sábado, 11 de abril de 2020

Sábado Santo: o dia da espera

Só à vista desarmada e pouco atenta é que o Sábado Santo pode parecer um dia vazio.
Silencioso? Talvez. Mas é no silêncio que nós escutamos verdadeiramente. Este é, na verdade, um dia incalculavelmente rico! E, ainda que não esteja ao nosso alcance percepcionar essa riqueza na sua integra, detenhamos a nossa atenção por alguns (poucos) aspectos dela:

Em primeiro lugar, o Sabado Santo é o maior de todos os sábados! Nele convergem e dele emanam todos os sábados do ano pelo que participa dos elementos comuns a todos os outros sábados.
  • É o sétimo dia, no qual o Senhor descansou após a criação. Hoje verdadeiramente o Verbo Eterno de Deus por quem tudo foi criado, o mesmo Deus que descansou depois de ver que «era tudo muito bom», descansa no Sepulcro. Descansa de um labor muito mais grandioso e maravilhoso do que a criação do universo: a sua redenção! Meditemos este mistério com o último tropo da Paixão segundo São Mateus, de J. S. Bach:
«Agora descansa, Senhor. Meu Jesus, boa noite. Terminaram as dores que o nosso pecado te infligiu. Meu Jesus, boa noite. Oh, corpo querido, eu choro diante de ti, contrito e arrependido, pois meus pecados são a causa dos teus Sofrimentos. Meu Jesus, boa noite. Mil vezes seja louvado o Teu sofrimento, por ter pago o preço da salvação da minha alma. Meu Jesus, boa noite.
Diante do teu sepulcro, chorando nos prostramos. Para te dizer: "Dorme, dorme minha doçura." Descansai, suaves membros. "Dorme, dorme minha doçura." O teu sepulcro e a sua pedra serão como cómodo leito para as consciências angustiadas e lugar de repouso para as almas. Felizes, são teus olhos que se fecham por fim.»
  • É o dia de preparação do Domingo. A memória que hoje fazemos da primeira Páscoa - a travessia do Mar Vermelho, quando o povo da Antiga Aliança foi libertado - não pode mais ser vista como um fim em si mesmo, mas sim como uma preparação para a libertação derradeira, a Páscoa definitiva! E esta luz pascal deve iluminar todos os outros sábados do ano, pois todos os domingos são, acima de tudo, dia de Páscoa. Meditemos o Salmo 113, com música composta pelo polaco Jan Dismas Zelenka:
«Quando Israel saiu do Egipto, quando a casa de Jacob se afastou do povo estrangeiro, Judá tornou-se o santuário do Senhor e Israel o seu domínio.
O mar viu e recuou, o Jordão voltou atrás, os montes saltaram como carneiros, como cordeiros as colinas.
Que tens, ó mar, para assim fugires, e tu, Jordão, para voltares atrás? Montes, porque saltais como carneiros, e vós, colinas, como cordeiros?
Treme, ó terra, diante do Senhor, diante do Deus de Jacob, que transformou o rochedo em lago e a pedra em fonte de água.»
  • É o dia consagrado a Nossa Senhora. Que, em pleno Tríduo Pascal, se reveste de um caráter muito especial: neste dia, Sábado Santo, enquanto todos os outros Discípulos comemoram (certamente tristes e enlutados) o Êxodo nas suas casas, a Igreja - corpo místico de Cristo - está reduzida a uma só pessoa: à Virgem Maria, a única que acredita que Jesus já triunfou sobre a morte. Depois de receber todos os homens em adopção junto à Cruz, Maria ofereceu a Deus, em nosso nome, o Sacrifício perfeito da Fé. Que este dia nos recorde que só somos Igreja quando recebemos Maria em nossa casa.
«Fazei que o meu coração / Seja todo gratidão / A Cristo de quem sois Mãe.»  
(Música de A. Vivaldi; voz de Andrea Scholl.)  
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