ADVENTO EM DINAMISMOS DA HERANÇA E DE MUDANÇA
Mudam os tempos, mudam as pessoas, mudam os gostos, mudam as prioridades, mudam as relações, mudam as estratégias, mudam as pedagogias … tudo parece mudar! E neste frenesim de mudança, com as suas notas de esforço e surpresa, de novidade e apreensão, de possibilidade e adequação, vivemos tempos de necessário discernimento e escolha. É que, entre todas as mudanças que acontecem, há o que passa e o que permanece, há o bom e o menos bom, o supérfluo e o essencial. O que permanece, o que é bom e essencial, é também herança de quem nos precedeu. Herança e mudança são, desta forma, os ritmos de quem tenta acertar o passo com a vida, com a história e com a própria fé. Se doutras heranças alguém pode falar e usufruir, a nossa verdadeira herança, aquela de que falamos e nos privilegia, é o próprio Deus que Se revela e nos dá Cristo Jesus. Todos somos herdeiros, com Cristo, dos bens de Deus Pai, herdeiros de bens que nem os olhos viram, nem os ouvidos escutaram, nem o coração humano percebeu o que Deus tem preparado para aqueles que O amam (cf. 1 Cor 2,9). Esta herança de Deus Pai implica determinação e mudança. E a força dessa mudança e determinação está precisamente na Promessa que nos foi feita e se realiza plenamente em Cristo Jesus.
O Advento ajuda-nos a espevitar e a estimular esta nossa consciência, para vivermos na alegria e na seriedade de um testemunho como o testemunho de Jesus Cristo. É um tempo de esperança, de expectativa, de transformação, de desejo. É uma oportunidade pedagógica e sacramental para colocarmos Cristo no centro da nossa vida.
Herdar pode parecer um ato meramente passivo. E conotado com uma certa estagnação, pode até parecer que contraria a mudança. No entanto, receber um bem pelo qual não se trabalhou, é o símbolo de uma vida que se recebe sem se pedir, é o símbolo de algo que se recebe hipoteticamente sem mérito, é um dom. E os dons, pela força da sua gratuidade, ultrapassam barreiras humanas. Assim, herança e mudança andam de mãos dadas como de mãos dadas andam o receber e o dar.
Respondendo à iniciativa do Papa Francisco, a Igreja que está em Portugal resolveu promover, até outubro de 2019, um Ano Missionário. O desafio fundamental desta iniciativa é o da transmissão da fé. Somos convidados a transmitir a herança da fé recebida, desde o vizinho mais próximo até aos povos mais longínquos.
Herança e mudança são, neste contexto, um verdadeiro dinamismo de transmissão da fé. Se Deus se revela sempre na forma da Promessa dos tempos novos e da nova Aliança, a herança da fé recebida tem de ser transmitida. Guardá-la só para si seria infidelidade e infecundidade.
Ora, transmitir não é apenas traduzir. É incarnar. E o tempo de Advento é um tempo favorável para contemplar a incarnação do Verbo e perceber quanto a missão de evangelizar vive deste dinamismo da incarnação. Cristo revela-Se através de atos e palavras, é uma revelação histórica, tem uma estrutura existencial e traduz-se num valor doutrinal. Se, em Cristo, os gestos e as palavras se esclarecem e explicitam mutuamente, na transmissão do Evangelho, os gestos e as palavras, em uníssono, devem ser a expressão da coerência da vida com a fé professada, num dinamismo crescente de unidade e harmonia. Se, em Cristo, a dimensão histórica da incarnação é um dos fatores mais importantes da receção do Seu testemunho e da Sua vida, na missão de evangelizar, a história apresenta-se sempre como espaço de verificação do sentido da verdade evangélica e da sua validade para a vida humana. A missão de evangelizar faz-se na história dos homens, é histórica e constrói história. Se, em Cristo, a relação estabelecida com as multidões, ou com as pessoas, revela a proximidade de Deus à vida humana, na transmissão do Evangelho pela Igreja, a dimensão existencial do encontro é sempre um fator de credibilidade da palavra anunciada. A palavra dita e o encontro realizado são sempre comunhão e comunicação. Missão e transmissão da fé são palavra que comunica, interpela, confidencia, testemunha, manifesta confiança. Aliás, a palavra de confidência vale sempre como testemunho do que é mais importante. Cristo é uma confidência de Deus à humanidade. Se, em Cristo, cada palavra e cada gesto tem a dimensão de um sinal de salvação, na Igreja e na sua missão, cada gesto sacramental é um sinal explícito e evidente de que Deus vem para salvar e reconstruir. Se as verdades ditas e os acontecimentos realizados por Cristo são experiências diante das quais não se pode voltar atrás sob o risco de apagar parte da história, na missão da Igreja, a verdade de Cristo interiorizada e professada como fé, ganha um valor doutrinal na vida da Comunidade. É a fé da Comunidade.
A missão da Igreja – transmitir a herança recebida – tem, então, a dimensão da vida do homem e de todos os lugares onde os homens habitam. As nossas Comunidades necessitam da missão da Igreja que transmite Cristo vivo e experienciado. O mundo necessita da missão da Igreja para ter acesso ao tesouro que é viver de Cristo e dos seus ensinamentos.
Onde há missão existe sempre vocação. O Advento sublinha, por isso, a preparação do coração para receber Cristo e a necessidade da transmissão do dom que recebemos. Acolher a herança reclama mudança na vida. Cristo continua a vir ao encontro de cada homem em cada tempo para com ele construir uma história de humanidade. Ele permanece sempre e para sempre.
Herdeiros dos inimagináveis bens de Deus Pai, aproveitemos, pois, este tempo favorável do Advento para cuidar da mudança do coração, envolvendo as famílias e as comunidades paroquiais, para bem celebrar, em família e na comunidade cristã, o Natal de Jesus que vem pobre, simples e humilde para nos trazer a alegria e para que a nossa alegria seja completa.
Antonino Dias, Bispo de Portalegre - Castelo Branco
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domingo, 2 de dezembro de 2018
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