sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

… E os Conjurados o que fariam hoje?


Permitam-me que comece esta minha conversa, aqui e agora, no contexto jubiloso e celebrativo, desse dia memorável de 1 de Dezembro de 1640, com um ditado popular africano e por um pensamento de um filósofo grego (Séneca, 4 AC -65 DC), juntando, assim o erudito e o popular, tal como os conjurados de 40 fizeram.

“Se não sabes para onde vais, lembra-te de onde vens”

e

“Não há vento favorável para quem não sabe para onde vai”.

Esta introdução, vai-me ajudar nesta curta conversa convosco, sabendo de onde venho e para onde quero ir, a reflectir brevemente sobre uma questão um tanto ou quanto utópica: “… E os conjurados o que fariam hoje?”.

Vou, pois, pensar alto com cada um de vós, pois quero que a minha presença neste momento, seja um “tête-à-tête” com cada um mais de que uma indiferenciada conversa para todos. Assim, peço-vos que cada um se imagine à mesa de café comigo, num salão sem mais ninguém. Conversa solta guiada pela questão que dá o mote para esta charla.

Primeiro, recordar, tão sintecticamente quanto possível, numa curta frase, o que ocorreu, em Lisboa, naquela radiosa e libertadora manhã dezembrina de 1640.

Portugal estava a tornar-se uma colónia espanhola desde o fatídico ano de 1580. Urgia recobrar a liberdade de podermos seguir o nosso destino, guiado por nós, os portugueses, com uma liderança portuguesa, fiéis à nossa idiossincrasia e aos nossos fundadores, à nossa memória colectiva. Tal estava a tornar-se cada vez mais difícil!

Não tínhamos a liberdade de traçar o nosso caminhar portuguesmente autónomo e autonomamente português.

Não tínhamos uma liderança portuguesa, mas imposta por Madrid, com a presença em Lisboa de um pomposo Vice-Rei, que não era português.

Estávamo-nos a “espanholizar”, deixando a nossa língua em segundo plano. Como dizia Fernando Pessoa, a minha Pátria é a língua portuguesa. E estava a deixar de o ser. Portugal corria aceleradamente para deixar de o ser! Estávamos a “desportugalizarmo-nos “.

E o que fizeram os conjurados? Unidos por um ideal, libertaram Portugal. Devolveram-nos a liberdade de sermos nós a escolher o tipo de estrada que queríamos e tínhamos o direito de escolher, sendo fiéis aos pais da Pátria, ao caminho trilhado desde a fundação, por onde e com quem ir rumar ao futuro. Foi isto, e foi imenso, que fizeram os conjurados. Sabiam de onde vinha e, igualmente, sabiam para onde queriam ir. Ultrapassaram, assim, completando-o, o acima referido provérbio popular africano. Ou, pegando no pensamento de Séneca, os ventos da História eram-lhes favoráveis pois sabiam para e com quem queriam ir. Os nossos conjurados que hoje lembramos, souberam e tiveram a ousadia corajosa de aproveitar o vento que soprava na Espanha porque sabiam por onde queriam ir.

É bom celebrar a memória dos nossos maiores e com eles no coração clamar bem alto: “Ditosa Pátria que tais filhos teve” parafraseando o nosso poeta maior, Camões.

Sim, “Ditosa Pátria que tais filhos teve”!

E esta mesma Pátria, nossa Mátria, tem, hoje, tais ditosos filhos? Ou já não os queremos imitar? Ou, pior, já não queremos, um dia, ser lembrados como tal, encolhidos de medo e prenhes de cobardia?

O dia de amanhã, recordação do glorioso 1º de Dezembro de 1640, merece que me detenha e convide cada um a associar-se a mim para uma das maiores tragédias do mundo dito ocidental: a falta dramática de memória. Cito, a propósito, S. João Paulo II, Magno, na sua Exortação Apostólica “Ecclesia in Europa”, numa curta passagem que já tenho usado inúmeras vezes:

“… quero recordar a crise de memória e herança cristã” … “muitos europeus (dão) a impressão de viver sem substracto espiritual e como herdeiros que delapidaram o património que lhes foi entregue pela história” (nº7). Não é esta afirmação também aplicável ao nosso país? Creio bem que se fizéssemos um inquérito de rua sobre o significado desta data teríamos respostas bem convincentes do que o Santo Padre afirmava no texto que transcrevi.

Há, não tenho a menor dúvida, uma crise profunda da nossa memória. Da nossa memória colectiva e, da nossa memória familiar que não é património de genealogistas nobiliárquicos.

Então, que fariam os conjurados hoje?

