SILERE NON POSSUM
(Não me posso
calar – Sto Agostinho)
“Para destruir um povo é preciso destruir as suas
raízes.” (Alexandre Soljenitsyne)
Carta aos meus
amigos – nº 31
BRAGA , 30
- Março - 2023
+
PAX
JÉRÔME LEJEUNE : Um Homem
para a eternidade !
Muitos dos meus Amigos-leitores conhecem,
tenho a certeza, um dos maiores vultos do século XX na área da Genética: Jérôme
Lejeune que foi um expoente máximo do seu tempo na área que lhe era
particularmente querida.
A Genética e o Amor aos doentes que a ele
recorriam no sofrimento de doenças de origem cromossómica, nomeadamente aos que
sofriam de Trissomia 21, o Professor Lejeune
marcou-lhes indelevelmente a sua existência. Todos, colegas de trabalho,
alunos ou doentes que tiveram o privilégio de com ele conviver foram marcados
por esse amor aos doentes e à Ciência que sempre colocou ao serviço dos mesmos.
Jérôme Lejeune, o Professor Lejeune como era
conhecido em todo o mundo da Ciência, foi um génio. A ele se deve a descoberta
da causa da Trissomia 21. A primeira vez que o mundo da citogenética verificou
que os doentes, até aí chamados de mongoloides, eram portadores de um erro
cromossómico no par 21 que tinha um cromossoma a mais no par cromossómico
autossómico 21. A partir desta grande descoberta feita por Lejeune, o mundo da
Genética humana nunca mais seria o mesmo, para o bem e para o mal.
A grande preocupação do Prof. Lejeune foi
sempre durante toda a sua vida de grande investigador e de médico era a de encontrar
a cura dos portadores desta trissomia. Lutou por todo o mundo, sempre nesta
perspectiva: curar os doentes. Ficou muito perturbado quando constatou que a
sua descoberta tinha aberto ainda mais as portas ao aborto, que elimina o
doente, matando-o.
Este gigante da Genética
tornou-se uma referência mundial. Recebeu imensos prémios, convidado para inúmeras Academias de
Ciências desde a Academia Pontifícia de
Ciências passando pela Academia Real da Suécia, entre outras, e foi convidado a
fazer conferências nas mais prestigiadas Universidades do mundo. Dos Estados
Unidos da América à extinta URSS. Do Japão à Nova Zelândia. Da Austrália ao
Japão ou Uruguai. Lejeune era estimado pelos maiores cientistas do seu tempo e
ocupou, em França, as mais altas funções a nível científico e recebeu de vários
países as mais altas distinções. A Santa Sé incumbiu-o de múltiplas missões
científicas e diplomáticas.
No ANO INTERNACIONAL DA
FAMÍLIA, 1994, no dia de Páscoa, 3 de Abril, entregou a sua alma ao Criador,
vítima de um cancro dos pulmões.
Jérôme Lejeune nasceu em
13 de Junho ( gosto imenso da
coincidência de eu ter nascido num dia 13 de Junho!) de 1926 perto de Paris. E
foi nesta cidade que sempre viveu , estudou e investigou. Foi na “cidade luz”
que este grande Mestre da Genética descobriu e explicou, como já referi, a
causa da Trissomia 21 a que muitos dos seus colegas quiseram que se passasse a
chamar de síndrome Lejeune, o que sempre recusou.
Em 1957 foi nomeado
perito da ONU para os efeitos das
radiações atómicas e neste âmbito deve destacar-se a missão diplomática de que
foi incumbido pela Santa Sé, em 1981, para ir a Moscovo sensibilizar os mais
altos dirigentes da URSS para os perigos de uma guerra atómica. Nesta
importantíssima missão teve um encontro particular com o Secretário do Partido
Comunista da URSS, Lenidas Brejenev.
