quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

A aposta beneditina

Reflectindo sobre esta pobre realidade que nos cerca, o meu desalento é muito grande.

Sinto que os valores em que fui criado, em que procurei e me esforcei por viver, colapsaram. Não preciso de “Bola de cristal”, “deitar cartas” ou procurar leituras e interpretações mais ou menos esotéricas. Basta olhar à nossa volta. Ver o que se passa à nossa porta. Ver um telejornal. Observar o comportamento das chamadas, erradamente, elites políticas, económicas e até religiosas, geram em mim um sentimento de derrotado, vencido da vida e de oprimido. Invade-me uma muito forte desilusão.

Porém…

Porém, meditando um pouco na história de S. Bento de Núrsia, do seu tempo igual ao nosso, da espiritualidade que viveu e nos legou, ganho força, mesmo que me sinta uma espécie de Dom Quixote lutando contra moinhos de vento. Mas este Homem (Não é por acaso que S. Gregório Magno começa a sua biografia de S. Bento com uma frase muito sintomática: FUIT VIR… Houve um varão… referindo-se ao biografado, S. Bento), passados quase 1500 anos da sua morte, dá-me alento.

Quem me conhece, sabe que defendo tenaz e convictamente que recristianização da Europa (de todo o Ocidente) tem de seguir o modelo beneditino, de pequenas comunidades que saberão unir a Oração à Acção. Comunidades irradiantes como foram os mosteiros beneditinos, no silêncio operativo.

Se S. Bento escreveu a Regra para monges e eu não o sou nem a maioria dos cristãos que ainda restam, aquela poderá e deverá aplicar-se a leigos. Não foi por acaso que publiquei no Boletim da Basílica de S. Bento da Porta Aberta 30 artigos, durante 30 meses, a que chamei “Passadas com S. Bento”, nos quais, a partir da Regra procurei indicar aplicações ao meu e nosso quotidiano de leigos. Por isso, foi com uma certa satisfação espiritual e a sensação de que não sou um excêntrico isolado, que tomei conhecimento do recente lançamento, em França, de um livro, cujo autor é um conhecido jornalista americano, Rod Dreher, e que se chama: «Comment être chrétien dans un monde qui ne l`est plus – le pari bénédictin» (Ed. Artège, Paris, 2017), livro que já encomendei e de que, ansiosamente aguardo a sua chegada.

O autor, em recente entrevista, entre coisas extremamente importantes, disse: «A aposta beneditina é uma estratégia para viver a sua fé cristã num mundo que já não o é e cada vez mais lhe é mais hostil. Os cristãos, para mim, devem mostrar-se muito mais firmes face à modernidade do que o que têm feito até agora. Durante muito tempo atarefou-se a acomodar-se à vida moderna, tomando para si, nomeadamente, o igualitarismo e o individualismo. É um desastre, não somente para si, mas também para o Ocidente, que vive espiritualmente hoje o que Roma conheceu aquando da sua queda. Convido os cristãos desejosos de sobreviver a tornarem-se versões leigas dos monges beneditinos, que se estabeleceram no meio das ruínas do Império romano. Não somos chamados à vida monástica, mas a Regra de S. Bento contém numerosas lições e práticas adaptáveis à vida de leigos e úteis para fazer frente aos desafios, mesmo de perseguições modernas…».

Perante o desastre, quereremos continuar a só nos importarmos com “pão e circo” e de umas Missas, Eucaristias(!), “lindas”, muito animadas?

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Carlos Aguiar Gomes
(O autor não escreve de acordo com o chamado AO)

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