A CRISE DA MEMÓRIA, HOJE
“Para ser moderno, há quem
acredite que é necessário separar- se das raízes. E essa é a ruína, porque as
raízes, a tradição, são a garantia do futuro. Não é um museu, é a verdadeira
tradição, e as raízes são a tradição que levam a seiva para fazer crescer a
árvore, florescer, frutificar. Nunca se
separar das raízes para ser moderno! Isso é um suicídio”. (
Papa Francisco aos Agostinhos Descalços, 12.IX.2019)
As nossas raízes pessoais,
familiares ou sociais, a nossa memória , o que nos ata e liga ao passado, neste
presente transitório e que nos dirige para o futuro, são absolutamente
indispensáveis. Uma pessoa, família ou sociedade que perca a sua memória está
condenada à ruina. Desaparece.
“ As raízes não são âncoras que nos prendem a outras épocas e nos
impedem de encarnar no mundo actual para fazer nascer algo novo. Pelo
contrário, são um ponto de enraizamento, que nos permite desenvolver-nos e
responder aos novos desafios.” ( Papa Francisco, in Christus vivit, nº
200)
A nossa sociedade, começando
por cada um de nós, anda à deriva e anda à deriva porque perdeu a sua memória.
Todos nós já fomos confrontados com crianças e jovens que desconhecem tudo
sobre a sua família, a família do Pai e a da Mãe. Até o nome dos Avós, muitos
desconhecem. Também passa despercebida e ignorada a História da nossa terra e
país. Por isso, entramos numa sociedade falida de valores, dos valores que “
construíram” a nossa família e a nossa Pátria. O mesmo se passa com a Religião,
onde também impera uma ignorância crassa e, até os fundamentos mais
alicerçantes da nossa Fé.
Por exemplo, quantos jovens e
jovens adultos católicos que chegam à Basílica de S. Bento da Porta Aberta ( o
2º santuário mais visitado em Portugal) desconhecem quem foi S. Bento? Que vida
teve? Que legado ( fabuloso) nos deixou? Que influência tiveram os seus filhos
espirituais na construção do nosso país, da Europa e do mundo? Sabe-se que
antes de Portugal existir, já cá estavam os “ filhos espirituais de S. Bento”?
Onde estão os momunentos que nos deixaram? Que “ alma” têm estes edifícios?
Saberão que o nosso Parlamento é o fruto da espoliação de 1834 de um Mosteiro
beneditino?
Quantos jovens e jovens adultos
católicos sabem quem é a nossa Padroeira, quem A proclamou como tal e em que
século( já nem ponho a a hipótese de saberem o ano!....)
… E neste mês de Outubro, dedicado às MISSÕES, que valores temos
transmitido aos nossos filhos, amigos ou vizinhos, sobre o valor e testemunho
de tantos milhares de homens e mulheres que ao longo dos séculos levaram Cristo
e o Seu Evangelho, a promoção e o desenvolvimento humanos a tantas latitudes ?
Quantos sabem que fomos, em caravelas frágeis como casca de noz por todo o
mundo levando o Evangelho? Quantos de nós tem tido esta preocupação ?
Quantos de nós já pensou um
pouquinho nas enormes dificuldades que passaram e passam os missionários em
terras distantes e diferentes?
E sem esta memória cristã
missionária, como podemos pedir mais e melhor oração pelas vocações
missionárias, se nada sabemos sobre o trabalho que os “ levadores de Evangelho”
desenvolvem por esse mundo?
Não podemos viver no Passado,
mas não podemos viver sem o Passado. Sem a nossa memória familiar e social.
Como referia o Papa aos monges agostinhos, as raízes são a tradição que
levam a seiva para fazer crescer a árvore, florescer, frutificar. Nunca se
separar das raízes para ser moderno! Isso é um suicídio”. Que acontece às árvores a quem
cortam as suas raízes?
Neste mês, vamos fazer
um esforço para que cada um de nós saiba, possa e queira ser um transmissor da
memória familiar, religiosa e social. Assim, contribuiremos para que a ruína
familiar, religiosa e social aconteçam! Um desafio que o Papa nos lança. Um
desafio contra a fortíssima crise da Esperança em que mergulhou (ou nos
mergulharam?) o nosso tempo.
Sem Esperança não há
Futuro e o Presente fica sem alicerces por lhe terem sonegado a memória, as
raízes. As nossas raízes dão-nos força para ir em frente. Ninguém nem nenhuma
comunidade humana pode viver muito tempo sem a sua memória, tal como a árvore a
quem , um dia, alguém cortou as suas raízes. A seiva que alimenta o caule, as
folhas e os frutos deixa de circular e a árvore morre. Isto é o que está a
acontecer, hoje, nesta sociedade amnésica, ou melhor, que os “
desconstrutores” da nossa história conseguiram fazer cortando-lhe as raízes, sem
nunca se fatigarem nem desistirem , face à abulia de tantos de nós. Por isso,
as “ árvores” que somos, sem raízes, estão a ser derrubadas e levadas por
ventos ideológicos que estão a destruir a nossa cultura. Uma Cultura da Vida
que se está tornar aceleradamente, uma Cultura de Morte.
… Ter memória, cultivá-la e transmiti-la
não é saudosismo! Ter memória é preparar o Futuro. Ter memória não é nem pode
ser para conservadores. Os conservadores são os que estão cristalizados e
parados no tempo. E a vida é dinâmica. Ter memória e transmiti-la é para
preparar o Futuro e ambicionar o Progresso, onde hoje se podam os “ramos”
estéreis da árvore para tornar aquele equilibrado e justo.
Parafraseando o Papa Francisco ( in Christus
Vivit, nº200), as raízes não podem, porém, ser vistas como âncoras que
imobilizam, mas como estabilizadores que captam nutrientes e água, que alimentam
toda a árvore. Sem esses “ estabilizadores”, as raízes, a planta seria facilmente arrastada e morreria
rapidamente à seca.
Caro leitor, peço-lhe
que medite bem e muitas vezes na frase do papa Francisco, com que encimo este
artigo .
Carlos Aguiar Gomes
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.