quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Sexta-feira após as Cinzas: Memória da Sagrada Coroa de Espinhos

A Coroa de Espinhos é uma precisa da sua própria festa? Certamente que não, pois é um elemento do mistério da Paixão e Morte de Jesus, sumamente celebrada no Domingo de Ramos e da Paixão e na Sexta-feira Santa. No entanto, esses dias centrais do ano litúrgico são extremamente densos e não é possível dispersar o foco celebrativo pela multiplicidade de perspectivas sobre o Mistério da nossa Redenção. Por isso, o calendário devocional de muitas dioceses do mundo propõe meditar, a cada Sexta-feira da Quaresma, sobre um aspecto particular da Paixão do Senhor sem quebrar o ciclo semanal:

  • Na Sexta-feira após as Cinzas: a Sagrada Coroa de espinhos;

  • Na Sexta-feira da 1ª Semana: a Santa Lança e Pregos; 

  • Na Sexta-feira da 2ª Semana: o Santo Sudário; 

  • Na Sexta-feira da 3ª Semana (antes do Domingo Laetare): as Cinco Santas Chagas; 

  • Na Sexta-feira da 4ª Semana: o Preciosíssimo Sangue de Jesus; 

  • Na Sexta-feira da 5ª Semana (antes do Domingo de Ramos): as Sete Dores de Nossa Senhora.

Como preparação para a Sexta-feira Santa, meditemos a Cruz a cada semana por um ponto de vista diferente. Hoje, comecemos por voltar ao cíclo do Natal, escutando um canto pertencente à tradição oral de Trás-os-Montes. Consiste numa interpretação popular da invocação do Menino Jesus, Salvador do Mundo, que apresenta uma imagem de Jesus que confronta os sinais do Seu nascimento e infância com os da Sua Paixão:

Bendito e louvado seja O Menino de Deus nascido,
No ventre da Virgem Maria, nove meses andeve escondido.

Bendito e louvado seja O Menino nascido em Belém,
Batizado no Rio Jordão e cruxificado em Jerusalém!

Em Belém nascido e adorado:
Para sempre seja louvado!

No séc. XIX, o poeta americano Richard Henry Stoddard (1825–1903) explorou a mesma temática no poema Roses and Thorns publicado em 1856 na Graham's Magazine.

The young child Jesus had a garden
Full of roses, rare and red;
And thrice a day he watered them,
To make a garland for his head!

When they were full-blown in the garden,
He led the Jewish children there,
And each did pluck himself a rose,
Until they stripped the garden bare!

"And now how will you make your garland?
For not a rose your path adorns:"
"But you forget," he answered them,
"That you have left me still the thorns.

They took the thorns, and made a garland,
And placed it on his shining head;
And where the roses should have shone,
Were little drops of blood instead!

Duas décadas depois, Alexei Plesheyev traduziu este poema para russo, com o título легенда (Lenda), que foi musicado em 1883 por Pyotr Ilyich Tchaikovsky, que a incluiu nas suas Canções infantis, op. 54.

Был у Христа-младенца сад
И много роз взрастил он в нем;
Он трижды в день их поливал,
Чтоб сплесть венок себе потом.

Когда же розы расцвели,
Детей еврейских созвал он;
Они сорвали по цветку,
И сад был весь опустошен. 

"Как ты сплетешь теперь венок?
В твоем саду нет больше роз!" –
"Вы позабыли, что шипы
Остались мне", – сказал Христос.

И из шипов они сплели
Венок колючий для него,
И капли крови вместо роз
Чело украсили его. 

Já no séc. XX, o poeta britânico Geoffrey Dearmer reverteu o texto para inglês, agora ajustado à métrica da música composta por Tchaikovsky.

When Jesus Christ was yet a child,
He had a garden small and wild,
Wherein He cherished roses fair,
And wove them into garlands there.

Now once, as summer time drew nigh,
There came a troop of children by,
And seeing roses on the tree,
With shouts they pluck'd them merrily.

“Do you bind roses in your hair?”
They cried, in scorn, to Jesus there.
The Boy said humbly: “Take, I pray,
All but the naked thorns away.”

Then of the thorns they made a crown,
And with rough fingers press'd it down,
Till on his forehead fair and young,
Red drops of blood, like roses sprung.

O texto artístico fala por si mesmo: Jesus escolheu os espinhos para nos dar as rosas.

Oremus:
Præsta, quǽsumus, omnípotens Deus: ut, qui in memóriam passiónis Dómini nostri Jesu Christi Corónam ejus spíneam venerámur in terris, ab ipso glória et honóre coronári mereámur in cœlis: Qui tecum vivit et regnat in unitate Spiritus Sancti Deus: per omnia sæcula sæculorum. Amen.

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