segunda-feira, 6 de abril de 2020

Segunda-feira Santa: a unção de Betânia

Na Segunda-feira da Semana Santa, a Igreja do Ocidente sempre leu o Capítulo 12, do Evangelho Segundo S. João. Este é um preceito de instituição divina, visto que os evangelhos sinópticos atestam o mandato de Jesus de que «Em toda a parte onde a Boa Nova for anunciada, também o que ela fez será contado para sua memória.»
A leitura situa-nos exatamente no dia de hoje, falando à maneira judaica: seis dias antes da Páscoa. O ambiente da casa dos três irmãos, amigos de Jesus, é todo de amizade, mas também de pressentimento da morte. No entanto, tudo respira imensa paz, a paz do Mistério Pascal. 
Após a ressurreição de Lázaro, a contemplativa irmã Maria compreende o alcance da missão de Cristo: à luz da Razão, ela agradece a Jesus pela graça que lhe concedeu de ter a família reunida de novo; à luz da Fé, ela compreende que a Ressurreição que se aproxima será um dia universal e eterna. Àqueles que tentam ver às escuras, este gesto parece mera excentricidade ou desperdício. Mas para ela não foi excessivo, foi o que lhe ditou o coração. E Jesus defende-a. Desmascarando-nos porque, embora sempre tenhamos pobres entre nós, nem sempre canalizamos  o que poderíamos poupar em luxos e desvairos em alimento para os pobres, e também dizendo-nos que o que queremos fazer por amor não deve ser reprimido.
O gesto de Maria manifesta o amor pelo Mestre, que dá a vida pelos homens. Ao contrário, a interpretação de Judas é cheia de ódio mal disfarçado. Os demais Apóstolos não se pronunciam: mostram-se indecisos entre replicar a atitude do traidor ou seguir o exemplo da santa mulher. Quando finalmente Jesus lhes desvela o entendimento, nunca mais hesitarão em aprender com Maria, a hospitaleira.

Para além de celebrar um acontecimento histórico concreto, a Igreja aproveita esta Segunda-feira para recordar a própria Santa Maria de Betânia, apesar de a sua festa litúrgica ser a 29 de Julho. No início da Semana Santa, este episódio chama-nos a refletir sobre o modo como vivemos este ciclo do ano. Aproveitamos a Quaresma para nos desprendermos do que é realmente supérfluo? Jejuamos até daquilo que é essencial para nós, de modo a nos podermos entregar mais uns aos outros e a Jesus? Agora, chegou o momento de nos determos aos pés do Mestre, escutando as suas palavras, meditando-as e pondo-as em prática.

Arvo Pärt é um compositor estoniano nascido em 1935. Aos 37 anos, converteu-se à Igreja Apostólica Ortodoxa e, desde então, dedica o seu maior esforço à produção de música sacra. Em 1997, colocou este episódio em música (apesar de usar o texto de S. Mateus). A obra é formada de figurações retóricas que explicitam o conteúdo do texto bíblico: as vozes femininas dominam quase toda a peça, apesar de ouvirmos um diálogo nas vozes masculinas: primeiro, a pergunta de Judas, depois, na voz mais grave de todas, a resposta de Jesus.


Enquanto artista e crente, Pärt sempre almejou imitar está discípula, enchendo a casa onde Jesus é acolhido com o perfume de nardo puro da sua música. A era actual é particularmente intolerante para com aqueles que desejam oferecer a Deus toda a beleza que têm ao seu alcance. Na verdade, oferecer um motete de Arvo Pärt em Sacrifício de Louvor é, nos dias de hoje, objeto das mesmas críticas que Santa Maria ouviu de Judas em Betânia. Saibamos nós também escolher a melhor parte, que não nos será tirada.

Oração de Santo Efrém:
«Senhor e mestre de minha vida: Afasta de mim o espírito de preguiça, o espírito de dissipação de domínio e de vã loquacidade Concede a teu servo o espírito da temperança de humildade de paciência e de caridade.
Sim, Senhor e Rei, Concede-me que veja as minhas faltas e que não julgue a meu irmão pois tu és bendito pelos séculos dos séculos. Amém».

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