Livro de Asia Bibi relata vários casos de perseguição aos cristãos nos últimos anos
Uma cristã, mãe de quatro filhos, Kausar Shagufta, ocupa hoje a cela que foi de Asia Bibi na cadeia de Multan. Crime: blasfémia. Sentença: condenada à morte. Este é apenas um dos casos de cristãos perseguidos pela sua fé no Paquistão que Asia Bibi denuncia no livro “Enfim Livre!”
Com edição em Portugal pela Lucerna – e apoio da Fundação AIS – o livro autobiográfico de Asia Bibi, escrito em parceria com a jornalista Anne-Isabelle Tollet, é um retrato poderoso do clima de intimidação a que os cristãos podem estar sujeitos no Paquistão especialmente quando sobre eles recai a infame lei da blasfémia.
À história de Kausar Shagufta, que a Fundação AIS já denunciou também, sucedem-se várias outras, como é o caso, por exemplo, de Sawan Mashi, envolvido em 2013 numa discussão com um muçulmano em Colónia de São José, um bairro em Lahore. Essa discussão haveria de desencadear uma onda de violência contra a comunidade cristã de que resultou a destruição de “mais de 150 casas”. Mashi, conta Asia Bibi no livro, foi “acusado de blasfémia [e] ainda está a apodrecer na cadeia”.
Asia Bibi sabe bem do que fala quando se refere a estes casos. Ela própria foi acusada de blasfémia em 2010 por ter bebido um copo de água de um poço. Por causa disso, foi condenada à morte e passou praticamente uma década anos na cadeia sempre com a vida por um fio. A sua história é um exemplo também de coragem. Sozinha, na prisão, ameaçada de morte, nunca renunciou à sua fé, mesmo quando lhe disseram que esse seria o caminho mais rápido para a sua libertação. Foi coerente desde o primeiro momento.
A sua libertação, no final de Janeiro de 2019, depois de o Supremo Tribunal a ter ilibado de todas as acusações, prova também que a luta pelos direitos das minorias religiosas não deve abrandar nunca, apesar das dificuldades que possam surgir.
O caso desta cristã, que mobilizou milhares de pessoas em todo o mundo e instituições como a Fundação AIS, não pode mais ser ignorado a partir de agora sempre que alguém for acusado injustamente de blasfémia no Paquistão. Passou a haver uma espécie de ‘jurisprudência Asia Bibi’. Isso é claramente uma vitória.
Com a publicação deste livro, Asia Bibi volta a chamar a atenção do mundo para outros casos de cristãos e membros de outras minorias religiosas presos nas cadeias paquistanesas por causa da blasfémia, uma lei que classifica como “injusta” e “maléfica”.
“Qualquer pessoa pode servir-se [desta lei da blasfémia] para se vingar de alguém de quem não goste, por ciúmes ou inveja; e as pessoas que pertencem a uma minoria ainda estão mais sujeitas ao ódio e aos disparates das outras. Tanto cristãos como muçulmanos vivem todos receosos de que apareça alguém mal-intencionado que os acuse sem razão. Foi o que me aconteceu: atiraram-me para um pesadelo horrível, que durou 10 anos. Pensei que nunca mais acordaria dele!”
Ao longo das páginas de “Enfim, Livre!”, Asia Bibi denuncia casos de pessoas vítimas da lei da blasfémia e descreve com pormenor o longo suplício que foi a sua vida nas cadeias paquistanesas.
Outro caso relatado é o de Shakil, “uma mulher da aldeia ao lado da minha, e ao filho dela, Masih, que tinha apenas nove anos de idade”. A história é descrita com pormenor. “Os vizinhos dela, que eram muçulmanos, não suportavam que o miúdo, sendo cristão, brincasse com os filhos deles; por isso, acusaram-no de ter queimado o Alcorão. Veio a polícia e prendeu os dois, sem se dar sequer ao trabalho de verificar se era verdade; foram ambos brutalizados e arriscaram-se a ser condenados à morte. Uma criança de nove anos! Era a idade da minha Eisham, e gela-se-me o coração ao pensar nisso. Estavam todos loucos.”
A história acabou por não ter um final trágico graças à campanha que nasceu de imediato para a libertação desta mãe e do seu filho. “Mas as autoridades estiveram prestes a assassinar uma criança de nove anos pelo simples facto de brincar com crianças muçulmanas!”