Talvez fizessem um esforço hercúleo para refazer a nossa amnésia cultural e histórica que nos corta radicalmente com o passado e torna este um pobre esquecido nas margens da humanidade. Que nos liga uns aos outros, agora, e aos outros de onde precedemos, sem memória? Nada! E sem raízes como podemos viver e sobreviver nesta selva que nos asfixia?

Que fariam os conjurados face a uma perda concomitante da nossa liberdade colectiva como Nação, todos os dias ferida pelos burocratas anónimos de Bruxelas? Estes que determinam quantas toneladas de sardinha podemos pescar como se por cá não houvesse biólogos marinhos altamente especializados, conhecedores e atentos ao comportamento populacional da sardinha? Mas, também, determinam o calibre das maçãs, das peras, das laranjas ou dos tomates, como se entre nós não houvesse agrónomos/fruticultores avalizados. E mandam onde se deve plantar vinha ou olivais como se conhecessem o nosso território sem ser em imagens virtuais. E mandam como educar as novas gerações impondo, por exemplo, como obrigatória a chamada “Teoria do Género” nos curricula escolares, como se os nossos pais fossem meras fábricas, muito pouco produtivas, de resto, de crianças. E mandam quantos imigrantes, muitos de procedência duvidosa e de mapas ideológicos perigosos, temos de receber, como se Portugal fosse uma entidade de mentecaptos incapazes de acolher os que, de facto, merecem e devem ser acolhidos. E mandam que o conceito natural de Família seja desnaturado. Eles, os burocratas de Bruxelas, mandam em tudo, desfigurando a nossa identidade, a troco de uns euros que nos enviam. E nós, silenciosa e cobardemente, calamos estas intromissões despudoradas no nosso quotidiano!

O que fariam os conjurados de 1640 hoje? Hoje neste quadro de perda de liberdade como Nação. De perda da nossa identidade. De obscurecimento deliberado da nossa memória colectiva. De abastardamento da nossa natural tendência para o acolhimento aos necessitados e aos deserdados da fortuna. De uma promoção e imposição furiosa e frenética de negação das nossas raízes cristãs, esquecendo-nos que Portugal nasceu e expandiu-se à sombra tutelar da Fé cristã. Todos sabemos que sempre que arredamos a nossa identidade cristã, soçobramos!

Que fariam os conjurados, hoje?

Creio bem que assisados como eram, e corajosos como bem o demonstraram, olhando esta triste realidade em que mergulhou o nosso país com o nosso silêncio cúmplice, não ficavam impávidos e serenos a assistir a esta triste derrocada do país que não nasceu ontem nem anteontem, mas há oito séculos e que soube sempre erguer-se contra os opressores.

Os conjurados, hoje, e porque não os de hoje, pegavam na sua força anímica e iam à luta. À luta de forma organizada. Livre e libertadora. Bem preparados para a refrega nos media de todo o tipo, sem medo nem vergonha de se assumirem como devem ser todos os que buscam o bem da sua Pátria.

Os conjurados, hoje, estariam no Facebook, no Tweet, no Instagram, nos jornais, nas rádios, nas televisões.

Como escreveu Séneca: “Não há vento favorável para quem não sabe para onde vai”.

Sabemos para onde vamos? Sabemos aproveitar os ventos para a rota que escolhemos? Ou não temos rota nenhuma?

Que porto de abrigo queremos demandar neste vendaval furioso que nos sacode ou como diz a nossa escritora Maria Adelaide Valente: “… numa Europa que soçobra às mãos de ventos desfavoráveis e de inesperadas intempéries.” (in “Pedra a Pedra, pág.65, Braga 2017)? Queremos, na realidade, chegar a algum porto de abrigo?

Deixemos de lado as querelas estéreis que nos impedem de nos mantermos unidos nesta tormenta em que estamos metidos ou nos meteram!

Os conjurados, hoje, deparavam-se com uma falta de liberdade gritante na nossa Pátria e de que os cidadãos não se dão conta. Como disse S. João Paulo II, Magno, no documento acima citado: “A cultura europeia dá a impressão de uma «apostasia silenciosa» por parte do homem saciado, que vive como se Deus não existisse” (nº 8), onde minorias activas e convictas ditam as normas cerceadoras da liberdade individual e colectiva e demolidoras da nossa mais profunda e rica identidade. Temos chamado a este “modus vivendi” de “politicamente correcto” e ai de quem ouse remar contra a corrente imposta! Tem-nos falhado a coragem de nos sabermos levantar e exigir que sejamos ouvidos e respeitados. Acomodamo-nos.

Os conjurados, hoje, deparavam-se com uma cultura dominante que é promotora de uma verdadeira e agressiva “cultura de morte” no dizer bem feliz do mesmo Papa.

