terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Reconhece, ó cristão, a tua dignidade

                                     Dos Sermões de São Leão Magno, Papa
                             (Sermo 1 in Nativitate Domini, 1-3: PL 54, 190-193) (Sec. V)


Reconhece, ó cristão, a tua dignidade
 
 
   Hoje, caríssimos irmãos, nasceu o nosso Salvador. Alegremo-nos. Não pode haver tristeza no dia em que nasce a vida, uma vida que destrói o temor da morte e nos infunde a alegria da eternidade prometida.
   Ninguém é excluído desta felicidade, porque é comum a todos os homens a causa desta alegria: Nosso Senhor, vencedor do pecado e da morte, não tendo encontrado ninguém isento de culpa, veio para nos libertar a todos. Alegre-se o santo, porque se aproxima a vitória; alegre-se o pecador, porque lhe é oferecido o perdão; anime-se o gentio, porque é chamado para a vida.
   Ao chegar a plenitude dos tempos, segundo os insondáveis desígnios divinos, o Filho de Deus assumiu a natureza do género humano para a reconciliar com o seu Criador, de maneira que o demónio, autor da morte, fosse vencido pela mesma natureza que ele tinha vencido.
   Por isso, quando nasce o Senhor, os Anjos cantam jubilosos: Glória a Deus nas alturas; e anunciam: Paz na terra aos homens por Ele amados. Eles vêem, com efeito, como se levanta a Jerusalém celeste, formada pelos povos de toda a terra. Perante esta obra inefável da misericórdia divina, como não há-de alegrar-se o mundo humilde dos homens, se ela provoca tão grande júbilo nos coros sublimes dos Anjos?
   Caríssimos irmãos, dêmos graças a Deus Pai, por meio de seu Filho, no Espírito Santo, porque na sua infinita misericórdia nos amou e teve piedade de nós: estando nós mortos pelo pecado, fez-nos viver com Cristo, para que fôssemos n’Ele uma nova criatura, uma nova obra das suas mãos.
   Deponhamos, portanto, o homem velho com suas más acções e, já que fomos admitidos a participar do nascimento de Cristo, renunciemos às obras da carne.
   Reconhece, ó cristão, a tua dignidade. Uma vez constituído participante da natureza divina, não penses em voltar às antigas misérias com um comportamento indigno da tua geração. Lembra-te de que cabeça e de que corpo és membro. Não esqueças que foste libertado do poder das trevas e transferido para a luz do reino de Deus.
   Pelo sacramento do Baptismo, foste transformado em templo do Espírito Santo. Não queiras expulsar com as tuas más acções tão digno hóspede, nem voltar a submeter-te à escravidão do demónio. O preço do teu resgate é o Sangue de Cristo.

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