terça-feira, 20 de setembro de 2022

A Mãe de Cristo estava junto à cruz

MILITIA SANCTÆ MARIÆ
Província de S. Nuno de Santa Maria - Portugal

- 15 de setembro de 2022 -

"Nossa Senhora das Dores", por Domingos Sequeira


Leitura da Regra:

PRÓLOGO

2. (…)

Mas o Verbo encarnado, nascido de Maria Imaculada, morto sobre a Cruz e ressuscitado para nos dar a vida, infligiu ao dragão o golpe fatal. O mundo tornou-se um imenso campo de batalha que os filhos da Jerusalém Celeste, sustentados pelas milícias sagradas do Arcanjo Miguel, disputam às cortes infernais. Quando os fiéis da Igreja, sob o influxo da graça divina, fazem penitência, derramam as suas orações e testemunham até ao sangue, o Espírito comunica-se, as forças do caos recuam, o exército angélico destrona as hierarquias infiéis, a verdade triunfa. Quando os fiéis se descuidam e perdem o seu fervor, Deus permite uma nova ofensiva das Potestades das Trevas; povos inteiros são arrancados à Igreja ou subtraídos à influência do Evangelho, e entregues à escravatura de Satanás.

 

Comentário:

 

Caros irmãos,

Depois de no dia de ontem termos celebrado a festa da Exaltação da Santa Cruz, assinalamos hoje a memória da Virgem Santa Maria das Dores, uma devoção que terá surgido no ano de 1423 em Colónia, na Alemanha, tendo sido inserida no Missal Romano por Sisto IV. Esta devoção à “Mãe dolorosa” desenvolve-se sob a forma das Sete Dores, representadas nas sete espadas que Lhe trespassam o peito. Pio X colocou a memória no dia 15 de setembro.

As Sete Dores, que, em conjunto formam Coroa das Sete Dores de Nossa Senhora relembram as dores que a Virgem Santa Maria sofreu na sua vida terrena e que culminaram com a paixão, morte e sepultamento de Seu Divino Filho.

São elas as seguintes:

Primeira dor: a profecia de Simeão;

Segunda dor: a fuga para o Egito;

Terceira dor: a perda do Menino Jesus no Templo;

Quarta dor: o encontro de Maria com Filho a caminho do Calvário;

Quinta dor: a morte de Jesus na Cruz;

Sexta dor: Jesus é descido da Cruz e entregue a sua Mãe;

Sétima dor: o Corpo de Jesus foi depositado no sepulcro.

Em boa verdade, muito haveria para dizer relativamente às dores de Nossa Senhora e às suas causas. Para o efeito, socorro-me de um sermão de São Bernardo de Claraval e que diz o seguinte:

“A Mãe de Cristo estava junto à cruz

O martírio da Virgem é recordado tanto na profecia de Simeão como na história da paixão do Senhor. Diz o santo ancião acerca do Menino Jesus: Este foi predestinado para ser sinal de contradição; e, referindo se a Maria, acrescenta: E uma espada trespassará a tua alma.

Na verdade, ó santa Mãe, uma espada trespassou a vossa alma. Porque nunca ela podia atingir a carne do Filho sem atravessar a alma da Mãe. Depois que aquele Jesus – que é de todos, mas especialmente vosso – expirou, a cruel lança que Lhe abriu o lado, sem respeitar sequer um morto a quem já não podia causar dor alguma, não feriu a sua alma, mas atravessou a vossa. A alma de Jesus já não estava ali, mas a vossa não podia ser arrancada daquele lugar. Por isso a violência da dor trespassou a vossa alma, e assim, com razão Vos proclamamos mais que mártir, porque os vossos sentimentos de compaixão superaram os sofrimentos corporais do martírio.

Não foi, porventura, para Vós mais que uma espada aquela palavra que verdadeiramente trespassa a alma e penetra até à divisão da alma e do espírito: Mulher, eis o teu Filho? Oh que permuta! Entregam Vos João em vez de Jesus, o servo em vez do Senhor, o discípulo em vez do Mestre, o filho de Zebedeu em vez do Filho de Deus, um simples homem em vez do verdadeiro Deus. Como não havia de ser trespassada a vossa afetuosíssima alma ao ouvirdes estas palavras, quando a sua simples lembrança despedaça o nosso coração, apesar de ser tão duro como a pedra e o ferro?

Não vos admireis, irmãos, de que Maria seja chamada mártir na sua alma. Admire-se quem não se recorda de ter ouvido Paulo mencionar entre as maiores culpas dos pagãos o facto de não terem afeto. Como isso estava longe do coração de Maria! Longe esteja também dos seus servos.

Mas talvez alguém possa dizer: «Porventura não sabia Ela que Jesus havia de morrer?». Sem dúvida. Não esperava Ela que Jesus havia de ressuscitar?». Com toda a certeza. «E apesar disso sofreu tanto ao vê l’O crucificado?». Sim, com terrível veemência. Afinal, que espécie de homem és tu, irmão, e que estranha sabedoria é a tua, se te surpreende mais a compaixão de Maria do que a paixão do Filho de Maria? Ele pôde morrer corporalmente e Ela não pôde morrer com Ele em seu coração? A morte de Jesus foi por amor, aquele amor que nenhum homem pode superar; o martírio de Maria teve a sua origem também no amor, ao qual depois do de Cristo, nenhum outro amor se pode comparar.”

Caros irmãos,

Venerar a Virgem Santa Maria das Dores é essencialmente recordar a desobediência da primeira mulher que conduziu à morte, e, ao mesmo tempo, reconhecer que a admirável obediência de outra Mulher, a Virgem Maria, em toda a sua vida, terminando de pé junto à cruz de Jesus, foi o ato que devolveu a vida a toda a humanidade.

Toda a vida de Maria, com todas as suas Dores, foi uma vida de serviço a Deus…

S. Luís Maria Grignion de Montfort, no Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria, diz-nos: “Foi por intermédio da Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e é também por meio d’Ela que Ele deve reinar no mundo”. O Papa João Paulo II, o Magno, num dos seus discursos diz-nos que “a Virgem pertence ao plano da salvação por vontade do Pai, como Mãe do Verbo encarnado, por Ela concebido por obra do Espírito Santo” e que, em toda a sua intervenção, “na obra da regeneração dos fiéis não se põe em competição com Cristo, mas d’Ele deriva e está ao seu serviço.”

Meus irmãos,

Nós que, a Maria, a Senhora das Dores, fomos oferecidos por Jesus Cristo na Cruz,

Nós que, por força da nossa Regra, reconhecemos “a Santíssima Virgem como sua [nossa] própria Dama e Suserana, e como a Soberana da sua [nossa] Ordem”,

Devíamos estar, tal como escutamos no excerto escolhido para servir de base a este comentário, sob o influxo da graça divina, fazendo penitência, derramando as nossas orações e testemunhando até ao sangue, comunicando o Espírito, e fazendo com que as forças do maligno recuem, e assim estaríamos a contribuir para que a Verdade vença e o Reino de Cristo triunfe.

Assim Nossa Senhora nos acompanhe…

__

Filipe Amorim,

Braga, 15 de setembro de 2022

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