quarta-feira, 18 de novembro de 2020

A Justa veneração de relíquias

 

                                A Justa veneração de relíquias

A propósito da  veneração dos fiéis de relíquias, vale a pena dizer que esta atitude  deve ser entendida como uma  justa e correcta maneira de os devotos  ou peregrinos de um santuário ou igreja onde há relíquias expostas à veneração dos fiéis  que , assim possam , ao contemplar aquelas preciosas relíquias ,  serem convidados a uma maior proximidade com os santos de onde proveem.

Transcreve-se uma parte de um texto de um Sacerdote brasileiro, P. Paulo Ricardo, sobre a veneração de relíquias :

“Algumas pessoas ficam assustadas ao saberem que em pleno século XXI a Igreja Católica permite o culto das relíquias, ou seja, a veneração pelo corpo de santos falecidos ou mártires e que até mesmo que guardem com cuidado pedaços desses corpos. Não seria isso uma coisa macabra, uma realidade malsã, e mais que cristianismo, essa prática traga em si mesma resquícios de superstição pagã, uma vez que eram eles quem veneravam os antepassados?

A melhor forma de responder a esse tipo de acusação está na Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino que diz: “Por isso, o próprio Deus honra como convém as suas relíquias, pelos milagres que faz na presença deles."[01] Apesar disso, mesmo que não se creia nos relatos de inúmeros milagres e curas que ocorreram pelo contato com os corpos ou roupas dos santos da Igreja, não se pode negar o conteúdo da Sagrada Escritura:

Certa vez, alguns homens que estavam a enterrar um morto avistaram um desses bandos. Atiraram o corpo para dentro do túmulo de Eliseu e fugiram. Aconteceu que o morto, ao tocar nos ossos de Eliseu, voltou à vida e pôs-se de pé.[02]

 ( … )E o que se vê no Antigo está presente também no Novo Testamento, como no caso de São Paulo que, enquanto era vivo servia de instrumento para Deus realizar milagres e, mais pontualmente, o que diz a passagem abaixo extraída dos Atos dos Apóstolos:

Deus realizava milagres extraordinários pelas mãos de Paulo, a tal ponto que pegavam em lenços e aventais usados por Paulo para os colocar sobre os doentes, e estes eram libertados das suas doenças e os espíritos maus eram afastados. [03]

( … )A Igreja Católica, malgrado as acusações em contrário, sempre valorizou o corpo humano. A adoração ao Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo, a união dos corpos no ato sexual é um sacramento, entre outros exemplos, demonstram que ela sempre quis defender o valor do corpo. No Concílio de Trento, os padres conciliares aprovaram o “Decreto sobre a invocação, a veneração e as relíquias dos santos e sobre as imagens sagradas", em 03 de dezembro de 1563, que diz:

Devem ser venerados pelos fiéis os santos corpos dos santos mártires e dos outros que vivem com Cristo, corpos que foram membros vivos do mesmo Cristo e templo do Espírito Santo, que por ele devem ser ressuscitados para a vida eterna e glorificados e pelos quais Deus concede aos homens muitos benefícios. Por isso, os que afirmam que às relíquias dos santos não se deve veneração nem honra, ou que inutilmente os fiéis as honram como também a outros monumentos sagrados, e que em vão frequentam as memórias dos Santos para obter o seu auxílio, todos devem ser absolutamente condenados como já outrora a Igreja os condenou e também agora os condena.[04]

( … )Os corpos dos santos que serviram a Nosso Senhor são para Deus lembranças belíssimas do amor com que se consumiram. Corpos verdadeiros que se doaram, que se gastaram por Amor. Enquanto o mundo idolatra corpos nus, de formas perfeitas e belas, os católicos veneram corpos que se gastaram, derramaram o próprio sangue por amor a Cristo.”

Por isso, as relíquias devem ser objecto de veneração e de grande respeito, pois são partes do corpo ( ou de roupa ou outros objectos usados pelos santos )  e que nos lembram o exemplo   de vida daqueles que deste modo são recordados e cujo estilo de vida ainda hoje é actual para também nós os imitarmos, mesmo como leigos cristãos que buscam a perfeição e não se cansam de buscar Deus.

Carlos Aguiar Gomes

Referências

1.        Suma Teológica, III, Q. 25, A. 5;

2.        II Livro dos Reis 13, 21

3.        Atos dos Apóstolos 19, 11-12

4.        DH 1822

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