domingo, 7 de fevereiro de 2021

Festa das Cinco Chagas do Senhor

 Neste ano de 2021, Portugal vive um jubileu que passa despercebido aos olhos da maioria dos cristãos: o Jubileu das Cinco Chagas do Senhor! Um ano jubilar é um ano dominado pela Alegria, uma alegria presente em todos os momentos dos 365 dias que o compõem.
O culto das Cinco Chagas do Senhor, isto é, as feridas que Cristo recebeu na cruz e manifestou aos Apóstolos depois da ressurreição, foi sempre uma devoção muito viva entre os portugueses, desde os começos da nacionalidade. São disso testemunho a literatura religiosa e a onomástica referente a pessoas e instituições. Os Lusíadas sintetizam (I, 7) o simbolismo que tradicionalmente relaciona as armas da bandeira nacional com as Chagas de Cristo. Assim, os Romanos Pontífices, a partir de Bento XIV, concederam para Portugal uma festa particular, que ultimamente veio a ser fixada a 7 de Fevereiro. Neste ano, uma vez que esta data cai num domingo, ela é elevada ao grau de Solenidade e o ano torna-se um ano jubilar.
Lamentavelmente, não podemos celebrar esta data tão importante da história do nosso país em comunidade. Então, como meditar sobre as Cinco Chagas do Senhor, presentes no nosso brasão nacional?

Comecemos por ouvir a fuga de Haendel "Pelas suas Chagas fomos curados":

O texto é retirado do Capítulo 53 do Livro de Isaías, que todos podemos ler, na nossa Bíblia doméstica.

Mozart, utiliza o mesmo motivo musical no Kyrie Eleison do seu Requiem
O que quereria este compositor dizer, às portas da morte? Talvez juntar à prece litânica da missa uma outra bem conhecida: "Dentro das vossas Chagas escondei-me!"

Também podemos ler aqui, a Homilia de S. João Crisóstomo sobre o Evangelho segundo S. João: http://alexandrinabalasar.free.fr/cinco_chagas_do_senhor.htm

Oiçamos agora esta ária de Dietrich Buxtehude (um precursor de Bach):


Manus sanctae, vos amplector,
et gemendo condelector,
grates ago plagis tantis,
clavis duris guttis sanctis
dans lacrymas cum osculis.
que quer dizer:

Santas mãos, eu vos abraço,
e, gemendo, agradeço,
pelas terríveis chagas,
duros pregos e Santas Gotas
 [de sangue].
Chorando, Vos beijo.

Por fim, lembremos o poema de Fernando Pessoa, retirado da sua obra maior: A Mensagem
Os Deuses vendem quando dão.
Compra-se a glória com desgraça.
Ai dos felizes, porque são
Só o que passa!
 
Baste a quem baste o que Ihe basta
O bastante de Ihe bastar!
A vida é breve, a alma é vasta:
Ter é tardar. 
 
Foi com desgraça e com vileza
Que Deus ao Cristo definiu:
Assim o opôs à Natureza
E Filho o ungiu.

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