domingo, 22 de setembro de 2019

A CRISE DA MEMÓRIA, HOJE


                                               A CRISE DA MEMÓRIA, HOJE

“Para ser moderno, há quem acredite que é necessário separar- se das raízes. E essa é a ruína, porque as raízes, a tradição, são a garantia do futuro. Não é um museu, é a verdadeira tradição, e as raízes são a tradição que levam a seiva para fazer crescer a árvore, florescer,  frutificar. Nunca se separar das raízes para ser moderno! Isso é um suicídio”. ( Papa Francisco aos Agostinhos Descalços, 12.IX.2019)

 

   As nossas raízes pessoais, familiares ou sociais, a nossa memória , o que nos ata e liga ao passado, neste presente transitório e que nos dirige para o futuro, são absolutamente indispensáveis. Uma pessoa, família ou sociedade que perca a sua memória está condenada à ruina. Desaparece.

   “ As raízes não são âncoras que nos prendem a outras épocas e nos impedem de encarnar no mundo actual para fazer nascer algo novo. Pelo contrário, são um ponto de enraizamento, que nos permite desenvolver-nos e responder aos novos desafios.” ( Papa Francisco, in Christus vivit, nº 200)

   A nossa sociedade, começando por cada um de nós, anda à deriva e anda à deriva porque perdeu a sua memória. Todos nós já fomos confrontados com crianças e jovens que desconhecem tudo sobre a sua família, a família do Pai e a da Mãe. Até o nome dos Avós, muitos desconhecem. Também passa despercebida e ignorada a História da nossa terra e país. Por isso, entramos numa sociedade falida de valores, dos valores que “ construíram” a nossa família e a nossa Pátria. O mesmo se passa com a Religião, onde também impera uma ignorância crassa e, até os fundamentos mais alicerçantes da nossa Fé.

   Por exemplo, quantos jovens e jovens adultos católicos que chegam à Basílica de S. Bento da Porta Aberta ( o 2º santuário mais visitado em Portugal) desconhecem quem foi S. Bento? Que vida teve? Que legado ( fabuloso) nos deixou? Que influência tiveram os seus filhos espirituais na construção do nosso país, da Europa e do mundo? Sabe-se que antes de Portugal existir, já cá estavam os “ filhos espirituais de S. Bento”? Onde estão os momunentos que nos deixaram? Que “ alma” têm estes edifícios? Saberão que o nosso Parlamento é o fruto da espoliação de 1834 de um Mosteiro beneditino?

  Quantos jovens e jovens adultos católicos sabem quem é a nossa Padroeira, quem A proclamou como tal e em que século( já nem ponho a a hipótese de saberem o ano!....)

… E neste mês de Outubro, dedicado às MISSÕES, que valores temos transmitido aos nossos filhos, amigos ou vizinhos, sobre o valor e testemunho de tantos milhares de homens e mulheres que ao longo dos séculos levaram Cristo e o Seu Evangelho, a promoção e o desenvolvimento humanos a tantas latitudes ? Quantos sabem que fomos, em caravelas frágeis como casca de noz por todo o mundo levando o Evangelho? Quantos de nós tem tido esta preocupação ?

   Quantos de nós já pensou um pouquinho nas enormes dificuldades que passaram e passam os missionários em terras distantes e diferentes?

   E sem esta memória cristã missionária, como podemos pedir mais e melhor oração pelas vocações missionárias, se nada sabemos sobre o trabalho que os “ levadores de Evangelho” desenvolvem por esse mundo?

   Não podemos viver no Passado, mas não podemos viver sem o Passado. Sem a nossa memória familiar e social. Como referia o Papa aos monges agostinhos, as raízes são a tradição que levam a seiva para fazer crescer a árvore, florescer, frutificar. Nunca se separar das raízes para ser moderno! Isso é um suicídio”. Que acontece às árvores a quem cortam as suas raízes?

   Neste mês, vamos fazer um esforço para que cada um de nós saiba, possa e queira ser um transmissor da memória familiar, religiosa e social. Assim, contribuiremos para que a ruína familiar, religiosa e social aconteçam! Um desafio que o Papa nos lança. Um desafio contra a fortíssima crise da Esperança em que mergulhou (ou nos mergulharam?) o nosso tempo.

   Sem Esperança não há Futuro e o Presente fica sem alicerces por lhe terem sonegado a memória, as raízes. As nossas raízes dão-nos força para ir em frente. Ninguém nem nenhuma comunidade humana pode viver muito tempo sem a sua memória, tal como a árvore a quem , um dia, alguém cortou as suas raízes. A seiva que alimenta o caule, as folhas e os frutos deixa de circular e a árvore morre. Isto é o que está a acontecer, hoje, nesta sociedade amnésica, ou melhor, que os desconstrutores da nossa história conseguiram fazer cortando-lhe as raízes, sem nunca se fatigarem nem desistirem , face à abulia de tantos de nós. Por isso, as árvores que somos, sem raízes, estão a ser derrubadas e levadas por ventos ideológicos que estão a destruir a nossa cultura. Uma Cultura da Vida que se está tornar aceleradamente, uma Cultura de Morte.

Ter memória, cultivá-la e transmiti-la não é saudosismo! Ter memória é preparar o Futuro. Ter memória não é nem pode ser para conservadores. Os conservadores são os que estão cristalizados e parados no tempo. E a vida é dinâmica. Ter memória e transmiti-la é para preparar o Futuro e ambicionar o Progresso, onde hoje se podam os ramos estéreis da árvore para tornar aquele equilibrado e justo.

    Parafraseando o Papa Francisco ( in Christus Vivit, nº200), as raízes não podem, porém, ser vistas como âncoras que imobilizam, mas como estabilizadores que captam nutrientes e água, que alimentam toda a árvore. Sem esses estabilizadores, as raízes, a planta seria facilmente arrastada e morreria rapidamente à seca.

   Caro leitor, peço-lhe que medite bem e muitas vezes na frase do papa Francisco, com que encimo este artigo .

 

Carlos Aguiar Gomes

 

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