segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

A Igreja: TENDA E CAMPANHA




“O lugar da luz é o candelabro… O fermento deve misturar-se na massa… A verdade deve ser agitada dos telhados… (…). A virtude perdeu a força, moída pela varinha mágica do relativismo” (João Aguiar Campos, in “Transparências”, pág.85)


Várias vezes, e muito oportunamente, o Papa Francisco, tem chamado a atenção, naquele seu jeito, de que a Igreja, todos os baptizados, devem assumir-se como cuidadores de uma “Tenda de campanha”, num mundo dividido e em que há inúmeros feridos e moribundos nesta sociedade do “descartável”. Muitos destes feridos estão de tal modo feridos que já nem se apercebem das feridas que os atingem nem se apercebem das causas das suas chagas. Uns mais e outros menos. Mas todos feridos ainda que o orgulho e a vanglória nos iludam e se nos afiguremos incólumes e não a precisarmos de conversão permanente, de curar permanentemente as nossas feridas.

Razão tinha S. João Paulo II, quando escreveu na Sua primeira Encíclica “Redemptoris hominis” que “o caminho da Igreja é o Homem”. O Homem todo e todos os homens. E o Homem ferido deve merecer toda a nossa solicitude e atenção activa e não atenção especulativa.

Indo um pouco mais atrás, à Constituição conciliar “Gaudium et spes”, logo a primeira frase nos remete para esta urgência de estarmos activamente interventivos face ao mundo. E, particularmente, ao mundo dos sofredores. Todos os sofrimentos.

Para lá das fomes, das guerras e das injustiças de uma sociedade decadente e híper-individualista, egoísta, egolátrica, exploradora, ladra ou adicta, há outros sofrimentos, outras feridas dolorosas, como o estraçalhamento da Família, demolida e desfigurada, proposta como modelo “societal” inelutável. É assim, dizem-nos. E, por ser “assim”, somos, para ser “politicamente correctos”, complacentes, somos coagidos a arrecadar, escondendo-os bem, os valores estruturantes da nossa identidade. Mais grave: as grandes instituições de referência, dividem-se: uns sectores com tendências para irem na onda da contemporização, esquecendo os seus princípios fundamentais, enchem-se de “misericórdia” para uns feridos mas de segregação e negação para outros feridos. Outros, os grandes discriminados e insultados, são escorraçados da “tenda”, estes não raras vezes, também, segregadores. Será que a “tenda de campanha” só é para alguns iluminados?

Quando um ferido chega à “tenda de campanha” não se olha, ou não se deve olhar, a quem é. Não se lhe pergunta qual a sua orientação política ou sensibilidade religiosa. Trata-se. Mas trata-se cada ferido de acordo com a gravidade e amplitude dos seus ferimentos. Acompanha-se cada um. Aconselha-se. Dão-se recomendações para continuar a curar-se e para evitar voltar a ter os ferimentos que o levaram à “tenda de campanha”. Avisam-se do modo como devem evitar voltar a serem feridos. Diz-se-lhes que devem continuar o seu tratamento e como o devem fazer. O objectivo dos cuidadores da “tenda de campanha” é tratar, curar, não remediar, e fazer com que se lhes dêem os cuidados necessários, se apliquem os tratamentos exigidos, de acordo com um protocolo. E muito menos enganá-los, dizendo que o curativo não é exigente e nem sempre leva à cura da ferida. E quando tiver alta, o que pode demorar muito tempo, mesmo muito, ou, até nunca conseguirem curar-se, mas mandam as boas práticas que se lhes diga para não recaírem. Que evitem as ocasiões. Ninguém de bom senso lhes pode dizer: vai, estás a caminho da cura, mas podes continuar na mesma! O que os cuidadores devem dizer, muito claramente, é que não voltem às situações de risco. Contudo, há feridos que foram à “tenda de campanha” mas que não têm força suficiente, coragem nem acreditam profundamente de que não podem seguir o caminho que os levou aos ferimentos. Então, será que eles voltarão à “tenda de campanha”? Obviamente que se tropeçarem, os cuidadores da “tenda de campanha” têm a obrigação de, com humildade e caridade, voltarem a iniciar o processo de tratamento. Demore o tempo que demorar. Sem prazo. Se os feridos quiserem. Assim os cuidadores da “tenda de campanha” saibam o modo de agir correcto e não o que está na moda…

«Vai, os teus ferimentos foram curados! Não voltes ao mesmo!». Não voltes ao mesmo. Arrepia caminho.

… E sempre ter a “tenda de campanha” acolhedora, confortável e de porta aberta para todos os feridos. Sempre com uma mão amiga que diga a verdade do ferimento, a dificuldade do tratamento e a necessidade de colaborarem com os cuidadores. Sobretudo com o “Grande e único Cuidador”!

… E que os cuidadores tenham sempre a mão e o coração abertos para ajudar.

… E que os vizinhos não se armem em curandeiros, bruxos ou afins. As boas práticas mandam que se abstenham de comentários. Se puderem que ajudem, a pedido, dos cuidadores.

… E que os feridos que foram à “tenda de campanha” saibam ao que vão.

A “tenda de campanha” está de portas abertas… para quem lá quer entrar, acredita no tratamento e tem a intenção e vontade de seguir os cuidadores.

Para quem não crê no valor da “tenda de campanha” e nos tratamentos de cura, para que critica a dita “tenda”, remédios para a cura dos ferimentos e capacidade dos cuidadores? Ninguém é obrigado a socorre-se da “tenda de campanha” se nem sequer tem consciência de que está ferido. Contudo, a “tenda de campanha” está sempre aberta. Assim os cuidadores mostrem disponibilidade e sagacidade para cuidarem. E paciência.
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Carlos Aguiar Gomes, exprimindo única e exclusivamente a sua opinião pessoal.
(O autor não segue o chamado AO)

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