sábado, 29 de fevereiro de 2020

SEMPRE INCANSÁVEIS A SONHAR E A CONSTRUIR


Há pessoas assim, com interesse e com nível, não envelhecem. Sempre humildes, sempre jovens apesar da idade, sempre sonhadoras e sempre de mangas arregaçadas a desafiar a construção dum mundo mais justo, mais humano e mais fraterno, independentemente da crença, raça ou cultura.
Ainda a contas com o Encontro “A Economia de Francisco” a acontecer no próximo mês, o Papa, num encontro com os membros do Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé, anunciou a sua intenção de fomentar, em maio próximo, um outro acontecimento mundial que terá como objetivo ajudar a “unir esforços numa ampla aliança educativa para formar pessoas maduras, capazes de superar fragmentações e contrastes e reconstruir o tecido das relações em ordem a uma humanidade mais fraterna”. E voltou a falar de tal assunto aos académicos de algumas das mais conceituadas universidades do mundo, reunidos em Roma, neste mês de fevereiro, num encontro cujo tema foi “Educação: o Pacto Global”. É necessário, diz ele, “construir uma «aldeia da educação», onde, na diversidade, se partilhe o compromisso de gerar uma rede de relações humanas e abertas”. A caminhada conjunta desta «aldeia da educação» deve ter a coragem de colocar no centro a pessoa, de investir as melhores energias com criatividade e responsabilidade, de formar pessoas disponíveis para se colocarem ao serviço da comunidade.
Mas deixemos, por ora, este novo encontro e voltemos a referir-nos àquele que foi há mais tempo anunciado. Como sabemos, o Papa Francisco, em maio do ano passado, escreveu aos jovens economistas, estudantes e académicos em Economia, estudantes de Mestrado, Doutorado, jovens pesquisadores, empresários e empresárias, empreendedores e protagonistas de mudanças, do mundo inteiro, a convidá-los para um encontro a decorrer de 26 a 28 de março próximo para tentar descobrir uma economia que faça viver e não mate, que inclua e não exclua, que humanize e não desumanize, que cuide da criação e não a devaste. Pretende estabelecer um pacto comum, “um processo de mudança global que veja em comunhão de intenções não apenas quantos têm o dom da fé, mas todos os homens de boa vontade, para além das diferenças de credo e de nacionalidade, unidos por um ideal de fraternidade atento sobretudo aos pobres e aos excluídos”. Alguém já definiu esta iniciativa como o Davos de Francisco. Os convidados não são os grandes financeiros e empresários do mundo das finanças já afirmados, mas economistas e empreendedores com menos de 35 anos. Já são mais de 3.300 os pedidos de participação, com 2.000 jovens credenciados, provenientes de 115 países, entre os quais de Portugal.
É evidente que a complexidade dos sistemas económicos não se resolve com um toque de varinha mágica. Mas tudo ajuda a pensar e a repensar que algo tem de mudar para construir “uma nova economia à medida do homem e para o homem”. Com os jovens e através deles, o Papa, apelará “a alguns dos melhores estudiosos e estudiosas da ciência da economia, assim como a empresários e empresárias que hoje já se encontram comprometidos a nível mundial, por uma economia coerente com este cenário ideal”. Mas não serão os especialistas a criar a agenda aos jovens. Será o Papa que os convoca. Francisco confia nos jovens e sabe que as suas universidades, empresas e organizações “são canteiros de esperança para construir outras modalidades de entender a economia e o progresso, para combater a cultura do descarte, para dar voz a quantos não a têm, para propor novos estilos de vida”. Ele sabe que enquanto “o nosso sistema económico-social ainda produzir uma só vítima, e enquanto houver uma só pessoa descartada, não poderá haver a festa da fraternidade universal”.
O Encontro terá lugar na inspiradora cidade de Assis, o lugar onde São Francisco se despojou “de toda a mundanidade para escolher Deus como Estrela polar da sua vida, fazendo-se pobre com os pobres, irmão universal. Da sua escolha de pobreza brotou também uma visão da economia que permanece extremamente atual. Ela pode dar esperança ao nosso amanhã, não apenas em benefício dos mais pobres, mas da humanidade inteira”. A cidade será dividia em 12 "aldeias", doze áreas da vida económica onde se refletirá sobre grandes temas e questões apresentadas pela economia de hoje e de amanhã. A iniciativa tem, pois, o nome de “Economia de Francisco”, em referência a São Francisco de Assis e ao Evangelho que “ele viveu em total coerência, inclusive nos planos económico e social”.
Na sua Carta Encíclica Laudato Si, o Papa sublinhou que “é preciso corrigir os modelos de crescimento incapazes de garantir o respeito pelo meio ambiente, o acolhimento da vida, o cuidado da família, e equidade social, a dignidade dos trabalhadores e os direitos das gerações vindouras”. Ele vê nos jovens “a profecia de uma economia atenta à pessoa e ao meio ambiente”. Eles são portadores de “uma cultura corajosa e não têm medo de arriscar, são “capazes de ouvir com o coração os brados cada vez mais angustiantes da terra e dos seus pobres em busca de ajuda e de responsabilidade, ou seja, de alguém que “responda” e não olhe para o outro lado”.
Antonino Dias
 Bispo de Portalegre-Castelo Branco, 28-02-2020.

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