A nossa falta de memória
em tempos
DE « AFECTOS
VOLÁTEIS»
« Parce qu'un
homme sans mémoire est un homme sans vie, un peuple sans mémoire est un peuple sans avenir… »
(Maréchal Foch)
Foch, foi um dos brilhantes oficias de
França .Comandou as forças Aliadas , na frente Oeste , durante a Primeira
Guerra Mundial, onde se destacou de tal modo que acabou por ser nomeado
Marechal de França, do Reino Unido e da Polónia. Além disso pertenceu à
Academia Francesa, sociedade científica e cultural de entrada muito selectiva e
que, ainda hoje , acolhe a elite intelectual francesa. Foch não é , um francês
qualquer. Foch pertence ao património da França e da Europa. À nossa memória
colectiva.
Como sábio que era e Homem experiente,
patriota exemplar, sabia que se cada um de nós, na sua Família , na sua terra,
no seu país não tivesse memória , perderia o seu rumo. Não teria futuro. É o
meu grande receio, a perda de memória familiar e colectiva que atinge
ferozmente o nosso tempo. Basta ouvirmos e falarmos com os nossos concidadãos
mais novos ( não necessariamente jovens!) para percebermos logo que se perdeu a
memória. Memória familiar. Memória da nossa Pátria.
Um provérbio africano diz que “ se não
sabes para onde vais, lembra-te, ao menos de onde vens “. Na realidade o nosso
tempo está cheio de rapazes, raparigas, homens e mulheres que ignoram , não
sabem de todo , por perda de memória, as suas origens, o percurso social,
económico, cultural e espiritual da sua Família e de Portugal. O Papa S. João
Paulo II, na Exortação Apostólica Pós-Sinodal “ Ecclesia in Europa “ afirma: “
… quero recordar a crise da memória e herança cristã “ … “ muitos europeus (
dão ) a impressão de viver sem substrato espiritual e como herdeiros que
delapidaram o património que lhes foi entregue pela história . “ ( nº7 ). E citando
o actual Papa : “ A falta de memória histórica é um defeito grave da sociedade
. É a mentalidade imatura do «já está ultrapassado». Conhecer e ser capaz de
tomar posição perante acontecimentos passados é a única possibilidade de
construir um futuro que tenha sentido. Não se pode educar sem memória . “ (
Amoris laetitia, nº193).
Há falta de memória individual, familiar e
colectiva! Uma gravíssima falta de memória.
O Marechal Foch tinha razão quando afirmou
: “Porque um homem sem memória é um homem sem vida , um povo sem memória é um
povo sem futuro.”, frase com que iniciei este curto artigo.
Nesta sociedade dos “ afectos voláteis”,
expressão que uso para caracterizar o meu tempo de agora em que tudo se esfuma ,os afectos, mesmo
aqueles que parecem e deviam ser sustentados se volatilizam sem rasto.
Sociedade descartável. Do efémero. Do “ se não dá lucro , se não tenho prazer
com… deito fora “, onde as memórias se volatilizam sem deixar raízes, onde ao
hoje não se permite ganhar raízes, onde o ontem foi descartado … Teremos futuro
sem saber nem querer saber de onde vimos sem, igualmente, não sabermos para
onde vamos ? Talvez seja por isso que anda tanta gente deprimida e alienada no
ruído ( o Cardeal Sarah chama-lhe a ditadura do barulho ) e no consumo que
provoca amnésia… Talvez. Talvez seja por isso que tantos jovens andam perdidos
sem saber nem querer saber de onde vêm, porque os mais velhos os impediram de
ter memória mas também , como não poderia deixar de ser, não os ajudaram a
querer saber para onde vão ou como vão ,mas deixam –nos ir sem rumo , com rota
desconhecida para futuro incerto.
As novas redes de comunicação , tão cheias
de interesse, acabam por preencher as cabeças e as vidas vazias, vazias
completamente de memória e de relações reais e concretas entre as pessoas
quebrando a riqueza da inter -
pessoalidade do e no concreto , tornam-se indivíduos amnésicos. Usando um conceito actual e novo ,
sem GPS.
Carlos Aguiar Gomes
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