AS NOSSAS DEMISSÕES versus a NOSSA MISSÃO
«DAS DEMISSÕES DO NOSSO TEMPO NASCE A MISSÃO DA NOSSA VIDA» (Raoul Follereau)
Em 1969, em Abril, durante a Semana Santa, em Lausanne (Suiça) tive o enorme privilégio de conhecer Raoul Follereau, o grande apóstolo dos leprosos, num Congresso em que participei dedicado aos Leigos. Fiquei entusiasmado com este homem sobre o atarracado mas veemente na palavra e na causa da sua vida (e da sua Mulher): os leprosos. Com que entusiasmo nos falou dos “proscritos” das sociedades! Que força interior brotava nas suas palavras convincentes! Raoul Follereau conquistou-me para a causa e um ano depois, já na Guiné, onde prestei o meu serviço militar obrigatório como Oficial da Marinha de Guerra, sempre que podia ia à Cumura, uma leprosaria servida por franciscanos da Província de Veneza. Colaborei com estes heroicos missionários com e como podia. Compreendi , então, a paixão de Follereau. Este francês sem filhos, adoptou os leprosos do mundo. Transformou a sua vida e da sua Mulher numa MISSÃO a favor de um grupo, então ainda muito grande, de homens, mulheres e crianças que eram rejeitados.
Follereau correu o mundo e contactou os grandes decisores políticos para os tentar conquistar para a sua causa. Em vão! Preferiam armarem-se para uma possível guerra a contribuírem com … o preço de um avião de guerra!
Em Lausanne, naquele longínquo ano de 1969, ouvi Raoul Follereau dizer: “O progressismo é a lepra do século XX”, frase que jamais esqueci e que tenho vindo a perceber que foi profética! O “bacilo de Hansen”, causa desta lepra que nos destrói, minou todas as estruturas da Igreja , do mundo da política e da Cultura. Tudo contaminou e estamos a ver os resultados: um mundo em decomposição onde, por vezes, brotam bálsamos reconfortantes, como esse rapaz italiano, agora beatificado, Carlos Acutis.
Um dia destes, na arrumação de papéis da minha vida, muitos e muitos, dei com um apontamento que um amigo me enviou e que deu o mote para este artigo: «Das demissões do nosso tempo nasce a missão da nossa vida» e que tinha a indicação do autor – Raoul Follereau. E pensei, como era verdade. E como Follereau vivia a sua MISSÃO por causa das demissões do seu/nosso tempo!
Somos um “bando” de demitidos! De auto-demitidos. Face a tantos e tantos e tão magnos problemas, tomamos a atitude mais cómoda, mas mortífera: a demissão. Estamo-nos “nas tintas” para os problemas que nos cercam (“os outros que resolvam”, “agora é assim, que se há-de fazer se é a moda” e outras expressões do sentir e viver de demissionários!). E quanto mais nos demitirmos, mais avançam os demolidores da nossa Cultura. Deixamos o campo livre para a actuação sem dificuldades de todos os que têm um objectivo: erradicar todo o traço da nossa Civilização, desde as suas raízes, tal como bacilo de Hansen corrói o corpo humano, apodrecendo-o progressivamente até lhe causar a morte. Quem já viu leprosos com a doença activa sabe que o seu corpo vai caindo aos poucos, desfigurando o corpo até à morte.
Por isso, por causa da demissão de tantos e tantos, pelo silêncio, pelo comodismo, pela cobardia ou pelo medo de parecer antiquado … a “lepra” causada pelo novo “bacilo de Hansen” mina a nossa sociedade.
… Assim, terá de nascer a MISSÃO da nossa vida: refazer o tecido social e humano. Como? De muitas e variadas maneiras: respeitar e conhecer as nossas raízes civilizacionais; defender a vida humana, da concepção à morte natural, opondo-nos racionalmente à Cultura da Morte imperante, agressiva e impositiva; defender e promover a Família tal com ela é e não como nos impõem os novos “bacilos de Hansen” que vagueiam combativos por todo o lado; defender e promover, a todo o custo, o direito inalienável de serem os pais a escolher o tipo de educação para os seus filhos; defender com clareza que toda a criança tem o direito a conhecer quem são os seus pais (pai e mãe!) e a serem amados por eles; a exigir os respeito pelos mais velhos, verdadeiros património da humanidade; a respeitar e saber cuidar da Terra como seus usufrutuários… Esta tem de ser a nossa MISSÃO face à DEMISSÃO DO NOSSO TEMPO.
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Carlos Aguiar Gomes
Carlos Aguiar Gomes
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