quinta-feira, 16 de julho de 2020

Silêncios que não compreendo


                                         Silêncios que não compreendo
   Em artigo anterior, partilhei com os meus leitores, um pouco do que penso sobre “ SILÊNCIOS QUE INCOMODAM”, que me incomodam que ocorram e nunca, mas mesmo nunca, deveriam ocorrer.
  Abordarei, neste texto que partilho com os leitores, um tema muito semelhante e inter-ligado: os SILÊNCIOS QUE NÃO COMPREENDO.
1.       O que se passa em Hong Kong, com a entrada das “ chancas” de terror da China, contra a Democracia que foi vivida naquele território, não é admissívem e não pode admitir que nos calemos.  A « Lei de Segurança Nacional» que destrói qualquer sintoma de discordância da Ditadura do partido Comunista Chinês e que foi aplicada, e está a ser aplicada, desde a sua entrada em vigor, “ sem dó nem piedade”, tem de merecer o nosso repúdio veemente. A liberdade prometida foi um acto de puro  ilusionismo político, com a estória que só convenceu os imbecis e os idiotas úteis do Ocidente, aplicada, também, a Macau, com grande aplauso nosso! A ameaça, de que nunca desistiram os comunistas chineses ( com tantos adeptos entre nós!), de anexarem  Taiwan , tal como fizeram ao Tibete , será uma questão de tempo. Tanto mais breve quanto o silêncio cobarde do Ocidente se fizer sentir. Depois, já sabemos, o que se passa: a ditadura feroz sobre todos os que “ mexem” contra . Cai um silêncio que não compreendo sobre esta atrocidade vinda de Pequim, do Partido Comunista Chinês. Os políticos sempre tão solícitos a criticarem a Hungria ou a Polónia, por exemplo, nada dizem, sendo situações totalmente diferentes.  Calam-se. E a comunicação social que nos “ intoxica” todos os dias com o que se passa no Brasil ( que não é bom!), cala-se  sobre esta infâmia, este silêncio, que não compreendo
2.       O Bispo Emérito de Hong Kong, Cardeal José Zen Ze-Kiun SDB, o conhecido Cardeal Zen, não se tem poupado a esforços a denunciar o “ Acordo Secreto “ entre a Santa Sé e a China sobre a chamada “ Igreja Católica Patriótica”, fidelíssima ao Partido Comunista Chinês e a ele subserviente, ignorando a Igreja Católica, na China, que há décadas é perseguida, humilhada, torturada e só sobrevive ( e aumenta!) na clandestinidade, malgrado as prisões de leigos, sacerdotes e Bispos que resistem a abdicar da sua fidelidade a Roma. Este Cardeal publicou um livro, que quis entregar ao Papa e que se chama : « POR AMOR AO MEU OPOVO NÃO ME CALAREI» ( na edição italiana, disponível na Amazon: «Per amore del mio popolo non tacerò: Ricordando il decimo anniversario della Lettera di Papa Benedetto alla Chiesa in Cina»di Card. Joseph Zen | 20 set. ) “, já traduzida em várias línguas ( desconheço se em português) no qual denuncia, com factos indesmentíveis os ataque cerrados contra a liberdade religiosa na China , que não é só contra os católicos ( os muçulmanos Yugures estão quase todos em campos de “ reeducação”). A Fundação Pontifícia AJUDA À IGREJA QUE SOFRE e outras organizações não se têm cansado de denunciar os permanentes e constantes  ataques a igrejas com a destruição das cruzes exteriores, por exemplo, ou à obrigatoriedade de em cada igreja haver um retrato do presidente Xi.  O silêncio da Hierarquia católica, do chamado livre, relativamente a esta situação, é outro silêncio que não compreendo. Como não compreendo, de todo, o silêncio do Papa  às inúmeras cartas  que o Cardeal Zen lhe tem enviado. Este purpurado disse recentemente ( 6.VII.2020) que acredita que as suas missivas não chegam ao Papa. Assim, vai usando as redes sociais para falar ao mundo sobre as sua preocupações.  E apesar da sua idade, não se cala. Um exemplo de Fé e de coerência. Este Cardeal ficará na história da Igreja como um libertador do povo contra a opressão para vergonha de tantos. Mais um silêncio que não compreendo.
3.       No Domingo, dia 5 de Julho, o Papa iria dizer o seguinte, ao Angelus, tal como foi distribuído aos jornalista, como é hábito, sob embargo: “In questi ultimi tempi, ho seguito con particolare attenzione e non senza preoccupazione lo sviluppo della complessa situazione a Hong Kong, e desidero manifestare anzitutto la mia cordiale vicinanza a tutti gli abitanti di quel territorio. Nell’attuale contesto, le tematiche trattate sono indubbiamente delicate e toccano la vita di tutti; perciò è comprensibile che ci sia una marcata sensibilità al riguardo. Auspico pertanto che tutte le persone coinvolte sappiano affrontare i vari problemi con spirito di lungimirante saggezza e di autentico dialogo. Ciò esige coraggio, umiltà, non violenza e rispetto della dignità e dei diritti di tutti. Formulo, poi, il voto che la vita sociale, e specialmente quella religiosa, si esprimano in piena e vera libertà, come d’altronde lo prevedono vari documenti internazionali. Accompagno con la mia costante preghiera tutta la comunità cattolica e le persone di buona volontà di Hong Kong, affinché possano costruire insieme una società prospera e armoniosa”. ( Nestes últimos dias, segui com particular atenção e não sem preocupação o desenvolvimento da complexa situação em Hong Kong e desejo manifestar acima de tudo a minha cordial proximidade a todos os  envolvidos daquele território. No actual contexto, os assuntos tratados  são, indubitavelmente, delicados e respeitam  à vida de todos pois é necessário que seja marcada pela sensibilidade sobre tal. Desejo, portanto, que todas as pessoas envolvidas saibam afrontar os vários problemas com espírito  claravidente sabedoria e de verdadeiro diálogo. Isto exige coragem, humildade, não violência e respeito pela dignidade e direitos. Formulo, pois, votos para que a sociedade, e especialmente a religiosa, se exprimam em plena e verdadeira liberdade, como estão previstas em vários documentos internacionais. Acompanho com a minha constante oração toda a comunidade  e as pessoas de boa vontade de Hong Kong , para que possam  construir juntos uma sociedade próspera e harmoniosa – trad. de CAG).
O Papa, porém, não disse nada do que estava previsto. Um silêncio que não compreendo.

