quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Vasculhando papéis já com certa idade

 

                                           Vasculhando papéis já com certa idade

 

  De vez em quando, há tantos papéis para arrumar, deitar fora, arquivar… E o tempo vai passando até ao dia (s) em que tem mesmo de ser: “ baldeação no convés que é o meu escritório! E assim tenho feito neste tempo de confinamento que tem ido do obrigatório ao que tenho de fazer por razões da minha saúde. Enfim, lá vai , lá tem de ser.

  Encontrei, um dia destes, uma série de escritos meus que publiquei/ li em vários jornais, revistas, rádios ou conferências que fiz um pouco por todo o país. É o que dar ser velho que foi, por temperamento e por convicção um activo por causas.

 Imaginem que descobri um dos tais escritos, um curto escrito que trago de novo à luz do dia. Seja-me permitida esta liberdade.

  Transcrevo-o:

« …  de o “ PÚBLICO” ( 29.VI. 1997) parte de um texto de António Barreto: “ A questão da legalização das uniões de facto deixam-me absolutamente perplexo. Quando a fúria reformadora ataca, tudo pode acontecer, ainda um dia se permitirá que, por politicamente correcto, um quadrúpede tenha duas patas e os respectivos direitos. Tanto quanto sei, as uniões de facto, por pção, são aquelas que justamente não aspiram a ser legalizadas. “ J `ai l`honneur” dizia Brassens, “ de na pas te demander la main”. Isto era dantes. Agora, as uniões serão legalizadas. O que, no essencial, as não distingue do casamento. A ideia de legalizar, em vez de simpesmente as tolerar, tudo o que vive, corresponde a uma espécie de despotismo esclarecido, na convicção de que as pessoas serão livres e modernas, de acordo com as leis.

  Suspeito que a primeira reacçãob de muita gente será a de , inevitavelmente, inventarem outro nome para designarem ou não o que são. Passaremos a ter uniões de facto nominais e uniões de facto reais. Além disso, na frenética luta pela modernidade, os reformadores terão novas tarefas nas suas agendas. Os casamentos a três. As uniões a quatro. O casamento sob dois tectos. As uniões virtuais, na moda. O Cyber-amor, em desenvolvimento. As uniões por correspondência. As uniões” on and off” . As relações “ on-off” . E até , por que não legalizar a mais tradicional de todas as formas de conjugalidade portuguesa, a do casamento burguês com amante e casa montada?».

Mas, cuidado, o enunciado é perigoso pois a polícia dos costumes anda vigilante! E ai de quem disser alto que … não está de acordo. Será logo apodado de vários piropos que não são chamados de “ assédio sexual” pois é esse o pensamento a impor. É-se “ fascista”, “ fundamentalista”, integrista”, homofóbico e por aí fora. Tenhamos, pois cuidado? Não, não nos podem impedir de expressar o nosso pensamento.

É este mundo orwelliano que está aí para fiscalizar e penalizar, quais censores de uma ditadura travestida de democracia.

  Foi este delírio psicopata que arrastou a chamada “ direita” flácida e gelatinosa portuguesa a reboque de uma “ esquerda” “ bulldozer” a legalizar tudo o que estes proponham, abrindo portas que já não será fácil fechar a bem da saúde da sociedade humana. Assim foi com o Aborto, eufemisticamente chamado de “ Interrupção Voluntária da Gravidez”, com a “ Pílula do Dia Seguinte” e, agora com a legalização da Eutanásia também com a roupagem de “ Morte Digna”. Tudo feito com imensa pressa e utilizando argumentos cheios de mentiras.

  Em 1994, ANO INTERNACIONAL DA FAMÍLIA, decretado pela ONU, que escrevi: O coração do mundo pulsa na Família. Continuo a acreditar séria e profundamente no sentido desta frase. Vejo, infelizmente, que o coração do mundo está cada vez mais doente e que não cessam as agressões deliberadas para o destruir. E os políticos têm-se esmerado e competido entre si para criar fortes arritmias e disfunções graves no coração do mundo! A começar pela própria ONU e pelos burocratas da UE .

  Bem, é preciso que termine este artigo que começou com o recordar de uma velharia que encontrei nos meus papéis. E ainda bem que os guardei. Fez-me bem ler o trecho de António Barreto e ver que a sua lucidez e coragem de remar contra o “ pensamento único” continua vivo, audaz e corajoso. Dá-me coragem para, também eu, remar contra marés deletérias que vêm de onde menos se espera! Como escrevi num poema, quero seguir a minha derrota nesta carta de marear que é a nossa vida.

Carlos Aguiar Gomes

 

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