Outro caso descrito por Asia Bibi no seu livro revela como a vida dos cristãos pode valer mesmo muito pouco no Paquistão. Shazad e Shama, um casal muito humilde, eram pais de uma criança de três anos e trabalhavam numa aldeia perto da casa de Asia Bibi. “Foram acusados de manchar o Alcorão e os vizinhos chamaram a polícia. Mas, antes de a polícia chegar, uma multidão extremamente hostil, constituída por centenas e centenas de pessoas, caiu sobre eles qual onda gigante agredindo-os com uma raiva desumana; por fim, queimaram-nos vivos e a polícia não pôde fazer nada.”
Asia Bibi questiona-se perante tanta violência gratuita. “Não compreendo a loucura dos homens. Como é possível agredirem pessoas que não fizeram nada? Como é que se pode matar uma pessoa sem nenhuma emoção e achar que isso está bem? Como é que se pode deixar uma criança órfã sem dó nem piedade?”
No livro agora editado, Asia Bibi denuncia ainda outros casos de perseguição e de humilhação dos cristãos no Paquistão. As jovens raparigas sequestradas impunemente e obrigadas a casar com muçulmanos mais velhos é exemplo dessa prática. “No meu país, as jovens cristãs são muitas vezes raptadas, retidas à força e mesmo violadas, às vezes por vários homens; convertem-nas ao Islão à força, e casam-nas sem lhes pedirem opinião. As que conseguem libertar-se ficam marcadas para toda a vida; e podem ser queimadas com ácido, ou mesmo mortas, quando se atrevem a resistir”, escreve Asia Bibi no seu livro.
A Fundação AIS denunciou ainda na semana passada o caso de Huma Younus, uma jovem de 17 anos raptada em Outubro em Zia Colony, em Karachi, mas Asia Bibi relata no livro outra história: a de Asma, de 25 anos, “uma jovem doce e bonita que era professora em casa de uma família de muçulmanos”. Uma história que terminou tragicamente quando ela negou uma proposta de casamento de um muçulmano, tendo sido queimada viva.
Ter passado quase uma década na prisão não retirou capacidade de observação a Asia Bibi. Pelo contrário, tornou-a testemunha ocular de uma realidade de opressão face à comunidade cristã que o mundo por vezes, parece querer ignorar. “Do fundo da minha prisão, percebi que havia centenas de pessoas na mesma situação que eu dentro daqueles muros, presas por um crime as mais das vezes imaginário, a aguardar execução”, lê-se no livro ‘Enfim, Livre!’. “A dolorosa experiência por que passei permitiu-me compreender que a política e a religião não combinam bem uma com a outra.”
Com edição em Portugal pela Lucerna – e apoio da Fundação AIS – o livro autobiográfico de Asia Bibi, escrito em parceria com a jornalista Anne-Isabelle Tollet, é um retrato poderoso do clima de intimidação a que os cristãos podem estar sujeitos no Paquistão especialmente quando sobre eles recai a infame lei da blasfémia.
À história de Kausar Shagufta, que a Fundação AIS já denunciou também, sucedem-se várias outras, como é o caso, por exemplo, de Sawan Mashi, envolvido em 2013 numa discussão com um muçulmano em Colónia de São José, um bairro em Lahore. Essa discussão haveria de desencadear uma onda de violência contra a comunidade cristã de que resultou a destruição de “mais de 150 casas”. Mashi, conta Asia Bibi no livro, foi “acusado de blasfémia [e] ainda está a apodrecer na cadeia”.
Asia Bibi sabe bem do que fala quando se refere a estes casos. Ela própria foi acusada de blasfémia em 2010 por ter bebido um copo de água de um poço. Por causa disso, foi condenada à morte e passou praticamente uma década anos na cadeia sempre com a vida por um fio. A sua história é um exemplo também de coragem. Sozinha, na prisão, ameaçada de morte, nunca renunciou à sua fé, mesmo quando lhe disseram que esse seria o caminho mais rápido para a sua libertação. Foi coerente desde o primeiro momento.
A sua libertação, no final de Janeiro de 2019, depois de o Supremo Tribunal a ter ilibado de todas as acusações, prova também que a luta pelos direitos das minorias religiosas não deve abrandar nunca, apesar das dificuldades que possam surgir.
O caso desta cristã, que mobilizou milhares de pessoas em todo o mundo e instituições como a Fundação AIS, não pode mais ser ignorado a partir de agora sempre que alguém for acusado injustamente de blasfémia no Paquistão. Passou a haver uma espécie de ‘jurisprudência Asia Bibi’. Isso é claramente uma vitória.
Com a publicação deste livro, Asia Bibi volta a chamar a atenção do mundo para outros casos de cristãos e membros de outras minorias religiosas presos nas cadeias paquistanesas por causa da blasfémia, uma lei que classifica como “injusta” e “maléfica”.