Os conjurados, hoje, deparavam-se com uma economia selvagem, esclavagista, e para quem a Pessoa Humana nada ou muito pouco conta, tendo-a transformado numa mera máquina produtiva e de que se descarta facilmente como uma velharia inútil.

Os conjurados, hoje, deparavam-se com um ataque cerrado e feroz ao grande princípio da subsidiariedade que fez parte da nossa tradição até ao século XVIII e que tinha o municipalismo como base e este se alicerçava nas famílias.

Os conjurados, hoje, deparavam-se com uma guerra aberta contra os três grandes princípios não negociáveis em que uma sociedade livre e justa, baseada no chamado “direito natural” assenta, a saber:

1º - o princípio de que toda a vida humana, desde a concepção até à morte natural, é sagrada e inviolável;
2º - o princípio inscrito na natureza humana de qualquer cultura ou tempo, de que a sociedade humana tem por base a Família que nasce da união estável entre homem e mulher;
3º - princípio de que é aos pais, em primeiro lugar, que reside o direito de educar os seus filhos de acordo com os seus valores matriciais e de que o papel do Estado deverá só e simplesmente ser o de ser o facilitador deste direito.

Os conjurados, hoje, deparavam-se com uma situação demográfica catastrófica, fruto de uma feroz e sistemática campanha anti-natalista e abortiva que faz perigar a curto prazo a nossa existência como país (uma das baixas taxas de natalidade do mundo, um decréscimo populacional em queda livre, uma longevidade cada vez maior sem as necessárias respostas sociais, etc.).

Os conjurados, hoje deparavam-se com uma chefia do Estado que é centrada na mentira de que se escolhe o melhor cidadão e de todos podemos aspirar a sê-lo.

Sendo a comunidade humana organizada na base por famílias e não por indivíduos que nascem e crescem na Família, o regime vigente não reconhece essa evidência e ilude-nos de que a chefia actual do Estado é a melhor forma de representar essa mesma comunidade e não numa família que encarna o passado do nosso país, de todas as famílias, em que assenta Portugal desde a sua fundação e desde sempre.

Os conjurados, hoje, deparavam-se com a urgência de encetar um processo libertador eminentemente cultural. Como todos já se deram conta, o mundo da cultura é dominado por forças de ditadura amoral e demolidoras da nossa identidade. Quem não seguir as suas normas de conduta, não cumprir os seus parâmetros normativos, é apelidado de fundamentalista, obscurantista, sexista, discriminatório e de outros epítetos infamantes.

Que fariam, hoje os conjurados? O que é que nos compete fazer hoje a todos e a cada um de nós que nos orgulhamos do feito glorioso de 1640?

O tempo urge para dar vida ao exemplo dos conjurados que estamos a celebrar!

O tempo urge para uma acção concertada, fundamentada, firme e constante por forma a desmascarar os intrusos que invadiram as nossas ruas, praças, aldeias, escolas e media tornando irreconhecível o nosso país que eles vão moldando a seu gosto.

O tempo urge para nos centrarmos no essencial, os valores que nos construíram como País, nossa Pátria e nossa Mátria, terra dos nossos antepassados e nossa Mãe, e tal como os conjurados, que não eram muitos (seriam 40), rumar com denodo e coragem face ao futuro tendo como espada aqueles valores que nos fizeram. É este, creio, que seria o que os conjurados fariam hoje. Pelo menos, é a minha leitura do seu exemplo de 1640, homem do século XXI.

A libertação do nosso país exige novos conjurados que nos libertem de todas as formas de uma pseudo-cultura que renega as suas origens e nos impõe paradigmas demolidores da nossa identidade cristã e portuguesa.

Que a Senhora da Conceição, nossa Rainha, nos dê a coragem para enfrentarmos esta situação social, cultural e espiritual demolidora da nossa identidade de povo cristão e português. Não somos uns pobres saudosistas! Não! Temos Portugal no coração., não nos envergonhamos das suas raízes. Queremos um Portugal mais livre, justo, solidário e fraternamente familiar. Seriam, sem dúvida, estes os grandes princípios que hoje norteariam os conjurados. Temos de ser capazes de os imitar. Já! Olhando para o passado, não sejamos, de todo, uns passadistas, mas projectemos o nosso pensar e agir, hoje, para um futuro que há-de ser de liberdade! Deixemos de ser reactivos. Passemos a cidadãos pró-activos com raízes porque sem elas, tal como as nossas árvores, morreremos ingloriamente.

Viva Portugal!

Obrigado pela vossa atenção!

Carlos Aguiar Gomes
Português e cristão

Braga, 30 de Novembro de 2017, na véspera do 377º aniversário do 1º de Dezembro de 1640

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