segunda-feira, 30 de março de 2020

SANTA RITA, Advogada dos Impossíveis


Santa Rita, advogada dos impossíveis

Em Junho de 2015, participámos numa peregrinação beneditina, que, além dos lugares marcados pela presença de S. Bento: Núrsia, Subiaco e Monte Cassino,  nos permitiu visitar também os núcleos franciscanos de Assis e Monte Alverne , de que conservamos inolvidáveis recordações, oportunamente, consignadas por escrito.
Em Núrsia, pudemos visitar os restos da casa onde nasceram S. Bento e sua irmã, Santa Escolástica, e recordámos que, a cerca de uma dúzia de quilómetros, se encontrava Cássia e a Basílica de Santa Rita, que a falta de tempo nos impediu de visitar. Limitamo-nos, por isso, a comprar, na livraria do mosteiro beneditino, a obra referida na fotografia, que lemos com muito interesse. A reprodução da capa pretende, essencialmente, divulgar a fachada da Basílica, que, sobre a porta principal, ostenta esta inscrição latina, que é um autêntico hino: SALVE  RITA  VAS  AMORIS  SPONSA  CHRISTI  DOLOROSA  /  TV DE  SPINIS SALVATORIS  NASCERIS  PULCHRA VT  ROSA, cuja tradução é esta: «Salve  Rita, vaso de amor, esposa de Cristo dolorosa / dos espinhos do Salvador tu nasceste bela como uma rosa».

O actual recolhimento obrigatório permitiu-nos reler algumas passagens, evocadas no título deste breve texto. É certo que, diariamente, somos estimulados a pedir a Deus – Trindade Santíssima – e a Nossa Senhora a protecção de que todos carecemos, podendo e devendo dirigir-lhes também esse mesmo pedido de auxílio por intermédio dos Santos da nossa especial devoção.
Além disso, não deixará de vir a propósito observar que Santa Rita é, particularmente, venerada no nosso e noutros concelhos do Alto Minho, mas, antes de voltarmos a este aspecto, convirá recordar o fundamento do título «advogada dos impossíveis», que muitos leitores terão ouvidos explicar, repetidas vezes, nos  sermões da sua festa, celebrada no santuário que lhe é dedicado, na freguesia de Rouças – Melgaço. Mesmo assim, deixaremos algumas notas biográficas muito breves para ajudar a situar o que pretendemos expor.
Filha de António Lotti e de Amarata Ferri, ambos já de avançada idade, Rita terá nascido, em Rocaporena, segundo uns, em 1371, e, segundo outros, em 1381, admitindo todos que, à sua morte, tinha 76 anos, fixando-a, conforme o ano do nascimento proposto: os primeiros, em 1447, e os segundos, em 1457.
Marcada pelo exemplo dos pais, profundamente cristãos e centrados na meditação da Paixão de Cristo, que procuravam inseri-la na sociedade do tempo, no ambiente e nível social mais adequado, tendo em vista o seu casamento, Rita respondia que o seu objectivo era servir Jesus crucificado e morto por todos. Apesar disso, ainda muito nova, em obediência aos pais, casou e teve dois filhos, mas o projecto de viver unida a Cristo acompanhou-a sempre. Sofreu, amargamente, quando lhe mataram o marido e, no meio de grande dor, soube perdoar aos assassinos e suportar a morte dos filhos, que Deus lhe levou.
Viúva e privada dos filhos, decidiu entrar na vida religiosa para mais intensamente viver unida a Cristo, mas os seus pedidos, foram, sistematicamente, recusados pela abadessa e pelas monjas do Mosteiro de Santa Maria Madalena de Cássia, até que lá foi, miraculosamente, colocada, no claustro, por S. João Baptista, Santo Agostinho e S. Nicolau Tolentino, santos da sua devoção.
Aceite e integrada na comunidade, viveu de forma exemplar, crescendo, intensamente, o seu amor e união com Cristo crucificado, que respondeu a este vivo desejo e ao intenso pedido de participar nas dores da Sua Paixão, abrindo-lhe, na fronte, com um espinho da Sua coroa, uma chaga incurável, que a obrigava a distanciar-se das outras monjas, durante largos anos, até ao fim da vida.
Nesta intensa união com Cristo e participação amorosa nas dores da Sua Paixão é que reside o fundamento e a garantia do êxito da intercessão de Santa Rita em muitos assuntos, considerados de solução impossível, segundo os critérios humanos.
Eis a grande lição que a todos deixou.
Os últimos quatro anos de vida, Santa Rita passou-os sempre muito doente e quase não comia nem bebia, chegando as monjas que a tratavam a pensar que o seu sustento era a comunhão assídua, vindo a falecer, em 22 de Maio de 1447, morte assinalada pelo toque dos sinos, sem qualquer intervenção humana.
Para encerrar estas notas, recordemos o milagre da rosa e dos figos, verificado no inverno anterior, e pouco divulgado entre nós. Tendo, nesse inverno, uma parenta visitado Rita, ao despedir-se, perguntou-lhe se precisava alguma coisa. Apesar de muito doente, disse-lhe que desejava uma rosa e dois figos do quintal da visitante, que, dada a intensa cobertura de neve, existente em toda a região, interpretou o pedido como um autêntico delírio. Porém, ao chegar a casa, à entrada do quintal, em contraste com as plantas e arbustos desfolhados, encontrou uma belíssima rosa e dois figos maduros, que recolheu e levou à enferma e esgotadíssima parenta, Rita. É por isso que nos numerosos desfiles e no andor de Santa Rita, em Cássia, abundam as belíssimas rosas vermelhas, evocativas deste milagre.

Poderemos, agora, retomar a alusão ao culto de Santa Rita, no Alto Minho, conscientes de que os nossos pedidos dirigidos a Deus por seu intermédio deverão levar a marca da profunda união com Cristo Redentor, de que a chaga dolorosa impressa na sua fronte é claro estímulo para todos.
Após o incêndio ocorrido no Santuário de Santa Rita e dada a falta de sacerdotes – quatro para as dezoito freguesias do concelho! –, os actos do culto têm estado suspensos, mas a devoção à Advogada dos Impossíveis continua viva, lamentando-se, apenas, a dificuldade de a manifestar colectivamente, que seria também uma forma de a incrementar. Continuamos a solicitar a sua protecção e, apesar das dificuldades invocadas, não deixamos de alimentar a esperança de que, após a passagem desta pandemia – pelo menos uma vez por mês, no domingo à tarde, à hora mais conveniente –,  se possa retomar a celebração da Santa Missa, em honra de Santa Rita, neste Santuário, que lhe é dedicado, mesmo que a iniciativa implique alguns reajustamentos nas actividades pastorais.
Ela saberá recompensar.
                                                           José Marques.







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