Há milagres?
Quando teria 7/8 anos, alguém me ofereceu uma biografia de Sto António.
Deve ter sido uma prende anos, pois nasci num muito longínquo 13 de Junho. Era
uma biografia ao gosto desse tempo: muitos milagres de que à verdade histórica
muito devia mas que encantava pelo maravilhoso e espantoso. Um dos episódios
que nunca mais esqueci, era a narrativa dos pardais “ mandados” recolher num
alpendre por Sto António para que aqueles passarinhos não comessem o milho dos
lavradores! O que isto me impressionava e o quanto eu invejava o meu santo, eu
que vivia no campo sempre rodeado de animais e com um fascínio louco por pássaros!...
O
tempo passou, e depressa. A minha visão sobre milagres foi-se modificando, cada
vez mais exigente nas provas.
Creio nos milagres hoje. Talvez sem a espetacularidade que tantos de nós
imaginam.
Quero
partilhar convosco, caros leitores, dois que me impressionaram particularmente.
E são recentes.
1. Recebo regularmente a Carta aos Amigos do
Mosteiro Cisterciense de Novy Dvur, da República Checa. Na de 2 de Setembro
p.p. li :
« … Um
missionário da Índia conta que uma menina cujo irmão estava gravemente doente
ouvia os seus pais gritar que era preciso um milagre para o salvar! Então,
pegou nas suas magras economias, algumas moedas, e foi à farmácia “ comprar um
milagre”. “ Aqui não se vendem milagres”, respondeu-lhe o farmacêutico que não
entendeu o seu pedido. A pequena começou a chorar. Então, um senhor que a tinha
escutado sem nada dizer, aproximou-se dela, pegou nas moedas e disse-lhe: «
Leva-me a tua casa. Quero ver com o teu
irmão se consigo encontrar o milagre de que tens necessidade.» Era um médico- cirurgião e salvou a
criança.». Foi um milagre tocante, sem alarde, sem “ sangrias”… Deus interveio.
Foi um milagre.
2. A 10 de Outubro, foi beatificado um rapaz
de 15 anos. Italiano. Estudante. Nunca fez milagres na acepção que atribuímos a
esta palavra. Foi normal. Quase. Nasceu, como todos nós, e usando as suas
palavras, “ como original” mas toda a sua curta vida viveu para não morrer (
uso, outra vez, as suas palavras) como fotocópias! E tantos de nós, apesar de
termos todos nascidos como originais, morremos como fotocópias tiradas numa
fotocopiadora reles, o meio que frequentamos e que nos deixa as marcas de uma
má fotocópia!
Já todos deram conta de que me estou a
referir a Carlos Acutis, ao Beato Carlos Acutis. A mim, pobre pecador, não me
interessa particularmente o milagre que o levou aos altares. Então, o que me
cativa e fascina neste rapaz? A sua vida. Sim, essa é o verdadeiro milagre.
Milagre enorme que só por si deveria bastar para o canonizar, sobretudo vivendo
neste século tão tóxico para as crianças e jovens, tão cheio de toxinas mortais
que deformam tudo e todos. Resistir, numa vida sadia, normal, alegre, com
jeans, com computadores… foi o seu milagre. É o seu milagre espantoso: não se ter
deixado contaminar e saber e querer seguir o seu caminho irradiando a verdade
que o possuía: Jesus. Jesus, sobretudo na Sua presença eucarística que tantos
que se dizem católicos já não acreditam e que, quando O recebem, o fazem com
displicência como quem come um pedaço de
pão que metem à boca sem se aperceberem o que lhes é dado, sem um gesto de
adoração pública que mostre o quanto Lhe devemos por estar assim escondido!
Dois milagres que referi e me tocaram e
tocam profundamente. De hoje. Com gente normal… ou talvez não!
… Porque a normalidade actual não passa por
aí, por pessoas assim. E como seria bom que passasse…
Estes são os milagres feitos no dia - a -
dia, raros como tudo o que é bom: aquele médico indiano, cujo nome não
sei, e o rapaz italiano cujo nome sei – Carlos Acutis.
Carlos Aguiar
Gomes
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