Na sua extensa biografia
destaca-se o ter sido o primeiro Professor da primeira Cadeira de Genética
Fundamental da Faculdade de Medicina de Paris e de em 1965 se ter tornado Chefe
da Unidade de Citogenética do Hospital Necker “ Enfants Malades”.
Lejeune,
em toda na sua vida de cientista, nunca recuou face ao «politicamente
correcto». Foi sempre ele mesmo: um cientista católico e um católico cientista.
E por causa desta opção coerente de vida, em defesa incondicional da VIDA
HUMANA, perdeu um Nobel que lhe iria ser
atribuído pela sua grande descoberta na área da Genética. Por isso, um dos seus
mais ilustre admiradores, S. João Paulo II, Magno, o encarregou em 1993 de
trabalhar nos estatutos da Academia Pontifícia para a Vida e o nomeou seu
primeiro presidente ( Fevereiro de 1994, poucos meses antes de morrer) e numa
das visitas que João Paulo II Magno fez a França, fez questão de, ao arrepio do
protocolo, ir rezar junto do túmulo do « seu amigo, Jérôme Lejeune» como a este
cientista se referia sempre.
Em 2019, Aude Dugast, publicou
uma sua notável biografia. O livro de Aude Dugast é « uma bela homenagem a Jérôme Lejeune e esclarece também o que,
hoje, se joga no domínio da bioética, cujas raízes são bem mais antigas.»
A autora da citada recensão (
Adélaide Pouchol, 6 de Maio de 2019) diz, e muito bem, que este é um livro a
colocar em todas as mãos». Lamento que este magnífico livro ainda não tenha
sido traduzido para a nossa língua.
Lejeune marca um período
difícil da nossa época. É uma referência para todos os lutam por uma cultura da
vida contra uma cultura dominante da morte
O livro que referi , da Editora ARTÈGE ( Paris), foi publicado em 1 de
Abril de 2019. A Editora, a propósito desta figura ímpar do mundo Ciência
refere : «Pioneiro da Genética moderna,
encantado pela beleza de cada vida humana, o Professor Lejeune marcou a
história assumindo a defesa dos sem voz. Seguindo a sua consciência de médico
fiel ao juramento de Hipócrates e de cristão fiel ao seu baptismo, mostrou com
brio como a Ciência e a Fé se engrandecem mutuamente. A sua história é a de um
homem que permaneceu livre apesar dos honras recebidas no mundo inteiro depois
dos ataques violentos de que foi objecto».
O Papa Francisco, em 21 de
Janeiro de 2021, declarou Venerável este extraordinário médico e cientista de
renome internacional.
Neste nosso tempo, que perdeu a
memória dos grandes Homens, que devem ser referência para todos nós, é bom recordar a figura ímpar
deste Médico e Citogeneticista , Jérôme Lejeune.
Dia 3 de Abril, data do seu
falecimento, e sempre, deveríamos ter bem presente a estatura científica e
moral deste vulto para o ver,
brevemente, nos altares e, sobretudo, tê-lo sempre bem presente no nosso agir
quotidiano como modelo de coerência de vida.
Talvez a maior homenagem que foi
prestada até hoje ao Professor Lejeune, foi-o por um dos seus doentes, no dia
do funeral, a 6 de Abril de 1994, na Catedral de Notre Dame por Bruno, um jovem
com trissomia 21 e que tinha sido
acompanhado por Lejeune , que a meio das solenes exéquias presididas pela
Cardeal Lustiger, Cardeal Arcebispo de Paris. Bruno, no silêncio orante de uma
Catedral cheia de personalidades ilustres do meio político , religioso ,
académico e de uma imensa mole de cristãos e simples admiradores de Lejeune.
Bruno grito em alta voz, no meio daquela multidão :
« Obrigado meu Prof. Lejeune por tudo o que
fizeste pelo meu pai e pela minha mãe. A tua morte curou-me. Graças a ti tenho
orgulho em mim» !
Carlos Aguiar Gomes
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