terça-feira, 20 de junho de 2023

Uma guerra esquecida

           Uma guerra esquecida

“Há imensa gente na fronteira”, descreve a Irmã Beta Almendra, uma

comboniana na Diocese de Wau, Sudão do Sul. A Igreja deste país está a

preparar o acolhimento dos milhares de refugiados vindos do vizinho

Sudão, vítimas da guerra que começou a 15 de Abril, há apenas dois

meses, mas que parece já estar a ser esquecida.

Desde 15 de Abril que o Sudão está tomado por um conflito armado, extremamente

violento, entre as forças de dois militares rivais, o general Abdel Fattah al-Burhan, líder

das Forças Armadas, e o general Mohamed Hamdan Dagalo, que comanda as Forças de

Apoio Rápido (RDF). Desde que os primeiros combates eclodiram na capital, Cartum, já

morreram mais de 1.800 pessoas e há mais de dois milhões de deslocados e

refugiados. A situação é crítica no plano humanitário. Até ao momento, a esmagadora

maioria dos refugiados tem procurado abrigo nos países da região, Egipto, Chade,

Etiópia e, claro, Sudão do Sul. É neste contexto que a Igreja do Sudão do Sul [país que

ganhou a sua independência precisamente do Sudão em 2011] está a preparar o

acolhimento de todos os que fogem da guerra e pedem socorro. A Diocese de Wau,

onde está a Ir. Beta Almendra, está a mobilizar-se para o acolhimento de milhares de

pessoas traumatizadas pela violência e por uma caminhada longa e perigosa. “Nas

fronteiras há imensa gente, mas, claro, caminham a pé e pelo caminho há muitos

perigos.” Segundo relatos que chegaram à missão comboniana em Wau, muitos dos

refugiados que fogem da guerra “estão a ser assaltados”. “As pessoas já não vêm sem

nada, mas mesmo com esse nada ainda estão a ser roubadas… Está a ser uma viagem

muito difícil, com muitos, muitos problemas”, explica a religiosa portuguesa em

mensagem enviada para Lisboa, para a Fundação AIS.

“Todos têm família em Cartum…”

Para apoiar os refugiados que chegam do Sudão, a Diocese de Wau está a mobilizar-se

intensamente. O próprio Bispo, D. Matthew Adam Gbitiku, escreveu uma carta a todos

os sacerdotes e religiosas, a todas as congregações existentes localmente para se

mobilizarem para esta iniciativa. “O Bispo – tenho aqui na minha mão a carta que ele

escreveu, diz a Ir. Beta Almendra – pediu para que nós possamos ajudar os nossos

irmãos de Cartum. Pediu a todos, padres, religiosas, e aos leigos. E realmente a

mensagem é solidariedade com as pessoas de Cartum [a capital do Sudão]. Para fazer

isto, vamos organizar três ofertórios consecutivos nas Missas. Todos os fiéis leigos são

convidados a contribuir para que depois possamos mandar esse dinheiro, para ajudar

realmente as pessoas, os que ficam, os que estão e os que têm de vir embora.” Há

entre a população um sentido de enorme proximidade para com o Sudão. Não só pelos

laços históricos, mas também familiares. A Irmã Beta sublinha esse aspecto. “Todos


têm família em Cartum”, explica. A Fundação AIS tem vindo a acompanhar a evolução

dos acontecimentos no Sudão, procurando manter contacto com responsáveis da

Igreja neste país. As informações disponíveis apontam para um agravamento da crise

humanitária, com campos de deslocados e de refugiados completamente cheios e as

cidades cada vez com menos pessoas. Os mercados estão vazios, os alimentos são

escassos, falta água potável e o combustível rareia. Algumas igrejas foram também

atingidas durante os combates, tal como edifícios públicos, incluindo hospitais. Neste

cenário de caos, que se tem vindo a agravar de dia para dia, a Igreja está mobilizada

para o acolhimento dos que estão em fuga. Em Wau, no Sudão do Sul, a Irmã Beta

Almendra é um dos rostos dessa Igreja de mangas arregaçadas preparada para ajudar

os que chegam do outro lado da fronteira. “Vamos continuar a rezar por eles, e no

fundo, queremos ajudá-los e, enquanto congregações religiosas, vamos fazer o nosso

melhor para poder acolher os nossos irmãos no Sudão e em Cartum. Deus vos

abençoe”, diz a religiosa na mensagem enviada para a Fundação AIS.

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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