A
aposta beneditina
Reflectindo sobre esta pobre realidade que nos cerca,
o meu desalento é muito grande.
Sinto que os
valores em que fui criado, em que procurei e me esforcei por viver, colapsaram.
Não preciso de “ Bola de cristal”, “ deitar cartas” ou procurar leituras e
interpretações mais ou menos esotéricas. Basta olhar à nossa volta. Ver o que
se passa à nossa porta. Ver um telejornal. Observar o comportamento das
chamadas, erradamente, elites políticas, económicas e até religiosas, geram em
mim um sentimento de derrotado, vencido da vida e de oprimido. Invade-me uma muito forte
desilusão.
Porém…
Porém, meditando um pouco na história de S. Bento de
Núrsia, do seu tempo igual ao nosso, da espiritualidade que viveu e nos legou,
ganho força, mesmo que me sinta uma espécie de Dom Quixote lutando contra
moinhos de vento. Mas este Homem ( Não é por acaso que S. Gregório Magno começa
a sua biografia de S. Bento com uma frase muito sintomática: FUIT VIR … Houve
um varão… referindo-se ao biografado, S. Bento ), passados quase 1500 anos da
sua morte, dá-me alento.
Quem me conhece, sabe que defendo tenaz e convictamente
que a recristianização da Europa ( e de todo o Ocidente ) tem de seguir o
modelo beneditino, de pequenas comunidades que saberão unir a Oração à Acção.
Comunidades irradiantes como foram os mosteiros beneditinos, no silêncio
operativo.
Se S. Bento escreveu a Regra para monges e eu não o
sou nem a maioria dos cristãos que ainda restam, aquela poderá e deverá
aplicar-se a leigos. Não foi por acaso que publiquei no Boletim da Basílica de
S. Bento da Porta Aberta 30 artigos, durante 30 meses, a que chamei “ Passadas
com S. Bento”, nos quais, a partir da Regra procurei indicar aplicações ao meu
e nosso quotidiano de leigos. Por isso, foi com uma certa satisfação espiritual
e a sensação de que não sou um excêntrico isolado, que tomei conhecimento do
recente lançamento, em França, de um livro, cujo autor é um conhecido
jornalista americano, Rod Dreher, e que se chama:«Comment être chrétien dans un
monde qui ne l `est plus – le pari bénédictin» ( Ed. Artège, Paris, 2017 ) ,
livro que já encomendei e de que, ansiosamente aguardo a sua chegada. O autor,
em recente entrevista, entre coisas extremamente importantes, disse:« A aposta
beneditina é uma estratégia para viver a sua fé cristã num mundo que já não o é
e cada vez mais lhe é mais hostil. Os cristãos, para mim, devem mostrar-se
muito mais firmes face à modernidade do que o que têm feito até agora. Durante
muito tempo atarefou-se a acomodar-se à vida moderna, tomando para si,
nomeadamente, o igualitarismo e o individualismo. É um desastre, não somente
para si, mas também para o Ocidente, que vive espiritualmente hoje o que Roma
conheceu aquando da sua queda. Convido os cristãos desejosos de sobreviver a
tornarem-se versões leigas dos monges beneditinos, que se estabeleceram no meio
das ruínas do Império romano. Não somos chamados à vida monástica, mas a Regra
de S. Bento contém numerosas lições e práticas adaptáveis à vida de leigos e
úteis para fazer frente aos desafios, mesmo de perseguições modernas… ».
E, já agora, a Irmandade de S. Bento da Porta Aberta,
publicou, em português e espanhol, um livro muito interessante e neste âmbito,
de um monge beneditino italiano, Dom Massimo Lapponi OSB: « S. Bento e a vida
de família », cuja leitura se recomenda vivamente.
Perante o desastre, quereremos continuar a só nos
importarmos com “ pão e circo” e de umas Missas, Eucaristias(!), “ lindas”,
muito animadas?
Carlos Aguiar Gomes
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.