terça-feira, 14 de janeiro de 2020

O programa do pontificado de João Paulo I


Veneráveis Irmãos!
Dilectos Filhos e Filhas de todo o Orbe Católico!

Chamado pela misteriosa e paterna bondade de Deus à gravíssima responsabilidade do Supremo Pontificado, enviamos a Nossa saudação a todos os que, segundo os ensinamentos do Evangelho, gostamos de ver unicamente amigos e irmãos. Para vós todos, saúde, paz, misericórdia e amor: A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunicação do Espírito Santo estejam com todos vós.

O Nosso programa será o de continuar o do nunca suficientemente chorado Paulo VI, no sulco já traçado, com tão universal consenso, pelo grande coração de João XXIII:

— queremos prosseguir, sem paragens, a herança do Concílio Vaticano II, cujas normas sábias devem continuar a cumprir-se, velando para que um ímpeto, generoso talvez mas incauto, lhes não deforme o conteúdo e o significado, e também para que forças exageradamente moderadoras e tímidas não atrasem o seu magnífico impulso de renovação e de vida;

— queremos conservar intacta a grande disciplina da Igreja, na vida dos sacerdotes e dos fiéis, tal como a celebrada riqueza da sua história a assegurou através dos séculos, com exemplos de santidade e de heroísmo, quer no exercício das virtudes evangélicas, quer no serviço dos pobres, dos humildes e dos indefesos. A este propósito, promoveremos a revisão dos dois Códigos de Direito Canónico, de tradição oriental e latina, para assegurar, à linfa interior da santa liberdade dos filhos de Deus, a solidez e a estabilidade das estruturas jurídicas;

— queremos recordar a toda a Igreja que o seu primeiro dever continua sendo o da evangelização, cujas linhas mestras o nosso Predecessor Paulo VI sintetizou num memorável documento: animada pela fé, alimentada pela Palavra de Deus e nutrida pelo alimento celeste da Eucaristia, ela deve procurar todos os caminhos e descobrir todos os meios, a Tempo e a Contratempo, para semear o Verbo, proclamar a mensagem, anunciar a salvação, que introduz nas almas a inquietação da procura da verdade e as mantém nesta inquietação com o auxílio do alto. Se todos os filhos da Igreja souberem ser incansáveis missionários do Evangelho, novo florescimento de santidade e de renovação surgirá no mundo, sequioso de amor e de verdade;

— queremos continuar o esforço ecuménico, que vemos como a última indicação dos nossos imediatos Predecessores, velando com fé intacta, com esperança invencível e com amor indeclinável pela realização do grande mandamento de Cristo: Que todos sejam um, em que vibra a ansiedade do seu coração na vigília da imolação do Calvário. As mútuas relações entre as Igrejas de diversas denominações realizaram progressos constantes e notáveis, que estão à vista de todos. Mas a divisão não deixou, por outro lado, de ser ocasião de perplexidade, de contradição e de escândalo para os não-cristãos e os não-crentes. Por isso, tencionamos dedicar a nossa acurada atenção a tudo o que possa favorecer a unidade, sem cedências doutrinais e também sem hesitações;

— queremos prosseguir com paciência e firmeza naquele diálogo sereno e construtivo, que o nunca suficientemente chorado Paulo VI pôs como fundamento e programa da sua acção pastoral, expondo as linhas mestras na sua excelente Encíclica Ecclesiam Suam: que os homens se reconheçam mutuamente enquanto homens; e quando se trate daqueles que não partilham a nossa fé, que estejamos sempre dispostos a dar-lhes o testemunho da fé que está em nós e da missão que nos confiou Cristo, a fim de que o mundo creia;

— queremos, enfim, favorecer todas as iniciativas louváveis e valiosas, que possam defender e incrementar a paz no mundo conturbado: chamaremos à colaboração todos os homens bons, justos, honestos e rectos de coração, para que estabeleçam um dique, no interior das nações, contra a violência cega que só destrói e semeia ruínas e luto, e para que, na vida internacional, conduzam à mútua compreensão, à conjugação dos esforços, e favoreçam o progresso social, debelem a fome do corpo e a ignorância do espírito, promovam a elevação dos povos menos dotados de bens da fortuna, embora ricos de energias e de vontade.

Dado em Roma, no Domingo 27 de Agosto de 1978
João Paulo, Servo dos Servos de Deus, pai e mediador da Igreja Universal

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