«Felizes sois quando vos insultarem, vos perseguirem e mentindo disserem todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque a vossa recompensa é grande nos céus, pois do mesmo modo perseguiram os profetas antes de vós». (Mt 5, 11-12)
Quando a Amazon anunciou uma série sobre a Segunda Era na Terra Média, eu fiquei naturalmente curioso. Ao fim de um episódio, ainda quis dar o benefício da dúvida; ao fim do segundo, estava francamente desapontado e ao fim do terceiro decidi parar de perder o meu tempo. Em vez disso, fui reler Tolkien: a começar pelo Silmarillion, depois a Balada de Leithian, o relato da chegada de Tuor a Gondolin, a História dos Filhos de Húrin, a lenda de Aldarion e Erendis... até que cheguei à Akallabêth. E foi aí que comecei a viajar em pensamento...
Naquele relato, encontrei muitos paralelismos com o tempo em que vivemos: os homens que endurecem o coração e se esquecem da graça que receberam, começam a murmurar uns contra os outros e a cobiçar o destino dos seus irmãos. A cisão da sociedade entre Sinodais (os homens-do-Rei) e Católicos (os Fiéis, amigos dos Elfos), na qual os primeiros começam por injuriar, depois exilar, escravizar e por fim imolar os segundos no templo de um deus falso que lhes promete a imortalidade nesta vida. Sauron é o sumo-sacerdote desse culto à Escuridão, que promete a liberdade e a supremacia aos seus seguidores. Na Rainha Tar-Míriel, vejo Francisco: consciente dos erros que permite, mas rodeado de maus conselheiros e sem força para reconduzir um rebanho ao caminho certo.
Sabemos como acaba a história? A ilha afunda-se e as ondas arrasam toda a glória construída pelas mãos desses homens, bons e maus. Tar-Míriel tenta fazer chegar um louvor ao Deus Único, mas tarde de mais. O Rei Ar-Pharazon e a sua armada incontável acabam traídos pelo seu próprio propósito: são soterrados e esquecidos num vale entre as Pélori e, privados do dom da morte (uma dádiva do Deus Único que chama os seus filhos prediletos a descansar no seu colo), aguardam o dia do julgamento, na Batalha das Batalhas. Os Fiéis, guiados por Elendil e os seus filhos, escapam em nove barcos, empurrados por um vento providencial, para um recomeço na Terra Média. O mal já não tem máscara.
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