quinta-feira, 4 de março de 2021

Hino de Completas

Na Quaresma, a proclamação da Palavra convoca a memória da aliança que Deus renova com a humanidade depois do dilúvio, segundo a narrativa do Livro do Génesis. É uma aliança aberta a todas as criaturas. É uma promessa que fala de um Deus de proximidade, que nos convida a acreditar que o recomeço é sempre possível. Não por acaso, a imagem do arco-íris, que assinala essa aliança, permanece, para nós, como um símbolo da esperança que partilhamos. Por isso suplicamos, neste canto: 

Texto de Frei José Augusto Mourão, O.P.
publicado em «O Nome e a Forma: poesia reunida», Lisboa: Pedra Angular, 2009, 98

«Junta ao nosso passo a Tua Bênção
a Tua Misericórdia e a Tua Água

à beira destas águas me persigo:
é o vento a asa que não digo?

nestes plainos as vozes que se falam
em teu tear se tecem e me embalam

histórias que medito quando chove
e não sou eu quem grita, mas é Job 

é Deus que acende as margens deste medo
e dá raiz e vento ao meu degredo.»

O poema litúrgico de Frei José Augusto Mourão oferece à oração um estilo sapiencial, uma meditação acerca dos enigmas da vida e sobre o modo como Deus neles se diz. As palavras de Frei José Augusto Mourão são penetrantes: «É Deus que acende as margens deste medo /e dá raiz e vento ao meu degredo» O cântico encontra um lugar privilegiado em momentos litúrgicos favoráveis à meditação pessoal, aqueles momentos em que a música nos escuta por dentro, mas pode cumprir também o propósito de reunir todos na partilha de uma mesma súplica de bênção. 

Música de Alfredo Teixeira, aqui interpretada pelo Ensemble S. Tomás de Aquino (Lisboa)


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