quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Há milagres?

 

                                                                     Há milagres?

 

  Quando teria 7/8 anos, alguém me ofereceu uma biografia de Sto António. Deve ter sido uma prende anos, pois nasci num muito longínquo 13 de Junho. Era uma biografia ao gosto desse tempo: muitos milagres de que à verdade histórica muito devia mas que encantava pelo maravilhoso e espantoso. Um dos episódios que nunca mais esqueci, era a narrativa dos pardais “ mandados” recolher num alpendre por Sto António para que aqueles passarinhos não comessem o milho dos lavradores! O que isto me impressionava e o quanto eu invejava o meu santo, eu que vivia no campo sempre rodeado de animais e com um fascínio louco  por pássaros!...

  O tempo passou, e depressa. A minha visão sobre milagres foi-se modificando, cada vez mais exigente nas provas.

  Creio nos milagres hoje. Talvez sem a espetacularidade que tantos de nós imaginam.

  Quero partilhar convosco, caros leitores, dois que me impressionaram particularmente. E são recentes.

1.       Recebo regularmente a Carta aos Amigos do Mosteiro Cisterciense de Novy Dvur, da República Checa. Na de 2 de Setembro p.p. li :

« … Um missionário da Índia conta que uma menina cujo irmão estava gravemente doente ouvia os seus pais gritar que era preciso um milagre para o salvar! Então, pegou nas suas magras economias, algumas moedas, e foi à farmácia “ comprar um milagre”. “ Aqui não se vendem milagres”, respondeu-lhe o farmacêutico que não entendeu o seu pedido. A pequena começou a chorar. Então, um senhor que a tinha escutado sem nada dizer, aproximou-se dela, pegou nas moedas e disse-lhe: « Leva-me a tua casa. Quero ver com  o teu irmão se consigo encontrar o milagre de que tens necessidade.»  Era um médico- cirurgião e salvou a criança.». Foi um milagre tocante, sem alarde, sem “ sangrias”… Deus interveio. Foi um milagre.

2.       A 10 de Outubro, foi beatificado um rapaz de 15 anos. Italiano. Estudante. Nunca fez milagres na acepção que atribuímos a esta palavra. Foi normal. Quase. Nasceu, como todos nós, e usando as suas palavras, “ como original” mas toda a sua curta vida viveu para não morrer ( uso, outra vez, as suas palavras) como fotocópias! E tantos de nós, apesar de termos todos nascidos como originais, morremos como fotocópias tiradas numa fotocopiadora reles, o meio que frequentamos e que nos deixa as marcas de uma má fotocópia!

   Já todos deram conta de que me estou a referir a Carlos Acutis, ao Beato Carlos Acutis. A mim, pobre pecador, não me interessa particularmente o milagre que o levou aos altares. Então, o que me cativa e fascina neste rapaz? A sua vida. Sim, essa é o verdadeiro milagre. Milagre enorme que só por si deveria bastar para o canonizar, sobretudo vivendo neste século tão tóxico para as crianças e jovens, tão cheio de toxinas mortais que deformam tudo e todos. Resistir, numa vida sadia, normal, alegre, com jeans, com computadores… foi o seu milagre. É o seu milagre espantoso: não se ter deixado contaminar e saber e querer seguir o seu caminho irradiando a verdade que o possuía: Jesus. Jesus, sobretudo na Sua presença eucarística que tantos que se dizem católicos já não acreditam e que, quando O recebem, o fazem com displicência como  quem come um pedaço de pão que metem à boca sem se aperceberem o que lhes é dado, sem um gesto de adoração pública que mostre o quanto Lhe devemos por estar assim escondido!

   Dois milagres que referi e me tocaram e tocam profundamente. De hoje. Com gente normal… ou talvez não!

   … Porque a normalidade actual não passa por aí, por pessoas assim. E como seria bom que passasse…

   Estes são os milagres feitos no dia -  a -  dia, raros como tudo o que é bom: aquele médico indiano, cujo nome não sei, e o rapaz italiano cujo nome sei – Carlos Acutis.

   

 

 

Carlos Aguiar Gomes    

   

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