4.       Somos “ atacados” a toda a hora sobre a situação catastrófica, quanto ao COVID-19 , que se vive no Brasil e nos EUA. É terrível. Mas não é terrível a situação dos venezuelanos que fogem à fome, à falta de medicamentos e de liberdade e que já se contam por vários milhões? Todos os dias fogem da fome homens, mulheres e crianças de um regime totalitário perante o qual todo o Ocidente se curva e cala.
 Mais um silêncio que não compreendo.
5.       O que se está a passar no Norte de Moçambique, no Burkina Faso, na Nigéria ou na República Centro Africana com os actos terroristas de jihadistas muçulmanos, onde aldeias inteiras são destruídas, o crime hediondo campeia e tantas mulheres são raptadas para uso esclavagista ligado à exploração sexual, que oiço, como protesto dos que deveriam gritar e sair à rua? Onde pairam esses agentes da agitação social contra a exploração humana? Onde pairam esses “ corações cheios de misericórdia”  no protesto público e publicado? Não os sinto, não os vejo, não os oiço. O sofrimento de que padecem estes novos mártires mereceria mais denúncias e mais constantes. O meu apreço público pelo muito e bem, a tempo e a contra-tempo, que tem feito a Fundação Pontifícia AJUDA À IGREJA QUE SOFRE, em Portugal e no mundo: sinto, vejo e oiço! Há silêncios que não compreendo.

Carlos Aguiar Gomes

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