segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Ataque a paróquia termina de forma dramática com seminarista queimado vivo

 Ataque a paróquia termina de forma dramática com seminarista queimado vivo

NIGÉRIA:

Ataque a paróquia termina de forma dramática com seminarista queimado vivo

 

Lisboa, 11 de Setembro de 2023 | PA

 

A Igreja Católica na Nigéria está a ser alvo de constantes ataques e agressões. Na passada quinta-feira, dia 7, um seminarista foi “devorado pelas chamas” em consequência de um ataque a uma paróquia na Diocese de Kafanchan. No mesmo dia, na Diocese de Kaduna, outro seminarista foi raptado… O funeral de Na’aman Ngofe Danlami vai realizar-se amanhã, terça-feira, dia 12.

 

“Tudo o que desejavas era ser sacerdote…” Na página oficial da Diocese de Kafanchan é prestada uma homenagem a Na’aman Ngofe Danlami, um jovem seminarista de 27 anos, a mais recente vítima da violência contra a Igreja Católica na Nigéria. Na’aman foi queimado até à morte na noite de quinta-feira, 7 de Setembro, cerca das 20 horas, quando bandidos Fulani atacaram e incendiaram a reitoria da paróquia de São Rafael, na diocese de Kafanchan, no Estado de Kaduna.

 

De acordo com informações enviadas por várias fontes à Fundação AIS – e confirmadas pelo bispo de Kafanchan, D. Julius Kundi – o ataque poderia ter tido consequências ainda mais dramáticas se o padre Emmanuel Okolo e um sacerdote seu assistente, que também se encontravam no local, não tivessem conseguido escapar a tempo ao fogo que tomou o edifício por completo.

 

“DEVORADO PELAS CHAMAS”

 

Em declarações ao telefone para a Fundação AIS, o prelado referiu que o ataque tinha como objectivo o rapto do padre Emmanuel Okolo. “Quando falharam a tentativa de entrar na casa do padre, deitaram-lhe fogo. Os dois sacerdotes conseguiram escapar, mas, terrivelmente, o seminarista foi devorado pelas chamas…”

 

O Bispo referiu ainda que, apesar de haver um posto do exército nas imediações da paróquia, não apareceu qualquer efectivo das forças de segurança durante o ataque. “O assalto durou mais de uma hora, mas não houve qualquer reacção ou apoio por parte das forças militares. Há um posto de controlo a um quilómetro de distância, mas houve uma total falta de reacção. Os cidadãos nigerianos estão desprotegidos. Quase não beneficiamos das forças de segurança”, explicou o bispo.

 

PERDA TERRÍVEL PARA A DIOCESE

 

“É uma perda terrível”, disse ainda o Bispo à Fundação AIS. “Este seminarista é o segundo membro que perdemos na diocese devido a ataques terroristas por bandidos Fulani”, acrescentou o prelado. “No ano passado, o Padre John Mark Cheitnum, Director das Comunicações da diocese de Kafanchan, foi também raptado e brutalmente assassinado”, recordou o prelado.

 

Sinal da ameaça generalizada em que se encontra a Igreja na Nigéria, na quinta-feira, dia 7, ou seja, no mesmo dia do ataque brutal em que perdeu a vida Na’aman Ngofe, ocorreu, em Kaduna, o rapto de outro seminarista. Trata-se de Ezekiel Nuhu, pertencente à Diocese de Abuja e que foi sequestrado juntamente com o seu pai, com quem estava a passar férias.

 

FUNERAL AMANHÃ, DIA 12

 

Logo após o ataque, o corpo de Na’aman Danlami foi recolhido e levado para a casa mortuária. As cerimónias fúnebres do seminarista decorrem entre hoje e amanhã, estando o enterro previsto para as 10 horas –11 horas em Portugal Continental –, na paróquia de São Rafael. Na página oficial da Diocese, no Facebook, o jovem seminarista é lembrado como “um herói” que “morreu ao serviço” da Igreja.

A Fundação AIS lamenta mais este ataque, que se insere numa longa lista de violência contra a Igreja Católica na Nigéria, e pede orações a todos os seus benfeitores e amigos pelo repouso de Na’aman, pela sua família e comunidade religiosa, assim como pela segurança e rápida libertação de Ezekiel Nuhu e de seu pai.

 

PAÍS PERIGOSO PARA O CLERO

 

Recorde-se que um incidente muito semelhante a este que vitimou o seminarista de Kafanchan aconteceu em 15 de Janeiro de 2022, quando o padre Isaac Achi morreu, também queimado, num ataque à sua reitoria. O seu assistente, o Padre Colins Omeh, sofreu então ferimentos de bala.

 

Nos últimos anos a Nigéria tem sido um país particularmente perigoso para o clero católico. Em 2022, quatro padres foram mortos neste país e 28 foram raptados. No corrente ano, o número de clérigos raptados ascende já a catorze. Ainda em 24 de Agosto foram libertados, após 21 dias de sequestro, o padre Paul Saanogo e o seminarista Melchior Dominick. Esse rapto ocorreu após um ataque à paróquia de São Lucas Gyedna, na Diocese de Minna.

 

“QUEREM APAGAR A PRESENÇA CRISTÔ

 

A violência contra os cristãos na Nigéria tem sido activamente denunciada pela Fundação AIS. Ainda no passado mês de Junho, na sessão de lançamento em Portugal do Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, publicado pela Ajuda à Igreja que Sofre, e que decorreu na Assembleia da República, em Lisboa, o padre Bernard Adukwu, um sacerdote nigeriano a residir no nosso país há quase uma década, denunciou que “querem apagar a presença cristã” no seu país.

 

O sacerdote espiritano, oriundo da Diocese de Idah, apresentou na ocasião um breve mas emotivo testemunho sobre a situação dramática que se vive na Nigéria, em especial no norte e “sobretudo em Kaduna”, a região “onde os cristãos são mais perseguidos”. E referiu três casos para explicar por que não se pode falar em liberdade religiosa no país onde nasceu há 38 anos.

 

A 19 de Julho de 2022, duas igrejas foram atacadas e três pessoas morreram. Várias foram raptadas. Podemos falar em liberdade religiosa? A 17 de Abril de 2022, terroristas atacaram uma comunidade cristã no sul de Kaduna. 33 pessoas morreram e 40 casas foram queimadas. Podemos falar em liberdade religiosa? A 7 de Maio de 2023, raptaram 25 pessoas durante uma celebração e mataram uma. Podemos falar em liberdade religiosa?”

 

Apesar deste cenário sombrio, a curta intervenção deste sacerdote espiritano, que é actualmente capelão dos africanos no Patriarcado de Lisboa, terminou com uma nota de esperança pelo exemplo de coragem dos cristãos do seu país. É que, “no meio das perseguições, a fé está viva e aos domingos as igrejas estão cheias” explicou.

 

 

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