Ninho de Carriça
SILERE NON POSSUM
(Não me posso calar – Sto Agostinho)
“Para destruir um povo é preciso destruir as suas
raízes.” (Alexandre
Soljenitsyne)
Carta aos meus amigos – nº 26
BRAGA , 24 de Fevereiro- 2023
+
PAX
«Chama-se consciência esse lugar onde o bem tenta fazer-se
ouvir!...» ( João Aguiar Campos»- in “ Cochichos”)
O autor que cito no topo desta minha Carta, é
Sacerdote por vontade de Deus e sua decisão, Cónego do Capítulo Primacial de
Braga por determinação por Arcebispo de Braga, Dom Eurico Dias Nogueira de
saudosíssima memória e um dos grandes escritores vivos por… inspiração do
Espírito Santo! Ousaria dizer que o escritor João Aguiar ( infelizmente não sou
seu parente!) é, usando um neologismo que criei, um verdadeiro “ ecomístico”
cristão. Verdadeiro. Autêntico. Que em cada um dos seus curtos mas profundos
escritos nos remete para o Criador. Sempre.
João Aguiar Campos acaba de editar a sua última obra neste mês de
Fevereiro – “ COCHICHOS” – e teve a gentileza e amizade que sabe que tanto
minha Mulher como eu lhe dedicamos há muitos anos de nos oferecer um exemplar
cuja dedicatória não posso deixar de transcrever:
« AOS AMIGOS CARLOS E LUÍSA, COM UM ABRAÇO DO MANO »
Obviamente que ficámos os dois muito enternecidos. Muito, mas mesmo
muito, sensibilizados!
«COCHICHOS», que já comecei a ler, não é um livro qualquer nem para “
beatos”. “ COCHICHOS” é uma obra prima de espiritualidade profunda. Nada está a
mais. Tudo, foi depurado para nos deixar o essencial. Assim, tenho que me
moderar na sua leitura encantatória. Como diziam os místicos medievais, este
livro é para “ ruminar”. Ler devagarinho. Voltar várias vezes atrás para
saborear o sentido de cada frase. Leitura para se fazer peça a peça. Nunca por
atacado. Pelo que já li e foi pouco, estou deslumbrado e “ alimentado”
espiritualmente.
João Aguiar habituou-nos, há muitos anos e muitas obras, a uma escrita
rara pelo cuidado em excluir o
exibicionismo palavroso. Prefere e usa o despojamento de palavras supérfluas.
Os seus trabalhos são verdadeiras obras primas da mística contemporânea. Usa de
factos observados - é um excelente observador!
– que a Natureza e a vida lhe passam pelos olhos e que não deixa escapar.
Basta, neste livro, olhar para a capa… os pardais pousados nos fios da
electricidade lhe inspiraram o título -
COCHICHOS – como parecem que é “ virtude” de pardais quando juntos: saber
cochichar! Por isso, disse mais acima que João Aguiar é um ecomístico,
neologismo que lhe assenta como uma luva, pois parte da vida da natureza para
nos convidar a olhar mais alto e mais além. Do outro, que pode ser um simples
pássaro, um ninho com passarinhos esfomeados aguardando a comida que os pais
lhes hão-de trazer ou uma pedra do caminho , João Aguiar convoca-nos para olhar
para o “ totalmente Outro”. De outro em outro para o Outro, um percurso que nem
todos sabem fazer nem olhar!
Como
já referi, comecei a ler COCHICHOS e não o vou acabar tão cedo. Exige “
ruminação”, mas já li alguns “ pedaços” desta prosa “ nutritiva para a alma”.
Vou transcrever uma ( 159) que me tocou
particularmente e me fez bater o “ mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa” pelo
meu mau agir quando o comparei com João Aguiar neste trecho em que deveríamos
ter a mesma idade :
« “
Vamos aos ninhos?” – perguntávamos aos colegas de brincadeira, no dia de
descano da bola.
Confesso que não era nada que me atraísse muito: temia que
algum descuido partisse os ovinhos, os passarinhos ainda carecas se
assustassem, seus pais fugissem desconfiados e os abandonassem...». Já em
menino e moço era um ser sensível! Eu não reagia assim! Só não contava os ovos
pois tinha-me sido dito, que isso não era bom e os passarinhos não nasciam se
eu os contasse! … E ia aos ninhos!
João Aguiar via a transcendência nos «bicos
em triângulo amarelo a abrirem-se de fome e os pios chorados.
Leio, por isso, sempre com renovada ternura,
a referência de Jesus ao amor de Deus pelos pardais, para explicar o amor que
nos tem…».
Caros Amigos-leitores digam-me se João Aguiar
não foi ( e é) um ecomístico?
Ir
aos ninhos, hoje e para mim, desperta outra “nidovisão” da que tinha em garoto
que adorava “ ir aos ninhos” nas árvores, nas ramadas da vinha ou nos buracos
das paredes! … E se eram de Serezinas!!!
Agora, velho, sei o significado do respeito pelos ninhos e tal respeito
incuto aos meus netos. Comungo do misticismo de João Aguiar face à Natureza
que entendo como útero da vida e não como “ Mãe Natureza”, pois, para mim é
Deus o único autor da Vida!
Obrigado “ mano” João Aguiar por esta pérola preciosa que, em boa e
inspirada obra, produziu e colocou nas nossas mãos. Assim sejamos dignos de a
ler. …E venham outras !
Face aos ecologistas ateus não posso calar que Deus é a única “ Fonte da
Vida” e que a Terra não gera vida, apenas a acolhe. João Aguiar é um cantor de
Deus pela Natureza!
SILERE NON POSSUM
Carlos Aguiar Gomes, Braga, 24 .Fev.23
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