segunda-feira, 29 de julho de 2024

A referenciação dos Mistérios divinos na cultura popular é uma forma mais ou menos comum de comunicar fortes experiências transversais a toda a humanidade. Por vezes, constituir uma homenagem; por vezes, uma calúnia; por vezes, nenhum dos dois, ficando o seu valor moral sujeito estritamente à intenção do emissor e à perceção do recetor.

 
O exemplo mais universal disto é a "Pietà": um retrato tão humano da angústia que qualquer um fica convencido que, lá no Golgotha, aconteceu tal e qual como Michelangelo representou. E, daí em diante, foi-se de tal modo estabelecendo no nosso pensamento coletivo que se transformou no modelo clássico do sofrimento interior. Qualquer um que tenha visto o Andrew Garfield segurar o corpo inanimado da Emma Stone no final do "Amazing Spiderman 2" compadece o sofrimento insuportável que é exclusivo a quem perde a sua razão de viver. Parece-me um excelente exemplo de um recurso expressivo sem valor moral intrínseco: nem ofende nem exalta, apenas comunica.

Agora, o que comunica a ultima ceia? Estamos diante de um ícone igualmente generalizado, mas cuja mensagem é significativamente menos universal:
É uma imagem das últimas horas de Cristo e a agitação que predomina nos seus amigos e familiares mais próximos. Representa um prenúncio do cumprimento do seu sacrifício – a obra da Cruz realizada na Eucaristia. Ou seja, aqui, a ideia icónica é a transubstanciação: a metamorfose radical e essencial de uma coisa para outra coisa completamente diferente. Entendem o significado? A transubstanciação é o dogma nuclear da Teoria da Autodeterminação de Identidade e do seu derivado popular - o movimento trans - a substância de um sexo a mudar para outro pelo comando e poder de um indivíduo, neste caso, o próprio.

É aqui que surge a indignação: para o cristão, somente Deus ordena todas as substâncias, somente o Criador da natureza tem o poder de alterar o próprio SER dessa mesma natureza. E, no entanto, Ele não exerce esse poder para além da suave transubstanciação do alimento pelo qual escolheu permanecer connosco: primeiro, a multiplicação do pão, depois a transformação do pão em Corpo; primeiro da água em vinho, depois do vinho em Sangue.
Independentemente de a coreografia francesa ter sido baseada na imagem da Última Ceia (como está mais do que evidente), a blasfémia não pode ser contornada pois as imagens icónicas que representa e evoca impedem o contrário. A Última Ceia é própria do Servo de Deus que, no momento de se sacrificar por nós, é traído pelos amigos. É só a Ele, só a Deus-Filho, que pertence o poder da transubstanciação. Por isso é tão grotesca a analogia da Eucaristia com a tentativa de transubstanciação da humanidade.

Desenganemo-nos: a verdadeira blasfémia não está numa coreografia mal amanhada feita à chuva diante de um povo decadente mas sim na apropriação e perversão da frase que mudou a história do universo: "ESTE É O MEU CORPO."

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