Das Cartas de S. Maximiliano Maria Kolbe, presbítero e mártir (sec. XX)
pela salvação e santificação das almas:
Sinto grande alegria, querido irmão, pelo teu ardente zelo pela
glória de Deus. Nos nossos tempos, infelizmente, vemos com tristeza
propagar se sob várias formas uma certa epidemia, a que chamam
“indiferentismo”, não só entre os leigos mas também entre os religiosos.
No entanto, porque Deus é digno de infinita glória, o nosso primeiro e
mais importante objectivo é promover a sua glória, tanto quanto pode a
nossa humana fraqueza, embora nunca possamos prestar Lhe a glória que
Ele merece, dado que somos frágeis criaturas.
Uma vez, porém, que a glória de Deus resplandece sobretudo na
salvação das almas que Cristo resgatou com o seu próprio sangue, o
principal e mais profundo empenho da vida apostólica deve ser o de
procurar a salvação do maior número de almas e a sua mais perfeita
santificação. Sobre o caminho mais apto para este fim, isto é, para
promover a glória divina e a santificação das almas, poucas palavras
direi. Deus, que na sua infinita ciência e sabedoria conhece
perfeitamente o que devemos fazer em todas as circunstâncias para
promover a sua maior glória, manifesta nos normalmente a sua vontade
através dos seus representantes na terra.
É a obediência, e só ela, que nos manifesta com certeza a vontade
divina. É possível que o superior cometa um erro, mas não é possível que
nós, seguindo a obediência, sejamos induzidos em erro. A única excepção
para não obedecer seria quando o superior mandasse alguma coisa que
implicasse claramente uma transgressão da lei divina, por mais pequena
que seja: nesse caso ele não seria intérprete fiel da vontade de Deus.
Só Deus é infinito, sapientíssimo, santíssimo; só Deus é Senhor
clementíssimo, nosso Criador e nosso Pai, princípio e fim, sabedoria,
poder e amor; Deus é tudo isto. Portanto, tudo o que se encontra fora de
Deus, tudo o que não é Deus, só tem valor na medida em que se refere a
Ele, que é o Criador de todas as coisas e o Redentor dos homens, o fim
último de toda a criação. É Ele de facto que nos manifesta a sua
adorável vontade por meio dos seus representantes na terra e nos atrai a
Si, querendo também por meio de nós atrair as almas e uni las a Si na
mais perfeita caridade.
Vê, irmão, como é grande, pela misericórdia de Deus, a dignidade da
nossa condição. Pela obediência, apesar dos limites da nossa pequenez,
como que nos transcendemos, conformando nos à vontade divina, que, na
sua infinita sabedoria e prudência, nos dirige para procedermos
rectamente. Mais: aderindo à vontade de Deus, a que nenhum ser criado
pode resistir, tornamo nos mais fortes que todas as coisas.
É este o caminho da sabedoria e da prudência; é este o único caminho
pelo qual podemos dar maior glória a Deus. Se houvesse outro caminho
mais apto, Cristo no lo teria certamente manifestado com a sua palavra e
o seu exemplo. Mas a Escritura divina resume a sua vida, durante a
longa permanência em Nazaré, com estas palavras: Era lhes submisso; e
insinua claramente que o resto da sua vida se passou sob o signo da
obediência, declarando a cada passo que desceu à terra para fazer a
vontade do Pai.
Amemos, portanto, irmãos, amemos com todo o coração o amantíssimo
Pai celeste, e seja a nossa obediência a prova real desta caridade
perfeita, que deve pôr se em prática sobretudo quando se nos pede o
sacrifício da própria vontade. De facto, para progredir no amor de Deus,
não conhecemos livro mais sublime que Jesus Cristo crucificado.
Tudo isto o alcançaremos mais facilmente por intermédio da Virgem
Imaculada, a quem Deus, com infinita bondade, tornou dispenseira da sua
misericórdia. Não há dúvida alguma de que a vontade de Maria é para nós a
própria vontade de Deus. Se a ela nos consagramos, como instrumentos
nas suas mãos, como ela o foi nas mãos de Deus, tornamo nos
verdadeiramente instrumentos da misericórdia divina. Deixemo nos
portanto, dirigir por ela, deixemo nos conduzir por ela, e fiquemos
tranquilos e seguros sob o seu amparo: ela própria olhará por nós em
todas as coisas, ela tudo providenciará; ela nos socorrerá prontamente
nas necessidades de corpo e alma, ela nos livrará de todas as angústias e
dificuldades.
Oremos:
Deus de infinita bondade, que inspirastes a São Maximiliano Maria,
presbítero e mártir, uma ardente devoção à Virgem Imaculada e o
fortalecestes no zelo das almas e no amor ao próximo, concedei-nos, por
sua intercessão, que, trabalhando generosamente pela vossa glória ao
serviço dos homens, possamos conformar-nos até à morte com vosso Filho,
Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele que é Deus convosco na unidade do
Espírito Santo.
Amen.
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