“Qualquer pessoa pode servir-se [desta lei da blasfémia] para se vingar de alguém de quem não goste, por ciúmes ou inveja; e as pessoas que pertencem a uma minoria ainda estão mais sujeitas ao ódio e aos disparates das outras. Tanto cristãos como muçulmanos vivem todos receosos de que apareça alguém mal-intencionado que os acuse sem razão. Foi o que me aconteceu: atiraram-me para um pesadelo horrível, que durou 10 anos. Pensei que nunca mais acordaria dele!”
Ao longo das páginas de “Enfim, Livre!”, Asia Bibi denuncia casos de pessoas vítimas da lei da blasfémia e descreve com pormenor o longo suplício que foi a sua vida nas cadeias paquistanesas.
Outro caso relatado é o de Shakil, “uma mulher da aldeia ao lado da minha, e ao filho dela, Masih, que tinha apenas nove anos de idade”. A história é descrita com pormenor. “Os vizinhos dela, que eram muçulmanos, não suportavam que o miúdo, sendo cristão, brincasse com os filhos deles; por isso, acusaram-no de ter queimado o Alcorão. Veio a polícia e prendeu os dois, sem se dar sequer ao trabalho de verificar se era verdade; foram ambos brutalizados e arriscaram-se a ser condenados à morte. Uma criança de nove anos! Era a idade da minha Eisham, e gela-se-me o coração ao pensar nisso. Estavam todos loucos.”
A história acabou por não ter um final trágico graças à campanha que nasceu de imediato para a libertação desta mãe e do seu filho. “Mas as autoridades estiveram prestes a assassinar uma criança de nove anos pelo simples facto de brincar com crianças muçulmanas!”
Outro caso descrito por Asia Bibi no seu livro revela como a vida dos cristãos pode valer mesmo muito pouco no Paquistão. Shazad e Shama, um casal muito humilde, eram pais de uma criança de três anos e trabalhavam numa aldeia perto da casa de Asia Bibi. “Foram acusados de manchar o Alcorão e os vizinhos chamaram a polícia. Mas, antes de a polícia chegar, uma multidão extremamente hostil, constituída por centenas e centenas de pessoas, caiu sobre eles qual onda gigante agredindo-os com uma raiva desumana; por fim, queimaram-nos vivos e a polícia não pôde fazer nada.”
Asia Bibi questiona-se perante tanta violência gratuita. “Não compreendo a loucura dos homens. Como é possível agredirem pessoas que não fizeram nada? Como é que se pode matar uma pessoa sem nenhuma emoção e achar que isso está bem? Como é que se pode deixar uma criança órfã sem dó nem piedade?”
No livro agora editado, Asia Bibi denuncia ainda outros casos de perseguição e de humilhação dos cristãos no Paquistão. As jovens raparigas sequestradas impunemente e obrigadas a casar com muçulmanos mais velhos é exemplo dessa prática. “No meu país, as jovens cristãs são muitas vezes raptadas, retidas à força e mesmo violadas, às vezes por vários homens; convertem-nas ao Islão à força, e casam-nas sem lhes pedirem opinião. As que conseguem libertar-se ficam marcadas para toda a vida; e podem ser queimadas com ácido, ou mesmo mortas, quando se atrevem a resistir”, escreve Asia Bibi no seu livro.
A Fundação AIS denunciou ainda na semana passada o caso de Huma Younus, uma jovem de 17 anos raptada em Outubro em Zia Colony, em Karachi, mas Asia Bibi relata no livro outra história: a de Asma, de 25 anos, “uma jovem doce e bonita que era professora em casa de uma família de muçulmanos”. Uma história que terminou tragicamente quando ela negou uma proposta de casamento de um muçulmano, tendo sido queimada viva.
Ter passado quase uma década na prisão não retirou capacidade de observação a Asia Bibi. Pelo contrário, tornou-a testemunha ocular de uma realidade de opressão face à comunidade cristã que o mundo por vezes, parece querer ignorar. “Do fundo da minha prisão, percebi que havia centenas de pessoas na mesma situação que eu dentro daqueles muros, presas por um crime as mais das vezes imaginário, a aguardar execução”, lê-se no livro ‘Enfim, Livre!’. “A dolorosa experiência por que passei permitiu-me compreender que a política e a religião não combinam bem uma com a outra.”
O livro “ENFIM, LIVRE!” está disponível em exclusivo na FUNDAÇÃO AIS e pode ser encomendado apenas através da PÁGINA ONLINE ou pelo TELEFONE 217 544 000
Departamento de Informação da Fundação AIS | ACN Portugal
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