… E SE A
MODA PEGA?
… E SE CHEGA CÁ?
Quem me conhece sabe que sou adepto e sempre defendi que as obras de
arte ( e outros bens!) roubadas a terceiros devem voltar à posse de quem delas
foi desapossado por roubo. Já escrevi muitas vezes que as obras de arte, sacra
ou não que enchem os nossos museus e que
são, muitas vezes, peças centrais daqueles, deveriam voltar às igrejas de onde
foram roubadas pelos diferentes poderes políticos, nacionais ou estrangeiros.
Nunca percebi ( até percebi!) , por exemplo, que obras da Pré-História do
Norte, por exemplo, tenham “ migrado” sem autorização das populações de onde
foram “ desviadas” para Lisboa, para o Museu Nacional de Arqueologia.
O
que pertence a uma comunidade, nunca deveria sair dela, pois faz parte da sua
memória colectiva. Assim agi, com mais de centena e meia de moedas romanas que
encontrei em Álvora ( Arcos de Valdevez) e outros vestígios romanos que lá
encontrei e estudei, mas, quando, por razões profissionais, saí daquele
concelho, entreguei tudo à Câmara Municipal, para integrar o então planeado
museu. Entendia e entendo, que aqueles objectos são pertença daquela comunidade
e fazem parte da sua história. Portanto, lá ficaram.
Como se pode “ subtrair” de um povo parte da sua memória?
Vem
tudo o que acabo de referir a propósito de uma decisão tomada recentemente pelo
Governo francês de devolver ao Benim e ao Senegal, antigas colónias franceses,
de um conjunto de obras de arte “ desviadas” daqueles territórios ( cf SOL,
pág. 44, 18.VII.2020). Pode ser um começo iniciado em França e espero que faça
moda. Será uma moda justa. A França e a Inglaterra, entre outros países
europeus, têm muito a devolver. Não só a África pois seria uma devolução, como
se diz hoje, de preferência racista. A Justiça deverá ser aplicada a todos os
povos, de África ou não. E europeus também, como Portugal que foi brutalmente pilhado de muitas obras
de arte aquando das Invasões napoleónicas.
…
Mas também houve pilhagens em Portugal dentro de muros. O Decreto de 28 de Maio
de 1834, que pretendeu extinguir as Ordens Religiosas, também foi motivo de
roubos: dos populares e, sobretudo do Poder político instituído. Foram-se aos
mosteiros e conventos e de lá levaram tudo o que quiseram: livros ( estas casa
tinham, por via de regra, notáveis livrarias), manuscritos de grande valor e
antiguidade ( o cartolário era um repositório notável de originais e/ou cópias de
documentos bem antigos), de obras de arte notáveis ( escultura ou pinturas e
até azulejaria) e as pinturas não escaparam bem como grande parte do mobiliário
( escapou uma certa parte de uso litúrgico que foi entregue às paróquias).
Depois veio a sanha republicana que completou o que não tinha sido acabado na
rapinagem de bens da Igreja. Hoje aquelas peças (normalmente as melhores) estão
nos museus de Lisboa, na Torre do Tombo ou em Arquivos e Bibliotecas Distritais
e são motivo de atracção para turistas e investigadores, consoante os casos. ( Um exemplo entre milhares: um
cálice do século X que está no Museu Machado de Castro, em Coimbra, deveria
voltar à sua origem: Cabeceiras de Basto, pois é de lá, do seu mosteiro, e faz
parte do património cabeceirense).
De
facto uma pilhagem é sempre uma pilhagem, seja feita por autóctones ou
estrangeiros.
Será o caso da França que acima citei o início de uma moda, justa, de
devolver à procedência obras de arte que foram roubadas aos seus legítimos
proprietários?
Se
assim for, se a moda pega, Londres, Paris ou Lisboa vão ficar muito mais pobres
mas cumprirão actos de justiça.
Um
roubo, é sempre um roubo, um acto de apropriação do alheio, a coberto ou não da
lei. Esta pode dar a cobertura legal mas nunca será moral. Por isso, defendo que se entregue
o “ seu a seu dono” !
Sem
ser Pirro, não acredito que os nossos Governos façam actos de justiça a todos
os espoliados, africanos ou não. Os espoliadores ficariam mais pobres. Sim, mas
praticariam um acto da maior justiça. Caso contrário, não passarão de um bando
engravatado de ladrões.
Carlos Aguiar Gomes
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