sexta-feira, 29 de maio de 2020

a Civilização do Amor

Giambattista Montini nasceu a 26 de Setembro de 1897 em Concesio (Bréscia), na Itália. Foi ordenado sacerdote a 29 de Maio de 1920 e distinguiu-se pela extraordinária solicitude apostólica. Em 1954 foi eleito Arcebispo de Milão, escolhendo o lema In nomine Domine. Foi eleito à cátedra de Pedro em 21 de Junho de 1963, impondo sobre si o nome de Paulo. Via-se como um construtor da Civilização do Amor: perseverou infatigavelmente na obra iniciada pelos seus predecessores, em particular, levando a cabo o Concílio Vaticano II, deu cumprimento à reforma litúrgica, promoveu o diálogo ecuménico e o anúncio do Evangelho. Pela Festa da Transfiguração do Senhor de 1978, no Palácio Pontifício de Castel Gandolfo, entregou a alma a Deus.



Da homilias de São Paulo VI, papa, na última sessão do Concílio Vaticano II, no dia 7 de Dezembro de 1965:
É preciso conhecer o homem para se conhecer a Deus

Com o impulso deste Concílio, a doutrina teocêntrica e teológica sobre a natureza humana e sobre o mundo atrai a si a atenção dos homens, como se desafiasse aqueles que a julgam anacrónica e estranha; e tais coisas se presume que o mundo qualificará, de início, como absurdas, mas que depois, assim o esperamos, reconhecerá espontaneamente como humanas, como prudentes e salutares, a saber: Deus existe. Sim, Deus existe; realmente existe; vive; é pessoal; é providente, dotado de infinita bondade, não só bom em si mesmo mas imensamente bom para nós; é o nosso criador, a nossa verdade, a nossa felicidade, de tal modo que o homem, quando procura fixar em Deus a sua mente e o seu coração, entregando-se à contemplação, realiza o acto que deve ser considerado o mais alto e mais perfeito; acto, que mesmo hoje pode e deve hierarquizar a imensa pirâmide da actividade humana.

Na verdade, a Igreja, reunida em Concílio, entendeu sobretudo fazer a consideração sobre si mesma e sobre a relação que a une a Deus; e também sobre o homem, o homem tal qual como se apresenta realmente no nosso tempo: o homem que vive; o homem que se esforça por cuidar só de si; o homem que não só se julga digno de ser como que o centro dos outros, mas também não se envergonha de afirmar que é o princípio e a razão de ser de tudo. Todo o homem fenoménico, isto é, revestido dos seus inúmeros hábitos, com os quais se revelou e se apresentou diante dos Padres conciliares, que são também homens, todos Pastores e irmãos, e por isso atentos e amorosos; o homem que lamenta corajosamente os seus próprios dramas; o homem de ontem e de hoje e, por isso, sempre frágil e falso, egoísta e feroz; o homem que vive descontente de si mesmo, que ri e chora; o homem versátil, o homem rígido que é cultor apenas da realidade científica; e o homem que como tal pensa, ama, trabalha, sempre espera alguma coisa, à semelhança do «filius accrescens» (Gen 49, 22); e o homem sagrado pela inocência da sua infância, pelo mistério da sua pobreza, pela piedade da sua dor; o homem individualista, dum lado, e o homem social, do outro; o homem «laudator temporis acti», e o homem que sonha com o futuro; o homem por um lado sujeito a falhas, e por outro adornado de santos costumes; e assim por diante. O humanismo laico e profano apareceu, finalmente, em toda a sua terrível estatura, e por assim dizer, desafiou o Concílio para a luta.

A religião do Deus que Se fez homem encontrou-Se com a religião – que o é – do homem que se faz Deus. Que aconteceu? Combate, luta, anátema? Tudo isto poderia ter-se dado, mas de facto não se deu. A antiga história do bom samaritano foi o paradigma da espiritualidade do nosso Concílio. Uma simpatia imensa tudo invadiu. A descoberta e a consideração renovada das necessidades humanas – que são tanto mais molestas quanto mais se levanta o filho desta terra – absorveram toda a atenção deste Concílio. Vós, humanistas do nosso tempo, que negais as verdades transcendentes, dai ao Concílio ao menos este louvor e reconhecei este nosso humanismo novo: também nós – e nós mais do que ninguém somos cultores do homem.

A religião católica é a vida da humanidade, porque descreve a natureza e o destino do homem, e dá-lhe o seu verdadeiro sentido. É a vida da humanidade, finalmente, porque constitui a lei suprema da vida, e à vida infunde a misteriosa energia que faz dela uma vida verdadeiramente divina.
Todos vós que estais aqui presentes, como no rosto de todo o homem, sobretudo se se tornou transparente pelas lágrimas ou pelas dores, devemos descobrir o rosto de Cristo, o Filho do Homem; e se no rosto de Cristo (cf. Mt 25, 40) devemos descobrir o rosto do Pai celestial, segundo aquela palavra: «quem Me vê, vê o Pai» (Jo 14, 9), o nosso humanismo faz-se cristianismo, e o nosso cristianismo faz-se teocêntrico, de tal modo que podemos afirmar: para conhecer a Deus, é necessário conhecer o homem.
Amar o homem, dizemos, não como instrumento, mas como que primeiro fim, que nos leva ao supremo fim transcendente.

V/. Tudo o que é verdadeiro e nobre, justo e puro, amável e de boa reputação, é o que deveis fazer; Aleluia.
R/. Tudo o que é virtude e digno de louvor, é o que deveis fazer, Aleluia. 
Oremos,Deus eterno e omnipotente, que chamastes o papa São Paulo VI, solícito apóstolo do Evangelho do vosso Filho, para governar a santa Igreja, fazei que, iluminados pelos seus ensinamentos, colaboremos generosamente no vosso reino para que se dilate a civilização do amor em todo o mundo. Por Cristo, Senhor Nosso. Amen.
Leitura recomendada: http://www.vatican.va/content/paul-vi/it/homilies/1975/documents/hf_p-vi_hom_19751225.pdf 

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