quarta-feira, 3 de julho de 2019

Um homem bom


Tinha 75 anos e vivia na Síria há tanto tempo que na cidade de Homs quase ninguém se
lembrava que o Pe. Frans era holandês. Homem de paz, defensor dos mais fracos e humildes, o
Pe. Frans não resistiu às duas balas disparadas cobardemente contra si em Abril de 2014. No
entanto, a sua memória permanece viva e o seu túmulo transformou-se em ponto de
encontro, em lugar de oração. A morte não teve a última palavra.
Foi assassinado no dia 7 de Abril de 2014, no jardim em frente à residência dos jesuítas, em
Homs, na Síria. Foi com incredulidade que se soube da notícia do seu assassinato brutal. O Pe.
Frans van der Lugt era um homem bom. Isso bastava para o definir. Era bom, procurava ajudar
os mais pobres e necessitados, e tinha sempre a porta de sua casa aberta a todos. E todos o
estimavam: católicos, ortodoxos, muçulmanos. A sua figura alta, frágil, ligeiramente
encurvado, o sorriso com que recebia os que batiam à porta de sua casa, faziam dele um
amigo, um homem de paz e de reconciliação. Foi com incredulidade e raiva que se soube da
notícia da sua morte. Era ainda manhã quando bateram à porta da sua casa, em Homs.
Arrastado para fora da residência, o Pe. Frans foi espancado e depois assassinado a tiro.
Dispararam duas vezes para confirmar que estava mesmo morto. No ano de 2014 a guerra já
tinha transformado a Síria num lugar infernal. Homs era o espelho da destruição e da
desesperança de todo o país. Bairros inteiros jaziam em escombros e não havia sinais de que
os combates iriam abrandar de ferocidade. As cidades, vilas e aldeias esvaziavam-se. As
pessoas fugiam para salvar a própria vida. O Pe. Frans ficou. Mesmo quando todos lhe diziam
que era mais prudente partir. O Pe. Frans nasceu na Holanda. Depois de uma breve passagem
pelo Líbano, assentou arraiais na Síria em 1966, passando os últimos anos numa constante luta
em defesa das populações de Homs.
Socorrer pessoas
Com a violência insana da guerra a deixar marcas profundas visíveis nas ruínas das casas e no
sofrimento das pessoas, o Pe. Frans não tinha descanso. Era preciso acabar com a guerra, era
preciso socorrer as populações. O Pe. Frans não descansava na urgência de acudir os que
viviam encurralados em bairros, em ruas, em casas onde tudo faltava… alimentos, remédios,
água e luz. Foi com incredulidade que se soube da notícia do assassinato brutal do Pe. Frans. O
Papa Francisco disse-o. Evocando o confrade jesuíta holandês de 75 anos, o Santo Padre
lembrou que ele “era amado e estimado por cristãos e muçulmanos”, e que durante as
décadas de vida e de missão na Síria “sempre fez o bem a todos, com gratuidade e amor”. Em
Abril deste ano, quando se assinalaram cinco anos do assassinato, uma pequena delegação de
sacerdotes jesuítas, que incluiu o Superior Geral, Pe. Arturo Sosa, esteve em Homs para uma
homenagem ao Pe. Frans van der Lugt. Foi uma homenagem ao mártir cuja causa de
beatificação vai fazendo o seu caminho. Em vida, o Pe. Frans ergueu a sua voz na defesa dos
mais necessitados, de todas as pessoas que foram vítimas dos algozes jihadistas que decidiam,
com a arrogância da força das armas, como as populações haveriam de se vestir, de comer, de
rezar, de se comportar. O Pe. Frans foi assassinado, mas a causa da liberdade que sempre
defendeu ficou mais forte com o seu exemplo. Homem de paz, defensor dos mais fracos e dos

humildes, o Pe. Frans não resistiu às duas balas disparadas cobardemente contra si, mas a sua
memória permanece viva e o seu túmulo transformou-se mesmo em ponto de encontro, em
lugar de oração. A morte não teve a última palavra.
Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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