quinta-feira, 5 de outubro de 2023

SILERE 58

 

« Europa – o que é isso afinal? ( …). A Europa não é nenhum continente geograficamente evidente, mas trata-se de um conceito cultural e histórico.» ( Cardeal Ratzinger, Porto,5.III.2001)      

 

 

      SILERE NON POSSUM

            (Não me posso calar – Sto Agostinho)

             Para destruir um povo é preciso destruir as suas raízes.” (Alexandre Soljenitsyne)

 

                    

 

 

 

                    Carta aos meus amigos – nº 58         

                             

                             BRAGA , 5 -  OUTUBRO - 2023

 

 

 

 +

PAX

 

   A frase que dá o mote a esta minha Carta, do então Cardeal Joseph Ratzinger, é o início da magnífica conferência, verdadeira aula magistral – que proferiu na UCP – Porto, em 5 de Março de 2001 e em que discorreu sobre o nosso decadente continente

   Sim, a Europa , com rigor geográfico, tem limites muito “ dilatados” e “ sombreados”. É difícil limitá-la o que já foi feito. Dou um exemplo: as Canárias já deveriam ser África ou, se se quiser, as nossas ilhas atlânticas Flores e Corvo estão assentes na Placa Tectónica americana! Resta-nos a Cultura e a História como disse Joseph Ratzinger para encontrarmos uma identidade próxima que , apesar de tudo, se diferencia muito nas várias realidades espirituais e antropológicas. Há, evidentemente , características idênticas, hoje verdadeiramente alarmantes:

1.      Uma taxa de natalidade assustadoramente baixa e que impede a substituição de gerações;

2.      Um envelhecimento galopante  de todos os povos europeus;

3.      Uma aceleradíssima quebra da implantação do cristianismo outrora presente massivamente em todos os países. Na Suécia, por exemplo, outrora Luterana ( quem nascesse neste país era automaticamente luterano em vigor até 1995) tem hoje a prática dominical reduzida a 1% da população ou o Reino Unido que recentemente já foi classificado como um país não cristão, apesar do seu Chefe de Estado, o Rei, ser o Chefe da Igreja Anglicana desde Henrique VIII;

4.      Abandono dos templos cristãos, de todas as tradições, vendidos para mesquitas ou outros fins como supermercados se não demolidos;

5.      Um aumento frenético da presença muçulmana: praticantes em número galopante, presença de inúmeras e enormes mesquitas , aplicação da Sharia sem peias e contrariando a legislação dos diversos países ou de mercados “ halal” por todo o lado;

6.      Implantação de uma cultura da morte apoiada e incentivada pelos poderes políticos: Aborto livre e gratuito, incluindo o aborto genético copiando a Ideologia Nazi; generalização de leis pró-eutanásia ou a “ comercialização” mais ou menos livre, mas tolerada, do mercado da Procriação Humana ;

7.      Aumento da intolerância persecutória para com os cidadãos que não defendam e usem a Ideologia do Género e o Wokismo, fazendo lembrar os tempos da Inquisição ou do Nazismo e Comunismo;

8.       Apagamento forçado da memória de cada Nação com vista a uma sociedade Global regida pela Agenda 2030;

9.       Promoção da Ecologia não como uma Ciência mas como Ideologia imposta pelos políticos e media;

10.  Aumento do fanatismo , tipo religioso, da Ecologia;

11.  Indiferentismo religioso e declínio brutal do número dos cristãos ( todas as tradições) e da sua influência na sociedade;

12.  Implantação despudorada do medo entre as populações europeias quanto às “ Alterações Climáticas” ignorando, quase sempre, os conhecimentos científicos da Geologia ou da Geografia Física.

Poderia aumentar esta minha lista, que fica em aberto, para desabafar com os meus Amigos-leitores, quanto à decomposição acelerada da Europa e que se está a apagar em colapso cultural e espiritual, fazendo tudo para apagar as suas raízes, o que fizeram do nosso continente um espaço cultural e história com alguns atributos comuns. E estou preocupado. Muito.

   «  Europa – o que é isso afinal ? » como disse o grande Ratzinger, no Porto, há já quase um quarto de século . Nos 10 pontos que referi acima, estão os pontos comuns à  Europa actual e que a descaraterizaram e lhe roubaram a sua identidade.

Que podemos, posso, fazer? Pelo menos não me calar !

 

SILERE NON POSSUM !

Carlos Aguiar Gomes

 

P.S.

 

 (L’effet Streisand désigne un phénomène médiatique involontaire. Il se produit lorsqu’en voulant empêcher la divulgation d’une information que certains aimeraient cacher, le résultat inverse survient, à savoir que le fait caché devient notoire.)

Um leitor, sacerdote, insurgiu-se contra a minha última Carta por analisar a realidade e incongruência sobre a Tradição e Depósito da Fé, de alguns sectores da Igreja neste tempo de grandes e abertas fracturas. Sentiu esse leitor, que eu estaria a contestar o Papa actual e que, por isso, estava a prestar um mau serviço à Igreja. Pergunto, e se fosse isso, quem me poderá impedir se aprendi com estes defensores encarniçados de Francisco os mesmos que a desobedecem ( desobedeceram) ou atacaram ou continuam a atacar Paulo VI quando, por exemplo, publicou a Encíclica HUMANAE VITAE ou a FAMILIARIS CONSORTIO de S. João Paulo II ou todo o papado de Bento XVI com um ódio (repito: ódio) inimaginável (nunca imaginei que tantos sectores da Igreja , Cardeais, Bispos, Religiosos e Leigos, se levantassem despudoradamente contra os ensinamentos de Bento XVI, desrespeitando tudo o que Ele escrevia ou pedia! Lembro-me de uma conferência que fiz sobre S. Bento na qual citava uma frase sobre este Padroeiro da Europa do Papa e de no final, um Padre ter vindo felicitar-me, assim considerava ele,  pela elevada qualidade da minha conferência e lamentar profundamente que tenha citado Bento XVI, numa curtíssima frase!). Criticar o Papa, se é que o fiz, não é um direito que me assiste no campo da minha Liberdade de expressão com cidadão e como católico , apostólico - romano sem pôr em causa o depósito da Fé? Rezo pelo Papa, assim aprendi desde criança com minha Mãe, independentemente de quem é o Sucessor de Pedro. Aprendi, pela vida fora, a respeitar o Papa e aprendi que tenho a obrigação de lhe obedecer e apoiar quando fala “ ex-cathedra” o que tenho feito sempre. Por favor, sejamos justos no tratamento da liberdade e respeitemos os outros quando não leem pela mesma “ cartilha”. Como defendo que não há católicos de primeira ( a não ser os santos?) e católicos de segunda, os que não pensam como eu, assim continuarei. E se achar que este Papa nem sempre usa linguagem límpida e sem ambiguidades ou se preferir falar de uma tal “ conversão ecológica” , ninguém me poderá impedir de achar que não posso concordar e exprimir o meu pensamento, respeitando, porém , quem não pensa assim. E quando digo Papa, aplico o mesmo raciocínio a outros servidores do Evangelho sejam Cardeais ou simples Leigos! Fui claro?

Carlos Aguiar Gomes

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