Sábado Santo: o dia da indulgência

«Sentadas junto ao Sepulcro, as mulheres choravam a morte do Senhor.»

Em circunstâncias normais, neste dia, as igrejas de todo o mundo estariam abertas para acolher os penitentes em confissão. É o derradeiro preparativo para a Páscoa, ao mesmo tempo que os folares levedam, as casas se adornam e as crianças pintam ovos. De facto, a Páscoa é a verdadeira Festa da Misericórdia, na qual a Igreja deseja ansiosamente que todos os Batizados sejam reintegrados nas Bodas do Cordeiro. Sem retirar nenhum valor à Quaresma no seu todo, este Sábado é como que uma Quaresma condensada, na qual a Igreja nos repete que nunca é tarde de mais para voltar para casa.
Independentemente de termos ou não a possibilidade de nos confessarmos a um sacerdote, o silêncio deste dia interpela-nos a meditar no resgate que Jesus desejou para cada um de nós. Sentemo-nos junto ao sepulcro com as discípulas corajosas, encontremo-nos com os nossos próprios pecados que são a causa da morte do Senhor. E levantemos os nossos olhos para o Gólgota, onde estão várias cruzes manchadas de sangue, mas UMA delas é diferente de todas as outras: o Sangue que por ela escorre já pagou o preço da nossa liberdade. Não uma liberdade geral, aspergida por alto sobre o universo, mas uma liberdade concreta e personalizada: o Bom Pastor, jejuou no deserto, orou sob as oliveiras e deu-Se na Cruz pensando concreta e individualmente em cada um de nós, desejando ver-nos face a face.

Jeremias, vendo a Cidade Santa destruída, repetiu incessantemente:

«Jerusalém, Jerusalem! Volta para o Senhor, teu Deus!»

João Lourenço Rebelo (1610-1665) foi um compositor natural de Caminha (no Alto Minho), irmão mais novo de Marcos Soares Pereira que foi preceptor do Duque de Barcelos (futuro rei D. João IV) e músico na Capela Ducal de Vila Viçosa. Após a restauração da independência, ambos se mudaram para a corte de Lisboa, onde assumiram os maiores cargos artísticos. Foi o único compositor português a seguir o estilo veneziano do Barroco inicial.