente. Mesmo muito.
Os caros leitores viram que
os grandes Partidos, nos seus programas eleitorais com que se apresentaram nas
últimas eleições, não se referiam á legalização da Eutanásia? E, a primeira
medida legislativa foi precisamente a legalização do homicídio promovido nos
hospitais? Chamo a esta atitude de “ fraude eleitoral”.
Depois, como mostra a
experiência de países onde se legalizou a Eutanásia, como a Bélgica e a
Holanda, o texto proposto era extremamente semelhante aos que foram levados a
votação no dia 20 em Portugal. Sabemos todos que, hoje, as leis daqueles países
foram - se alterando progressivamente e agora tudo é permitido e até a coacção
psicológica é banal.
Em artigo anterior fiz
referência a um livro extraordinário, uma colectânea de artigos de agentes de
saúde belgas que trabalham com pessoas em limite de vida. O sub-título daquela
obra é : “ Reflexões e experiências de cuidadores”. Aqui está uma obra,
infelizmente ainda não traduzida para português, e seria fundamental a sua
edição entre nós com difusão máxima. Volto a recordar o seu nome: “ EUTHANASIE,
l`envers du décor”, das èditions MOLS , colecção AUTRES REGARDS, com Prefácios
de JACQUES RICOT e de HERMAN DE DIJN, ambos filósofos , com a coordenação de um
hematólogo - TIMOTHY DEVOS. Nesta obra,
de cuidadores de saúde altamente qualificados e com experiência, com múltiplos
exemplos vividos por estes, são feitas reflexões, que nos levam ( a mim
levaram-me) a temer com o que vem aí, em Portugal, pois o começo é igual e
temos , já, a experiência do Aborto.
Deixem-me que volte a referir que esta obra é feita por
especialistas como oncologistas,
psiquiatras, enfermeiros especializados em cuidados paliativos, filósofos
especializados em Ética, paliativistas, entre outros e todos eles, não são
ideólogos anti-humanistas como os votantes no nosso Parlamento, nem cretinos
sem qualquer tipo de compaixão pelos sofredores. Não, todos são homens e
mulheres, que sabem que “ QUEM SOFRE DESEJA SER ACOMPANHADO;, MESMO SE DESEJA
MORRER…”. Todos tudo têm feito para que os grandes sofredores, físicos ou
psíquicos, tenham uma morte dignamente assistida e acompanhada.
Não seria , agora, o KAIROS,
para a edição em português, disponível a preço acessível desta obra?
Não seria , agora, o tempo
oportuno, para não se fazerem tantas obras, cuja necessidade é questionável, e
investir seriamente na formação dos cidadãos e no seu esclarecimento sério e
com seriedade? Mando este “ recado” à Igreja Católica, a minha.
Não seria, agora, o tempo
oportuno, para que a formação dos jovens fosse menos “ guitarrada” e tantas
vezes cheia de nada, e levada a sério com temas relacionados com a VIDA HUMANA?
Com assertividade, clareza e sem meias verdades. De insistir que a VIDA HUMANA É INVIOLÁVEL e
que ninguém tem o direito a morrer, mas o direito a viver com dignidade, desde
a concepção à morte natural . Não será o tempo de acabarmos com a indiferença face
ao eugenismo legal e apoiado com os nossos impostos e de se denunciar a
política nazi da raça pura que perante a nossa indiferença se pratica quando,
por exemplo, são eliminados os bebés com algumas diferenças?
E termino com um repto
veemente aos nossos decisores políticos: investam mais e mais seriamente nos
CUIDADOS PALIATIVOS. Ocupem-se destes pois estes , é bom que saibam, “ NÃO SÃO
UM MODO DE FAZER MORRER AS PESSOAS, MAS UM MODO DE AS AJUDAR A VIVER ATÉ AO
FIM….” Com dignidade. Assim, e só assim, poderemos falar, com verdade, de morte
dignamente assistida.
Carlos Aguiar Gomes
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