quarta-feira, 1 de março de 2023

SILERE 26

 

        





            

                      Ninho de Carriça

               SILERE NON POSSUM

         (Não me posso calar – Sto Agostinho)

  Para destruir um povo é preciso destruir as suas raízes.” (Alexandre Soljenitsyne)

                Carta aos meus amigos – nº 26            

                           

                        BRAGA , 24 de Fevereiro- 2023

 

 

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PAX

 

«Chama-se consciência esse lugar onde o bem tenta fazer-se ouvir!...» ( João Aguiar Campos»- in “ Cochichos”)

 

 

   O autor que cito no topo desta minha Carta, é Sacerdote por vontade de Deus e sua decisão, Cónego do Capítulo Primacial de Braga por determinação por Arcebispo de Braga, Dom Eurico Dias Nogueira de saudosíssima memória e um dos grandes escritores vivos por… inspiração do Espírito Santo! Ousaria dizer que o escritor João Aguiar ( infelizmente não sou seu parente!) é, usando um neologismo que criei, um verdadeiro “ ecomístico” cristão. Verdadeiro. Autêntico. Que em cada um dos seus curtos mas profundos escritos nos remete para o Criador. Sempre.

  João Aguiar Campos acaba de editar a sua última obra neste mês de Fevereiro – “ COCHICHOS” – e teve a gentileza e amizade que sabe que tanto minha Mulher como eu lhe dedicamos há muitos anos de nos oferecer um exemplar cuja dedicatória não posso deixar de transcrever:

               « AOS AMIGOS CARLOS  E LUÍSA, COM UM ABRAÇO DO MANO »

    Obviamente que ficámos os dois muito enternecidos. Muito, mas mesmo muito, sensibilizados!

  «COCHICHOS», que já comecei a ler, não é um livro qualquer nem para “ beatos”. “ COCHICHOS” é uma obra prima de espiritualidade profunda. Nada está a mais. Tudo, foi depurado para nos deixar o essencial. Assim, tenho que me moderar na sua leitura encantatória. Como diziam os místicos medievais, este livro é para “ ruminar”. Ler devagarinho. Voltar várias vezes atrás para saborear o sentido de cada frase. Leitura para se fazer peça a peça. Nunca por atacado. Pelo que já li e foi pouco, estou deslumbrado e “ alimentado” espiritualmente.

  João Aguiar habituou-nos, há muitos anos e muitas obras, a uma escrita rara pelo cuidado em excluir  o exibicionismo palavroso. Prefere e usa o despojamento de palavras supérfluas. Os seus trabalhos são verdadeiras obras primas da mística contemporânea. Usa de factos observados  - é um excelente observador! – que a Natureza e a vida lhe passam pelos olhos e que não deixa escapar. Basta, neste livro, olhar para a capa… os pardais pousados nos fios da electricidade lhe inspiraram o título  - COCHICHOS – como parecem que é “ virtude” de pardais quando juntos: saber cochichar! Por isso, disse mais acima que João Aguiar é um ecomístico, neologismo que lhe assenta como uma luva, pois parte da vida da natureza para nos convidar a olhar mais alto e mais além. Do outro, que pode ser um simples pássaro, um ninho com passarinhos esfomeados aguardando a comida que os pais lhes hão-de trazer ou uma pedra do caminho , João Aguiar convoca-nos para olhar para o “ totalmente Outro”. De outro em outro para o Outro, um percurso que nem todos sabem fazer nem olhar!

 Como já referi, comecei a ler COCHICHOS e não o vou acabar tão cedo. Exige “ ruminação”, mas já li alguns “ pedaços” desta prosa “ nutritiva para a alma”. Vou transcrever uma ( 159)  que me tocou particularmente e me fez bater o “ mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa” pelo meu mau agir quando o comparei com João Aguiar neste trecho em que deveríamos ter a mesma idade :

« “ Vamos aos ninhos?” – perguntávamos aos colegas de brincadeira, no dia de descano da bola.

   Confesso que não  era nada que me atraísse muito: temia que algum descuido partisse os ovinhos, os passarinhos ainda carecas se assustassem, seus pais fugissem desconfiados e os abandonassem...». Já em menino e moço era um ser sensível! Eu não reagia assim! Só não contava os ovos pois tinha-me sido dito, que isso não era bom e os passarinhos não nasciam se eu os contasse! … E ia aos ninhos!

  João Aguiar via a transcendência nos «bicos em triângulo amarelo a abrirem-se de fome e os pios chorados.

  Leio, por isso, sempre com renovada ternura, a referência de Jesus ao amor de Deus pelos pardais, para explicar o amor que nos tem…».

  Caros Amigos-leitores digam-me se João Aguiar não foi ( e é) um ecomístico?

   Ir aos ninhos, hoje e para mim, desperta outra “nidovisão” da que tinha em garoto que adorava “ ir aos ninhos” nas árvores, nas ramadas da vinha ou nos buracos das paredes! … E se eram de Serezinas!!!  Agora, velho, sei o significado do respeito pelos ninhos e tal respeito incuto aos meus netos. Comungo do misticismo de João Aguiar face à Natureza que entendo como útero da vida e não como “ Mãe Natureza”, pois, para mim é Deus o único autor da Vida!

  Obrigado “ mano” João Aguiar por esta pérola preciosa que, em boa e inspirada obra, produziu e colocou nas nossas mãos. Assim sejamos dignos de a ler. …E venham outras !

  Face aos ecologistas ateus não posso calar que Deus é a única “ Fonte da Vida” e que a Terra não gera vida, apenas a acolhe. João Aguiar é um cantor de Deus pela Natureza!

 

SILERE NON POSSUM

 

Carlos Aguiar Gomes, Braga, 24 .Fev.23

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