AVÓS, NETOS E ECOLOGIA
No passado dia 3 de Setembro, o
Papa Francisco, num discurso espontâneo dirigido a um grupo francês dedicado às
questões do Ambiente, disse:
“ … Além disso, há uma outra
coisa que vos queria dizer sobre a ecologia humana. A conversão ecológica
faz-nos ver a harmonia geral, o elo entre tudo: tudo está ligado, tudo está
relacionado. Nas nossas sociedades humanas, perdemos o sentido do elo humano.
Sim, há associações, grupos – como o vosso –que se reúnem para fazer algo… Mas
eu falo desta relação fundamental que cria a harmonia humana. E frequentemente
perdemos o sentido das raízes, da pertença. O sentido da pertença. Quando um
povo perde o sentido das raízes, perde a sua própria identidade. – Mas não. Somos modernos! Pensar nos nossos
avós, nos nossos bisavós … são coisas do passado ! – Mas uma outra
realidade que é a história; há a pertença a uma tradição, a uma humanidade, a
um m odo de vida… É por isso que é importante cuidar disso, de cuidar das
nossas raízes da nossa pertença, para que os frutos sejam bons.
É por isso que o diálogo entre avós e netos
é mais do que nunca necessário hoje. Tal pode parecer um pouco estranho, mas se
um jovem – vós sois todos jovens aqui -
não tem um sentido de uma relação com os seus avós, o sentido das
raízes, não terá a capacidade de fazer avançar a sua própria história, a
humanidade, e acabará por pactuar , de se comprometer segundo as
circunstâncias. A harmonia humana não tolera estes compremetimentos. A política
humana, se – o que é uma arte necessária – a política humana faz-se, assim, com
comprometimentos porque pode fazer avançar todo o mundo. Um poeta argentino,
Francico Luis Bernàrdez – que já faleceu, é um dos nossos grandes poetas – diz:
« Tudo o que a árvore tem de florido vem do que está debaixo da terra». Se a
harmonia humana dá frutos é porque tem raízes.
E porquê o diálogo com os avós ? Posso falar com os avós, é muito
importante! Falar com os avós é muito importante. Mas os avós têm algo a mais,
como o bom vinho. O bom vinho, quanto mais envelhece, melhor é. Vós, os
franceses, conheceis estas coisas, não? Os avós
têm esta sabedoria. Esta passagem do Livro de Joel sempre me
impressionou: « Os jovens são profetas. Os velhos, sonhadores.» Isto parece-me
o contrário, mas é assim! Com a condição de que os jovens e os avós se falem. É
isto a ecologia humana.»
Que actualidade tem esta
brilhante reflexão! Como ela se aplica às famílias do nosso país! Como seria
bom que estas palavras do Papa pudessem ser meditadas por todos nós, sobretudo
nestes tempos difíceis de pandemia que segrega os mais velhos e numa sociedade
que afasta os avós a não ser quando estes e só quando lhes trazem algum apoio.
Foi uma longa transcrição,
publicada no Ficha nº 3 do Círculo Internacional CRISTÃOS PELO AMBIENTE S. João
Gualberto, mas creio que valeu a pena!
Como esta reflexão nos ajuda a
compreender que a Ecologia tem o Homem todo, na sua individualidade e
intergeracionalidade, como o centro de toda a Ecologia que não se reduz ao
clima, aos animais ou às plantas. Aos mentores do “ pensamento único”,
dominante e dominador, esta visão da Ecologia não interessa, mas é esta a
Ecologia real e inclusiva. É esta a perspectiva que, como eu, muitos de nós
defende. E estamos muito bem acompanhados. O Papa Francisco guia-nos nesta
visão integral da Ecologia.
Carlos Aguiar Gomes
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